Sinto de repente tão pouco,
Sumiu-se a poção do falar,
Mãos mil atadas por visco,
Desobrigam-me de acção,
Mas contínuo vazio, se luto por me soltar,
Opto por me deixar
Prender, se não me bato,
“Foi –se tod’acção, se-calhar“
Pudesse fazer-me eu sentir nos versos.
Muito mais são, que louco
Porquanto sinto de repente tão pouco,
A não ser ideias - a sós
Com que tempero o pensamento.
Vejo vistas, telas em que só eu me iludo,
Venho em tornados que sopram muito vento
Mas sinto a maior solidão do mundo
Em redor de mim… todo- faça o que faça-
Sinto-me de repente tão pouco,
Que até as mãos me convencem,
De que estou de facto, ficando louco,
Mas, o que de mim, vier alguém a ler,
Será o contacto efémero
Que mais perto hás-de ter,
Do fundo e puro sentir d’outro,
Sim, porque eu sinto tão pouco,
Que nem a'spada fria m'atravessando,
Nem a agonia dum povo, nem o corpo,
Que m’arde, nem a tarde, nem o cedo
Emprestam sentido, ao meu sentir,
Tão pouco o sol qu’m’invade, desperto;
Mas dormindo, sei sempre, sempre d’ond vir,
Pois venho assolado p’lo vento mudo e tanto…tanto...
Joel Matos (01/2013)
Joel Matos (01/2013)