Pra lá do crepúsculo
Deixei de ser aquele que esperava,
Pra ser outro’quele que s’perando
Em espera se converteu, alternando
Despojo com engaço, braço com osso,
Tíbia com antebraço, o que me
Embaraça é ficar mudo perante
O mundo e inerte como poeira na via,
Navio fantasma, infame “Terra nullius”
Fecho os olhos na esperança de que
Estar olhando seja engano, caso aquilo
Que vejo e o lugar onde estou não sejam
O flanco certo, falso o fauno o voo o grifo,
Deixei de ser aquele que, bastando
Me bastava preso ao querer dito supremo,
Sendo asceta eu do fogo Celta, do Carvalho
Negro, o rito e o ritual unidos, mito d’mágico,
Sobrenatural, sagrado assim como a terra feia
E o mosto, o esperma, o lusco fusco, o breu,
O sussurro do vento nos ramos da floresta
E ao meu ouvido lembrando quem sou
Ao certo, senão folhagem e o espectro vago
Daquele que esperava, esperando na cruz alta
Do trilho, dividido entre começo, o dia-meio
E o que não conhecia, pra lá do crepúsculo.
Joel Matos (3 Março de 2024)
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