Não acredito sinceramente em tudo,
Por mais que afirme crer em muito
Que outros creem e aceitem devemas,
Como numa tocha acesa sem fumo,
Sou uma bola de neve negra no futuro
Direto onde quebro, me desfaço areia
No fim de um anônimo fim d'dia, nulo
Pra sentir que sou quem seria, Mórmon
Se fosse pensar quem eu m'penso
E me sinto durante uma descida torácica,
Apenso à geometria duma estéril s'fera
Em vidro, oca e baça por dentro, ácida
Ao centro. Sou tudo quanto há a meio
De uma sala vazia sem troféus, ações,
Além das atitudes despidas de gestos
Que decidem o meu decidir moroso,
Processo em que me revele capaz
De mentir sem o atávico esforço geral
-mente mencionado erroneamente a outros
Mais rapaces que eu me sinto e sou.
Não há na vida uma só verdade clara,
Tão cara quanto a minha, claro que eu
Encarno como meu o sonho que é ser
Senhor do universo, toda a dor do cervo,
Todo o insucesso que pude chamar
De meu, ouso ouvir-me dizendo não sei
Quando me perco, me confunde enredo,
O que acredito ser lei, minto o que sinto
Embora não sinta absolutamente nada,
Por mais que minta a mim próprio e muito,
Sem querer ou querer dizer o que
Deveras minto, sem ser exato ou certo,
Que sinto, me perdi de mim próprio e
Estranhamente me desconheço, enfim
Caminho, não sou eu nem minha a
Passada, nem por onde passo, s'trada.
Joel Matos (13 de fevereiro de 2024)
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3 comentários:
Sinto inveja da realidade,
Demonstro-me incapaz
De viver rolando uma
E outra vez sonhos negros,
Enredos falam-me apenas
Do que conheço ou acontece,
Quem sou é algo mais estranho,
Rodeio-me dum outro mundo
Que não este leal que enleia
E me esquece, afirmo solene
Que não me fere e com esforço
Deixo de sentir o que não ouço,
Substituo da dor o ter e não
O dar, embora dê o que me
Cumpre e o que me cobra
A quota parte da realidade,
Supondo-me eu fruto fictício,
Sinto inveja dela própria
A maçã, sendo eu o podre,
A larva global do desprezo,
Sinto falta na realidade de
Saber se me acabo na ilusão
Em que me reconheço mais
Sombra que somente escuridão,
O fracasso tem um preço
E é deste que eu me queixo
Joel Matos
24 Setembro 2024
Não me corrompeu o ind'agora
Uma febre ligeira chamemos-lhe
Covardia, um estágio fora da alma
E os sentimentos que não tememos
A apologia de um lugar diferente,
Lá fora as Carpas mais me parecem
Lírios longitudinais, mas presentes e
Legítimas como tudo o mais, Chernes,
Percas da minha rua, rua de quem
Se perdeu nalgum tempo, não eu
Embora doendo seja eu mesmo
Acontecendo “sine-die” nem hora
Não me corrompeu o ind'agora
Uma febre ligeira chamemos-lhe
Covardia, um estágio fora da alma
E os sentimentos que não tememos
A apologia de um lugar diferente,
Lá fora as Carpas mais me parecem
Lírios longitudinais, mas presentes e
Legítimas como tudo o mais, Chernes,
Percas da minha rua, rua de quem
Se perdeu nalgum tempo, não eu
Embora doendo seja eu mesmo
Acontecendo “sine-die” nem hora
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