terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Em pó mudo …






Poesia é estaleiro e transmissão de tanque,
Poesia é terra, transfiguração viva e guerra,
Poesia é Insurgência, Rebelião Fractura,
É um respirar que dura pra’lém do que
É vida. Essa inútil e retráctil face do que
Dizemos ficará da gente pra sempre, 
Se matéria é processo e transformação,
Poesia é estaleiro, transfiguração e herança,
Dança e chaminé de paquete, pavilhão e
Estandarte, cavalo e galope, Juno e Júpiter,
Poesia é tudo quanto faz doer e dor não tem,
Nem sabe ou sente que provoca ao mundo
Sofrimento e desejo, solidão e demência q.b,
Poesia é tudo isto a que me dou de corpo inteiro,
A embalagem, a vasilha, a cela e as grades,
O fulano cuja realidade se incinera sem pena
Nem piedade, em pó mudo, peste e adubo …
Joel Matos (11/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Finjo compreender os outros …




Finjo compreender os outros
Sobretudo os mortos, minha memória
Tanto faz lembrarem quando me for,
Se nada fiz de bom a ninguém,
Nem a mim tampouco, indiferente
Ao circo, a indiferença é um cinzel
Que me iguala aos outros nos cantos,
Reduz arestas, sobretudo aos mortos
Das campas rasas como estas daqui,
chuva é detergente, erva não cresce,
Finjo entender dos outros sobretudo
A poesia, não faço parte do publico 
Fraudulento estragado, não me apraz 
Ser enterrado no vão de um buraco
Feito no chão, igual aos outros mortos,
Aos quais o inútil não destrói, a mim
Me dói tanto que me transforma em
Lívido, eu que era do tom das alvoradas,
De total silencio, de quando tudo é mudo,
Finjo compreender os outros qb,
Sobretudo os mortos da praça Camões,
Do numero dez em diante, incenso branco
Sentimento de culto, Pascoaes,
Finjo compreender nos outros, 
O comum comigo no exterior,
Olhos e ouvidos, o resto são males de sono,
Tão brancos, breves quanto alucinações 
De louco, fujo de compreender isso
Quase tudo, sobretudo nos poetas mortos
Despidos da matéria, sonho o absoluto
Em quadrantes de sombra e lua,
Imortal a poeira antes de ser ouro puro,
Tudo o resto males e marés de esforço,
Olhos e ouvidos comuns a um umbigo
Dos outros comigo…
Finjo compreender outros, esses.
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

(Do que me vai na alma)











(Do que me vai na alma)


O que me vale no fundo
É nem alma ter, falo novo
Numa linguagem sem futuro,

Tão pobre quanto as flores
Que crescerão na tumba,
Depois de morto qualquer dia,

Todos têm pose, eu quero posar
Um dia onde mora a luz,
Como um rito que em mim sinto,

O que me vale no fundo,
É ter consciência de Zodíaco,
E seguir nos rios como que signos

Onde mora a luz, é nem alma ter,
Ser quando eu quiser
A ultima jornada e à roda nada

Nas voltas que o mundo dá,
Numa viagem sem futuro,
(Do que me vai na alma )








Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Nêsperas do meu encanto...




 

Nespereiras, o meu encanto...
Entendo mal todo o pomar,
Nespereiras do meu encanto,
Folhas pregadas a um tronco,

Firmes, sossegadas, nenhuma
Se destaca, o meu pensar não
Também, fez-me "Soba" o circular
Sono e as folhas tapam o solo

Nu, postiça a sensação de paz,
Remota a glória que me coroa não
E às vespas douradas pretas,
Entendo mal o sacro pomar só,

Faz-me falta o ar liso, a vigília
Morro sem razão concreta, aparente
Ou epidémica, pregado ao tronco,
Decorativo, sossegado, perpétuo

Nespereiras do meu encanto
Que despidas nunca pude admirar 
Escuta-as débil o ouvido meu
E é só...

Entendo mal o pomar todo
De perto poderiam representar
Um sentido oculto antigo que
Eu quero sentir, mas não,

Nespereiras do meu encanto,
Folhas pregadas ao tronco
Impedidas de abalar do mundo
Assim eu, humano rude, manco, feio,

Nespereiras do meu encanto,
Nêsperas, o meu canto...








Joel Matos (09/2017)

Não saberia que dizer …




Não saberia que dizer se me encontrasse
Com o silêncio “cara-a-cara”, frente-a-frente
E a sós com ele, talvez olhasse pra trás 
E pedisse que não me abandonasse a última
Frase, a última palavra com sentido que disse
Sem a sentir pronunciar, sem a pesar nos lábios,
Sem a ver distanciar e sentir que vai linda,
Inda mais linda a quem a vê chegar parece,
Do que quem a viu partir pra um lado incerto,
Não saberia que dizer se me encontrasse
Com o silêncio pois ele guarda segredos meus,
Despe-os como eu não sei, nem meu coração
Traidor, assim o silêncio me devora as mãos
Não o peito, cheio de iras e ais, infiel o sinto
Labirinto de enganos, inda mais que o silêncio
Plano, oco por fora e branco por dedentro dele,
Finjo que minha alma é ele sem ser sem a ter,
Que dentro de mim ouve sem falar, que se esconde,
Sem me dar o que preciso pra sentir e dizer e
Falar, deixando-me por contar o que penso a fio
E com gestos inúteis que transformo em sombras,
Ainda que o silêncio me devore as mãos, trago
Flores que não posso explicar ao silêncio vago,
Anódio, infinito, árduo …
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

I must believe in spring again ...





I must believe in spring again …
As heras passam, passam
P’lo meu corpo inteiro,
As aves voam, esvoaçam
Sob minhas raízes d’pinheiro,
Ai..se eu fosse marinheiro,
Não mais morreria afogado,
Traria do mar o cheiro frio
D’um beijo d’mar abastado
E das madrugadas d’outras heras,
P’rós cheirar nas searas viradas
P’lo vento, o cheiro a aguaceiros
E na erva brandura próprio delas,
Da seiva não sei, minh’alma é calma
QB e a chuva é lenta também, se arrasta
Nas madrugadas e no trigo casto,
Trago no coração ruim amigo,
Aí os corvos esvoaçam o dia inteiro,
Sob estas minhas raízes enterradas,
Nem sei se chore ou se rio,
Ou qual desses primeiro e a fio,
I must believe in spring again …
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Receio ser eu mesmo nada.




(Receio ser eu mesmo, nada)
Quem sucumbiu não fui eu,
A cento e um alvor e nada,
Nada tenho que não seja
A lua parda, parada, presa
A cem mais uma almas 
Frágeis, de vidro que trago
Penduradas, místico eu
Que me ocupo da dor d’mais
E morro todas as madrugadas, 
Treino o finito e o perecível
Que é o corpo sem asas,
Cubro-me de pássaros e vidros
Frágeis quanto as almas
Que trago ao cinto penduradas,
Nas pernas presa a lua parda
Diz-me adeus, minto; me chama 
No escuro da noite, tão clara
Quanto o brilho das minhas almas
Mil e uma que trago na cintura,
Tão finitas frágeis e sem asas,
Místico eu de madrugada e à noite
O luar meu culto, ramos palácios
Onde ressuscito sereno, sem fim,
Quem sucumbiu não fui eu,
Mas o receio de ser eu mesmo
Nada.
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...