Le Cirque bleuMarc Chagall (1887-1985)
Inda que pareça por Deuses viciada
Esta tragédia humana que mais valia ser d’Eneias
Opto por alcunhar “d’ópio de gente”
À poção fria dum Chagal injetado nestas veias
Embora em meus olhos brinquem
Gotas parecidas uma à outra às vezes,
Iguais às deles não serão, mal seria…
Eu, simples mortal, chorar como Deuses
Inda qu’abertas na carne p’lo tempo afora
Inda as Ágoras e nem Troia existiam
Estas falsas feridas sem ferida
Doem o mesmo no tempo d’agora
Revolvo a crusta enquanto penso
Tal como pensou aliás, Elias…
Parece gritar-me do túmulo e soa a ele,
Se não for, só podem ser nas praias, as sereias.
Tenho saudade dos ancestrais avós,
Que quebravam custódias e cadeias,
Inda que Héracles me pareça atroz
Alterou em ácido o sangue destas veias,
Inda que de longe pareça,
Aberto ao meu peito o saque do castelo,
Em que Deuses eram gente,
E gentes eram Deuses,
A minha esperança grande,
É que o templo, seja a meias,
Meio cheio desses célebres cultos,
Meio vago pra ter Afroditas,
Heras a se banharam,
Do que, do meu curto peito extravasa,
Por não saber mais conter, tal como sobraram
Deles, tantas mágoas, parecidas às minhas.
E tantas outras, dest’outra gente.
Joel Matos (01/2014)
1 comentário:
Fiquei fascinada pelo poema... maravilhoso...
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