quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Venho assolado p'lo vento mudo e tanto...tanto




Sinto de repente tão pouco,
Sumiu-se a poção do falar,
Mãos mil atadas por visco,
Desobrigam-me de acção,

Mas contínuo vazio, se luto por me soltar,
Opto por me deixar
Prender, se não me bato,
“Foi –se tod’acção, se-calhar“

Pudesse fazer-me eu sentir nos versos.
Muito mais são, que louco
Porquanto sinto de repente tão pouco,
A não ser ideias - a sós

Com que tempero o pensamento.
Vejo vistas, telas em que só eu me iludo,
Venho em tornados que sopram muito vento
Mas sinto a maior solidão do mundo

Em redor de mim… todo- faça o que faça-
Sinto-me de repente tão pouco,
Que até as mãos me convencem,
De que estou de facto, ficando louco,

Mas, o que de mim, vier alguém a ler,
Será o contacto efémero
Que mais perto hás-de ter,
Do fundo e puro sentir d’outro,

Sim, porque eu sinto tão pouco,
Que nem a'spada fria m'atravessando,
Nem a agonia dum povo, nem o corpo,
Que m’arde, nem a tarde, nem o cedo

Emprestam sentido, ao meu sentir,
Tão pouco o sol qu’m’invade, desperto;
Mas dormindo, sei sempre, sempre d’ond vir,
Pois venho assolado p’lo vento mudo e tanto…tanto...

Joel Matos (01/2013)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Como se fosse eu, do céu, seu dono.



Tenho pressentimentos tais que, se pudessem vê-los,
Acresceriam numa dimensão mais o caos imundo,
Como se fossem bruxedos banidos ou ogres velhos,
Saltitando p'ra fora de barrancos e do lodo.

Tenho pensamentos de sombras, sinas e sinais
Tais como aqueles que deram aparência de escuridão a Fobos
E tal como éter, entram e saem p’las narinas
Sem que possamos vê-los, mas senti-mo-los

Nas veias e nas fossas nasais, intensos, desliais…
Tenho pensamentos que não posso partilhar
Com os demais, por serem vagos como o medo nos umbrais.

Tenho pensamentos verbais, que se pudesse lê-los,
Alteraria sonho em pesadelo, fé em simples credo,
Com a sua horrorosa procissão de sapos,
Saltando pra’ fora das covas do feudal degredo.

Tenho pensamentos tão desusuais e inumanos,
Tais como aqueles que deram vida aos Elfos
E, como éter, entram e saem pelas narinas,
Sem que possamos vê-los…mas senti-mo-los,

Nas veias e nas fossas nasais, violentos, irreais…
Tenho pensamentos infernais mas invejo nos anjos, os pássaros,
Com as suas paisagens naturais, terrenas, acariciando-lhes
As asas, o dorso como se fossem dos céus, seus donos…

Joel Matos (12/2012)
http://namastibetpoems.blogspot.com

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Tenho um conto original p'ra contar...


Tenho um conto original
Para contar
Nem bem nem mal,
Sem muito alterar

Acaba no fim,
A originalidade que tinha,
No início 
Da primeira linha,

Depois, sempre em tom igual,
Conto sobretudo,
A alma alheia, da qual
Duvido, mas D’ouvido

Me soe mais suave.
Não desejo a eternidade,
Pois de nada me serve,
Ou ajude,

Conto o amor,
Quando o calo,
O desamor,
Quando o falo,

O oportuno quando desminto
O engano, aos crédulos,
A um quórum injusto
E a mais uns poucos sujeitos…

Joel Matos (21/12/2012)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Hades, rei do mundo escuro.


Ouço a esfinge murmurar por dentro,
E furar-me com o olhar cravado,
Por me não poder seguir andando,
Ainda tive vontade de fechar o livro,

Mas um adúltero e mau presságio   
Sugere que dentro, antes eu me feche,
Tal e qual um jogo de esconde e foge
Em que me disfarço d’enigma e mistério.

Ouço a esfinge murmurar por dentro, 
Não creio que seja d’alegria,
Pois soa mais a um triste choro,
Vindo d’alguma fóssil alquimia

Ou silvo de serpente que fascina,
E me convida a migrar pro além.

Hieróglifos Indecifráveis como a sina
Alinham-se em galerias d’aragem

E ouço a esfinge murmurar por dentro
Do passado, no fundo e místico templo
Soando como prenúncio, dum futuro
E malévolo Deus do crepúsculo...

Joel Matos (12/2012)

O meu parceiro "O Positivo"



Deixei ficar pra trás o coração e morro devagar,
Como tem de ser; e o que distingue afinal
Um devoto, dum vulgar ramo á deriva num mar,
Pressuposto lar, pra uns; pr’ós outros insonso-sal,

Não é que, ao crepúsculo, eu seja desapaixonado,
Nem ao mar, nem ao dourado das folhas no outono,
Mas vejo-as como se fosse prefácio do meu sonhando,
Sem ter uma ideia separada, para o que é corpo e alma.

Sei que as coisas não são senão coisas com coisas dentro
E comigo passa-se o mesmo, desembrulho
Ideias como se fossem cebolas, com cebolinhas de dentro,
E existir passou a significar tão só, escritos dum embrulho,

Qual quando molhado, esbranquiça e se dissolve.
Sou causa ex-tinta e convenço-me que já não existo
Por ter esbanjado o que o tempo e o espaço serve,
De graça como se vivesse num quarto de beirado.

Cada dia acordo com a visão do que parece um nada-vivo,
Depois debato-me até ao final do dia e acrescento na certeza
O pretender viver, uma espécie de vida de longo prazo,
Tendo no peito e ao vivo, um paradoxal parceiro, “O positivo”.


Joel Matos (12/2012)
http;//namastibetpoems.blogspot.com

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

E já nem certo sou... do meu pensamento


E já nem certo
É, o que inconsciente, eu vejo
Quanto mais o visível,
Se o nem conheço,

E se o avistasse,
Não poderia falar
Dele, esse elucido e vão
Dom, quem sabe todavia,

Se o dou, por não me pertencer,
Se o possuo, mas sem saber,
Ou se o tenho e não o entendo
E se o reconheço em mim, não o tendo.

Penso que, assim inconsciente,
Não o esquecerei, se nem o avisto
Tampouco e se me demoro a pensar
Que o mereço... nem o escuto,

Ou o que ele diz, e bem
E eu mal julgo ouvir,
Mas apenas se me convém,
E se não for muito profundo.

O pensamento…
Por um momento escuto-o,
Mas resisto, a ir
Na corrente

D’água viva,
Debato-me na razão,  
Entre o que é o eu,
Do quem eu sou,

E do que é o nada,

Se pudesse,
Seria apenas,
Como outros o são,
Pensando menos,

Em vão…

Joel Matos (2012/12)

sábado, 1 de dezembro de 2012

A casa dos sonhos.


O que sinto que sonho e sinto sendo,
Sinto-o como tendo um corredor humano
Mas Imaginário, d'habitação. Aprendi a fingir cedo,
Quando ainda não contemplava o desatino

Como arte e me deixava seduzir a escreveres
Vulgares. Tornei-me apartado do corpo,
Embora de "design" simples,
Por vezes exprimo um prazer despregado,

Supondo que penso e supostamente sinto,
Porém revisto-me de rodilhos
E mendigo por um sentido absoluto,
Avassalado de sintagmas verbais abstratos.

Como se a língua minha fosse vassala
Do que desconhece e d’onde nada vem.
Por vezes, nem bom aluno sou…dela,
Nem sei quantas salas inda mais, o sonho tem.

Joel Matos (12/2012)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...