sábado, 31 de dezembro de 2011

O resto do monólogo... não irias entende-lo


Aqui estou, sossegado, escondido,
Longe da vista e dos mistérios
Do existir, de tudo, do mundo.
Aqui estou, sem me fazer notar muito

Nos meus gestos duplicados.
Supondo ter sido tudo dito,
De quando enquanto fecho os olhos
E é num sonho branco que admito

Coabitar sozinho com a eternidade.
Neste inexplicável casulo,
Quase um Confessionário de padre,
Num sossego nulo…

 (O resto do monólogo... não irias entende-lo
Nem te servirei eu de consolo ou conselho)
Afinal nada de novo acontece neste mundo velho,
Eu continuo oculto, morando frente ao espelho.

Joel matos (12/2011)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No espaço entre o "desrumo" e a senda


Sou o intervalo entre o desrumo e a senda,
Sol numa esplanada, encerrada ao público
No Outono, inútil, injustificada…
Seria um cata-vento doméstico,

Enfadonho como qualquer outro,
Se fosse feito igual, metade em pedra,
Metade em metal duro,
Onde uma perra nota de rabecão sempre sopra.

Confesso confiar na demora
E não me canso de espreitar p’la rija
Porta de escora e ripa
Embora esta tenha mais de mediana altura.

E o que d’inconveniente esta diz ter, não m’importo
Pois a solidão sela o meu corpo inteiro
Do inclemente vazio…do incerto
E da ilusão do real, ser igual a leste, ou a sol-posto…

No espaço vago entre o desrumo e a senda.

Joel Matos (12/2011)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É inútil povoar a conversa com todo este silêncio...



Corre um silêncio pela tarde afora,
Como se fosse ordenado
Recolher geral nesta terra,
-Onde ainda penso que resido .

(Precisamente no r/c esquerdo
Numero treze e meio-fundo)
Sinto o peso do mundo,
Destes mudos, cheio…

E penso desistir de querer viver,
No silêncio grosso,
D’esta vida por esclarecer,
Em que me roço e me coço,

-Se nem isso me aquece ou arrefece,
Nem me torna maior ou menor gente,
Nem sou propriamente quem a verdade conhece,
E faz dela o vento norte,

Nem vejo como útil, prolongar na surda rua,
 A minha muda conversa…

Joel Matos (11/2011)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Inquietação sem Fugas


Se eu mandasse, voltaria ao contrário a curva do tempo,
Sentiria replicar na alma fria e vaga o sentir profundo,
Onde é mar batido, afundava aí o meu corpo
E nas ondas me envolvia, desse vagar de mar vagabundo

E ainda acabava por ter aquele odor, que tem do lodo, o sargaço
Da maré-baixa; talvez por nada ter de salgado esta outra vida,
Teria no cheiro algo imenso e um nobre pertenço
Como se outra fosse, não esta minha, “ brisa plagiada “.

Da curva fútil do tempo, onde a realidade é feita em céu
Continuo sendo um nada, nem a sombra do mar morto
Reconheço como sendo vestígio meu,
Sendo apesar de tudo o cais onde eternamente me acosto.

Se eu mandasse, voltaria ao contrário o mundo,
Na beira punha os olhos e os mares no fundo do coração
E eu andaria nu por essas estradas curvas, velejando
A minha inquietação em fuga…

Joel Matos (10/2011)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entre o ser e o defeito




Se eu pudesse ter no ser, o que não cerro
De facto no peito. Inquieto e fraco,
Não trairia na consciência, um sonho outro,
Quando sonhava um sonho ilógico

Em que não disfarçava o que sentia. Tinha fé, confiança
Em mim e num desvairado céu em arco,
Na distancia verde/anil e autêntica,
Mas no fim dele, não encontrei

A ponte que, dizem-da existência
Ter a resposta, nem o festim da dita…
Aguardo ainda o dia de partir, à rédea solta,
Montado na minha outra alma favorita

E sentir-me como ela, peculiar…
Mas sem lhe pertencer na veleidade.
O que sinto agora, só de a pensar,
Leva-me à visão fugaz, d´um ouro prometido,

Que não encontro no fundo do espírito.
Acordo horas antes de expirar o meu tempo,
Viajando seminu, sob uma abóbada cinzenta,
Encerrado perpétuamente, entre o ser e o defeito.

Joel Matos (09/2011)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Proscrito



Dou por mim mendigo de porta em porta; como sem querer,
Abro caminho numa estreita paisagem escrita,
Não que seja uma perfeita, secreta, ou passagem metafísica,
Como as passagens têm eternamente de o ser,

Mas a paisagem do meu ser é restrita e reescrita,
A meu bel-prazer.
Só pode ser consumada se acedida por dentro,
Sempre por uma embocadura estreita.

Assim que passo por ela, sinto o coração doer, doer…
E não sei d’onde essa dor resulta,
Sei que vem do fundo da passagem do meu querer,
Num silêncio frio de natureza morta.

E onde no vento alado se transporta
Todo o desejo de encontrar em mim  a paz ?
Vou por aí como uma vela que se apaga,
Ficando apenas a paisagem vaga por traz.

Abro ainda e de novo a janela
E de fora, apenas a noite, me fala
De um invisível veto,
Que cala tudo aquilo por que existo…

Joel Matos (09/2011)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Virgens da deusa "sida"





Viro todos os lados, todas as quinas, todas as ruas
Onde sempre se escondem da vista, nos morros,
Os prostitutos e os mendigos dormindo nas caixas
De papelão amolecido em sonhos sumidos,

Vejo tudo isso, como parte normal da paisagem,
Que sob um largo céu, algum dia, alguém esqueceu
Ter sido tudo feito, à sua própria imagem.
Gastei toda a fé, escavando um deus menor, mas que fosse meu,

(Mesmo que estivesse já acabado e extinto)
E descobri que continuo, não só de olhos fechados,
E assim alheio ao que não me importo,
Como pra’ além disso, imito ao que aos outros

Parece mais certo, viro de todos os lados todas as ruas,
E visto-me, também eu, da ilusão desaparecida
Das “putas” das ruas mais escuras, fundidas
Na palidez do luar, como se fossem virgens da deusa “sida”.

Joel Matos (09/2011)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...