sexta-feira, 25 de agosto de 2017

De veneno está meu corpo imune





De veneno está meu corpo imune,
De bagaço quero aquele que arde,
De poesia quero a que me incomoda,
Dos loucos os que me enfrentam
E empurram pro poço sem fundo
Com a corda à garganta, a mesma
Que uso pra me sentir livre o resto
Do tempo e dizer o que me dá-na
-Gana, como que parindo da alma uma coruja, 
Como quem rasga e dana o pescoço,
Na suja e maldita corda que não afrouxa,
Nem dá sinal de partir a alta figueira.
De veneno está o meu corpo imune,
O pecado é perder o céu, suponho,
Não o procuro, do veneno quero o mais puro,
Pra beber entre os bruxos de olhos negros,
Com a corda na garganta e nas mãos, 
O rosto curvo, cego …
Da peçonha será meu corpo impune, 
De bagaço quero aquele que arde,
De poesia quero a que me incomoda,
Dos loucos os que me enfrentam
E empurram pro poço sem fundo
Com a corda à garganta, a mesma
Que uso pra me sentir livre o resto
Do tempo e dizer o que me dá-na
-Gana, como que parindo da alma cuja 
Como quem rasga e dana o pescoço
Na suja e maldita corda que não afrouxa
Nem dá sinal de partir a figueira alta. 
De veneno está meu corpo imune 
Pensamento e acção são ânsia e dor,
Para mim quando fico gelado do sentir
Para baixo sem conciliação ou paz,
De peçonha será meu corpo imune, 
Mas jamais do castigo que carrego
E me faz cantar com ruído e sem
Sossego e corrói tal o ácido clórico
Ou o hálito do medo …



Joel Matos (07/2017)
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Contudo vale a pena …






Contudo vale a pena
Haver amanhã, haver outro dia,
Contudo vale a pena, espécie de
Continuação de mim, perdão dos 
Céus, amnistia, caminho de quem
Se perdeu dum outro dia, eu.
Haver amanhã, haver outro dia,
Contudo vale a pena ser feliz
Enquanto ouço em mim dentro,
O pensar suposto ou intuição,
Instinto, combinação de ambos,
Consciência e sonho, vazio
Que faz lembrar ruído e se sente,
Contudo vale a pena quando
Tudo parece estar aquém do que é
E existe, continuação de mim, incenso,
Espécie de música que flutua,
Interlúdio, às vezes balada do terço,
Igreja vazia, contudo vale a pena
Ser hoje, admirável tanto quanto
Um Audi ou um quadro apresentando
Nada em continuação de mim,
Contudo valeu a pena, tudo quanto
Fui e fiz…




Joel Matos (07/2017)
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Pelo sonho vamos








Pelo sonho vamos
Pelo sonho vamos,
Tal é ter alma, não
Cá dentro, adiante
De mim e segui-la
Sem ela e eu saber,
Pelo sonho vamos,
Se não voltarmos
O rosto ao que foi
-Partiu, me deixou,
Não adianta seguir
O que a alma não
Sente ou não sou
Eu desse mundo,
-Passou, sonhar é
O que quero mas 
Só consigo parte,
O resto do tempo,
Existo presente,
É o que sou vivo,
Não sei se daqui
Me perdi, não sei
Se quero ter esta
Alma tão cá dentro,
Em silencio, não sei
Se fui eu, ou serei
Meu maior medo
Ao olhar um mundo,
Que não é mesmo
Nem me reconhece,
Tampouco como seu…















Joel Matos (07/2017)














Seda negra.







Negra Seda
Lanugens de jovem em cadências de pele acastanhada e levemente rosada evolucionam gradualmente e finalizam em deleitosos montículos, que se elevam tesos em amendoim tostado. Melindrados, sentem-se inchar ao toque subtil dos lábios, pelo menos na febril imaginação de Emílio repassava esse sentimento.
Procedendo da elegante linha de cintura forma-se um delta bem negro, num profundo, algo intangível lago fundo onde assentavam longas pernas em seda preta clara e luzente.
Toda uma elegia voluptuosa enquadrava um delta, onde um vórtice umbilical se espraiava em harmoniosos declives.
Deslumbrava-o o esplêndido corpo de menina moça sentada ao seu lado na pick-up amarela cor de milho e deixa-se conduzir num cosmos paralelo e sem culpados de negras sedas e encarnações de volúpia incontida.
Surge uma penugem densa no decote de Cíntia, estende-se progressivamente ao fundo de um lago mudo e uma outra linha carnuda assoma debaixo, ladeia e distingue-se suavemente um, dois montículos rígidos, mais claros que os culminam e se vêem sob a blusa fina.
Em cada gesto dela sente-se equilíbrio, o corpo desfila num sem fim sensual de ténues curvas magnificamente produzidas em tons de seda prata,
Longos fios, como cascatas em torvelinho ladeiam um rosto discreto em castanho de voracidade branda.
Sons macios de seda e cetim expressam-se nos sentidos de Emílio ao menor movimento dela.
O Colo elevado e levemente inclinado, permite que a catarata de cabelos repouse sobre um dorso modelado e enlace com as nádegas fixas do corpo negro e delgado da jovem.
Ao lado dela viaja mudo Emílio que sente a tensão sexual aumentar ao ponto de quase explodir ao mesmo tempo que imagina o corpo nu da jovem companheira sentada ao lado, invade-o a sensação de predador face à corça e decide atacar …
– Cíntia debate-se falsamente e por curtos instantes, depois deixa-se ir ou antes, deixa-se ficar, Emílio não era velho nem muito mal parecido, camponês dos três costados, pai mãe e avós, caboclos de mãos calosas e mente também ela calejada pelo sol e pelo seco sertão.
A renda branca da cueca de Cíntia cedeu como “teia-de-aranha” às mãos de Emílio que apesar da violência tenta dizer ao ouvido de Cíntia algumas palavras no seu entender sensuais mas que soam a obscenidades, às quais não estava habituada mas que, em lugar de a deixar desconfortável incrivelmente excita-a,
Sentia-lhe os dentes a mordiscar devagar e com gentileza os mamilos cada vez mais inchados e volumosos.
Rendeu-se á investida grotesca deste homem que mal conhecia, talvez com medo das consequências mas por outro lado à descoberta de outra Cíntia 
Sentiu-lhe a língua a percorrer cada nesga de pele castanha /negra e esbelta ficando atrás uma sensação de querer mais e mais o corpo rijo maciço e roliço dentro dela o mesmo que ela sentia teso rolar de encontro ao ventre e nas virilhas e depois navegar por ela dentro sem pedir licença nem permissão pra entrar, primeiro roçando levemente os lábios, a boca e penetrando depois devagar na boca mal aberta inicialmente como depois por entre os lábios vaginais rubros de tanta esperar pelo prazer prometido por Emílio. 
A imaginação de Emílio ficara aquém da real feminilidade daquela mulher que se dava a ele tal qual uma mansa gazela aos dentes da fera brava.
De tronco dobrado à mão gigante pela cintura com força muscular bruta ele sujeita o corpo dela de encontro ao seu como que gerando um outro na pressão sexual e símia de dois seres opostos e de origens diversas,
Arrasta-a pró meio do capim macio de cheiros a hortelã-pimenta e rosmaninho como se fosse a recompensa de onça,
Ela sente o órgão rijo mas macio de Emílio como se fizesse parte dela, preenchendo-a fundo
E de tal maneira que não queria que terminasse esta avassaladora viagem de auto-descoberta, essa tesão que desconhecia ter tão alerta dentro de si.
Também ele não queria deixar de habitar ou possuir o corpo belo da jovem, não queria mais sair de dentro dela, como se fosse pertença única e exclusiva de macho Alfa, despojo de guerra, nesse momento dá-se a explosão de ambos, tal pirotecnia quando vários jactos de esperma morna e o lascivo, dilacerante orgasmo deles que se conjugam num grito tal o de Ipiranga.
Libélulas pousam nos fenos e cigarras cantantes calam-se por custos instantes retomando a actividade enquanto repousam exaustos estes protagonistas súbitos dos prados
Deslumbra-se ele de novo perante o corpo cansado de menina adulta deitada ao seu lado na pick-up amarela cor de milho…negra seda,
Cíntia descobrira o natural poder de ser menina e mulher sob um céu em azul topázio e safira …
Joel Matos (07/2017)
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Cheio de nada ter





Cheio de nada ter
Verdadeiramente vejo
Tanto quanto a um cego 
Seja distinto ao tacto o que 
Parece um sussurro, 
Sendo minh’alma 
A murmurar suave
Suave que outras almas
Silenciam e negam tanto,
Ficando secas sem nada,
Assim com’à minha 
Cheia de não ter nada,
De facto sussurro e 
Mais parece ser brisa
Ou de verdade seja
Cheio eu de nada ter,
Nest’alma levezinha 
Cheia do que sinto,
Tanto quanto um cego
Tem tacto e quanto sente
Assim sente esta cega
Alma e minha …




Joel Matos (07/2017)
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É a poesia parte ...









É, de inegável maneira arte, a poesia,
Só por isso existo e esta alma que pensa,
Inconsciente que está sonhando, suave
O sonho, claro qu'é "vida-sentido-único",
Só porqu'isso existe e são meus braços e

Cansaços, sonho sem sentir aquele sonhar
Perfeito que se pode afirmar ser maior arte
Ou apenas consumo de mercearia, detergente,
Mercadoria "a-metro", falo p'los cotovelos,
Ensinei-os a mentir com sentimento qb.

No entanto não canso de prometer a mim 
Mesmo um fio de cabelo com o pensar d'prata
Numa ponta, assim oval quanto o imenso
Universo, que é a esperança de ser tud'isso,
Só pra isso existo tod'eu, suposto Rei-Sol, 

Deposto quando a serenidade da manhã 
Acaba e se torna relento de fim-de-tarde,
Que sentido esta'arte de ser o tempo todo
Eu e não ser minha a fé, que a outros sabe
Tanto a sucesso e o meu falar implora

Essa inigualável maneira e forma d'arte.



Joel Matos (07/2017)
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Te vejo a duas vozes …







Te vejo com duas nozes castanhas
Entre mim e os cabelos e nem mudaria na face
O ciúme que sinto d’entre o nariz e os pelos,
Dizer o contrário não será ou seria sincero,
Te vejo como duas nozes e coro ao dizê-lo,
Mesmo que fique entre mim e o cabelo,
Te beijo eu, sincero te vejo como duas nozes
Entre cento e uma, a outra sou eu, belo 
Quanto a figura de Euclides, gloriosa
Que nem o Restelo à partida das caravelas
Em Janeiro, assim eu penetre no que
Penso ser meu íntimo profundo,
Te vejo como duas nozes, oxalá pudessem ser em
Veludo quente, tanto o que sinto e sonho
Sentir ou tento, te revejo a duas vozes,
Oro que seja verdadeiro esse místico sentido 
De ver e ao mesmo tempo ouvir, vinda 
De outras dimensões a magia espiritual
Que me guia como que por encanto,
Mesmo que fique entre mim e o cabelo pouco,
Te vejo com duas nozes castanhas.




Joel Matos (06/2017)
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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Às vezes








Às vezes, o que resta na mão nos foge,
Tal e qual como num livro a palavra fim,
Sinto um vidro fosco ente mim e essa luz
Que me foge sem razão, sinto que flui ao 
Escrever mas não é certo, é uma imposição

Não o destino, porque pra isso não fui criado,
Escrever e ter as mãos caídas é disparate 
De louco, ter tanta coisa à mão e não ter na 
Mão nada, nem amor próprio, tanto quanto
Glória, fama ou sorte, quem dera não ser

Quem sou, mãos caídas solicitando ilícito
Parecer a prazo ou o aval de quem passa
Sem sentir passar pla alma dele o meu ser,
O estranho é não me sentir culpado da inércia,
Mesmo quando foge desta mão tudo

E eu sofro por isso, mas apenas um instante,
Assim como não ter uma coisa qualquer
Quando se quer tanto ter sem saber qual querer,
A sombra ou o seu suporte, a branca parede.
Às vezes, o que resta na mão nos foge

E eu sonho que sou o fio de água que flui e une
As sucessivas sensações que minha'alma consente,
Pois que verdadeiramente nada me foge, 
Nada me dói, nada me prende, 
Pertenço ao caminho e se me ergo é por 

Imposição do mesmo ou por castigo
Aos deuses que renego.



Joel Matos (05/2017)
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Em que tons te tinges hoje, nua...





Em que tons tinges a tua blusa


Se te perguntarem os tons que tens nas vestes
Não respondas, por favor não o faças,despe-te, 
Se te perguntarem porque escreves nas paredes
Não respondas, fecha a boca, por favor que o faças,

A menos que te saiam da boca súbitas pombas,
Que denunciem pla cor das asas em tons
Mil de matizes e nessas crenças prolonguem o arco-íris
Ao baterem umas de encontro às outras todas,

São sinal do presságio e denunciam o que de belo
Tu pensas, pra ti será tarde demais, nem que
Fujas e te escondas hão-de encontrar-te, 
Mesmo nesse canto da dispensa que sabes

Só tu e não contaste a ninguém, nem mesmo
A mim, que sou a tua consciência e propósito
Se te questionarem a propósito dos dons que tens,
Que usas, não respondas, por favor não o faças,

As maldições só a nós mesmos dizem respeito,
A despropósito de saírem pombas pela fala,
São ultraje e ofensa pr'os que não percebem
A voz do Deus das cores com a áurea que é nossa, 

Só nossa e deles, deuses da diferença em tantas,
Todas as nuas cores tuas...


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Joel Matos (04/2017)


Tão tanto ...






Permitam-me o que vou dizer
E não é segredo, nem será
Depois de dito, nem será
O que parece ser e acabou

Sendo, pois nada desse secreto
Estranho hálito que tenho vou 
Omitir, penso quando contar
O segredo que tenho pra

Dizer, obsceno quanto o 
Que'screvo e não devo
Não por mim mas por ontem,
Não por outrem, o que vou

Dizer contém o anseio
Que pudessem ser o eu
Que eu não sei nem ter
A alma de quem a tem não eu,

O simples fazer chamar do céu
A terra e ao silencioso 
Chão caixão meu segredo, meu...
Permita-me estar a sós comigo

E com o meu cabelo,
Pra depois dizer a todos
Que nem alma tenho,
Mas em segredo guardo

As memorias que componho,
Eu tenho
O que parecem ser,
Só em si sonhos de estranho,

A quem se permite
De quando em quando,
Quem eu dantes era
Ou pensei que fosse 

Ser hoje tão, tão tanto ...






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Joel Matos (04/2017)

Fim de sessão ...





Torno sem palavras, dos turnos
Que as alvoradas fazendo vão, sulcos
Nos meus olhos vãos,embora
Não digam nada as mãos me falam

Sem entusiasmo do tempo longe
A vida que vivo de tarde substitui 
A que vã tive ind'agora manhã cedo
Daqui a pouco acabo as palavras

Então não sei mais ser,trono não tenho
Ceptro ou manto de monarca do Tempo
Sulcos nos meus olhos se vêm
Só eu vejo o coração, casa fria, triste

Sem palavras em torno, torno 
Sem palavras, fim de sessão ... 




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Joel Matos (04/2017)


M'inunda o mar na terra ...





Me inunda o mar na terra


Me inunda o mar na terra por já velha
Salvo onde subo pra ser visto, esta vista...
Uma vida qualquer parada semelhante
Ao sonhar dentro do útero da terra mãe
Um outro Universo, luas no pensamento

Me inunda o mar mas tendo coração
Tudo em mim é ser coberto de manso dia
Nesta Terra que é velha e arrefece dia
A dia salvo onde subo pra ser visto,
Desperto noutro universo ou neste

Onde há fim, o fim que há em mim
Desde que me reconheço órfão da serra
Mãe se é que há vida em mim também
Até nem sei se tenho rosto de gente
Mas até onde o mar alaga a pele, sei...

Sei que subo para ter visão única 
Do que está no cimo e tantas vezes imagino
Como sendo meu coração de baleia, a última
Que se banha no oceano que trago no que me
Lembra e fiz ser meu peito - flor de Liz-

Me inunda o mar na terra e o meu sonho 
É partir pra mar aberto com a cheia, ela
Simboliza tudo o que a paisagem tem de milhas 
Em redor embalando meus olhos e corpo 
Ao som das ondas a partir mansas, feridas da areia…



Joel Matos (03/2017)
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Nem no mundo do fim do mundo há o fim dum todo...






O lembrar de facto não existe, nem no fim ...


O exacto tempo não existe pra mim,
É um bocado de terra e escasso,
Exijo na lápide não o ano certo
Em que morri, antes o outro, assim

Quando os astros perecerem
E o lume e o céu se desfizer e a lua,
Quando todas as horas forem mortas,
Espero que a areia dite meu nome,

Qualquer um serve, pois sinto em
Todos um fio e os membros dispersos 
Súbditos do espaço e o tempo
Servirão a minha imodesta crença,

Um pedaço de terra é pouco pra mim, 
Quero a conivência dos grãos d'areia,
O pó leve, inútil em todos os planetas
E no sub-mundo que há em mim, sinto

Ao ínfimo a consciência que lá vivo desde
Sempre, infinito o tempo, areia fria,
Cento e uma vidas coladas ao que não sei,
Pano de fundo ou o desejo de renascer

Seja no que for pó, flor canteiro ou dor,
O lembrar de facto não existe, 
Nem um mundo no fim do mundo há...




Joel Matos (03/2017)
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Leve, a emoção





Leve, a emoção

Leve, a emoção não chegará ao peso em
Que tem peso, tendo coração e motivos de peso
Por não ter,embora não saiba se leve, se deixe 
Eu mesmo de ter, esse mesmo peso pouco 

E essa imensa graça que é a emoção e que fosse
De diferença tal, como o peso que pesa minh'alma,
Tão pesada quanto o chumbo e a cornada
Dum búfalo ferido de morte pela mesma bala. 

Leve, a emoção, tão leve que esqueço de sentir
E é curto o tempo em que sou feito apenas dela,
Escrevo-a quando quero é esquecer que até
Da própria mente posso ganhar a noção de ter

Emoção ao-de-leve e ouvir-me pensar baixinho
Do que aquilo é, que peso tem sem agitar o ar,
Tão leve nos despe quanto o que penso e em tom
Que lava a mágoa da dor aguda que simulo

Ter, embora tenha outra que parece ser coberta
Por pele mais boca, extravagante ideia o infinito
Posto num lugar comum, onde ninguém o vê
Por isso lhe chamam de sonho, outros fé, eu não,

Não o farei, quero sentir o coração parar e talvez
Depois me cale, quando nada pese, leve a emoção,
O peso é sentir, não ver o que penso e temer 
Não ser o que sinto no peito, nem na mão que 

Escreve tão ao-de-leve quanto a mim me minto 
Ou não, sinto ...




Joel Matos (03/2017)
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O sabor da terra ...








sabor da terra ...


O sabor da terra é parecido ao da água, 
A acrescentar os meus sentidos a chuva
Que cai e molha, não importa de que mar
Distante ela é, de que mundo que não vejo

Mas sinto cheiro de terra molhada e cerro
Os olhos pra que não fuja por eles o desejo,
O prazer do odor que nunca foi meu, mas inunda
O meu sossego e leva-me pela mão,

Longe da terra não existo nem soa real
O sonho que tento viver, imerso no verde
A pastar gado na bruma, indistinto é o serro,
Ermo o pensamento meu, quando escuto

É apenas o meu coração batendo ou não,
O sabor da terra é parecido com o a água,
O que eu não esperava é a própria imitação
De silêncio com que chuva cai no meu rosto,

Como se conhecesse meus inúteis segredos,
Ou sabendo da ausência de ruído no meu peito
Real ou falso. Ausente abaixo dum céu 
Que lembra o que pra lá dele há, pressinto outro céu, 

O meu ...









Joel Matos (03/2017)







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Duvido de tudo que dos olhos vem ...






Duvido de tudo que dos olhos vem,

Não sei escrever poemas de amor,
Duvido da matéria que compõe 
O universo, das flores o cheiro 
Mas não da natureza e deliro

Quando escrevo estando muda
Esta, mas das flores não duvido,
Duvido se os poemas de amor
Existem mesmo ou onde moram

Na ciência dos sonhos que descrevo
P'los perfumes que não sinto, d'lírios
Em flor, não sei mais fazer poemas,
Seja de amor ou sobre-o-que-for,

Duvido de tudo que dos olhos vem,
Ou nos braços repouse, da existência
E das romãs, apesar da cor a sangue,
Apenas num algoritmo acredito,

Que é ser viva a natureza e pródiga
A substancia que habita o universo 
E em mim mesmo, não sei escrever
Poemas de amor, duvido crendo ...




Joel Matos (03/2017)
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Perdoa tanto, tampouco ...









Perdoa por valorizar o vaso 
Não o conteúdo do mesmo
A lua e não o branco luzeiro
Os dedos e não a ânsia

Perdoa valorizar o peso
E não ser o balanço dos teus
Medos e receios, perdoa
O esforço sem alcançar 

A beleza que de tu'alma vem
A memória curta e o teu
Vago cheiro em mim,
Quase mineral e mágico 

Sim, perdoa a mágoa e os beijos
Que não dei nem a ti
Nem a outrem porque nem tento, 
A indecisão do caminho

Que levo e porque não
Posso ser levado pla mão tua
Nem quero, perdoa 
Este inverno sem calor profundo

E porque fiz da ceara tua
Meu prado, perdoa por isso
E sobretudo a convicção
Com que digo o que minto,

Perdoa se sou desatento 
Pois me doi no rosto teu
O sentimento que tudo é vão
E o fumo é o espelho

Nada resta que não seja
Pedir perdão e desabotoar 
Do peito a mágoa de não 
O poder ter porque não sinto 

Talvez direito a tê-lo cá dentro
Tão tanto, tampouco 
É um desejo de mim mesmo
Ou teu...




Joel Matos (03/2017)
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Alma e lírica ...






A alma lírica dá passadas vastas como sínteses,
Que é feito do mundo, porque breve meu olhar é
E antes que esqueça envelhecida a voz e o senso
Que se perde como se fosse pele do céu, eu víbora

A alma lírica de partida que se pensa num auge, 
Embora eu mal seja réptil corvo, outro a sonhar
A própria voz em homenagem a quem não serei,
Vasto como síntese porque o nada é impossível,

Nem os sei descrever, distrai-me do que é viver
Passadas curtas ou caminhar a par doutros seres
Que não conheço, de cabelo mais vasto que o meu,
Incómodo o meu desejo de no infinito haver fim

E saber do que é feito tudo, havendo céu por-de-meio,
Ou então por-de-baixo um mundo que-se-não sabe, 
Templo Ilusório, alma lírica, extracto de tristeza, 
Loucura sem perdão, sou somente homilia, sentindo

Que sou nem quem, mas quem nem pareço, ausência 
Sem remédio e antes que o vento vença o cerro, antes
D'antes mesmo da cigarra e as semelhanças morrerão
comigo, anatómicas, como acontece a quem enlouquece

Triste por a última vida ter sido gasta num ápice,
Porém fiz ao sonhar triste aparência de tão pouco, 
De facto o que sou, quando exilo de-dentro de mim
O ruído de todo o mundo e mais o outro todo ...




Joel matos ((02/2017)
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click folk flop flux...




click folk flop ...



A magia é um click imperfeito
Que de quando em vez me falta
Umas vezes se dá de facto nest'alma
Outras à flor da pele e me arrepia

Tal qual escama de peixe-lua
E me dá frio a ironia é não fazer
Click's e crer na ilusão feita
De ter vara e ser mago d'folk

Assim tolo sou o mágico
Perfeito, ilusão o meu delito
Que funciona ou não tão bem
Quanto a outros d'ofício,click

E chapéu de bico agudo, flop-flux...




Joel Matos (02/2017
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Tudo e isto …





Tudo e isto …


Tenho por costume sentir tanto
Como se nada viesse doutros tinos, o uso 
Que tento dar ao sentir como sentisse 
Real tectos falsos, estou reduzido

Ao que sinto, sentindo tão pouco
Embora tanto, mas tampouco são
É o pensar que muda fácil, descalço-me
E subo os veios duma figueira-brava,

Não é inteligência nem puro raciocínio
Este jogar de cartas fácil por debaixo
Da mesa, são antes os dados da roleta, 
A raiz em números desta ilusão de dizer

Certas coisas que sinto como água benta
Correndo mil vezes mais lenta nas veias
Que chuva de parafina quando cai à vista
Fixa ao pensamento, se é que ele existe

Apenas porque o tento alcançar tanto,
Causa perdida tara breve, mentira, 
Embuste, simbiose, ficção que parece 
Quase graça mas faz lembrar maldição

Ou a guerra dos sentidos de encontro
Às paredes do enjoo, mais-valia eu ter
Estômago de mar-alto em vez de sentir tudo
E isto …




Joel Matos (02/2017) 
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Bizarro







Uma bizarra noção, a da palavra dita,
Pronuncia-se e acabou, se a escrevo
Se fixa, se vale ou não, depende do
Compositor e não da validade oportuna

E do espécime, mas bizarras, quanto
Mais melhor e belas, as ditas por nós
E os silêncios pelo meio e dentro, graças
À voz, outra noção bizarra, fraca ou grossa,

Dependendo do conjunto, corpo e alma
E a faculdade de ouvir, a crença, se de noite
Quando sente ou nota o coração mais, 
Se dia, dita perfeita e com fé que haja

Alguém ou algum caminho tal como o meu,
Bizarro, igual a ninguém, apenas a uma
Lembrança que em minha pronuncia há,
Bizarra noção a da palavra escrita, 

Magnífica quando nem o entendimento 
Entende, quanto mais o coração que 
Não soa ao eu poético, mas à razão, bizarra qb
Para ser poesia e ilusão de pertencer a gente

Duma bizarra nação, a da palavra "ditada- 
-Por-mim" ...









Joel Matos (02/2017)






http://joel-matos.blogspot.com


o Outro






Na parede d'alguém
Escrevi, - eu existo -
Na parede da frente
Alguém mais baixo, escreveu:

-"Embora Zé, sem visto
Eu ninguém sou, nem
Aqui nem lá donde 
Vim e pr'ond'me vou,

Nem o Cristo me visita,
Ou o outro indiferente,
Ostentando o crucifixo 
Torto" 





Jorge santos (02/2017)
http://namastibetpoems.blogspot.com









A onze graus da esperança toda







Faltam sonhos
Nas casas da esperança,
Voltam calmos quando
Deles se fala pra dentro,
A outra fase do silencio, 
É a lembrança partida,
Que destes tenho e dessa sobrevivo
Instante a instante, 
Momento a momento,
Quando os sonhos voltam aos anjos,
A casa dos sonhos é ao fundo, 
Na estrada
Para Entepfuhl, 
A onze graus North West 
De toda a esperança e que me levará
Até ao fim do mundo ...



Jorge santos (02/2017)
http://namastibetpoems.blogspot.com 


Sempre que desta falo ...






Sempre que desta falo,

Metade é dom do luar, a ilusão,
A outra, humana completa,
A fala, ela com que conto
Como e do que é feito o pensar,

Tal é o caso daqui e agora,
Os sentidos mais são sobra,
Atraiçoam a imaginação,
Como ind'agora ao sonhar 

Sonhos múltiplos disto pintados
De fresco e framboesa citrinos,
Todos em tons de laranja,
Omiti infelizmente do luar o tom

Metade e o espírito deste conversa
Não expressa, o que deveras 
Sinto na humana metade minha
Que resta, que fala sempre que

Falo e me detesta sempre que
Falo desta na voz que Deuses
M'emprestam e consentem em
Parte, a palavra pequena, pequenina,

Pequenininha, minha ...












Jorge Santos (02/2017)











http://namastibetpoems.blogspot.com


Se ...







Se fosse um axioma natural,
O destino meu seria d'ouro
E isso que digo verdade
Insofismável, não estaria

Inquieta tanto, esta alma
Minha escrita, pondo todas
As esperanças em sentir ser
Poeta de todos e não ilegal e igual

Enquanto vivo, pois sinto que
Vida é isto que escrevo e não
Apenas enredo sem actores 
A sério, senão eu actor e acto

Hipócrita. i'nda assim publico o que
Nem sinto, nem o choro assoma
Como alego e divulgo naturalmente
Tal como detergente ou sabão azul,

(Ao quilo, - 21 gramas-) ...








Jorge santos (01/2017)





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Eu erro o ar que meto...







Eu erro o ar que meto plo osso do nariz,
O mero deitar-me com o que fiz 
E levantar-me com o "se nada
Fosse", como se tivesse eu perdido

Todos os fios das madrugadas, o frio ar
Que não respiro nem lembro se,
E começo de resto zero outra vez,
Sou feliz pouco por isso, não lembro

O que perco e porque morro da fala
Todos os dias um pouco, fosse
Por medo de errar o que da sorte
Se diz e o esquecimento que me

Cobrirá, do que a terra molde
Em acerto e normalidade
Eu erraria o ar que respiro menos, forço
O fazer falsa parte daqueles

Que vêm simples, os símbolos de ver
Dos olhos cansados da Terra
E o que nela ocupam na largura,
Do peito ao dorso, esse não tão oco

Como meu, que o ouço não respirar,
Eu erro o ar que meto plo osso do nariz,
No meio da boca torta,(um pouco)..







Jorge Santos (01/2017)














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Coração de ninguém ...








Coração de ninguém,
Mas ainda assim de
Alguém que no lugar
O tem, sem saber que tem 

Um que é meu e pró que serve,
Talvez tenha eu um outro seu, 
E pense não ter nenhum, 
Embora não saiba o que é ter

O coração d'outrem dentro d'mim
Que não é do meu corpo, se o
Mesmo não sinto como
Meu, até na dor que

Outros têm e não eu,
No coração que não 
É meu, é do mundo inteiro
Coração que a todos 

Dei, todavia nem eu
Sei sentir como todos
Os outros que pensei
Nem coração terem,

Por isso dei o meu todo,
Ou quase todo, sem ter 
De volta outro ou outros mais
Doridos que esses, doutros

Que não possuo mais
No peito meu, tão morto, 
Tão curto, estreito e gasto...











Joel Matos (01/2017)






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Havidos sonhos meus ...




A mãe da terra e dos céus
É a polpa das estrelas vivas, 
Culpa minha ser infeliz,
Que me fiz dos astros sóis,

E o meu pensar rasteiro
E o futuro preto como breu,
Acabados sóis negros,
Meus nervos e vísceras,

Viúvas negras do espaço,
Frias como meus passos
São, culpa minha sim, ser
Filho das estrelas activas

E eu não e eu não e eu 
Não. A mãe de todas as terras,
È o não fazer noite no coração
Das estrelas que cintilam,

No meu quarto, do tecto falso
Quando olho com escuros olhos,
Os havidos-sonhos meus ...




Joel Matos (01/2017)
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Cuido que...







Cuido que,

Cuido que sou das lágrimas amo,
Quando estas de mim são donas,
Meu coração de pedra-pomes,
Salvo o rins que pinto de tinta,

Quando bebo uns goles d'absinto,
Pra não lembrar de que pedras,
Sou feito e se me sinto invicto,
Quando bêbado dum litro mas en'pé,

E glorioso que nem Baudelaire
Depois d'almoço num "Tavares-Rico"
De pedra-gume e granito...



Joel Matos (01/2017)
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Orgia de terras estranhas ...







Orgia de estranhas terras,

Enfrento uma orgia
De terras estranhas
De pedras e lama,
Em frente nada há

Do que havia, escombros
-Com o vento mudou
Tudo o que acreditava
Como sendo Deus a Palavra,

Enfrento uma orgia 
De terras que não crescem
Flores nem frutos,
Que não me reconhecem,

Mais o que construí justo,
Rente a um muro imberbe,
Onde albergo e meu albergue
Em chamas ...




Joel Matos (01/2017)
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Reis, Batalhas, Elefantes ...







Reis batalhas elefantes ...


Acontece que vim com a nómada
Profissão das aves, pernoito enfim
Saudando a lua suavizando o vento
Com o azul do céu quando há tempo ...

Bom, acontece que vim ao sabor
Do voo e das aves que tenho dentro,
Sonho lugares comuns sendo senão
Sons e sílabas com que convenço

Os espíritos a consentirem que os abra 
Sem me ferir demasiado com
Reis, batalhas, elefantes ... 








Joel Matos (01/2017)






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Estórias de gente





As histórias devem ficar para trás
Para que não se confundam com o 
Tempo de hoje, tal como os sonhos
Se devem manter no coração para
Que não saiam quando respiramos

Como acontece agora,requer treino
E acreditar que temos dentro uma
Das maiores soluções pra felicidade
Do Homem quando falamos de ilusão
Da boca pra fora, ao respirar poesia

E como esta entra nos pulmões da gente,
Temos pra isso de estar atentos aos sons
Das asas passando de trás para a frente,
Como estórias de encantar tanto a gente.
As histórias devem ficar para trás




Joel Matos (01/2017)
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Cama no chão






Quase a minha cama
No chão, quem dera
Não ser de cimento 
E a noite quase dia

Pra que se anule
Esta vontade de ficar
Por tudo e fazer-me
Ao céu com tudo quase

O que acontece de novo
Por já ser de dia
No chão tijolo burro
Da minha oficina

De "mago de vontade
Pouca", quase cama 
Na sala do pouco
Amar-me-eu-não

Faço da cama minha, 
Esse duro chão cimento...




Joel Matos (01/2017)
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Riqueza de palhaço




Maior que riqueza é quem ser ...
Menos que rico, só eu consigo ter 
E sorriso de palhaço em circo de pobre


Joel Matos (01/1017)
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Soror da dor




Quando o soro do amor 
Não vem sincero nem dentro
Dos gestos que usamos pra fazer

Cre,r nem nos braços ao menos,
Se sente no roçar dos lábios 

Que temos na verdade, 
Pouco pra dar 
Ao outro
Ou nada sequer

Senão vácuo, soror habitual da dor ...



Joel Matos (1/2017)
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Há, de versos tantos ...






Há, de versos tantos,
Quanto estrelas no mar há,
Caminho por entre mar
E céu e esqueço quão

Presos ao chão sou eu
E os versos ainda mais
Fundo que em mim
Me pesam como pedras 

Com pedras dentro,
Sendo de barro o barco
Os versos templos,
Tantos quanto no céu

Acreditava ser de luz
Os pontos, em ponto de
Cruz desenhados
Por alfaiates distantes,

Há versos tantos,
Quanto realidades várias,
Deixá-los ser verdade
Ou ponte, nome completo

Depende da vista
E do que é feita,
Porque uma coisa é o olhar,
Outra o alçapão do tecto,

A telha, se é de barro
Seco ou vã, aberta ao tempo
E à visita de qualquer 
Um Deus,

Ou da albarda de um burro 
Manco e sem alcunha
De égua ou pai-de-santo, 
Há, de versos tantos, 

Quanto nos astros, pintarmos
Horizontes e universos 
Invulgares, orgásmicos,
Moleculares...



Joel Matos (01/2017)
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Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...