O sonho de Platão ou a justificação do mundo
A vida completa-se em cada um de nós num breve sonho de conquista, somos o sonho da matéria, somamos símbolos, metáforas e representações que nos substituem, juntamos mistérios para nos explicarmos e justificarmos religiões, fés e credos, à sombra de uma terna luz solar, de uma eterna soma de desleais explicações patéticas (que não nos explicam), de sonhos legais, desejos lícitos e formidáveis ambições.
A expulsão do paraíso e a expiação do mundo, são duas dessas fábulas fantásticas em que lei, ordem e doutrina se justapõem acerca do arrependimento filosófico e voluntário, de reconciliação ritual de metanóia espiritual.
Assim o sonho de obediência, a observância das leis da cidade de Platão, que ele mesmo ajudou a redigir a defender, e a fazer respeitar, de enfrentar a ansiedade e o medo da morte de não responder a uma injustiça com outra que seria a fuga, dizia ele segundo Aristóteles, seu mais proeminente discípulo, acerca da importância da alma e da necessidade de se cuidar dela assim como do corpo físico, assim como o bem e o mal não se podem dissociar assim também o conhecimento, a verdade e a purificação são inseparáveis, o nosso eu, o meu eu.
Bem que verdade e virtude nos nossos dias tem as “portas da percepção” fechadas, encerradas mesmo, muitas pessoas confundem verdades e factos com falsos axiomas virtuais e intencionalmente mal manufaturados placebos..
“Embriaguem-se porra de vinho de poesia e de virtude”, disse Baudelaire “Les Fleurs du Mal”. É uma escolha literal, o integral elogio do fracasso humano, a exuberante aquiescência do conhecimento o qual, embora não me explique, mas distingue do tecido de sarja, distrai para poder extrair da imponderabilidade a mais pura intensidade embrionária e visionária, sonhadora. A poesia é o começo de tudo, do pensamento e até da ciência do conhecimento por isso não a podemos vulgarizar, enfraquecer. Suponho que em Atenas não haveriam redes sociais mas apesar disso a democracia não morreu anémica embora ainda embrionária e foi a convite de Sócrates a que nos mantivéssemos lúcidos, contemplativos não obstante a estupidez tacanha coerciva e colectiva.
O fogo tem perdurado desde que a primeira tocha se acendeu na escuridão, assim é o entendimento apesar de todas as vicissitudes, muitos têm opiniões mas poucos muito poucos carregam o facho, têm senso, a coragem da avaliação critica e analítica, poucos têm coragem para pensar diferente e se distinguirem da manada, têm um custo todos e quaisquer actos de rebeldia e o facto de pensar que nenhum algoritmo hoje em dia ainda conseguiu igualar, o espírito que nos fez e produziu criativos, desajustados, insurrectos e os menos correctos.
Estarmos sós no universo ou não, é igualmente assustador segundo Arthur C. Clarke , o universo deveria pulular de vida inteligente não obstante aqui na Terra e nas cidades que tanto valorizava Sócrates deixou-se de ler as estrelas e de observar a relva a crescer nos canteiros, criou-se um paradoxo entre premissa e falácia, dissimula-se astuciosamente e o inventado cria metástases difíceis de combater num formigueiro onde todas as formigas são rainhas e se contaminam mutuamente sem reagentes ou antibióticos.
O desaparecimento do pensamento critico nunca tinha acontecido, excepto nos últimos tempos desta sociedade supermoderna, talvez pelas solicitações interactivas que possuímos e nos influenciam negativamente. Nós somos lobos solitários, elefantes e não abelhas ou formigas e nunca 1984 de Orwell foi tão actual, não nos podemos deixar controlar por opiniões ou plataformas, sejam elas quais forem sob pena de silenciar a liberdade individual e colectiva.
“Basta não ter escrúpulos Moraes” morra o Dantas, o Dantas é um paneleiro, o Dantas cheira mal da boca, dizia-nos Almada Negreiros resta-nos a responsabilidade de dizer, O DANTAS era um homem sério, porque dantes havia seriedade e respeitabilidade. O Dantas era um homem a sério, tinha importância vital alguma, como não têm agora milhares e milhares de semi-cidadãos e cidadãs, senão milhões de indivíduos, pessoas que pouco pensam e não pesam na estrutura social, são como lixo nas nossas sarjetas imundas de falsos oradores, adoradores de opiniões rasas, cobradores de promessas num mundo promíscuo, cheio de pragas e reservas ao qual eu me reservo e me tento preservar enquanto me deixarem fazer perguntas difíceis como estas -somos ou não seremos o sonho da matéria – não ter medo da exclusão social numa sociedade de placebos e patetas, não silenciar a liberdade e a responsabilidade de dizer e a levantar questões por alíneas “aos imbecis aos párias aos ascetas aos Lopes aos Peixoto aos Motas os diabos que os levam , os Mattos, os Gaiveus de Albuquerque E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!! ah, E AS CONVICÇÕES URGENTES. Morra o Dantas Pim PAN pum”
Voltando atrás no tempo, muito antes da revista Orfeu, do “manifesto Anti-Dantas” e da critica da razão pura, do antidogmatismo revolucionário e “Coperniano” de I Kant, qual diz que conhecimento não é apenas uma recepção passiva de informação, mas um acto puramente racional de interação e experimentação. Galileu Galilei, ao contrário de Sócrates o qual preferiu morrer para salvar convicções e à posteriori as nossas também, retrata-se desta forma sensata,
“Eppur si muove”,contudo move-se, a minha pátria é a mãe língua e não pretendam que não a utilize, não a mova também desta ou de outra qualquer forma, em liberdade pois, no entanto, ela se move em fase contraria às mentes vigentes, em movimento retrógrado, a contraciclo ….
Álvaro de Campos
As mortes, o ruído, as violações, o sangue, o brilho das baionetas…
Todas estas coisas são uma só coisa e essa coisa sou Eu…
Outubro 20/25
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Jorge Santos /Joel Matos








