terça-feira, 25 de novembro de 2025

Atrai-me o medo



Atrai-me o medo, a volúpia,
A dor curta e a angústia
Que passa veloz, a palavra
Egoísta far-me-á justiça,

A inveja e a vaidade,
Veleidade d’carácter, também
Assim com’o fracasso
Antecipado, afligem-me

Ideias de sucesso,
Sonhos falsos que nem
Foram construídos pra mim.
Não passo dum projecto,

Uma espécie de filosofia
Andante, quotidiana, dramática
E incurável, estranha coisa
Essa’onde existiu Homero,

E uma versão do universo,
Que não é bem d’verdade,
Embora a mesma dor breve,
E uma pergunta em aberto,

Ou meu sonho se perdeu,
Ou me perdi eu do sonhado,
Sendo que o sonho sou eu,
E o auditório está vazio,

O mundo continua parado,
Tranquilo como sempre
Existiu, os galos cantam,
Tardia a natureza emudece,

A noite fria prossegue,
É um facto que não surpreende,
Já o constante medo,
Em que paradoxalmente vivo,

Não me causa temor,
É um vício, tem vida, definição
De corpo, qualquer coisa
Indefinida entre eu e eu…

Joel Matos 25 Novembro 20/25

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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Todo eu sou qualquer coisa

 




Todo eu sou qualquer coisa



Todo eu sou qualquer coisa, aquilo que me mente e por mais que de mim me afaste, sinto-me uma versão banal de outros quando de mim demais me aproximo por ser tão vulgar quanto o que falo e digo, via de regra sinto nojo da extrema limpeza da pele e de limpas tabernas, da qualidade duvidosa dos que se esmeram por agradar aos que passam e dos que nunca entram pra não se macular de mosto ou de cevada, murmuram e se muram de lantejoulas tal qual travesti de Madona,/Dali, usam vestido o vazio nas mentes redondas como batatas,  negras mentes no escuro, baratas de luz pacata em móveis, imóveis para se não destacarem, se esconderem da claridade do dia, dizem-se vulgar e virtualmente puros, dos poucos possuidores da arte da erudição, hipócritas castrados e pestilentos, agentes da “antipoética”, que não conhecem a musicalidade das esferas celestes, o misticismo que é necessário para ser poeta/profeta e transformar dragões em anjos, anjos em inflamados cometas, o hálito de sabor amargo das bestas bravas, da bonança e o pó da estrada em esperança.

Nós pertencemos à raça brava, com o sabor análogo ao do solo prenhe, a limbo, a terra nova e descoberta, somos de resignação violenta, os nossos dedos acariciam a erva e os musgos nos regatos, à beira do abismo nos braços da natureza perene.

Os meus passos têm a leveza das aves dos céus, salmão dos mares, quando me perco, como sendo “Prometeu” ou seus pares do Atlas ao Taurus.
Sou imenso, sinto e peso um cosmos em mim, não consagro o meu tempo à banalidade, à mediocridade, sinto nojo de dualidades e de almas sôfregas de ruído.
O imbecil é e será sempre um ser colectivo coletivizante  e ostracizante, todo eu sou qualquer coisa que aguarda apenas o soar da meio-dia “à janta”, a alternância de quem gira em torno de si mesmo, como uma esfera, comum Terra, o sino, o címbalo, o Olifante, a trombeta para o qual a minha atenção se dirige, ao longe, muito longe, no único andar do mundo que não muda, aguarda apenas, aguarda suspenso e fixo num ponto mudo, o nó do mundo, o futuro de tudo-e-todos …a contenda dos moribundos na cidade berço de “Ananda”…o nó mudo em Mandala-papel.

Conquanto penso e vejo-me sentado, solene onde decorre o meu juízo e penso ser um pouco de tudo que é impassível e resulta certamente em mim, não me posso perceber, contudo conheço-me mais que tudo, giro em torno de mim mesmo, assim como um pêndulo em torno de Foucault e apenas aguardo …aguardo apenas, de cima o som que é mudo, do nó do mundo o troar do sino, o soar da “janta”, o hino ao fim do mundo !

“E orgulho-me todavia de minha humilhação, e por estar condenado a tal privilegio, quase desfruto uma salvação odiosa: acredito ser na memória humana o único exemplar vivo de qualquer espécie a ter naufragado um navio, num deserto de pó e areia.”

Não minto quando me dispo do que poderia ser dito entre o dito e não dito do que realmente digo, sim “Eu jamais parti” mas não digo não, pois poesia não sai de mim, foi-me dada assim, é a minha água pura, a minha força motriz, nem se compara ao ar, infinito o que respiro, é o que a voz me diz, por isso direi mesmo depois do fim, serei futuro ou estarei realmente aqui, no que digo de alma e corpo “Eu jamais parti” … “Eu jamais parti”

Um hiato entre o que, ou por quem me tomo e o que sei sou ou sonho todavia subordinado a ser e será o eu verdadeiro enquanto o sonhei que na prática é o que sou e como me vejo, um resíduo, um suborno de sensações anteriores ao pós nas quais creio antever ou antecipar algo como se fosse o meu reflexo real ao espelho e eu espectador fictício de mim mesmo mas com relevo falso artificial e uma memória de outra espécie de elefante que abdicou de si mesmo para se tornar uma outra realidade ciente e sem substancia incorpórea apesar de humana ainda, quem sabe eu mesmo (arte e forma) pois sou aquele que nasceu sem se conhecer, pra quem tudo é estranho e diferente, performance magnífica ou repúdio caustico à boca de cena e ao palco.

Ando sentindo-me mímico e semi “desfraseado” de nitidez de modo que não consigo equilibrar duas palavras que façam cabal sentido separadas ou uma de cada vez, nem temperar com sal sentidas palavras como cal e mostarda ou alho Francês , mascara-las e dividi-las por dúzias de compartimentos íntimos como se fosse eu do país do um Dali da intuição, Catalão (espero que passe breve,) assim junto algumas de um, dois mestres e uma mestrina regrada a estouvados sonhos semivividos semi-sonhados, persegue-me a mim a sensação morfológica de jamais partir e assim retorno constantemente embrionário à ideia minha de verdade onírica de jamais conseguir alcançar a substancia líquida de que são feitos eles mesmos os sonhos e modelar os meus lexicalmente viventes em vividas catarses , depurações de uma alma imperfeita, impura, apesar de lúcida (…)


Não sei ser útil mesmo sentindo”, posso dizer que sinto, nem que seja porque é essa a única, minha e verdadeira causalidade, (“esse o problema de beber”), o sintagma basilar do que me resta de real, a liberdade magnifica, mergulhada em ácido ou caustica como uma traição, a de tecer em contos fábulas e contar o que realmente é prosaico e por demais gasto, o que reside inconsciente na” consciência da passagem do tempo”.

Lembro-me da menos valia de Augusto, de Magno, César-do-mundo-anterior ao meu e do desgaste do tempo que conheço, do padrasto desgosto de não compreender no rosto a mãe da pitonisa das dores, maquilhando-se de mar e coragem à medida que se afunda no Egeu Atlântico a oeste da ilha dos Amores …

Os vocais e sílabos constroem-me como se fosse eu um puzzle, uma historia desfocada de “nitidezes”, sinto-me evidente e focado face aos sírios e pálpebras de todos, que de outra forma não me concluo, nem me concluirei de facto “nem me dá gana” continuar sustentando o insustentável, o imponderável que é, como se sabe, criar contradições e complementos a partir da bílis e do esperma e a propósito de coisa alguma e do nada mais, pois que é disso que se trata quando se constrói, destrói-se o útil e o apenas, fica o transversal, a nossa pseudo alma, o pseudónimo exuberante e vital de quando se entorta um prego, a realidade numa outra forma também básica, prosaica de metal / ferrugem mas quiçá mais real que esta agora e de sempre que, não por se honesta, me basta.

E é isso mesmo na atitude, o escrever simplesmente, ele mesmo, o mito qual nos transforma em crianças “incompreendedoras” crónicos filósofos da graça e da descrença, ínfimos promíscuos até nos crermos inexistentes como flutuantes aliados ao infinito na forma de alheamento alado, somos maravilhosos enquanto bons pensadores e/ou escritores desafinados, assim o desejo, ele também.

Por palavras doutros e não minhas dou hoje o sempre o que digo e escrevo, escravo das cores que não tenho, doem-me as crostas nas minhas toscas e roucas palavras, compactuas, emprato-as, exponho-as e exponho-me em francas paredes, brancas, singelas no meu pensamento, tão úteis para pensar como para me despertar, pra desertar de mim próprio e provocar noutros o sentido de intimidade exposta e a exporem-se também e/ou expressar ideias novas e há depois momentos em que temos de apagar, apagar-nos, dormir para despertar instintos adormecidos, o equilíbrio e o sonho aparecem e nos tornam numa balança, na memória do elefante e a razão ambivalente, essa que nem sempre o é, não parece nem corresponde à ideia que dela temos, não somos longos suficiente para nos validarmos nem aos nossos ideais bem ou mal seguros, não nos validamos suficientemente, nem justo seja o que for, mas ao duvidarmos de nós mesmos declaramos possuir poderes mágicos que nos permitem descrever o belo em imaculadas paredes que mesmo sendo derrubadas são intensamente nossas pois as mensagens são eternas para quem as sabe decifrar e mesmo as curtas pausas e as pontuações caladas são agentes secretos das palavras dadas, usadas, emprestadas a nós por d’outros e assim sucessivamente até ao fim desta espécie falante mas não omnipotente, hominídeos símios, q.b de bravos gloriosos e valentes tanto quanto fracos e indecisos.

Por palavras minhas e não d’outros parto à bolina num trem sem carruagens e com um semi-talento atrelado , eu sentado na esquina da maquina de escrever, (chavões à parte e às paginas tantas), algo que não controlo pleno é uma locomotiva a pleno vapor no Tejo ou no Sado eu não cometo abalroamentos quando navego à bolina , planto e dito assim mesmo, como que ao vento, também ele mau conversador, faço de bruto, um pouco menos ou mais que conversa cúmplice de maus presságios, vou de faca afiada nos dentes e já que de palavras lidas está o molhe cheio e o bote transborda aqui e acolá, por vezes vai ao fundo, as palavras são o que me fazem ser e querer ser tal como formiga d’asa.

Serve para dizer por palavras que ouço como se fossem minhas, eu próprio na musicalidade em Oboé das ramagens dos carvalho gigantes e velhos e nas coisas como fosse o som da caminhada que é conjunta e sagrada, estamos juntos nessa estrada longa que é escrever, pois escrevamos …

E viva a poesia

Não sei ser útil mesmo sentindo

Obrigado sou eu e muito à vida que tive, que vivi e que ainda vivo e possuo, sinto-me embriagado de hidromel ,-a respeito de Druidismo,  a magia Célica-Celta como factor inexpugnável da crença Célica- Gaélica, o Juiz da Clareira Ou Druida mágico e mago era sumariamente um ente antropomorfo ou a identidade humana mais próximo dos “deuses” todos (bem mais que mil) ou entes e em comunicação vocal e comunhão espiritual com estes (e ainda o é ou ainda o são embora em pequenas comunas, fortes mas dispersas) Juiz da aldeia do aglomerado ou da tribo, o incumbido ecuménico de fazer respeitar a lei natural, a justiça do Carvalho ou a chamada “Demência Mútua” pois que é atribuição de uma única espécie num tributo a toda a floresta e à natureza em nome de um individuo mais antigo e central pois que possui o dom de fazer uma clareira em seu redor este este é, além disso, o individuo capaz de fazer justiça imparcial baseado na filosofia do natural e na ancestral tisiologia enquanto cabia ao Vate a obra de escrever ou decorar e divulgar pela arte também, não só como o jogral medieval mas num sentido mais lacto amplo e abrangente.

Toda a minha vida é feita de coisas, eu pendurado nas coisas que existem dentro e que sofro sempre que as abraço em silêncio, coisas que existem como se dentro dos olhos, estilhaçadas, agoniadas. Corro ao redor de cadeiras que não se ocupam e eu pendurado nas coisas que existem em mim dentro e os fantasmas a correr pelas paredes

Como diria Napoleão em Alba, “esta é a minha casa esqueçam-se de mim”, nasci para ká’star tb, agora aqui e já, elegi-a, elegemos nós ser livres como opção primeva e privilegiada de pensamento em detrimento de outras e, na minha casa, na nossa escrita, na nossa “terra” não permito, não permitirei nem permitiremos a febre maléfica dos feios, nem do contágio decadente que o polua, e o que constitui a minha interpretação de espaço livre comum e de critica criativa construtiva, as expressões poética querem-se, quero-as vazias de exterioridades egoísticas, assim como a caixa onde o gato defeca diariamente se quer limpa de dejectos para que a verdade da agua pura flua e escorra por entre as vistosas pedras em cascata numa montanha livre de doenças parasitárias malignas e esterilizáveis de pensamento e ideias, que o som das águas nos acompanhe e não o cárcere da infâmia e a lâmina da ignomínia com que muitas vezes sou reclamado a cooperar e reitero desde já um voto pelo bom funcionamento desta democracia bicéfala, que posso e devo chamar assim, para que não se abra a tampa e pandora invada as nossas oníricas quimeras e as transforme em terríveis sensações decrépitas bem acima da linha do cabelo, bem hajam poetas verdadeiramente livres, amantes da escrita poética, guardiões do conhecimento, da pureza da palavra escrita e célica…

Em geral

No seu teorema mais básico e como fiel de balança, é missão da escrita mais pura, a confissão da loucura e esta consiste na exponencial capacidade de cada um em incestar termos, palavras/verbos, inventar temas, escrever novas frases, fundir em poemas inovadores ferro e magma, sinos e signos tão finos que brilhem no conteúdo e no escuro, que treinem os nossos corações atletas e os mais profundos medos, emoções, metas na condição de amanhecerem na lua, do lado magro e a sermos exímios maestros, mestres magos, gregos tanoeiros, não só mas também, nos nossos humilhantes fracassos e crassos erros. Insistamos, incestemos almas, matérias-primas e espíritos! Não há caminhar outro, suave e louco, embora o caminho não seja curto, crio (criamos) um longo e magno paradigma, não importa que nos indiciem de loucos e ansiosos…A minha, a tua ambição é amanhecer na Lua, do lado magro, no outro mais longo, largo de ombro a ombro, o espaço infinito e vasto, debaixo de um só braço e no comando de uma nave espacial.

Novembro 20/25


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Jorge Santos /Joel Matos


Meu, sou eu

 



Meu, sou eu

Sou tudo o que a vida não é,
Certo que viver seja o que é
Pra outro que nem vida tem
Nem que comigo se cruza,

Dia a dia,

Que vida não tenho, a não
Ser que me pousem na mão
Vidas soltas que minhas
Nem tanto, assim com’agora,

Parecendo

Que me disfarço de gente,
Pra mostrar o que não tenho,
Que é vida própria, e viver
Não sei, da forma dum outro,

Que me ignora,

Que por mim passa sem m’ler,
Me ouvir, me ver tampouco,
Cientes de estar vivos, estando
Mortos pra vida, seja o que for,

Seja o que seja,

Estar morto, estando eu vivo
Mas só no mundo, assim
Como num sótão isolado,
Recluso forçado a’ssim ser,

Assim permanecer,

Sendo tud’o que vida não é,
Inclusive a memória do que
Tive, do que fui e do que sou,
Não é certa ou sequer minha,

Mas o engano, esse sim
É meu, sou eu …

Joel Matos 23 Novembro 20/25

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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

“Ave atque vale”




 Escolho nem chorar, pretérito

Mais que perfeito, tu’imagem
Calma no espelho, Imperador
Humano, que eu amei, amo,

“Ave atque vale pater meus”
Escolho nem a tristeza chorar,
Subjuntivas manifestações, dor
Toma aos poucos, tons-cinza,

“Pater meus” Caravaca crux,
Almirante da minha coragem,
Mais as rosas que os triunfos,
Perfeito sonho minha infância,

Meu começo, o teu propósito
Que houvesse melhor mundo,
Melhor do que conheceste tu,
No fundo deste tudo por mim,

Pai que eu amo, amor perfeito,
Imperador Humano, bondoso
Teu rosto, em poucas palavras
Dizias tantas coisas, conversas

Outras.

Joel Matos 19 Novembro 20/25

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Deito-me ao comprido

 





Deitado ao comprido,

Sinto a vida ao passar,
No passo que passando,
Passa entre ser e haver,

Assim achando, passo
Duma vida q’apenas passa
Por achar prazer, passo
S’ta vida por’achar,por’ser

Entre o que me pesa,
E o que pesa esta dor
Minha, antiga amarga.
Querer é perder-me,

Eu acho e sinto nela,
O desprezo, que o tem,
Sinto-o quando passa,
Bora não o veja passar,

Invejo-a com a raiva,
Que me rói a alma,
Arranha mais fundo,
Qu’tudo que é rombo,

O desprazer suposto,
Duma vida por sonhar.
Simulo-me profeta,
Deito-me ao comprido,

Noutros trilhos, coutos
Extintos, causa-morta.

Joel Matos 19 Novembro 20/25

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Adiado “sine die”

 



Adiado “sine die”, eu

Não distingo noite e dia,
Corpos e esculturas, as copas
Nem as campas das flores, nem
As cores, terra rio ou pontes,

Não distingo colinas, fontes,
Casas, sebes, horizontes,
Eram erradas as lentes
Ou é da luz do poente,

Não distingo as cores,
De resto é apenas verde
Sombra, simulação ou
Vazio, imitação do divino,

Se é que ele ainda existe,
Maldição a branco-preto,
Cinzento, dia e noite
Escuro e claro indigno,

Índigo dia sim, dia não,
Parda noite afora, afogo-
-Me em ruínas, nas runas
Que os profetas conjuram

E os poetas agoiram a pés
Juntos, (estes adoram jurar
Em falso, fazendo figas,
Usando vesgos feitiços)

Não distingo dia e noite,
Fome de vontade e indecisão,
Arte/ofício, opinião e dúvida,
Modéstia é o que me falta,

Não a tenho a não ser por
Engano ou não distinguir
O bem e o bom do menos mau
Que faço, adiado eu “sine die”.

Joel Matos 19 Novembro 20/25

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Horror Vacui






 Horror Vacui

Também meu, é o meu oposto,
Será meu, tudo o que digo,
O silêncio e o silogismo silente,
Que sempre me apoquenta,

Será meu, tudo o que
Dá razão à razão suficiente
Para renunciar ao que venero,
Incluindo mim próprio,

O meu próprio veneno,
As minhas hierarquias, virtudes,
E ideais de falsa modéstia.
No quarto para as duas da vida,

Numa curta tarde d’outono,
Descubro tardio, que a verdade
Parte do real, e não da ilusão,
Talvez o silêncio do vazio,

Suprimisse esta minha inútil voz
Que diz só aquilo que quero s’pero
Ouvir, mortas filosofias, opiniões
Perfeitas, “horror vacui”, angustia

É o que sinto em mim, medo
Do escuro, peculiar, omnipresente,
De que faço parte e me vejo,
Através de uma janela verde,

Estranha e muda, tanto quanto
O silêncio que posso, à noite
Ouvir, pois não é da noite que falo,
É do seu oposto igualmente.

Joel Matos 19 Novembro 20/25

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sábado, 15 de novembro de 2025

O sonho de Platão ou a justificação do mundo

 




O sonho de Platão ou a justificação do mundo

A vida completa-se em cada um de nós num breve sonho de conquista, somos o sonho da matéria, somamos símbolos, metáforas e representações que nos substituem, juntamos mistérios para nos explicarmos e justificarmos religiões, fés e credos, à sombra de uma terna luz solar, de uma eterna soma de desleais explicações patéticas (que não nos explicam), de sonhos legais, desejos lícitos e formidáveis ambições.

A expulsão do paraíso e a expiação do mundo, são duas dessas fábulas fantásticas em que lei, ordem e doutrina se justapõem acerca do arrependimento filosófico e voluntário, de reconciliação ritual de metanóia espiritual.
Assim o sonho de obediência, a observância das leis da cidade de Platão, que ele mesmo ajudou a redigir a defender, e a fazer respeitar, de enfrentar a ansiedade e o medo da morte de não responder a uma injustiça com outra que seria a fuga, dizia ele segundo Aristóteles, seu mais proeminente discípulo, acerca da importância da alma e da necessidade de se cuidar dela assim como do corpo físico, assim como o bem e o mal não se podem dissociar assim também o conhecimento, a verdade e a purificação são inseparáveis, o nosso eu, o meu eu.

Bem que verdade e virtude nos nossos dias tem as “portas da percepção” fechadas, encerradas mesmo, muitas pessoas confundem verdades e factos com falsos axiomas virtuais e intencionalmente mal manufaturados placebos..

“Embriaguem-se porra de vinho de poesia e de virtude”, disse Baudelaire “Les Fleurs du Mal”. É uma escolha literal, o integral elogio do fracasso humano, a exuberante aquiescência do conhecimento o qual, embora não me explique, mas distingue do tecido de sarja, distrai para poder extrair da imponderabilidade a mais pura intensidade embrionária e visionária, sonhadora. A poesia é o começo de tudo, do pensamento e até da ciência do conhecimento por isso não a podemos vulgarizar, enfraquecer. Suponho que em Atenas não haveriam redes sociais mas apesar disso a democracia não morreu anémica embora ainda embrionária e foi a convite de Sócrates a que nos mantivéssemos lúcidos, contemplativos não obstante a estupidez tacanha coerciva e colectiva.

O fogo tem perdurado desde que a primeira tocha se acendeu na escuridão, assim é o entendimento apesar de todas as vicissitudes, muitos têm opiniões mas poucos muito poucos carregam o facho, têm senso, a coragem da avaliação critica e analítica, poucos têm coragem para pensar diferente e se distinguirem da manada, têm um custo todos e quaisquer actos de rebeldia e o facto de pensar que nenhum algoritmo hoje em dia ainda conseguiu igualar, o espírito que nos fez e produziu criativos, desajustados, insurrectos e os menos correctos.

Estarmos sós no universo ou não, é igualmente assustador segundo Arthur C. Clarke , o universo deveria pulular de vida inteligente não obstante aqui na Terra e nas cidades que tanto valorizava Sócrates deixou-se de ler as estrelas e de observar a relva a crescer nos canteiros, criou-se um paradoxo entre premissa e falácia, dissimula-se astuciosamente e o inventado cria metástases difíceis de combater num formigueiro onde todas as formigas são rainhas e se contaminam mutuamente sem reagentes ou antibióticos.

O desaparecimento do pensamento critico nunca tinha acontecido, excepto nos últimos tempos desta sociedade supermoderna, talvez pelas solicitações interactivas que possuímos e nos influenciam negativamente. Nós somos lobos solitários, elefantes e não abelhas ou formigas e nunca 1984 de Orwell foi tão actual, não nos podemos deixar controlar por opiniões ou plataformas, sejam elas quais forem sob pena de silenciar a liberdade individual e colectiva.

“Basta não ter escrúpulos Moraes” morra o Dantas, o Dantas é um paneleiro, o Dantas cheira mal da boca, dizia-nos Almada Negreiros resta-nos a responsabilidade de dizer, O DANTAS era um homem sério, porque dantes havia seriedade e respeitabilidade. O Dantas era um homem a sério, tinha importância vital alguma, como não têm agora milhares e milhares de semi-cidadãos e cidadãs, senão milhões de indivíduos, pessoas que pouco pensam e não pesam na estrutura social, são como lixo nas nossas sarjetas imundas de falsos oradores, adoradores de opiniões rasas, cobradores de promessas num mundo promíscuo, cheio de pragas e reservas ao qual eu me reservo e me tento preservar enquanto me deixarem fazer perguntas difíceis como estas -somos ou não seremos o sonho da matéria – não ter medo da exclusão social numa sociedade de placebos e patetas, não silenciar a liberdade e a responsabilidade de dizer e a levantar questões por alíneas “aos imbecis aos párias aos ascetas aos Lopes aos Peixoto aos Motas os diabos que os levam , os Mattos, os Gaiveus de Albuquerque E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!! ah, E AS CONVICÇÕES URGENTES. Morra o Dantas Pim PAN pum”

Voltando atrás no tempo, muito antes da revista Orfeu, do “manifesto Anti-Dantas” e da critica da razão pura, do antidogmatismo revolucionário e “Coperniano” de I Kant, qual diz que conhecimento não é apenas uma recepção passiva de informação, mas um acto puramente racional de interação e experimentação. Galileu Galilei, ao contrário de Sócrates o qual preferiu morrer para salvar convicções e à posteriori as nossas também, retrata-se desta forma sensata,
“Eppur si muove”,contudo move-se, a minha pátria é a mãe língua e não pretendam que não a utilize, não a mova também desta ou de outra qualquer forma, em liberdade pois, no entanto, ela se move em fase contraria às mentes vigentes, em movimento retrógrado, a contraciclo ….


Álvaro de Campos

As mortes, o ruído, as violações, o sangue, o brilho das baionetas…
Todas estas coisas são uma só coisa e essa coisa sou Eu…

Outubro 20/25

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Jorge Santos /Joel Matos

Salvo erro

 



Salvo erro

Quantos Césares fui nem sei,
Salvo erro mais de cem,
Sonhei-me dono dum Império
E esse ruiu também, furriel

Taberneiro, nos dois ramos
Sempre de baixa magistratura,
Nada que se compare á claro
A monarca do “Reino da Fala”,

Se a memória não me falha,
Estandarte azul particular,
Peculiar o meu caso por rever,
Desamor ao próximo, falo alto,

Vejo o mundo com olhos
De barata gigante, estranha
Ciência, existir que m’esmaga
Sinto a realidade um sonho,

Ou a imaginação cortada
À faca, “half awake half gone”
E até esta me deixou, foi-se
Salvo erro Irlanda,

Onde a dor é bem mais antiga.
Quantos Césares fui nem sei,
Ainda outro dia os contei,
Eram ou foram mais de cem,

Não sei se me alegre,
Ou se me entristeço,
Digo a mim próprio que minto
E essa mentira fica a sós comigo,

No mesmo labirinto, com a mesma
Raiz, o mesmo barro,
Nem por isso menos claro nem
Mais raro, tudo quanto digo

Me diz quem, o que fui desenterrar,
Ironia – como já disse, não leio,
Ouço sem ver, vejo sem ouvir,
Isto salvo erro, sou eu a pensar,

De mim pra mim, comigo.

Joel Matos 25 Outubro 20/25

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No meu espírito chove sempre,




 (Rainer Maria Rilke)



No meu espírito chove sempre,
E justamente como eu quero,
Chuva triste, anónima a chuva,
Anónimo eu, será que existo nela

Ou entre mim e eu, há um fosso
Cavado e eu parado recurvado
Assomo o poço, aceno, sou eu
Por baixo, o rasto da lua cheia

No escuso fundo, meu futuro
Uma nau, pavio apagado, navio
Sem pavilhão nem passado, porto
De abrigo sob estandarte inimigo.

No meu espírito sempre chove,
Chuva forte corpo enlameado, nu
Por fora e por dentro sem vida,
Inda um riso forçado na boca,

Contragosto em forma dúbia,
Indefinido, a ele fiquei preso,
E à dúvida de mim mesmo eu
Ser, quando mordo me belisco

Neste ou num mundo outro,
Onde eu entrei sem ser ouvido,
Ou visto a sair, sem dele sair,
Pois serei quem sempre fui,

Desconhecido justo com’quero
Brisa ou vento, nuvem sobre
A floresta, por debaixo quem
Me lembra acabará esquecendo,

Assim como um caminho rural
Mal calcado se quer esquecido
Por não pertencer a ninguém,
Nem vivalma seguir por ele.

Joel Matos, Junho 2025
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Não fosse eu poesia,




Não fosse eu poesia,
Não valeria nada cá estar,
Ao menos ficasse sozinho,
Sereno como a noite dormindo,

Tranquilo como quieto o mar,
Vindo-me decerto acordar,
Caindo como quem perdido cai,
Perdido como quem se deixa de ver,

Num caminho que nem vem nem vai,
Fosse eu poesia, não seria lugar
Algum mas sim todos e mais um,
Esse inda deserto e por achar,

Soubesse sonhar certo,
Sem dúvida seria eu poeta,
Assim nem poeta nem brisa, vento
Me voo, como vim nem sei,

Minto ao passado pois que ao futuro
Não sei, nem lembro ter tentado,
Tivesse tentado, morreria tentando
Respirar fundo, já eu sem fôlego,

Braços pra nadar, fosse eu ess’outro
Nado morto deitado de borco
À beira rio, na amurada do mar …

Joel Matos 12/08/2025
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Sou homem de pouca fé,




Sou homem de pouca fé,
Até solidário sou com as bestas
Do sagrado pontifício romano,
Assim como do café que tomo

Ou do que como, caso o’spinafre
Seja tenro ou o nabo viçoso e roliço,
Rebento de soja declino, hóstia mal parida …
Não tenho saúde de ferro,

Nem sou monge de santuário, servo
D’sacristia, sacrifico tudo por nada,
Encaro o mundo de forma rara,
Embora curioso, com sabor a nojo

Numa espécie de satanismo
Muito minha, pouco clara a fantasia,
Não sou moderador de almas,
Sou moldado a tudo quanto mais dói,

Ácidos nas veias, solidão negra, vermelho,
Rebelião d’cela sendo únic’o preso, inquilino
Da solitária, embora todas as células
Me gritem monótonas, monocórdias

Desnecessárias, suplico a paz do enxofre
Comigo mesmo e com os anjos negros
Do inferno, escuros os vultos, as trevas.
Partilhamos juntos a infelicidade comum,

A arte do desdém, o ódio franco, terreno
A tudo que seja ingénuo e terno, a inveja,
Tendo en’mim tudo o que é terrível
E humano assim como d’outro plano

O talento supremo, o horror canino e
Messiânico, o Nostradamus Gótico
Animalesca a Gárgula e a origem
De todos os lunares Mitos.

Joel Matos 15 0utubro de 20/25

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Nunca fiz senão sonhar





 Nunca fiz senão sonhar

Nunca fiz senão sonhar eu
Sonhos outros sendo meus,
Que não confio se os sinto
De verdade, ou se serão

Sonhos doutros imaginados
“Eus”, tão fundos e profundos
Quanto meu instinto escombro,
Que longo no longe s’perdeu,

Lembro agora, sinto o hálito,
Coabito um sonho não meu
Em que nem Rei ou Rainha
Sou, nem quem me lembra,

Ouviu falar a mim, o que disse,
Já que não é meu o que digo,
Nem soa ao que sou, sendo
O que não sou, sou-o tod’o tempo,

Nunca fiz senão sonhar eu,
Vivo a sonhar tod’o momento,
Sonhos que não tenho d’verdade,
Realidades, intenções, intentos

Falsos e de farsa, que invento,
Que me calçam e se fundem
À minha imagem, fumaça falsa,
Enchumaço, capa e contracapa,

Palhaço …

Joel Matos 17 outubro de 20/25

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Escrever é pra mim outra coisa




 Escrever é pra mim outra coisa e uma coisa outra qualquer assim como o terror absoluto do qual não se acorda nem nos deixa alerta,

Assim como um esquecimento desconhecido
que se conhece, mesmo que não se queira assumir, desonesto quanto uma medalha que tem dois lados,

Escrever é pra mim,
Todo o mal e toda a cura, a asneira grotesca,
Escrever é para mim uma tesoura dura, o corte e a cesura,
Não é o efémero nem é pura aposta, não dura nem perdura,

Escrever pra mim é o maior mal,
A menor derrota,
A maior paixão e a mais crua agonia,
Ou a pior venérea doença da qual padeço,

Como um mau fármaco que abomino e me mata,
Ao qual volto sempre e torno,
torno a tomar, a hora mais dura na noite escura, no breu,

A cansativa falha de caráter
que desprezo e me empobrece, os olhos da nuca quais não vejo nem esqueço,

Qual feitiço me apodrece a alma,
A farsa que fede grosseira, a voz que não se me cala, o vírus endémico e a cela

E em que vivo ritualmente por viver
e por não ter outra pior coisa, ou angústia mais tétrica na vida

Nem o que fazer ou sentir que mais abomine,
nem mal maior que possa infligir a mim próprio ou exorcismo satânico,

Pântano de aguas podres onde me afogar uma e outra vez,
Num e noutro e outros piores momentos da vida,
E de novo a cada momento
Em que escrevo e me martirizo,

Entristeço por não querer ou não poder mais parar.

Escrever é para mim o “prozac” do desencanto,
o desencontro com a real realidade,

O mau olhado, o receio profundo e factual,
o medo inexplicável do abismo,
a perca da dignidade assumida linha a linha,

O fio da navalho e a feia mão do barbeiro,
o barbante, a corda ou guita,
uma mistura de covardia mística e cedência que ninguém deseja
e faz doer sem queixa ou consolação,

Assim como a mais terrível doença venérea
escrupulosamente catada escarafunchada e esgravatada da mais sórdida
estrumeira humana que se conhece.

Assim é o escrever para mim, o frio da navalha,
o sofrimento pungente dilacerante e em estado puro,

A droga mais dura, a sífilis mais impura,
a prostituta mais suja e reles,
a hora mais negra e escura,
a honra que me falta

E a razão porque não choro nem mesmo perante o erro crasso, o facto de que me acusam em falso, a acha que me queimará vivo e em vida,
o ferro do machado, da hóstia a que me nego,

A guilhotina fatal ou o céu estrelado na sovina noite negra e preta,

Assim como o meu crustáceo ego.

Joel Matos 20 Outubro de 20/25

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Água turva e limpa

 



Água turva e limpa

O peso da consciência me curva,
Parte mística parte física, humana
Profunda, a minha ideia era vivê-la,
E tentei viver nela, infecta, falhado

Vim vê-la, julga-se perfeita, assim
Como julgo meus versos curvados,
Avulsos quebrados, e com os quais
Me satisfaço, disfarço o facho, curvo-

-Me a não ter nada, ser ninguém,
Não ter consciência nem palmas,
Tod’o prazer sendo fingido falso,
Se recurva e me tortura, esfola

Assim a morte a obra morta, rala,
Ralha-me devota a consciência,
Revolta é uma espécie de crença,
Emoção a livre expressão dela,

Assim como também a consciência,
Não fala verdade aceitando igual,
Desdobrando crença paternidade,
É o que eu faço, desdobro-me em

Falsas dignidades embora me julgue
Colosso d’Rodes, guerreio conceitos
Contrários, “frisson” versus desapego,
Separo a luz e a escuridão falhada,

Da ciência do que me vai na curva
Da alma, desta alma turva e limpa,
Que não se contenta em ser “uma”,
S’quer múltipla, ímpia e ela própria

Limpa, muito embora imprópria,
Igual a água suja.

Joel Matos 19 Outubro 20/25

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Atrai-me o medo

Atrai-me o medo, a volúpia, A dor curta e a angústia Que passa veloz, a palavra Egoísta far-me-á justiça, A inveja e a vaidade, Veleidade d’...