Dai-me os dias que lá vão,
Dai-me as mãos do velho,
Que não sendo minhas são como as de um irmão,
Dai-me a tempera dos vinhos
E a profundeza das vinhas
E dos lavrados rostos dos avós,
Das charnecas e das flores no Maio,
Da ribeira a aguar e do pardal a piar,
Dai-me o que não tenho,
Uma manhã mineral e um sorriso a dois,
Partilhados em linho e mel,
Um vale, um postigo e uma tocha pró caminho,
Um castigo merecido o chinelo e o berro da criança,
Dai-me o áspero bramido do gado,
A terra descalça e a mulheraça roliça,
Dai-me os sinos d’aldeia, um candeeiro e um padreco,
A alcateia, a caça e o estio,
Dai-me o que não tenho,
A imensa esperança e o orvalho na floresta,
A roupa lavada no rio,
Dai-me um pintassilgo e o silvo do melro,
O ladrar do cão e o ovelhedo,
Dai-me a graça dos dias que já lá vão,
Da velha quinta, do madeiro natalício e do porco,
Da matança…do sorriso da vizinhança,
Dai-me esperança porque da pouca que tenho,
Sobrevive est’alma…
…e da mencionada lembrança
Joel Matos (01/2013)
1 comentário:
*Entre a prece, a memória, o sonho e a esperança. Uma composição para levar no olhar e no coração. BeijoKa*
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