quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Os destinos mil de mim mesmo.

 



Os destinos mil de mim mesmo.

A minha história é cheia de ângulos invisíveis e de coisas incertas, arestas
Rasas, cegas tal como folhas movidas pelos ventos,
Que sou levado a crer serem movimentos circulatórios,
Acidental a disposição delas e a minha, circulam indecifráveis
Nesta ou em outra área mais dobrada do parque,
Num alegre, bucólico canteiro de flores ou no alpendre de uma casa térrea,
Igual a esta onde me limito ao poder diminutivo das horas,
À tolerância constância dos dias.

É neste esvoaçar constante, lento,
Que residem as lembrança, e acaso o eterno,
Como se a vida não fosse um abissal eco,
Uma vertente com cantos inclinados,
Quais fingimos amar seguindo regras não escritas,
Impostas à partida, estritas e apregoadas até à exaustão,
Aos quatro ventos.

Sinto-me um insólito inverno, um intruso indiscreto,
Um melancólico desconhecido até para mim mesmo,
Como tivesse sido sequestrado por uma sombra esguia, vazia,
Com a aparência dum inútil artefacto que renego e carrego no peito,
Mas do qual e de facto já faço parte e qual amiúde suprimo de merecer-me,
Desmereço-me despejando os olhos exaustos pelo chão dos vivos,
Dos que vivem exactos e sem esforço.

Considero-me acima de tudo uma criatura ausente, sem interesses maiores
Que interessem a alguém se nem a mim mesmo,
A natural sombra de mim próprio e não a dos outros que se salientam.

Fui esse que ainda sou, eu mesmo sem brilho
Ou a fase mais escura da lua e do céu que em sombra dobrou o sol
Em três, frente e atrás, para depois ficar quase, quase breu.

A frágil intenção tornou-se a causa certa,
E o quarto onde paira um silencio tóxico que me silencia,
Assim como mordaça ou uma bandeira branca erguida, desfraldada
P’los meus olhos dentro, paredes hermética
Aos destinos mil de mim mesmo.

Joel Matos (23 Novembro 2023)

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3 comentários:

namastibet disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
namastibet disse...

Entrego-me a quem eu era,
Combinação alegre e triste
De claro e escuro, contorno
E forma,

Serei de modo
A não deixar de ser
O quer que fui, assim eu era,
Sendo sou enunciado do que fui:

Não domino o impulso,
Expresso o desejo, motiva-me
O sofrimento e a qualidade
De não possuir um nem outro,

Sou o perfeito analista genérico
De tudo que não me interessa
Particular ou o estoicamente
Simplista por defeito,

Desconfio da verdade,
Da convicção ser ciência,
Considero nada e ninguém
Conceitos antagónicos.

Desprezo argumentos
Como um bom actor desobedece
Ao guião, embora a minha
Opinião varie assim como as texturas,

Têm uma realidade corpórea própria,
Semelhante ao meu pensamento,
Tão pouco real, ao jeito
Ou duma convicção paralela,

Direi mística ou idêntica
Às solas dos sapatos que embora
Caminhem lado a lado, aos pares
Se gastam desigual.

Se deformam conforme o peso
E em função do andar,
Hesito perante supremos
Axiomas, sofismas

Não fazem mais que confundir
O meu trajeto,
Guiam-me à descrença e, na dúvida
Entrego-me ao que eu dantes era.

namastibet disse...

Manifesto indiferença

Sonhei-me, contudo, o sonho foi diverso do meu sonhado,
Sinto-me de facto no que me faça sem que faça distinção
Eu entre sucesso e/ou fracasso, (desejo pretensão-escolhos)
Escolhas são suposições de terceiros, olhares não são gestos,

Sonhei-me de facto sentado no destino, embora no destino
Errado em que me encontro, sonhando-me tudo e um mundo
Natural e belo. Sossego, íntimo da morte, exílio aquilo de ficar
Citando a propósito do propósito mais disparatado, absurdo

Tanto quando eu em relação ao meu fuso, pequeno feio
Matreiro, confuso até para um altar alheio ou sem deuses
Desses que existem para ser perfeitos não tanto quanto eu,
Sonho de olhos semicerrados ao presente embora não me

Esquive a ver o negro da pupila do olho, negra quanto um
Intuito apagado duma egrégora Grega, salobra saloia.
Impertinente é como me posso descrever assim como
Num sentimento que suscita misericórdia e/ou compaixão,

Sonhei-me, contudo, qualquer coisa outra no passado, coisa
Que não levo nem me leva, indulta de todos os sonhos que
Tive, todos fendidos, falhados quanto demónios nascidos
No ventre dum falso pároco. sou, sendo um dos pequenos

Entre os pequenos que faliram por sobreviverem sem vida
Sonhos diversos dos que têm vida ativa, sou cativo/incapaz,
Miserável/maldito, tudo junto, tal qual fenómeno adverso,
Professo e assumo a regência do fracasso. Contra qualquer

Opinião vigente/Vincenda ou por mim mesmo consentida,
Sou sequência da banalidade/inoperância, parca vontade,
Procrastinação infinita perante o pó inerte em que me vicio
E concluo chamando-lhe faculdade, diletante/delirante/delírio.

Manifesto indiferença perante falsos factos, assim como
À afirmação gutural, oficiosa de argumentos/premissas
Verdadeiras ou verídicas, autênticas cabalas adventistas,
Sonhei-me sobretudo entre duas águas, a de cima …


Joel Matos (11 fevereiro 2024)

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Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...