sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nem em mim confio



Minha imaginação é um elefante,
Um bumerangue,
Uma faca afiada, de dois gumes,
Que me desapega a vida,

Um elfo e as fadas,
E os muros do palácio,
Que se dobram,
Como curvas e estradas.

Minha imaginação é um truque,
Sem chapéu d’mago,
Um castelo, num mítico bosque,
Uma miragem num tanque,

Um outro Entrudo.
Mas, se a coabitar com o meu “eu” inculto,
Mutilado e sem fantasia,
Sou forçado,

Mesmo quando o não entendo,
Deveria tomá-lo como certo,
E não como embuste,
Ou trapaça, ou farsa.

Minha imaginação
É uma almofada em branco,
De penas, remendada à pouco,
Quem me dera ter sono pesado,

E não acordar deste lado,
Outra vez comigo,
Despido e frio,
Deste lado ruim, em que nem em mim confio.

Joel Matos (02/2011)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tão íntimo como beber


Na véspera de não partir, nunca
Antes mesmo de ter pensado
No regresso, a incógnita
Do futuro sujeita-me a vontade,

D’abalar prá’s grandes extensões,
Da alma e do entendimento,
Mas, o que sinto efectivamente,
Ou está na prisão, ou anda amonte,

Ou é uma máscara, ou um pedaço d’alguém
Mas, a ilusão que m’lembro,
Só provem dos sonhos, de que s’lembra,
A consciência das flores,

Tudo o resto são lastros,
E castros e humores
Dos atalhos de quem viaja, por terra meia
E falha no destino.

Sou uma multitude de trastes,
Sou uma sombra de outra realidade,
Uma panaceia
De sentidos inúteis

E, dado que, na véspera não parti,
Como falei
E, tendo lugar reservado
No desejo absurdo

De encarnar num outro,
Os sonhos e as insónias,
Não terão morte no meu futuro,
Caminharemos de mão dada

Nos jardins d’outubro
Tendo na consciência, um cego
E no olhar distante, um louco
Que viaja numa falua sem corpo,

Querendo fugir e deixar tudo
Como estava no dia da chegada,
Sem se fingir d’arrependido,
Na volta da estrada sem vinda.

Sou tão cheio de abismos
E mistérios que não sei qual escolher
Dos terraços
E se chove eclipso-me no vaso de flores,

Nas ruas digitais
De pedras, enterrado vivo,
E as flores por coroa.
O plano era ter da jornada

A esperança, dum todo,
Como quem bebe o entendimento
Liquido, lúcido e menino.
Na véspera de partir viajo p’lo meu ser

Tão íntimo como beber
O reflexo da lua, não o meu…

Joel Matos (02/2011)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Definição de esperança


Breve, o dia em que decidi ser alguma coisa,
Espuma de mar cavado na sarração do vento.
Acordo no meio de uma conspiração d’ondas e horas
E dedico os últimos minutos a tentar definir o tempo

E lembro-me de não querer ser capitão d’coisa alguma
Sobretudo no dia de hoje que acabará d’manhã bem cedo,
Ainda me pus a olhar o futuro, sem solução à vista ou relógio d’pulso
E, na vigia baça da embarcação, abocanho um curto sonho,

Um sonho em vão, de quem espera horas e horas o fio,
Mas breve, breve como as ondas no bojo preto deste navio
Cargueiro. Vi passar o rápido, das nove e um quarto,
Branco, branco…Tinha na face, a expressão da glória antiga,

E eu aqui no porão, como um rato num ínfimo labirinto,
Hostil e angustiado sob o peso da máquina universal do atraso.
Ah, se eu estivesse atrasado dezoito horas na vida,
Começava tudo outra vez, à meia-noite e vinte em ponto

E seria mais um livro, posto na prateleira, sem paciência
Pra ser lido, contudo, sinto-me vivo como um nado-morto,
Embalado pelo dever de viver, ao lado de cada dia, de cada segundo,
Sem força para detestar tudo o que me é imposto,

Pela absurda tripulação de estibordo.
Ah, se eu tivesse ambição, provocaria um motim de praças
E partiria de malas feitas, por esse mundo sem fim,
Decerto seria alguma coisa, com mais sabor que não engodo

De peixe balão, batata de sofá, asceta gordo de time-sharing
Ou marajá da sanita. Descubro que sou, metade, tempo perdido,
Metade, escrita ilúcita e imaginação no intervalo, mudo de cor,
Ao estilo de camaleão do campo… sem título.

Breve, o dia em que decidi ser, coisa alguma,
Um zero, num fim metafórico de cena, uma réplica de sino,
Uma causa pequena, onde o vento, faz tempo não sopra
E dedico os últimos minutos, A TENTAR DEFINIR A ESPERANÇA.

Joel Matos
(01/2011)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Não sei que vida



Não sei s'esta vida é pouca ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos, enfim, não sei,
Nem sei se sinto o que sinto e penso ou, se vindo
De mim mesmo me convenço, que penso e que sinto, não sei.

Pertenço a um conceito de vida que não sei se já viveu,
Não que seja seu, o brilho que a minha alma repete,
Mas o dedo e o braço esticado, são do mestre Dantas,
Montado num escadote, tentando unir o céu ao esforço meu.

A vida, não tem norma invicta nem linhagem fixa;
Dispenso-a… e à memória… e ao labirinto, são coisas…
Completo-me com o raciocínio ,
Nem sempre coerente, nem lisivel, é pouco…é pouco,

Leva-me a um lugarejo litigado do divino,
Em que alinho letras e letras soltas, envoltas de linho…fino.
Não sei se vida é isto, armazém sem baixas,
Onde me procuro e só encontro desarrumo

Em caixas de cartão amarelado, apodrecido…
Não sei se lá jazz ou me vigia a fraude,
Soerguida da segunda metade humana que me resta,
Ou se o silêncio encerrará, o meu festim de vida. (e de humano em festa)
Não sei...

Joel Matos (01/2011)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Triunfo do tempo







O Triunfo do tempo

Dobrando a ombreira calada,
Onde tudo se passou, ou quase nada
E se pressente p’ra lá da paulatina
Ceia, a tal nota duma gasta máquina

De cortar cabelo, já cansada,
Mas o tempo, aqui ainda não parou,
(continuará a caminhada “ad eternum”)
E amanhã serei eu que com ele também  me vou…

Ah, que Saudades já tenho do velho vinho,
Aquele que se derramava por gosto,
E ardia…ardia com’o calor d’agosto,
No rosto e no seu jeito a rapazinho velho.

Parece q’ ninguém aqui passou por mim,
E s’acaso estiver fazendo  eu algo aqui,
Sei q’m’entende (ele sabe entender tudo,)
Se estiver falando, falarei com ele ,d’quando
(en’quando.)

Ele me conseguia ainda ouvir e ver,
Agora não passo de um fumo surdo, no fundo
Falo pouco, continuo ausentado, a semiviver
No Triunfo do tempo promulgado.

(depois adormeço e volto já manhã ou na seguinte data (--/--/----)
Espero ter sempre o meu pai aqui ao lado,
Ainda por muitos e muitos Natais.

Joel Matos (01/2011)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Carta a "uma Poeta"



Cumprimentos Poéticos…Lídia, meu amor, minha ninfa…

Dirijo esta carta a “uma poeta”, ou duas… ou três… (ou todas) e designo-as de poetas como ao feminino de professores e adivinhos chamo de professoras ou de adivinhas, adivinho algumas poetas que partilham do meu subconsciente, delas nascem as minhas mais belas invocações do parecer real.
Possivelmente lembras-te de Psyche ou Annabelle Lee, encontrávamo-nos num jardim perfumado por narcisos e perturbado por sombras sem nome, povoavam os nossos sonhos comuns, uma algaraviada multicolor de místicos míscaros e, não sabendo quais escolher, que não nos provocassem morte imediata, confiávamos cegamente nas negras máscaras, das virgens nuas que se perfilavam nas nossas consciências incomuns.
Foi com um intenso prazer que as li e reli, imediatamente surgiu em mim uma vontade grande de lhes prestar homenagem, pelos seus escritos cheios de sonhos e estética poética, ambos sabemos misturar os sonhos e a vida sem destrinçar qual duma é a realidade e o sonho das outras e então viajamos de uma forma indefinida, dividida entre a noite e o dia, o Sol e a Lua, os canteiros de flores que pisamos, só os trilhamos por não haver outro caminho, nem volta a dar ao jardim da originalidade irreal.
Partilhamos uma gaiola em éter, do Éden e da promiscuidades sem férias e não deixamos de ser escravos de um espaço fechado, só varia o facto d’o pensamento comum cavalgar obstáculos, o que nos distingue doutros pretende ser a originalidades e não a oportuna pertinácia (tão pouco definíveis ambas),
Dizem de quem possui essa ingenuidade, (falando baixinho no barulho da cidade) ter da verdade todos os favores mas na verdade apenas mudam os discursos que debatemos connosco por falta de interlocutor, para alguns estranhamente sinuosos para outros, engenhosos beijos aflorados de palavras e contextualmente exactos.
Sinto um estranho arrepio percorrer-me a pele e os membros a cada segmento de frase nua que leio, como se nem fosse minha e nem concorrente, a corrente de ar parece quasi-perfeita e feita da minha irrealidade virtual, concebo a previsão do impossível e isso faz-me pensar nos que possuem na paz a abstenção de pensar.
A chuva quando caía no cais era de uma obliquidade vertical e contava as viagens de um antigo viajante por mares de antigas terras, dizia chamarem-lhe Ozymandias “Rei dos Reis”, essa narração bastava para que as ondas se metamorfoseassem em dunas e os navios em caravanas, ondulando pelo limite visual do areal e da utopia.
Lembro-me dos teus olhos brilhantes e claros como lagos de água doce onde me banhava nu de preconceitos como antes de viver.
Aí os barcos eram de papel-maché, diferentes dos barcos que do cais via entrar e sair devagar, paquetes abalroados e ferryboats atarefados em não fazer nada, mas parecendo que trabalhavam.
Éramos de uma clarividência quase divina Annabelle, Psyche e eu corríamos, riamos e divagávamos, Ophélia sentada no banco de pedra esperava, …esperava e contemplava o mundo e o vento dizendo-me ao ouvido… viver é preciso, é preciso viver para provar que somos sublimes, a razão é um apêndice alimentado pela vista, há que manter as janelas limpas para apreciar os lírios e os campos, os delírios de cada recanto do jardim das Hespérides.
Nesse tempo trazia dentro do meu coração todas as ilusões do mundo, estava farto de ser órfão de um só Deus e dediquei-me a Pã num mar de outrora dentro dum oceano do rei Salomão.
É um prazer revisitar o mesmo local da minha infância confusa, o natais e os novos tempos também para mim se transformaram uma fonte de frustrações, confusões e outras palavras adicionais terminadas nas tradicionais "traições aos Deuses"
 Uma das boas coisas que recebi em toda a minha vida foi o teu apreço, com os teus sempre admiráveis elogios, Lídia (penduro-me neles durante algumas semanas de forma a me sentir fortemente recompensado ou antes, a não me sentir ignorado)

Dizem por aí que não entendem muito bem o meu discurso, eu também não, muitas vezes mudo de sentido porque enquanto redijo, vou interrompendo o  curso de pensamento, umas vezes voo roçando pelos atalhos do pensamento outras vezes perco-me porque começo de dia e acabo dois ou três dias ou noites mais tarde,mas noutro universo, não muito paralelo.

O meu muito obrigado Lídia, ainda bem que consigo cativar o teu interesse pela minha escrita à qual me refiro como "poética" mas falta-me inventar um "estilo" menos pessoal, não tanto “Pessoano”, mais meu, escrevo muito ao sabor da conversa mental que debato comigo mesmo e com o Outro eu,  pouco impactante mas não somenos importante. Foi a tua capacidade de apreço sem retorno que me influenciou e definiu o  fio invisível que segui desde a teia, tu foste a primeira invenção dos meus simples escritos.
Leio pouco mas considero os poetas bons vizinhos, deram-me a conhecer Keats, Shelley, Poe etc, Mas não ponho de parte a ideia de mudar de casa para subúrbios menos nobres; idolatro-os, sim… mas tenho de “pôr os pés à estrada” e encontrar a rua do meu bairro, o meu pessoal labirinto.

Tenho um medo horrível do fracasso, posso falhar já amanhã, poderia ter falhado ontem, não importa quando, sempre tive medo da derrota, talvez por isso esteja aqui sentado no fundo de uma loja ceifando filamentos do nada, entrar nesta casa e fazer todos os dias os mesmos gestos é fácil para mim, fazer diariamente o mesmo trajecto num engenho entre a casa e o simplístico trabalho é a base quase plana para quase tudo o que sou, quem sabe se a minha quase sensibilidade depende da estúpida monotonia e do que leio, e do que quase faça no dia-a-dia.

Ontem estive dialogando literalmente com o meu cabelo, este respondeu com desdém, dizendo:
- Como é possível que não tenhas medo de montanhas, do frio, de te isolares durante semanas a fio, longe de tudo e, no meio da multidão te sintas um atado cidadão, um citadino homem-anão, um homem “mais-que –fugaz” ?
Fiquei sem palavras e lembrei-me d’outro extenso diálogo que mantive enquanto encostava a boca a uma “canilha” de chá-mate e folhas de coca, nos Andes Peruanos sob o suor do sol e das lágrimas circulares da lua.
                                                                                                                            
Disse-me nesse dia o fecho-eclair do casaco de penas que usava sobre o peito contra o frio agreste, disse que eu exagerava nas mensagens para esconder o nada já que ninguém entendia nada e assim não seria necessário esconder o nada e esperava mesmo que jamais entendessem, já que não teria mais nada,mas nada... de meu para proteger por dentro, detrás do fecho.
Para seu bem, por estar frio e por ter abusado do direito de me criticar, tive de fechar imediatamente o fecho do peito e outros.
Continuei depois, conversando com os búzios e fechei os olhos.
Se dirijo esta carta a uma poeta é porque houve um tempo em que a minha janela estava aberta e exclusivamente reservada a elas (poetas), volteavam como se uma fossem, eram mais de dez mariposas e via-as a afastarem-se, devagar…devagar, agora sei que jamais existiu ontem ou amanhã e serei eu que voarei através da alucinante lucidez delas.
Em breve deverá chover.

Joel Matos (01/2011)

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tenho saudades de quando ignorava que havia mundo…


A chuva parecia à pouco determinada a destruir tudo,
Corriam pela rua com um furor apaixonado, o universo e ela.
Cabe entre mim e ela um vidro e um cortinado, diria que o veludo
Abafa a minha inveja, num aconchegante conforto de cela.

Tenho saudades de quando ignorava a chuva e ela a mim,
Hoje, afoga-me em ciúmes sem cura e do tamanho do universo
E não tenho mais a ilusão da’squina, ser a aresta d’algum jardim
Imenso, esconde-se no sonho dela o meu conceito de extenso.

Consumo na inveja o detrimento das outras sensações,
Como viajar ou ser lembrado, como um homem do mundo,
Entre mim e a chuva havia um milhão de códigos, cores
E sinais citando “Carlyle” e Entepfuhl, a estrada do fim do mundo.

A chuva parecia à pouco determinada a destruir tudo,
E eu aqui sentado vejo-a partir, sem destino, com a lua cigana,
Sou um mito de natal, madeiro sob o cobertor escondido,
Não tenho mais o delírio da chuva, nem de humano a sanha.

Tenho saudades de quando ignorava que havia mundo…

Joel Matos (12/2010)
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Nego que seja Arte

Platão e a rectorica 

Que se dane o sonhar de dia, se o semblante do subúrbio sem face
Marcasse o dia do meu desterro num obelisco tremendo, um mistério me cercaria de dia,
Assim um muro me cerca de noite, o sonho afoita-se na frecha greta o dia todo, tod’o-dia-a’fora
Porque minh'alma não partiu, ficou no corp'i'ruíu, ruindo, rindo constantemente de meu desalento
E se hoje acordei em prosa foi porque os ecos se foram, dos sonhos, morreram…
Porque as lágrimas de súbito secaram e das alas saíram
Pétalas e acordaram súbditos sentimentos  do que eram, subterfúgios  
Inconsistências e prosas incoerentes, sem arte.
Dane-se o sonho, dane-se o dia, Se há-de vento o que há-de calmaria
Há-d’a ser noite o mesmo que há-de ser d’ dia, de noite os meus olhos são palcos do que imagino
De dia Iludo-os com irritantes aplausos e fecho-me de fechos eclair p’ra não entrar luz da rua
E gritaria que me destrua.
Dane-se o agreste frio celeste e a peste se os nossos corações de tão altos...sem quem os alcance,
Caem em cacos...como se de louça fossem, daquela que se parte, mas ainda que minhas vozes não rachem mais o público, que se fartem das minhas postulas Rugas e tracem um subúrbio na face, as minhas pálpebras fechem no final cadafalso,
Do que ficou escrito e dito nego, nego que seja arte…

Jorge Santos (12/2010)

sábado, 18 de dezembro de 2010

Flores Indizíveis



Há flores indizíveis, da mesma cor da minha sombra,
E quando as descrevo, são elas quem m’alembra,
Que não tenho, nos olhos a mesma nitidez
Do girassol, nem a solidez do chão, em que poisam cardos

Ou nas veias, a acidez da planta alcalóide,
Apenas partilho, com a natureza, a vontade
De me fazer dividir, pelos sentidos vasos,
Se bem que não ache, a porta dos humanos

Órgãos e entrar na pele deles, (Homens) é bem mais difícil,
Teria de pesar o juízo certo, ser d’eles uma indivisível ideia,
Com’um sonhador falso, entre tantos, sem fantasia
Nem assombro, ignorar a cor d’minha própria sombra,

A sombra das árvores ond’habito próximo.
Há flores invisíveis e com elas tanto me identifico,
Que, quand’as ofereço, esqueço que é o meu próprio
Sangue ou veneno, que perco em quanto escrevo.

Joel Matos (12/2010)
Http://namastibetpoems.blogspot.com 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O fim dos tempos



 -Fazem-me faltas as mutações de palavras montadas em esconsos alicerces dominando Babel, 
Do tudo ou pouco que li não entendi nada, talvez porque não fosse eu suficientemente intenso e apaixonado no íntimo, mas a leitura que fiz foi de único sentido e transverso, entrou mas não saiu potente no papel, (escrita algo ambíguo que não vos era destinado), e que ordinário envelope sem remetente encontrou em mim! -Sem a fórmula alquímica equivalente ao ácido realístico.
  Fazia-me falta a inacção mansa, inesperada e o balanço harmónico no silêncio suspenso para não me encontrar em cada frase pronunciada e em cada crepúsculo, contorcido de desconfiança da rua deserta e medo da alienação e de todo o vivo quarteirão da vila, do arrojo e da vulgar opinião e depois ter de falar por falar do insucesso, do parentesco que cultivo com ele e com o meu umbigo despropositado, também da saudade do nada (dizem sempre vem repetida em porções ou e em bruto), á toa quando se grita em tom mudo ou falar da sonora chuva que não cai porque se esqueceu onde morava a poeira.
      Fazem-me falta a erupção e o abismo Estremo … abrupto e que antecede o estrondo da queda de um anjo no inferno, presto homenagem ao aborrecimento, ao esquecimento e á erudição, pela falta de esperança que encontro na extinção de facto.
  Faltando-me a limitada coragem pouco mais me acompanha na queda, talvez na atenção que dispenso á paisagem eu veja um desejo evoluindo discreto dessa viagem pouco concreta, admito fazer algumas confidências mesmo quando estas deixam de ser confidenciais se e quando ficarem vazias as portas da curiosidade autêntica, mesmo assim sei que o desafio de sentir é uma alucinação endomorfica de que não prescindo mas não significa nada porque não espero ser diferente do vazio penhasco que apesar de previsto, não enfrento (eterno conflito), vivo da mentira e do desconforto, não me convidem para o programa de desintoxicação da impotência virtual porque o que quero é viver pendurado nesta alma ingénua e embalsamada, posso não albergar grandes pensamentos ou aptidões mas modero as explicações para o mistério da alma cotada e reporto-me em estratégias consumadas.
  Sou sério candidato à fraude e ao roubo (como governador de um castelo extra-sensorial) reconheço-me ainda mais corrupto do que me julgava inicialmente quando ainda habitava em paz comigo, agora a capacidade de me debater esfuma-se e navego á bolina, ao sabor do temporal.
  Não posso cultivar mais a indignação pois corro o risco de ser barbaramente derrotado por ela em conflito bélico e directo (homem a homem), espancado até á morte. Administrei mal a minha cota parte de senso comum e resultou no desastre que se conhece, me travisto infinitamente de poeta mas não avisto nada de novo na estrada em que um cantoneiro ainda insiste em volver a terra da berma, cada dia que passo por ela envelheço um pouco e na berma crescem ervas, flores amarelas e um rastilho do odor bucólico, ele me devolve o sentido prático de convívio e com o despropósito de andar por esta estrada despido, tenho saudades da estrada, atalho do insignificado.
  Possuo uma dificuldade inerente aos cegos ocasionais de me deslocar entre as árvores e os obedientes servos e pasmo quando vejo contorcionistas e equilibristas revirarem latas de lixo abocanhando os restos da utopia que a história nega.
 Não uso outra roupa senão a emoção e quando estou nu, espontaneamente a minha mente embriaga-se de liberdade, depois miro-me no espelho mas a roupagem não me serve quando a envergo e não tenho outra para me vestir, desfaz-se o preconceito e a viela minha paralela espelha a angústia, numa aflição auto-infligida como quando pondero no que sentiria se me abandonassem numa lua sem o reflexo na fachada.
 A ligação amorosa com a personagem plenitude estende-se até pr'além do entendimento e da paixão. Tomara que alguma coragem tenha de renunciar a esta sensibilidade instável, quiçá insuportável e egoísta de me auto criticar.
   Opúsculo sinistro é o manifesto de saudade no futuro invicto, faziam-me jeito os sortilégios cabalísticos das sílabas que não entendo para que me afoitasse no luar depois do fim dos tempos.




Joel-Matos (12/2010)
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sábado, 4 de dezembro de 2010

Canção do pão (ou a revolução dos "tesos")



Não sei o que a manhã mostrará,
Não avisto no futuro uma só sobra,
Que seja broa ou pão, nesta Terra convulsa,
Nem na multidão (ainda assim) isenta de firmeza.

Sou descrente de uma confiança
Tão escassa no amanhã, nomearei
Sem dúvida a revolta Franca como arcaica,
Com tolos degolados no terreiro do rei.

(Vive la Repúblique, viva a República)

Não sei se amanhã será revogada
Pelas sombras ou em círculos de história
Infindáveis a giz tendo no esquecimento advogado
Ou se tudo não será apenas uma alínea

Do decreto-lei e do  ditador que aí vier
Não sei o que o amanhã nos trará,
- Dizia eu - mas poderá alguém ver
Pr’álem das paredes de greda e pedra

E das grades de prisão que nos cerca?
Basta de alçar promessas falsas,
Baseadas em astutas falácias,
Não absolveremos quem nos insulta.

Não sei o que o amanhã me trará,
Avisto no futuro uma sombra bem negra,
E não sei se minha também será,
Na canalha de míseros sem pão nem terra

De tocha na mão no Terreno do poder
Mal usado, sem compaixão
Espetaremos uma "naifa" na goela dos ganaciosos
Chefes das nações (viva a revolução dos "tesos")

Não sei o que amanhã me trará,
Mas suponho que outra, i’nda mais explícita canção,
Se esta paixão não incendiar outros espíritos í’fora
que peguem fogo na boreal aurora

Joel Matos
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30/11/2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Lilith


Não me surpreenderam ainda os meus dedos curtos,
Num corpo de barro, sem o arrojo que o revele,

Mas abria um buraco no céu, se Lilith viesse por ele
E me assombrasse com os seus dedos compridos

E a língua infiltrada, explorando os recantos,
Como seres danados, sob uma mesma pele,

“-Porque hei de eu deitar-me debaixo de ti”
Dizia simplesmente a fascinante Lilith,

“-Se eu também fui feita tua igual, do pó,
Não da meia-costela do Adão com nó na goela,

Que com ele partilha, da fraqueza e não o poder,”
Eu abria um buraco no céu se Lilith viesse por ele,

E me amarrasse; e eu me amarrasse a ela,
Alimentando -nos de sexo, sem férias,

Na cama menos ingénua do universo.
Caiu uma lua nova do céu, numas tréguas

Perfeitas de nuvens -Lilith veio nela…




Joel Matos (26/11/2010)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...