sexta-feira, 8 de junho de 2018

(1820)







1820


O mal deste mundo é nem tudo rodar à volta dele,
Por sinal a mim tudo volta excepto o que mais desejo,
Voltar ao mundo segunda, terceira, quarta vez e sempre,
Por isso escrevo detrás pra frente e não de frente pra trás

Mas sempre contra a rotação do planeta pra ser diferente
De toda a gente na Terra e em tod'a roda desta e sempre
Com a lógica de um relógio de água na metafísica de Escher,
Menos arbitrário o pêndulo que Foucault, e o universo 

Tão mais próximo quanto o supúnhamos longínquo
Ou tão a Norte, o mal deste mundo é nem tudo rodar
À volta dele, de mim tampouco, sou o que sente,
Cumpro o ritual das cearas, Copérnico das velas 

Crescendo, solto no ar o que parece ciência sem ser,
Ninguém me conhece tão mal quanto eu, mesmo
Os meus segredos me metem medo sendo a fingir, 
Tomara este mundo possuísse longas pernas

E umas mãos de metro e meio, pra me segurar eu,
O mal deste mundo é nem tudo rodar como roda
Esta pedra redonda, que é meu coração moinho/nora 
Por isso escrevo detrás pra frente e de frente pra trás ...


(Joel Matos 1820)







Joel Matos (05/2018)
http://joel-matos.blogspot.com


"I can fly"






I can fly …
Luar sem telha, casas sem telhado,
Coração vidraça, prova de mudança
Dentro o meu pensar, total o caos,
Rarefeito ar, meu pensamento hélio, 
Luar sem telha, casa sem telhado,
Rara substância, mudo de ser eu,
Cada noite mais escuro, cada dia
Mais breu, a prova-minha covardia,
Coragem sumida, assumo o luar,
Assomo estrelas quase extintas 
Por decreto, sol morto, labirinto,
Sala de jantar, vinho sem gosto,
Luar sem telha, casa sem telhado,
Partida a taça, hálito é vácuo o resto
É existir como se aqui o além fosse
Fragmento, e o que assomo, lugar
Que ainda preciso pra dispersar
Na morte os membros próximos
Do voar, can I fly, flor d’cimento,
Lugar sem peso, natural o medo,
Voar artificial e falso o que penso, 
Luar sem telha, casa sem telhado,
Asfalto, folha ao vento, façam-me
Estátua vulgar, branco pra ser ave
“I can fly”, imperioso ser-se vento,
Pra que se possa voar í’preso.








Joel Matos (05/2018)




Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...