O luar que não se vê,
Ora m’afaga ora m’ lembra
Do Sol a sombra, tom
De cinza negra, morto
Na senda da deusa desnuda,
O lado que se prevê, o assombro,
É como um íman, o imo, o hino a “Lugh”,
No íntimo fundo de uma longa,
Imensa cripta, o céu uma escada
Sem fim, rolante, magenta e caliça rosa,
E o tutano mármore, rio mudo
Surdo e frio, cobre o pulsar
Do espaço como leite, veneno
Da deusa Terra, melaço
De lua laça enlaça, prende
Por vontade, anula, encanta
Fragmenta, escuto-a,
-Ciente ilusão de morte,
Que não assusta nem se
Rejeita, falsa é a sorte, a fé, a fama,
E o destino uma clareira, um forte
Em ruínas, um sepulcro chão
E um guardião coberto a receio
E a negro, me vela, falso Pã,
Dissimulado, oculto na lama,
Não vá despertar eu da morte
Em qual noite exótica, estranho
Abrir de portas, o sair do espelho
E voltar prefeito do profano, do luto,
Do lugar que não se vê, inumano,
Gerado mudo, sem narrador
Nem conto. Este o mundo do fim
De tudo, tenebroso pálido e feio, uso
O manto régio doutro Rei, deposto
Senhor de tudo, morto, esquecido
Vencido e arrastado por léguas de rojo,
Do altar nas cruzes, até à penumbra
Cinza negra, cujos subúrbios habito,
Não abdico da realeza dos mortos, do hálito,
Nem da anatómica máscara, que deles uso,
O lugar que se pressente …
Joel Matos ( 19 Janeiro 2021)
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