Tiras-me palavras da boca
Com alfinetes de dama, agulhas finas,
Tenho a maldita certeza e é
Como se estivesse vendo, sair
Uma a uma, sinuosas lentas, dançam
Numa espécie de bailado cósmico, dóceis
No movimento, confortam-me, deslocam-
-se, vejo-as cruzar a alma, adiante do
Meu fôlego, nas coisas que digo, faço,
Falam por mim e de mim falam, clamam
Eloquentes, nem necessidade
De existência viva, sonhos são
E sempre, passagem para outras
Vidas existentes, inexplicáveis
Pra gente,- arquitetos com corpo-,
Se eu pudesse explicar o que vejo,
Saindo da minha boca, talvez fosse
Como ouvires música vinda de outras
Dimensões e a mesma emoção bem-vinda,
Sensação de Terra, externa ao ouvido,
Tiras-me palavras da boca, sonhos
Inesperados na primeira fila, fábulas
Depois absurdas falas, ilícitas, caídas no chão,
No fim retiras visíveis imagens,
Que me convenci saírem de mim,
Mas não, sou eu de mim partindo
Trespassado a alfinetes, toda a voz tem
Um fio, o fim é quem me ouve claro,
Exterior ao ouvido, uma a uma
As palavras que retiro da boca, sonhos
Enfim ausentes do corpo físico,
Outros mundos a roçar por mim e eu todo,
Espécie alguma viva tem destes sonhos
Em que nada pesa, tudo balança
Sinuoso e lento, alheias e nem tanto,
Tiras-me da boca as palavras, nem todas,
A impureza é uma casta e o meu solo
Fértil, na boca faço asilo, das palavras
Mais fétidas às que desobedecem e têm
Severo castigo fora deste covil de asceta …
Joel Matos ( 23 Janeiro 2021)
http://joel-matos.blogspot.com
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