quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Ladram cães à distância, Mato o "Por-Matar" ...




Ladram cães à distância,
Mato o "Por-Matar" ...



Ladro de cães à distância e uma vela acesa,
Inúteis mecenas que despertam o ardor
Da cria que me habita e cuido e velo, grito
Pois creio, ser eu lobo, mais lúcido que ouro

E que alguma vez fui e o desejo me acena,
- Oh, como desejo a caça grossa, arguta,
E não capoeira onde jazz ovelho mal morto
E a tesão que dá matar o "Por Matar", o manto

Sinto-o ter da morte aqui e ao lado, esgoto
Do veio da vida, enquanto este é cenário
Lívido da morte, encoberto, invisível corre
Do prado pra moita certa, boca de sena

Cega à navalha, eu superior e ela presa,
E os cães ladrando "à tona", à distância
De uma vala e uma vela se apagando,
Morte certeira, noite encenada, navalha

De barba, mato o "Por Matar", degolado
Como manda o código da Ordem, Barbeiro
O som da morte a quebrar, inesquecível
E tão pouco curável quanto a reles loucura,

Ladro de cães à distância e a gamela e os
Restos no prado do despojo, no restolho ruivo
Suplicado em vermelho sangue, de guerreiro
Meu credo pois o creio meu uivo, o do lobo

E ao uivar ao céu agradeço à Deusa Maga
E a Belenus quando irrompe, consagrando
O dia Basco do Druida Lobo, a meu mando
Age o fogo que consome os montes, o dom...

O dou aos amantes, eu me elevo, assombro
E mito nas palavras que me velam, devotas
E por revelar, envolto em mistério e morte,
E por matar me vou, leve e em voo de bruxo

Mago...








Joel Matos 01/2020
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Excerto “do que era certo”





Excerto “do que era certo”



Por aprovação generalizada e por comum consenso não posso amar e odiar numa opção consciente e ao mesmo tempo, acontece justamente isso e assim mesmo quando escrevo e me avizinho das minhas sonhadas almas e da incapacidade de produzir melhor do que elas sonham e daquilo que me faz odiar o que amo que é tentar compor um texto escrevendo algo esclarecido e digno de apreciação sem o conseguir apesar do esforço vão e da aplicação sem frutos sãos sendo este o fardo que carrego comigo, odiar e amar a aceitação dos outros face ao que penso, ao que digo e ao que escrevo, sobretudo na expressão poética e nas conversas que tenho comigo, com excesso de peso.

A actividade artística, espontânea e fluente como criação escrita perfeita pode apresentar-se com bastante austeridade e rigidez agreste mas igualmente pode ser superlativo diminutivo da mais rasteira e insana solidão terrestre, embora bastante alta e bela sob forma de arte e do que mais belo há no mundo, em paralelo com a superior e talvez supre avalizada mais alta façanha humana que é subir montanhas sem apoio de oxigénio suplementar, apesar de ser certamente e supostamente bastante mais sã e sadia por experiência própria, da qual sofri e sofro um pouco, comparando com a práxis comum e humana fundamental ao deslumbramento de quando me perco nos picos e ao redor das mais altas montanhas branco cinza e negro basalto que há no mundo mas onde tenho os pés fixados faz cinquenta e mais alguns anos -“a esta parte” como se fosse uma incurável doença.

Hoje é Ilusoriamente o dia “do que era certo” e “me tenho” por sobre-humano, mais que os dias outros do ano, não porque seja bíblico o Solstício invernoso, mas porque é Inverno e os dias começarem a aumentar sorrateiramente “a partir” de agora, o pessimismo tem menor durabilidade assim como a noite invernal em que os mortos são enterrados vestidos com a melhor roupa que usaram em vida, de nada lhes serviu a Terra os ter pregado ao chão enquanto rodava, assim são as estações e os anos, os sóis e as estrelas cadentes pregadas ante os nossos olhos por uma outra imaginação ainda mais fértil que a nossa.

Há uma miríade de pequenos “paparazzi” transeuntes zombies com variações de humor afinado, displicentes e sazonais, dir-se-iam emigrantes ilegais, sem contracto que se alojam regularmente no mais elevado sótão do meu pensamento residual, sem aviso prévio, necessário e essencial para aí continuamente residirem pegados, residentes.

É aí mesmo, assaz e promiscuamente pegado a eles que me perco da linguagem a divagar e a divulgar mensagens, presumo vindas de muitas e estranhas origens, como o café da Colômbia e as bananas da Madeira, quais somente orbitam à minha roda, rótulos em chávenas de diversos autores e motivos coloridos por vezes discordantes, garridos, dissonantes hindus transalpinos himalaicos.

Hoje é o dia do ano em que me sinto sinteticamente e esteticamente bem mais próximo do divino, no dia da celebração do solstício e venho comunicar de oboé alçado, tão alto e sonora que quase todos os meus sonhos de grandeza cairiam no chão fosse frustrada a epifania e não uma autêntica revelação, clara sagrada e divina, impressa em letra áurea de prensa que me faz vir aqui publicar alto e em bom som o audível cheiro que tem, terá, terão no toque final, as letras que me finco de pés e mãos pois afirmo serem estas distintas na cor de todos os outros espermatozoides gramaticais apenas por saírem de minha glote, alma e ranho em coautoria sensorial, digamos qual o mais real e enfadonho das duas, a indigestão ou a azia, talvez mais a constipação pós tormenta, qual não sei o nome ainda e a distancia ao epicentro.

As fulgurantes idolatrias místicas e a escrita em forma de arte criativa, têm destas coisas, associam-se à nossa dilecta e estimada pele, têm assim como a paisagem, a qualidade de se tornarem irrevogável e inegavelmente grudadas, tatuagens avulsas, nossas e intrínsecas pois se até no palato o poente é susceptível de ser sentido apreciado e degustado para triunfo do êxtase, da volúpia sobre a realidade, da intimidade sobre o exterior, apenas ficando de fora deste contexto o sexo físico sobre a veleidade da fantasia, a evocação não se compraz com a verdadeira dimensão carnal do orgasmo, a volúpia de estar ao vivo sob a luz do sol nua, e não da lua, apenas de no céu “a vermos”

Ao nível da escrita misturo a ordenada desordem do big-bang e o erro do que era certo sob um manto quase real de Caudilho e Descartes na sódica esperança de se converterem no que para mim são e foram, numa ópera de góticos rabiscos, grotescos contrassensos roubados aos movimentos galácticos, vizinhos da nossa versátil Via Láctea, composta por sóis de muitas origens e dos mais expressivos credos.

Às divindades que me doaram-me o talento sem lema de sonhar acordado e outros defeitos tenho a dizer que se esqueceram de inventariar o fantasioso conteúdo da dádiva e faço uma ideia deveras confusa da utilidade de todas e tantas gavetas e arquivos sem nada dentro e do arrumo apurado daquilo que não me serve, pois encontra-se misturado de vazios sem tema que me vistam da ponta dos pés á cabeça sem parecerem ingénuas as frases que me saem pelos ouvidos e se adaptam á garganta como lesmas ou guelras de peixes lampreias de fora de água nas represas, sufocando com falta de oxigénio nos excessivos dias de verão.

A necessidade de confidenciar uma confidência é inseparável de todos ou quase todos e à mentira que creditamos a nós mesmos como sendo deveras e a única, designo de notável falácia, do falo apreciável, exterior admirável de cartão pintado, logo a confissão lúdica de fraqueza é sem dúvida, sinal de covardia e falta de coragem de quem nasce armado até aos dentes e não sabe usar nem as unhas nem qualquer outro talento em seu proveito, muito menos os punhos ou os joelhos mesmo que lhes apertem os testículos num torno mecânico ou os joelhos .

São as mais altas e solitárias regiões do planeta, que persigo e que me inspiram, são estas que me fazem fruir do espaço interno e externo que ocupo nesta esfera armilar que são o mundo e o espírito, considero-me um ser privilegiado pela sensação de analgesia conjugada desses dois Universos paralelos, ambos sem origem cientificamente comprovada testada e geneticamente certificada.












Joel Matos 01/2020
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Rua dos Douradores 30 ...




30 November 1935: "I know not what tomorrow will bring"




Sei-não,

Me encantava Durban no princípio, agora não,
Me encanto no vento quando passa p'la clarabóia
E depois quando parte pra "não-sei-não", Ofélia
Pode talvez sentir real, eu não, as rosas régias

E na alma geral o vento, general Zulu do rumo,
E a vontade pra que me mude de onde cenário
Sou pra onde, sentido eu, passe sentindo estar
Não sendo, quanto suspiro, perfume a navalha

Do tempo que falta, sei-não, fumo Cannabis, Absinto,
Me encanta, na emoção o vento, a Seda-Hume,
Assim me cantava Durban do solstício, a emulsão
Do tempo escasso, na respiração o íntimo ronco,

Agora não, não venta faz tempo, partiu logo-logo
Para "Sei-lá", o vento, sorrindo da ironia ao dolo,
Depois mudei... renuncio ao vento, serei a estátua
Que se mudou do nunca pra jamais, da praça Natal,

Para a rua dos fungos e dos ofícios pobres,
Tecelões do "aonde-morro" onde morreremos
Todos, monótonos e desnecessários, vãos
De escada, refractários, rebeldes do sono,

Me encantava Durban e nem sei explicar se
Da alegria na guerra ou da paz de um logro,
Pois que agora não, o facto é que me creio
Prisioneiro, contrabando de ouro falso, um

Não-ser, do Chiado à Rua dos Douradores 30,
De onde nunca saí eu e o asfalto que me sai
Da alma, a qual deixo aberta, pois o sentir é
Para mim uma gaiola com uma gaiola dentro...










Joel Matos 11/2019
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A Rua ao meu lado ou O Valor do riso...




A Rua ao meu lado,

Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro,
O valor do que fiz é o das coisas comuns, mau abrigo
Como envergar um abafo desabotoado e tentar
Sufocar o frio profundo, separado custo de franquia

Em outro qualquer artigo ou lote trazido duma amálgama
De ferro de imóveis peças que vergo como veias, revisto-
-Me do que aflige os outros, (mesmo os que têm fé)
Não por mérito, mas para justificar o que poderia

Ter sido eu se tivesse tido o futuro que nunca tive,
Se tivesse dito o que nunca disse, nem me adianta
Valor ao esforço, o que digo, sem a mais-valia é minha,
O caso da cal fresca sobre argamassa grossa, mal

Amassada, tosca, justaposta, assim é o meu riso,
De certa forma humano pelo que escuto, e por uma
Noção natural que é não ter futura vida, nem ser bem-
-Vindo qualquer fingidor atento ao fraco talento

Que eu tenha, asseguro que nunca senti a falta
Do futuro, a minha falha foi coabitar com o destino
Numa promiscuidade miserável, abrigo cancerígeno
Quanto a mim e eu sei, porque sinto o sonho morto,

O valor do riso é ouro e não o das coisas comuns,
Sem futuro nem raiz maior que zero, o peso da lua
É um mistério quanto o giz com que nua foi pintada,
Sinto o futuro desligado, como luz não tem na rua,

Ao meu lado, um bueiro sujo, mal-cheiroso, imundo.





Joel Matos 11/2019
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Absurdo e Sem-Fim…



Absurdo e Sem-Fim…



Incompreendedor é o que sou, e a própria dor,
É a comissão do esforço, a grandeza é o sabor,
O produto não é definido por nós, a proposta
É outra forma de ideia que nos leva a pensar,

É a compreender que passamos pra’além, depois
Não há lá nem cá, nem de cá sou, nem estou lá,
Estou n’onde me penso, não por estar pensando,
Mas no que me leva o pensar, o que eu pensei

Anteontem, amanhã cedo, mera combinação
De pensamentos caminhando, dentro sombras,
Nem daqui nem d’além, d’mim tampouco são,
Em lado algum moro, artificial ou real mistura,

Não preciso saber disso, é da natureza e não
De mim que falo, da matéria que faz a ciência
Incestuosa, a relação entre uma raiz de luz cónica
E uma pedra, a tentação e o espírito, o sensível

Situa-se acolá do conhecimento pra que tudo
Flua e nem isso eu compreendo, nem o uso
De cuidar das sensações como se fosse papel-
-De-seda, assim falo naturalmente do que sou,

Um incompreendedor nato, acredito naquilo
Que creio, sem estar atento ao que pensam
As gotas de chuva ou as migalhas de pão que,
Com um gesto, atirei pela janela, aos pombos,

E amanhã estarei caminhando com a mesma
Roupa que vesti hoje mesmo, num percurso
Que não leva a lado nenhum, com semelhante
E natural pensamento, natural é o que eu sou,

Dedico-me à interpretação dos símbolos
Sob o signo, de “que mais vale não fazê-lo”
Com figuras que eu próprio crio num muro
Absurdo e sem fim… eu, que sou rochedo.

(É o que eu sou)






Joel Matos 11/2019
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O Estado da Dúvida





 



Estado da Dúvida Perene ou
Quanto a virtualidade pode ser anémica.









O Talmude do genocídio Nazi-Fascista, fascizante e asfixiante, é o cretinismo arcaico, hemorrágico e o persistir tenaz na esterilização de ideias e ideais, perpetuada por gente nula e respectivos anuentes como a má comunicação social e demais adstringentes metafísicos e anémicos, da classe dos detergentes e que se têm desenvolvido numa sociedade socialmente doente como a nossa, muito à custa de ovíparas redes sociais criadoras de imbecis mal opinados e pseudo-opinadores, a arte é o esquivar a ser normalizado e a fuga, o acérrimo protesto a esta macabra, maléfica e imposta norma, pois impor é para amor, como o azeite para a água ou o vinho na liturgia de quem a não entende como insofismável, a verdade na arte espiritual.
Vivo e coabito ainda assim um viçoso, perene e soberano Estado de Súber Dúvida, em que todas as questões e discussões são próprias e discutidas, excepto por aqueles monoteístas do pensamento, palafreneiros incontestáveis e detestáveis iconautas Orwellianos e Germanizados.
A aristocracia dissemelhante das ideias brota do sonho e o sonho morre, desvanece se lhe tocarmos mesmo que de modo indelével, é essencial disciplina e o aprender a lidar com a sensação de volúpia Odisseíca e marítima, que o sonhar exalta e gera, tal e quanto como Ítaca foi gerar um Ulisses no Mar Egeu e fundeá-lo em Lisboa, no traçado final do Tejo.
A virtualidade é maléfica, é na prevaricadora disciplina do pensamento cognitivo e no compreender orgânico/genético que nasce o virtuosismo, e é no sonho, que nos renovamos, no embrionário mosto de múltiplas castas de opiniões divergentes, depositadas num cadinho de simbioses e “nuances” gestativas e gerativas; é aí que se dão as magníficas e mágicas projecções do entendimento e mesmo de ideais especulativos plásticos grandiosos.
É na disciplina de compreender e no estado de dúvida constante que nos revelamos, onde se desmontam misticismos práticos, cabais e falsos sentidos críticos, instituídos por nocivos profissionais, fazedores carnavalescos de opinião e do estéril entusiasmo tendencioso, visando os mais simples e incapacitados, os imcompreendedores natos e genésicos, também se incluem nesta lista alguns inimigos hostis e anti socias crónicos, indiciando sobretudo os meios artísticos com a sua inevitável peculiaridade individual, não comercial e de expressão revolucionária progressista própria e próxima da dimensão mais célica, céltica e ecléctica do ser humano, que é o de desejar evoluir e compreender a terra e o cosmos do tecido social, enquanto movimento integrante de novos modelos, em moldes representativos, conceituais humanos e exponenciais privilegiados.
É também na pluri-disciplinidade e na eminencia do pensar, que a observância dos detalhes privados é deveras se indubitavelmente importante e o manancial causístico bem mais elevado, senão que o bem mais valioso e não uma simples e ornamental noção destrutiva e casuística ostentação monocromática, verbal e elementar, como na venalidade das redes sociais em que cada um se reclama como ditador, genial progenitor e criador de estapafúrdias opiniões semânticas, sem nitidez nem ciência nítida ou mítica e sem a clareza que se consegue, se adquire, apenas no recolhimento, na angústia do terreno desconhecido e na disciplina do auto-conhecimento, na obediência sem tréguas à razão critica.
A tragédia da Rua Das Flores, é a da vida humana na Terra, é a tragédia no abuso da objectabilidade e a repetição constante e incansável de ferozes gestas e de fenómenos de imbecilidade, brutalidade geral e absurda, enquanto a fonte dos sonhos, continuará sendo a dúvida e a recriação das coisas nobres ao toque, como o prazer verbal, o mimetismo ecléctico e a voluptuosidade espiritual de ver e ouvir com a nobreza do gozo e do tacto, com a clareza de um Surfista Bramânico em itálico e a cheio…










Joel Matos 11/2019
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Sonho sem fim, nem fundo ...




Sonho sonhos em que não creio, sem meio nem fim,
Numa laguna sem fundo, padeço de sonhar à noite, enseada,
O molhe, atóis atolados de vultos, negras redes e mal-
-Formados "nados-mortos", prematuros sonhos, vagas
De fugaz fumo, insectos alados, mudos sonhos, Cedros-

-Escuros nos "Soltos-Muros", Mundos sem quem,
Nem alguém, a não ser eu que me perdi, perco-
-Me em impensáveis sonhos sentindo fraca a força
De não querer passar só e a nado, sem barqueiro,
Frustrado sonho, sem fim, nem meio, d'en borco,

Sonho sonhos em que me perco do corpo esférico,
Renuncio à substância em que me faço, eu, um recém-
-Criado, repudio e renuncio a uma nova veste, um novo
Vazio composto por um destino que desconheço nem sei
Usar, um meio não físico, tão fora, para pensar perfeito

Outra intima forma de tender um sonho, sendo-o sem
O querer ser, visível quanto a sensação da névoa,
Incógnito o não dito, desconheço o que posso ver
Pra'lém do ver ultimo, oculto e não tido por nenhum
Outro ser, vivo ou ido, ansioso eu, ser entendido

Noutros mundos, creio neste não, de pá e picareta,
Mas no veículo alienatário de movimento perpétuo e
Constante, meus olhos, feitos planetas e orbitando o
Cosmos. Rodeio-me de elementos espirituais como seja
A areia, a seiva e o esperma, o barro e, como eles,

Sonho sonhos sonhados que não creio, sem fim
Nem meio, alcunho-os de juncos e limos, lugares
Sem margens, desfiladeiros onde cobradores
De almas se escondem, madrugadas afora, cautelosos,
Pacientes vermes, cinza em verde e receio...









Joel Matos 11/2019
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Da significação aos sonhos ...



Estou bastante próximo de mim para crer
No barulho dos outros, ocupo um espaço
Diminuidor de avaliação; oculta a outra
Tarde que procuro, rés-do-chão, estrado de pedra,

Esforço a minha crença na evocação da vida,
Exprimo-me em dourado violeta ou negro e preto
E pelas decotadas sensações expressivas,
Decorativa a minha presença e o chão

Matemática viva, equivalente o peso nulo
Nosso, (meu) sobre a Terra grossa e incesta,
Porque este Mundo parou e
O movimento dos astros é tão metafisico

Como um mistério para mim, corporal,
Limito-me a passear entre a sensibilidade
E a negligencia de estático comum,
Que é estar parado entre dois mundos paralelos,

Tão físicos quanto difíceis de atingir, a pose
E o dolo são a errada concepção de um falso Lama,
Exprimem-se em estados violentos agressivos,
E pelas má impressão à flor de uma pele em chamas,

Evasiva a nossa presença e o chão
Matemática excessiva, equivalente ao peso nulo.
Aconteceu-me este poema que me fez acreditar,
Não vi os sentidos acrescidos, pois debaixo

Dum céu que não era eu, eu era apenas céu,
Em múltiplas chamadas me reclamou seu,
Eu, que sou tímido de sensações gregárias,
Embora arda entre a boca e os tímpanos,

Numa fraca final fé,
Quando me chama o inferno, assim
Falo discretamente de Deus, pois o mundo corre,
E a obscuridade adapta-se aos profanos Bretões,

De modo a parecer-lhes pleno dia. À luz
Do tímpano de um negro Orfeu,
Entendo a significação dos sonhos,
Apesar de seus...







Joel Matos 11/2019
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Deus Ex-Machina, “Anima Vili” ...




Deus Ex-Machina
O que passou está pensado segundo um acto de procrastinação, nem sei quantas vezes eu penso que nada sei, não tenho passado, nem vêm a mim, senão expressões vazias de alucinado, as quais reparto ambiguamente comigo mesmo por enquanto e eu próprio me encanto se me ligam e à minha alma com as flores secas e sem a fé dum cavado duro chão, indiferentes também elas, tal a estranheza da minha escrita em pobres letras, quantas vezes ausentes de nobreza, quantas vezes incoerentes.
Estou cansado de ter desejos, a minha cura será uma viciada infanta, abatida entre duas luas cheias, acima da linha de cintura, culpo-me do desejo que é tê-lo ou talvez não, tal como a uma rainha dói, dividida entre o céu e a sorte que a partiu em dois na memória, eu nunca soube quem ela foi, nem me decido em que sombra ela agora está…
Quantas vezes eu peço tornar-me de repente sóbrio, quanto a luz do dia ao sol da meia tarde e a vida real, uma janela aberta, com passagem para o presente e não papel manchado, num canteiro devoto, esquinas sem arte, contempladas à distancia, numa revolta sem batalha, impotente tanto quanto flores sem bainha, nem chão nem rainha, mesmo de “faz-de-conta”, que invoquem o sol pondo-se numa taça, ao divino que não se manifesta sob um azul de céu manso…
Eu hei-de um dia descobrir o que digo quando escrevo, meus olhos nasceram em greve, meu entendimento é breve e leve, quanto um cometa inédito, segue e some, some e segue, assoma-me a loucura quando escrevo, assola-me o que digo e quando o faço, assemelho-me a um louco, sendo ele, eu próprio noutro…noutros longos mundos.
Cresce mais alto em mim o que digo do que o que penso, o coração faz peso pra um lado, embora procure o equilíbrio do perfeito, desabo na sátira de mim próprio, será a poética o caminho certo, estando eu do lado errado ou estando certo, do lado oposto a cada estado de alma que, estéril, eu protagonizo, – digo apontando para o outro lado do espaço pra esses longos mundos – e penso, qual a função do mecanismo de Deus, que é o sentirmos-nos dele viúvos e se a fúria do sonho provém da alma.
“Anima Vili”
«O adjectivo é a tinta que esmalta a frase, é o colorido que lhe imprime tonalidade. Tanto que a excessiva adjectivação torna o estilo berrante, pejado, à guisa de tela em que a derrama e copiosidade de tintas acaba por empastar o motivo. (…)»
* Carlos Góes -Filósofo
Exagero nas berrantes adjectivações, igual a um colorido Confúcio, quase me crescem paulatinamente da boca o verde e na mente amarelo-laranja, na tentativa pura, derradeira, louca e boçal, de colar algo magnífico e orgânico como plasticina com pasta de dentes e nas palavras que não pegam, nem se agregam, quer seja por conceito mágico ou preconceito antropológico biológico, físico, moral ou estético, claudicando mesmo nas mesquinhas e ancestrais crenças religiosas e da sinceridade sincera, nas manifestações de insustentabilidade da realidade monogâmica, apesar destas serem colaterais, por motivo de intratabilidade significativa e genética da arte, gera-se uma discórdia entre dois polos, o princípio do coeficiente imponderável no peso dos pensamentos, versus o valor argumentativo do significante real e físico e a percepção parceira dele, assim é a nossa escrita poética, se nos maravilha e cria um túnel de luz, numa evidente trajectória iluminativa lúcida, súbita e estonteante, logo vêm contrastantes, berrantes, os cínicos passear lentamente investidos de critérios pouco relojoeiros e sofistas, os quais vêm, têm na nossa perfeita imperfeição a razão fractal da suas sublimes e cientes existências curvadas, ao sentirem numa dor de dentes um valor rítmico, sintomático e inestimável patético ou artístico fora do plano equatorial terrestre e antropozoico.
Quando é o oposto e o contrário,como agora, que me abandonou a inspiração criativa e um poço/túnel vertical é escavado na parede perpendicular e no escuro do material mineral mais rochoso e negro, cor do azedume ou num paiol, onde murcham os afectos como organismos mortos, sem visão, condenados à extinção, como espectros sem missão e manifestações lamentáveis da nossa incurável, animalesca “anima vili” no Ateneu eucarístico e xeno-comercial dos delegados estéticos estóicos, da infeliz praça lúdica, conspurcam-nos efectivamente como meros organismos simbólicos, simbióticos e sem grau, numa escala progressiva decrescente, desevolucionista e catatónica por eles incestuosamente contaminada e esterilizada da semântica poética, vital e ancestral …
Pairam dualidades sobre nós, quer sejam num futurismo de Atenas, na eterna folha de laudia prata ou então no receio do martelo dórico de ferro gordo e a dor do nó Gregório, no falso palanque ou no estrado de madeira podre, baço como uma cidade de fuga, bastante difusa, perseguidora e persistente, castrante e aberrante, segundo a figura indelével no mapa de Plometeu-o Grande, de Alexandria .
A arte não tem sexo definido nem sufixo, nem podem ser um estorvo, as palavras terminadas em “eu existo” e insisto pois de nada serve senão no sonhar de um apático, sendo o ser humano, de uns metros quadrados curtos e apenas ou uma caixa redonda, vazia, sem enredo dentro, nem fósforos secos que acendam um húmido rastilho, ou outras “cenas” crípticas …
Berrante



Feliz como poucos …



Nada há em mim maior que eu mesmo,
Vivem em nós temores de nós mesmos,
Todos falam e eu me calo, temendo repetir
-Me nos gestos gastos, excepto no bocejo
E na gaguez do uivo que emito, dos amargos
Lobos, estes representam a minha vitalidade
Perante a exuberância da morte, basta
Que me bata na porta menos grossa
E em Teixo para não me repetir no oco
Eco, na Faia, no falo, no veto, na Ágora
E em mim mesmo, quando falo assim,
Tamanho pequeno…
Sou feliz como poucos no mundo,
O riso da minoria satisfaz-me quanto basta,
Já que a lucidez não serve todos …
Somos poucos,
Mas não menos felizes que muitos outros,
(Se me faço entender)
Durmo em meios olhos,
Sonh’os inteiros, projecto-os em telas,
Para apreciação dos leigos,
Desde todos os ângulos,
Por todas as esquinas, todos os becos,
Recolho-os sem dor, em canteiros de flores,
Semeio nas veias e no olhar vazio
Dos múltiplos sonhos meus,
Sonhados-a-meias,
Pastel na cor…cinema em ante-estreias.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Pra'lém do sonhar comum ...



Pra'lém do sonhar comum,
O essencial é não sentir comum demais ...




Pra lá do eu, meu coração é o sonhar meu,
Tudo de resto é o fora de mim e o já agora,
A solução é não sentir o comum demais e o
Que real mais parece a mim, sem precisar de

Sonhos menos dúcteis, tão gerais quanto os
Monstros mortos ou a dócil paixão, segundo os
Logros vivos, como eles naturalmente sentem
À hora do chá e às cinco, n'ametade de tarde

Certa, parada quanto um jogo de premissas
Falsas, aleatoriamente bem verdadeiras, assim
É a nata do leite puro, para não sentir comum
Demais, a respiração aposta nas palavras tácteis,

Segundo uma dicotomia de escravo e seu dono,
Não se tocam e quando acontece o sonho morre,
Produzindo um som profundo embora leve,
Difícil de explicar escrevendo, se nem por gestos...

A unidade mínima na escrita, é o desassossego
E a solidão de quem escreve, uma anátema,
Porque escrever é o complexo e não a virtude,
É o erro e não o Graal que chamam de linguagem,

O ritual mórbido, que não há maneira de definir,
Senão pelo exagero, pois não existem palavras
Justas que definam o caos, a exegese do desapreço,
O menos cómodo dos suicídios e o cativeiro,

É o agir contra nós próprios que nos torna
Inteiros, embora estrangeiros em nossos fragmentos,
Como se fossemos um armazém de cabides
Desorganizados, onde penduramos fatos de outros,

Sensações anónimas e abomináveis, intervalos orgânicos
De conversas que não desejamos nos curtos metros
Quadrados desta nossa alma enviesada, cansada
De colóquios e considerações de precisão volumétrica ...

(O essencial é não sentir comum demais)





Joel Matos 10/2019
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Sonhar é cabelo,





Sonhar é cabelo, nos ombros a razão fala
E murmura o que persigo, se é verdade de leigo
Ou ilusão de passageiro, Encaro o que escrevo,
Sonhar em cabelo, idioma raro, não sei lê-lo,

Não sei sê-lo, erro ao explicar o credo sendo
Eu imperador dos descrentes e dos rochedos
Negros, atavio de profeta cuja incapacidade
Apesar de empolgada, mil vezes lida à peça,

Não contém profecias nem interpretações
Cabales ...Tenho ego de "formiga-d'asa"
Partilho estrelas num céu que, cego eu nem vejo,
Sob o tecto da minha minga casa,

Distinto, apenas o cachimbo
De boca, "à Torga", posso argumentar como fosse
Poeta mas confundo o luzir das velas,
No brilhar de mil e uma telhas ...

A química do universo começou com HeH+,
Numa espécie de "panspermia química",
As paisagens, tão admiráveis como quadros
Entraram-me pelos olhos adentro, querendo

Que algum Deus os criou com velas de perto,
Pano preto, braços estranhos, tanto quanto
Eu, tão cheio a "esperantos" mudos, cansaços
Quanto o Mundo pode causar-me nos olhos,

Tantas musas causas, tantos pregões longos,
Lembram cavalos cinzentos, cavalgadas sísmicas,
Funestas. O vento é um fluído volátil,
Ainda assim, fugidio o sinto como o tempo,

Acariciando-me o cabelo raso e ao ouvido táctil
Dizendo:
-Vem comigo, vem comigo, vem comigo...
Antes que se faça tarde, sonhar é cabelo …










Joel Matos 10/2019
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Doce manifesto da vida



Doce manifesto da vida ...





Complexa expressão de tributo, presta
A arte à dor como impressão de prazer divino.
Se eu soubesse que a tal me completaria,
Deixava completamente de a ter, amarga,

Substituía-a por outra abominável sensação,
Que evocasse o vazio nulo que contemplo,
Sendo seu falso monarca ou subordinado atento,
Como só grandes homens o são, condenados

A um paliativo degredo, ainda que imposto
A quem homenageia, numa manifestação
De triunfo, a amargura complexa, mimética
Igual quanto a dor é e desperta em mim,

Nivela-me a quantos têm na vida grandes
Sonhos, sem que os ponham de lado, levando
Consigo demasiados bocados da alma e pés,
Sem terem quem os reanime, batidos, derrotados.

Nada mais me dói senão a lucidez do dia,
De facto atrai-me o que repele aos outros,
Não me submeto ao conforto da opinião alheia
Como uma panaceia, cultivo a liberdade

De espírito assim como o desprezo do real,
Pois só o temos do lado que vemos, não do
Aposto do olho, deselegante e rude, porém
Divino tanto quanto pode ser a dor, um doce

Manifesto de vida...






Joel Matos 09/2019
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Tudo em mim





Tudo em mim, minha pele, paredes, tecto,
Embrulho de jornal, papel e texto, tudo enfim
Era, é falso, porquanto normal, alheio, tudo
Em mim disfarço, pele, parede, embrulho,

Jornal não leio, detesto-me, vegeto, teimo
Me achar, descolo-me d'tudo o que a mim
Pouco sabe, na fala começo a parecer não
Eu mesmo, mas um outro que não lembro,

Pois nem leio, tudo em mim é a fingir, até
O fingimento sem remédio me flui pelos
Poros dos dedos, sou uma fraude, desfaço-me
Como um peixe de viveiro, grelho mal,

Sou asfalto de tarde quente, queria tanto
Ser "Mastim", sendo mal-cuidado, "Tuga
Podengo" de França, podendo ser Chinês,
Argonauta poliglota de Minas Gerais,

Que me importa se nem o estóico Zenão
Me representa como humano destinado
A apenas e inexoravelmente sê-lo, tal-qual
Quanto a fealdade do logro e da carraça preta...






Joel Matos 09/2019
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Ânsias ...lais de guia...




Lais de guia...Ânsias ...




Ânsias ...


Ritmadas, como marés e pausas, anciãs
E o mar e eu morto, numa outra extrema,
O meio do mundo e mais pr'aquém a glote,
Que alguém dum simples e forte fôlego,

Possa ou tem e vença o ar e tenha igual, pantanoso
Este mar Norte, se querendo repousar, cordas,
Marés de pausas, lassidez de causas, antigas
Praias de poucas coisas, senão conchas gastas,

Marés baixas, sujas e mortas musas, lastro,
Rotas as marés vasas e as vozes laças, rosas/lanças
De quem lá mora, morou, morava, fui levado ...
Nem marés, nem caudais, nem as ondas no cais,

Lá morrem, morrerei eu de novo, neste
Ou num outro lado, dum outro estranho e
Novo mundo, cordas e lastro, corda e lastro.
Corda e lastro...lastro e cordas, lais sem guia,

Ânsias ...ânsias de morte.



Joel Matos 08/2019
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Hino ao amanhã



Hino ao amanhã



O bater de asas de uma libélula,
Pode gerar seca no Nordeste do Brasil
E um Tsunami no Japão de Prestes,
O que penso e digo sim, é não,

Dependo apenas da brisa frequente,
E do brilho de muitas vidas dessas,
Assim como um ribeiro da água,
Que chove ou não e se faz caminho,

Que brilha ao brilho de imensas
Gotas, nas asas de uma libélula
Ou colibri, não basta eu chorar,
Sonhar, sentir, pra que seja verão

Na América do Norte ou Istambul,
No cetim das asas de uma abelha,
É sempre nítida a luz e o movimento
Do mundo, que volve como um hino

Ao amanhã e ao meu depois de mundo
Andado, pra diante e pra frente
Desde a América do sul ao Oriente
Do João-Sem-Medo, o Príncipe-Burro,

Definitivamente não sou ninguém,
Dependo do vento, tornou-se-me
Estranho o mundo e o encanto
Que não me faz encarar o céu futuro,

Não me faz chorar, não o sinto
Ainda que o amanhã seja lindo, será outro
E não a mim que soprará o vento,
No bater de asas de Colibris ou Alvéolas ...






Joel Matos 06/2019
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Aconteço "por-acontecer"




Fui destinado a acontecer, ou
Afinal que acontecimento
Diferente sou eu, se há nele, no fundo
Não o destino que me caiba

“Acontecer”. Não aconteceu
Nada a mim de meu, apenas
Fui destinado a ser comum, só eu no final,
Tudo é de outros e não creio

Ser mais do que ouso, dispo-me
Do que uso e do que não me serve,
Excepto o ruído do campo, tão leve e
Único indício que me distingue

De outros que acontecem fugaz,
Como gado validado de gente,
Fui destinado a acontecer desigual,
Eterno o sonho em que sinto que a vida,

"Acontece-por-acontecer", devagar...
Renuncio ao sonho, descrevendo-o
E à minha nudez sem talento,
Espontânea embora estranha.

Foi destinada a ser e sobretudo,
Mas não sei quando ou quanto
Talento valho no talho do logro, sendo
Talhante eu próprio de mim mesmo,

Tenho coração de touro e carne
De "Lord" mas ainda assim de
Alguém que, no lugar dele mesmo
O tem, sem saber que tem esse

Único bem, que é meu e nem me serve,
Talvez tenha eu um outro e outro,
E pense não ter nenhum aqui dentro,
Embora saiba o que é ter não

Coração d'outra gente, colado
Que nem meu ao corpo, se o
Mesmo sinto como sendo eu
pouco, até na dor que ocupo

E outros têm e não eu, culpo
Um coração que não
É meu de todo, é do mundo inteiro,
Coração que a todos

Dei, todavia não tenho
Nenhum batendo de momento,
De verdade junto ao peito,
E isso não me dói tampouco,

"Aconteço-por-acontecer",
Fui destinado a não ser final,
Comum ponto.













Joel Matos 05/2019
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quinta-feira, 9 de maio de 2019

Morto vivo eu já sou ...






 


Morto vivo eu já sou …
Se só e rigorosamente de objectos 
Mortos se compõem museus,
Morto vivo eu já sou, não estranho,
Fui partido, deixados mil e cem bocados
No labirinto em que me fingi preso,
Duvido que o vento teso
Ou o sol do meio-dia, me encontrem vivo,
Pois sinceramente me sinto morto,
Pra vida que nunca quis ter… …
Eis quanto comum de facto sou,
Ao ponto de ter vulgar umbigo;
Peculiar adereço em mim, o estar
Sem estar, a dor sem hiato ou subtítulo,
Desprezo de inglorioso palhaço de circo,
Desses sem palco nem apreço,
Velhaco tecido a palha, pseudónimo-erudito
E canalha com firma-reconhecida, mal pago
Taberneiro, manhoso com ácaros nos 
Testículos e na mal-formada verga
O sujo, besuntado a tinto e canja de
Galinha gorda, na barriga tatuo “marujo”, 
Sem jamais ter raspado nos flancos
Um batelão, nem de joelhos o convés,
Contramestre da ignomínia, da infâmia,
O coração, se pudesse, fugiria de mim,
Tão vulgar sou, sete sobre sete dias
Suo que nem camelo perante o Alfage
Mauritano, cerebelo de Sapo e Urubu,
Pinta de fuinha, saio ao meu avô Garim,
Morto externamente vivo …






Joel Matos 04/2019




sábado, 13 de abril de 2019

A ilusão do Salmão ...



Onde anda o mar, pergunto eu, ao Sem-Rosto…
Perguntei a um triste búzio Quasímodo,
O que dizia bem de dentro da maré ferida,
Respondeu bramindo e a custo, que dentro,
Havia tanto asco de tainha verde, era o búzio
Quem não se ouvia do mar, nem ao plágio fanho,
Ao tom do jazz, ronco de esquadrilha mortal,
Onda do mar a bater no bojo, morteiro
Estoirando o ar, alga podre, peixe-gato, nojo,
E dum oco, ocre, búzio torto, nem ralho… 
Onde anda o mar pergunto, debruçado,
Moribundo doente e coxo, ao rouco mar de junco,
Aí onde a costa engorda o atum infecto…
Respiramos ar gordo a contragosto,
Um monstro, tanto Ogre quanto Elfo-de-caça, 
Me treme na voz, quem sou, que importa à corça,
O pavilhão na caça, sem a salvação da grossa, 
A poça à soleira da porta é rasa, nossa rude tábua 
Ardeu, pegando fogo ao mastro e à casta aurora,
Aonde andas justo agora, ao mar eu pergunto,
-Para onde caminho, O Sem-Rosto és tu, Salino,
Pergunto eu indigno e mudo, pro céu do
Sol-posto com o mindinho abreviado e meio, 
-No meu peito reinou um salmão e de desgosto
Morri eu, seu irmão, – O Do-Coração-Ateu -…

domingo, 7 de abril de 2019

Como terra me quero, descalço e baixo ...



Como explicar na poesia que faço,
O tempo que faz agora e da morte,
Se a arte de o fazer não é minha,
E lá fora manda o tempo que faz, 
Se o que faço eu é chorar rios de
Chuva quente, menor que arte é fazer
Do tempo, enfim que ri, chora, venta
E ameaça chuva, treme de frio, molha,
Bastando querer eu, estando descalço 
Como a terra me quer nela, morto frio,
E nela me incluir, unir-me ao carvalho
E ao cheiro do estio molhado, amo 
Como ao tempo que faz do Norte chover
chuva forte, Como terra me quero, baixo
E estranho funcho, chã gramínea me faço,
Perfeita alucinação do espaço próximo, cujo
Como terra me quer, ritual e descalço,
Maior que a arte é fazer do tempo uma
Expressão excessiva, sensual quanto
A vida, invocando as horas que morro,
Explicando ao inevitável, o perdido,
Acho eu !…

sábado, 6 de abril de 2019

- Papoila é nome de guerra -



– Papoila é nome de guerra –
Seja como for sempre volta sendo,
Não haverá antinomia,
Sem a aparição dos medos,
Quanto às flores da Terra,
As pétalas senão rubros dedos, 
Indultos os próprios 
Caules presos sentindo calor,
Tuas mãos opostas das ervas,
Seja qual for a razão,
De ser desse amor certo.
No meio dos desertos,
Ruas serão campas abertas,
Testas de ferro néscios,
Todavia não me abstenho,
Enquanto há flores no árido,
Eu escrevo a vermelho insulto
E ao vivo – Papoila, meu nome de guerra –
Rosa brava, Tomilho, salva, versículos islâmicos, 
A maré vai e volta sempre, só meu coração rompeu, 
Vai e não volta sendo, não faz falta
– Papoila é nome de Terra,
Humildade é ocupação de santo, humilhação,
E eu não sou frade de verdade, 
Sejam Eles quem forem, é da emoção que falo
Quando me exprimo p’los beiços e p’los gestos…

sexta-feira, 29 de março de 2019

Botto





Filho de Botto é homem,
Sente e sabe falar,
Assim todas as criaturas e o mar,

Liberdade é sonho
Em que o céu se despenha
No azul do mar e apenas ...

Apenas pra lá ficar, junto às 
Causas que sonhei em espaços
Abertos, desperto ...

Espero-te um dia, pois breve
A vida toda será sonho,
Liberdade é quando...

Não apenas o Boto,
Caminha ao luar de verdade,
Mas em tod'o lugar do mundo,

Entre céu e mar.
Filho de Boto também é homem,
Sente e sabe falar ...ler-amar,

Filho de Botto é homem, com
Letra grande.





Jorge Santos 11/2018
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António Tomás Botto (Concavada, 17 de Agosto de 1897 – Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959), poeta, contista e dramaturgo português. A sua obra mais popular-Canções, foi um marco na lírica portuguesa pela sua novidade e ousadia, ao abordar de modo subtil mas explícito o amor homossexual, causando grande escândalo e ultraje entre os meios reaccionários da época. Amigo de Fernando Pessoa, que foi seu editor, defensor crítico e tradutor, conheceu igualmente outras figuras cimeiras da literatura portuguesa. Ostracizado em Portugal, radicou-se no Brasil em 1947, onde passou tempos muito difíceis, vindo a morrer de atropelamento talvez intencional.

O poema d'hoje não é diferente ...





O poema d'hoje não é diferente,

O poema de hoje, 
Lembra-me uma nova canção
Da rádio, que tod'agente canta,
Mas acabará por esquecer,

É a mesma que eu esqueci já,
O poema de hoje é, 
Como qualquer dia mau,
Em que não me topo, nem me conforto,

Como um qualquer Deus grego,
Dos "vesgos" que vive
Perguntando se o caminho
É a direito e plano ou suave e de que tamanho,

Oval quanto um coração ou em losango,
O poema de hoje, traz ao léu
O escurecer, o céu triste, azul/breu
Eterno, eternos Zaratustra, Kusturica,

Acabarão por esquecer, no entanto
O poema d'hoje é acerca da esperança
Que dentro de mim cultivo e celebro,
Afastando os mitos de monstros

Funcionais por castigo, sem bondade
Nem justiça, essa é a canção que lembra
Outra tão antiga, quanto a retórica 
Que matou na liça tanta gente,

Tanto o crente, quanta crença ...
O poema de hoje não é diferente.




Jorge Santos 11/2018
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Todos os nomes que te dou ...





 



Escrever é uma das coisas belas da vida, faço-o fluente e excelentemente, com a exagerada consciência tópica, própria de um cego e também a de um louco utópico, moderadamente creio, tenho uma razão sensível encastrada na ponta dos dedos, na língua, nos dentes e outra, dentro das orelhas, nos típicos ouvidos, falo discretamente com a alma a linguagem primitiva e divina dos templos acrósticos, escrevo nas paredes o idioma académico dos corrimãos "grafitados" para que todos entendam e será breve o que digo, pois sou órfão dos olhos e tenho de ser rápido a dizer, já que a sensação é forte e cheia de fé nos sentidos quando escrevo o que penso e digo, também porque escrever "a fio" é bom, faz bem à alma, porque não o fazer assim é banal e vazio, sem tino, só tem inconvenientes, por isso eu dito da consciência o que vale a pena ser tido em conta e apenas digo, se valer a pena ser contado, é o meu modo existencial e excepcional, refiro-me a braços e pernas, todas essas coisas que me não pertencem para sempre, assim é a escrita, a última dimensão sentida da alma, a melhor divisão da casa, onde me reúno comigo, renuncio à vida e pronuncio expressões invulgares, que já não me pertencem, o caso destas agora e de todos os nomes que lhes dou, de que lhes dei, poesia é a mais provável alcunha de todas as coisas, desde as mais simples e leves que a vida, embora nem tão belas nem tão ocultas, quanto a luz devassa contaminada com o escuro breu e o ouro puro, quando mutuamente se cobiçam e se culpam pela cupidez mundana nos olhos fracos dos humanos seres, qualquer semelhança com os deuses é comédia e farsa, desonra é pintura, poesia de poetas, alcunhas para os que se confessam decorativos servos da luz do dia e das trevas da noite, esguios anjos, caídos da guerra no pó da Terra, na lama simples, mas que dá vida, poesia é o apelido de tudo isto e do que ainda não foi dito apenas vislumbrado pela miopia humana, cegueira, amargura e a fome e a sede.
Defino-me como a excepção, não entendo os outros nem pretendo ser entendido por todos, não ajo nem ando como a maioria das pessoas que nem me sentem culpadas, por não me fazerem entender, é uma questão de consciência, não uma tragédia. A fome e a sede são insignificâncias perante a existência de cada um, mas concorrem e especializaram-se, assim como a hipoxia, cada uma à sua maneira e forma para o triunfo da mente humana e para que as palavras falem às vezes connosco e as entendamos.
A noção simples de existência é esmagada pelo desconforto da sede e da fome sobretudo, mais que pela miséria insana, embora sejam uma trindade. Já o que me costuma manter vivo é um desejo de comer e beber, absurdo para alguns e para outros, compreensível, regra “Sine qua non”. Defino-me como a excepção não pela inteligência ou habilidade, mas pela simplicidade, como água de uma fonte ou um pedaço de pão na mão de um miserável esfomeado, mas autentico, não pseudónimo de fraco, assim sou eu e sempre, prefiro o desconforto, pois é este que me faz pensar naquilo em que creio, conquanto produz em mim um sentimento de libertação, pois acredito na constituição de uma sociedade indivisível. 
A Propósito de dizível, no seu teorema mais básico e como fiel de balança, é missão da escrita mais pura a confissão da loucura e esta consiste na exponencial capacidade de cada um em incestar termos, palavras/verbos, inventar temas, escrever novas frases, fundir em poemas inovadores ferro e magma, signos tão finos que brilhem no conteúdo e no escuro, que treinem os nossos corações atletas e os mais profundos medos, emoções, metas na condição de amanhecerem na lua, do lado magro e a sermos exímios maestros, mestres magos, gregos tanoeiros, não só mas também, nos nossos humilhantes fracassos e crassos erros. Insistamos, incestemos almas, matérias-primas e espíritos! Não há caminhar outro, suave e louco, embora o caminho não seja curto, crio (criamos) um longo e magno paradigma, não importa que nos indiciem de loucos e ansiosos; a minha, a tua ambição é amanhecer na Lua, do lado magro, nós outros longos, largos de ombro a ombro, o espaço infinito e vasto, debaixo de um só braço e o comando noutro.
Brinquei tanto ao homem legível e dizível, com iminentes faixas brilhando em tule de catedral, joguei com as palavras enquanto era "bem-visto" por todos os números menores que eu e divisível por dois, como se fosse eu protagonista do que conto, pois que agora, vista o que vista não me encontro mais no "Grand Palace" de cristal, nem na vitrina da “Cartier", desisto do outrora brilhante fato de caxemira branco e preto, sou invisível na plateia até por um mero espectador sentado quer na coxia, como na plateia, a orquestra pode continuar a tocar, monótona e igual, apagada como todos os dias, nada me salvará da morte permanente, assim fui eu sempre, a propósito de indizível, eu hei-de um dia descobrir o que digo quando escrevo, meus olhos nasceram em greve, meu entendimento é breve e leve, quanto um cometa inédito, segue e some, some e segue, assoma-me a loucura quando escrevo, assola-me o que escrevo e quando o faço assemelho-me a um louco, sendo ele, eu próprio noutro ...noutros. Acredito no silêncio e no amor quando posso, Pois que na posse não há amor nem silencio, impor é pro amor como o azeite para a água ou o vinho na comunhão das almas puras, falso e vicioso o som que faz um padre se o vaso é apenas vaso e a água apenas água e fraude.
Trago em mim dentro um mundo de inteiras frases, a poesia expõe-me e todavia explica-me pelas sensações e grafias mais profundas e subliminares, não se aplica o mero entendimento nela, ele é aparente podendo ser falso, ilógico, xeno frásico, bem melhor seria e é imitar-me a mim, eu próprio, elevando a dois, multiplicado pelo melhor exponencial, o conhecimento que tenho a menos, pois os poemas são como as tabelas periódicas, que nunca estão completas, há sempre um elemento em falta e uma órbita que o complementa, um planeta, uma lembrança assim como "valência literária" pode ser alcunha, quando a leitura não é assim tão pura, nem tão bela, a minha não é, sofro numa mistura de desapego e querer, faço na minha vida o que a ciência ainda não provou possível, reduzo os tolos sorrisos doutros, nas silabas e os modos com que cobrirão mil dos meus livros e às cinzas os mortos.
É difícil explicar a um demónio a dor da chama e o que pensa e sente um santo em forma da mula dos infernos ou a um “Semper Fidélis” des crente, perante a morte eminente, a pira do santo ofício e a orgia de sentimentos que o poeta sente, quando escreve e sabe que se está condenado ao purgatório, pelo que diz sem que importe, ele escreve com a expressão no rosto do demónio, qual tem dentro e que dói, numa dor de noite permanente, do desterro de ser gente, tão difícil de explicar por números primos e embora as opiniões nunca fizessem florir uma amendoeira, mas na minha cabeça, o centro fica em flor como que por encanto, quando penso, da própria dor parecer não tenho, nem tento dar opinião, nem tento, sorrio por outros motivos além de não gostar de estar sério, não ter inimigo nem senhorio nem presídio (mesmo que esotérico), aliás a nossa semelhança com os deuses é real, tão natural e antiga que às vezes me parece mentira e doutras parece que o beijo é sério, não é fé nem mistério. Nunca soube julgar tão bem como fui julgado por jogar mal com as palavra " melhor e bem", bem melhor é imitar-me a mim, eu próprio, elevando a dois, multiplicado pelo melhor exponencial, o conhecimento que tenho a menos e vejo crescer mais alto em mim o que digo, do que o que penso, o coração faz peso pra um lado, embora procure o equilíbrio, desabo na sátira de mim próprio, será a poesia o caminho errado, a alegoria não é um sentimento, sonhar não é uma anátema nem uma oferenda, é sonhador quem sonha por si, não por ver sonhar outro, com a alegria passa-se o mesmo, é como no luto, no opróbrio, no desalento.
Embora as vaidades nunca fizessem desabrochar uma figueira mas na minha cabeça invadem-me de aptidões em forma de raiz, o centro fica em nata de figo, como que por encanto quando penso, da dor opinião não tenho nem tento dar opinião, nem tento, sorrio por outros motivos além de não gostar de estar sério, não ter inimigo nem senhorio nem presídio (mesmo que esotérico).
Somente à esterilidade de interesse e inutilidade do meu entusiasmo se pode dever a falência como filósofo, sábio e/ou pensador, não tenho falácias que atravessem vedos, redes, muros e sejam a salvação dos espíritos mais endurecidos e obscuros, nem gozo intimo seguramente de pragmáticos sofismas que aumentem a minha credibilidade como ser consciente, é vital haver, possuir-se e despertar um sentimento de valência e entusiasmo em torno do trigo, para que agite ao vento as espigas, o valimento ou invalidade epistemológica é uma variável indefinível, imaterial e etérea, efémera, como silencioso e solene é o trigo sem vento que o abane, a textura é secundaria como o azedume no vinagre que não se quer num bom vinho, assim é o meu sentimento perante a vida, a sensação interminável e inefável que me arranca da realidade demasiadas vezes quando uso da inteligente doença da qual tenho de fugir que é o pensar sem vitoria nem renuncia simbólica, devo abster – me ou protagonizar expressões teoréticas plásticas de qualidade superior ou apenas apostar na prosaica criação menos dolorosa e desprovida de sentimentos e de esforço com que cada um cada qual pode sentir-se talentoso e reclamar percepção artista da mais solida estrutura possível gerada num universo geracional e bi-dimensual como este onde me encerro escrevendo, no azedume do vinagre , no cafelo da parede, na ignorância quase orgânica destas quatro paredes de cela em nau difusa ou carruagem "Wagon-lit" do "Lusitânia Express", não sou um solitário geriátrico, solitário é ter sangue novo, como um Simbad, ter talento de marinheiro de verdade, sangue azul cobalto de um místico asceta, título monástico de Conde varão de Monte Cristo ou ser apenas solidão, parecida a peste, marca comercial reles, rótulo de Sonasol gasto, decadente, detergente industrial, inferior a preço de sabão macaco em azul desalento, limão verde, amarelo e velho, suco gástrico e mijo, serventia de mata-borrão, azulejos de crematório em bege, solidão de velho, descrente !
Escrever é uma das coisas belas da vida, esquecer é outra coisa, embora possa ser uma lição de vida, quando nos relembramos do mal que nos fez aquilo ou isto, este ou aquele outro, pois do bem basta lembrar um bocadinho para apreciarmos o que sobra do resto do dia e o que somos, não o que fomos, esquecido, pois bem, escrever está certo e não é peso morto, recordar com a memória que nos emprestam não é, nem fará todavia do longe, o aqui perto, nem é realmente pouco, excepto pra quem viveu e morre, espiritual e estritamente cego na sua relação consigo próprio e comigo mesmo, e é relativo a "todos os nomes que te dou", por serem meus e estarem imponderadamente certos.


(Excerto de "Do que era certo")







Joel Matos 03/2019
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Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...