O principio e todos os lugares, a gnose dos dedos
São os meus dez medos cerrados como rochedos
Abertos os da mão grossa com a outra, a leve, ingrato
O gesto colado à boca, assumo o que digo, gesticulo
Outra conversa, pois é comigo que me estou sentando,
Ou estava, correcção dos meus falsos ecos, dizendo
Do que fui antes, era quotidiano, sem espaço quanto
Tudo o que faço, a diferença entre mim e eles, dedos
Falantes sim, pois só os leves e o livre voa sem peso,
Sou ambos, neste caso o voo plano dos sem jeito, leões
Com os pés dobrados num cepo tosco de faz de conta,
Pau de madeira, pobre e seco, actor, cão pisteiro,
Figuras que eu próprio crio sem êxito, irreais quanto
Eu mesmo e na mesma proporção dos cimos través
Dos quais me acrescento por aproximação ou defeito,
Pasmo perante a estranheza com que desejo o manto,
O abstrato, ainda que com consentimento, mais que por
Volúpia em excesso, digo de mim para mim até me
Convencer do oposto, que é não estar em meu poder
Alterar o ruim e o grosso, o fraco em falangista canalha.
Clandestino, é como me afiguro perante o universo,
E nem a fantasia me desliga, do vulgar substantivo
E da arte decorativa, evocada por cegos da cabeça
Aos pés, sincero malabarista, dez dedos mal situados
De cada lado do corpo, equidistantes uns dos outros,
Equilibrando todos os locais, o mundo que conheço,
Corrosivo, gástrico, florescente em ácido abdicante,
Mas meu princípio e fim, assim a Terra e esta gente.
Princípio meio e fim …
Joel Matos ( 31 Dezembro 2020)
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