quarta-feira, 23 de maio de 2018

S'isto que tenho dito, fosse verdade ao menos ...







S'isto que tenho dito, ao menos fosse verdade,




S'isto que tenho dito ao menos fosse verdade, pois "de-verdade" nem eu sou, de cortiça antes, de prego, fezes de cavalo são meras frases, ditas por mim "Icónicas", mestiças como todas a partes abaixo da linha de cintura minha o são, chamo-lhe uma corrente de ar ou corda, cabresto, mas simplesmente sou eu o "não" o anão, espalhando-me pelo chão, descrente de pensamentos e expressões, não me fluem com o o equilíbrio e inteligência que usava como o galo do quintal do vizinho para me anunciar num simples poleiro empoleirado a verdade e toda a verdade sobre a existência dele próprio quando canta de galo.

Se fosse de verdade ao menos e o quintal noutro mundo eu deixava acender o restolho e aí as ideias copulavam mas fui varrido pelo desencanto, folha morta no furgão do lixo.

S'isso ao menos fosse verdade, pois se tudo quanto sei e dou me voltou em dobro, era cuspo e culpa por não ter dito, eu que pensava ter da vastidão exéquias recebo feijões anémicos cicuta e terr'inculta.

S'isto fosse um elo real ferro podre ou ralo eu desfilaria através dele até ao esgoto de deus que fede porque ele o criou assim como me fez criado sorridente, escravo de uma necessidade com grades que me segura prende, fede e arde...

Há o Homem que pensa que eu sou esse entre eles, não sou!
Não há meio de pensar que serei o Homem que o pensar soube ser, se Rei ou senhor do mundo, não servente mas hei...de ser sempre e pra sempre delito em gente, prezo tudo quanto sinto e diferente desse outr'homem que'bem sei não ser, sou o genoma do futuro, o cabo do mundo, a verdade não existe nem se comprova.

A varanda é de grades os antípodas e o horizonte tão curto quanto eu para entender as luzes serem eternos sinais com o instinto preso neste quintal suspenso, malditas frases espetadas nestas grades...

Houve um jardim quando não havia regatos e eu me ria nos espaços abertos, meu coração não ouve o tempo misturando-se e a vantagem da angustia não ter fim, assim houve um jardim em mim e meu coração não ouve o fim do fim do mundo, ouve escutando o que pensa ser a capacide de sofrer em fazer e o ser humano fecundo, o universo tudo...a arte é o mundo e a nitidez crescente em mim...a verdade que suporto.

A capacidade de criar torna-me mais intenso, aceso mesmo quando não estou pensando em nada e mais em que tudo é íntimo, quando estudo um modo de dizer que me transcende e aí ouço o passar do tempo como num carrossel acelerado, chamo-lhe ar corrente e ao tempo o intervalo em que disse isto e por isso sei que existo em tudo, nesse momento acordei, acordo e sou tudo, perco-me da visão e a emoção é uma morada semelhante a álgebra numérica magma e espaço, filamentos e galáxias-heras.

Hei-de ser, ouço em mim esse poder de pensar fundo que trago e sigo há séculos e séculos ...um mundo presente aquém e além da minha morte depois, a verdade é isso, intemporal e futuro





Joel Matos (05/2018)
http://joel-matos.blogspot.com


Pena ser levado a sério e ainda...



Tenho a figura imaginada de me pai,
Da minha mãe a atitude espiritual,
A realidade é minha mas não o direito
A ela, pois isso é a coisa mais absurda

Que existe, sob pena de ser tomado
A sério quando falo de mim próprio ou
Sobre mãe pai ou sogros excepto esposa,
-Digo que tenho a figura imaginada 

Do pai-do-céu, não do meu nem a minha,
Qualquer coisa que nem somos nem
sonhamos, amamos nos outros nós-
-Próprios por isso plagiamos pra justificar

Quem somos, eu tenho pena de ser
Levado muito a sério, não o mereço, 
Pretendo que seja tomado como pouco
Sério, tal qual é a ideia que fazem 

De um louco com-um-certo-juízo,
Jamais com o juízo-certo pois até a verdade
É falsa, sou feliz sem entender nada
E a memória se agrafa no corpo dos mortos

Pra que a alma não erre por corpos que não
Conhece a forma certa e a idade,
Sob pena de ser levada a sério também,
Aquilo que não tenho, eu pareço,

Desprezo os outros como um calceteiro
Pisa a pedra no passeio, por instinto
Não por vontade, como quem erra a sorte
Errei eu a vida, pena ser levado a sério ainda,

E ainda ... 







Joel Matos (05/2018)
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State of a Dream (From Oracles to Shamans )




Serei eu, é a questão e o universo"il faut démonter"



I
State of a Dream

(Vinte de Janeiro de 2017)
Era o sorriso de uma mulher resignada, não expressava alegria mas contentamento, mansa e bela, cruzara as pernas e fumava um cigarro, sabia-os enrolar moderadamente bem, dir-se-iam de argila, não presumíssemos de imediato que fosse tabaco, uma verdadeira ciência, transformar simples papel de arroz numa mortalha iluminada a névoa silenciosa como se fosse uma Xamã.
Tinha um suposto cansaço na pose como quem adormece uma sensação doce de sem-remédio que só os frutos saborosos contêm.
Vestido negro e um decote que os homens têm direito a olharem uma só vez e guardar no íntimo sob pena de excomunhão ou condenação.
Envolvia-a aquela aura de castidade e resignação que algumas mulheres possuem sem darem por isso, como se fosse o desejo algo inútil apesar de útil senão urgente senti-lo!...
Do outro lado do balcão castanho, corrido sentia-se uma sensação cliché comum em filmes, na figura do barman, erecto, limpando copos com um pano velho frente à misteriosa mulher de negro e o olhar deste, fixo num limitado ponto do espaço, como se tentasse ver algo para além do que mais ninguém vira.
O lugar, vazio de clientes, possuía uma solenidade desgastada, assim como o saxofone de Miles Davis tocando “Blue In Green” na juke-box junto à entrada, estranho lugar, mesmo para uma cidade preenchida a bares como New Orleans, pensou ele depois de cruzar a porta, vindo da rua.
Olhou num relógio caro que se distinguia da camisola gasta, Cinco da tarde dum dia quente, ainda que não fosse verão e a hora menos suspeita para dois estranhos se encontrarem num bar, calçava sapatos desportivos, com andar ágil dirigiu-se à mulher sentada ao balcão que não reagiu, embora sentisse que alguém estava ocupando o banco elevado ao lado dela.
Não a cumprimentou imediatamente, antes disso fez um discreto sinal ao empregado do bar apontando com o olhar na direcção de uma garrafa de Bourbon-Whiskey ainda meia, depois fez um sorriso ajustado aos lábios o qual foi correspondido por ela, não se supunha na linguagem corporal ou outra se já havia conhecimento anterior ou seria a primeira vez que se encontravam.
Roça com a mão esquerda, num gesto agradável o ombro desta, como que animando alguma contrariedade e ali ficaram lado a lado durante cerca de uma hora e alguns minutos sem trocarem qualquer palavra ou gesto, suspensos na atmosfera gasta deste bar de new Orleans ao som do Jazz de fundo do saxofone de Miles Davis.
Antes de se deslocar do balcão em direcção à porta da saída, a mulher vira-se devagar para o homem ao seu lado, olha-o com os olhos maduros, negros-azeviche, diz-lhe um nome em voz baixa -“Tália”,ao que ele responde também e em voz ainda mais baixa “Gerome”...
Tália deita a mão delicadamente ao interior da minúscula bolsa, retira dela um papel dobrado em dois que lhe entrega e despede-se de uma forma desprendida e leve como só uma mulher de alta classe social aprende a despedir-se e é como se voasse que alcança a porta, apenas com som dum roçar a setim, sai deixando no ar aquele perfume raro e caro com fragrâncias de açafrão e pimenta verde, dava todavia a sensação doce de odor a mel quando fazia movimentar o ar em redor dos ombros.
Ele apressou-se a sair rápido, parecia furtivo supostamente nervoso enquanto dobrava religiosamente o bilhete que ainda não tinha lido no cinto das calças, tremiam-lhe as mãos ao retirar uma nota de dez dólares para pagar a despesa do bar, Gerome aparentava ser calmo e recatado mas intimamente possuía uma imaginação fértil, ilimitada, sujeito a mudanças de humor e de convivência difícil. 
Por isso talvez fosse ele especial e pessoal a explicação que dava a certos pormenores a que chamamos sinais que para outros são simples acontecimentos, normais, triviais até, como se visse algo para lá da visão de todos os outros, como um oraculo, assim como o barman do bar de onde saíra há poucos minutos também ele "via" para além da pele do mundo.
Sentia-se em casa, as ruas faziam lembrar a cidade onde nascera assim como a exuberância de flores, o ambiente antigo e romântico que já não possuíam as cidades francesas actuais, pois embora ainda aparentasse juventude já tinha idade para recordar a beleza das antigas cidades, conhecia-as quase todas na Europa, embora fosse a primeira vez que pisasse o império do Norte como gostava de lhe chamar, quando falava consigo próprio.
Tália não ia ainda muito longe quando de súbito um carro pára e ela é com rudeza puxada para o interior, ainda a ouve gritar por socorro na língua mãe, Italiano e a origem do nome Tália,
Gerome leva instintivamente a mão ao cinto onde guardara o bilhete dobrado e respira de alívio pois tinha sido essa a razão da sua deslocação ao sul da América do Norte, país que detestava visceralmente e acima de tudo; preocupava-o o destino de tão bela mulher, sem dúvida que sim, mas o seu propósito estava salvaguardado em si próprio e o ansiado bilhete ficaria ao alcance dos seus entusiasmados olhos em breve, assim conseguisse chegar a porto salvo, ao quarto de hotel distante um quarteirão ou dois dali, na mais insuspeita rua, que em New Orleans havia.
"State of a Dream" era a lacónica mensagem da missiva, acompanhava um símbolo exótico desenhado à mão, além de uma outra frase curta em formas cuneiformes qual não fazia parte o mutuo convénio entre Gerome e a linguística .
Teria de pedir os espíritos para o ajudarem, proteger e orientar, faltava-lhe um último estagio de alteração de consciência pra se poder considerar Xamã e fizesse todo o sentido aquela mensagem na demanda a que dedicou Gerome quase uma vida inteira de auto descoberta, desde que conhecera a Dra Marcela, mãe de Tália e sua professora favorita de física no liceu, em west Berlin depois de terminada a II guerra, quase uma segunda mãe, sentava-se à mesa da cozinha dela, depois das aulas, durante horas estudando que esquecia onde estava , divagava, navegava entre átomos e fórmulas...







II

“May the force be with you”

Nove de Novembro de 1989, a grande Praça-Vermelha encontrava-se escura, mergulhada em sombras, parecendo ser perfeito aquele pacto com o cinzento frio do céu; assim como quando os espíritos se separam da vida, caminhava Tália impassível para um destino não menos sombrio que Moscovo de madrugada.
Podia identificar-se na expressão do olhar o cansaço por ter voado directamente de florença e vindo até esta grande praça, non-stop e com escala em Varsóvia visto ter comprado o bilhete à última hora, era imperativo encontrar-se com o seu tio, Arcebispo de Moscovo Pavel Pezzi, na catedral metropolitana nesta cidade e na mesma manhã em que chegasse à Rússia, sem demoras tal como ordenara o pai, Gianfranco Bonelli, embaixador de Itália no Vaticano apesar de arqueólogo por formação e compulsivamente afastado do cargo que ocupara durante uma década.
O pai tinha-lhe dito antes de partir para a sua mais recente "obsessão" em Göbekli Tepe no sudeste da Turquia onde este julgava estava situado a ruína do lendário jardim do Eden, ou o portal do conhecimento humano - o click que possibilitou ao homem olhar pra dentro dele próprio e ver o universo ao espelho, ou assim julgava Pappa Franco, como lhe chamava de uma forma carinhosa Tália, a formosa filha deste e fruto do casamento com a Dra Marcela Gleiser, Física, astrónoma e actual responsável pela investigação no "CERN" acerca de uma nova partícula subatómica, designada popularmente por partícula Maldita ou a famosa "partícula de Deus".
Assim como os espíritos, a massa deste estado ínfimo da matéria também a tornava imponderável ou fantasmagórica, como se existisse nesta nossa "realidade" e numa outra ou outras desconhecidas divisões ou salas de multi-universos ilusoriamente empilhados.
A Catedral era imponente por fora e por dentro, como quase todo o recorte histórico que esta grande metrópole possuía, numa entrada lateral semiescondida por abetos e crisântemos via-se a entrada com um caramanchão de uvas brancas, indícios de latinidade e que servia a residência oficial do tio Pavel, onde o pai se refugiava quando queria estar longe dos afazeres ou estudar algum antigo manuscrito, coisa que podia levar semanas de recolhimento e reclusão do mundo real, citadino e puritano. 
A Dra Marcela Gleiser, mãe de Tália confiara-lhe um grosso envelope que só poderia ser aberto pelo pai, quando e no caso de o encontrar vivo, não poderia sequer confiar no tio, dissera-lhe esta quando a beijou à despedida no aeroporto aquando da partida para Moscovo, foi uma comovida Dra Marcela que não queria deixar partir a filha tão querida para uma missão que poderia revelar-se suicida ou o mudar o consciente de uma espécie, pela segunda vez na história humana.
Tália sorriu troçando da angústia da mãe e lembrou de quem lhe tinha despertado a imaginação para as histórias de Stanley Kubrick acerca de monólitos e descobertas nas luas de Júpiter e de todas aquelas sequelas de 2001 Odisseia no espaço, disse-lhe que também ela tinha uma imaginação fértil mas iria seguir tudo à risca e prometia ter cuidado apesar de não levar muito sério aquilo dos destinos e evolução da humanidade estarem em jogo e ela, uma simples mulher ser enviada como mensageira por causa duma tola fantasia dos pais como se fosse um género de "Obi-Wan Kenobi" de saias, talvez o pai tivesse perdido o telemóvel ou se encontrasse nalgum lugar da Síria e estivesse privado de comunicações devido à guerra. 
Deixa-a com a frase da Guerra das Estrelas “May the force be with you” e o gesto épico de desferir um golpe de espada no vazio do ar, comédia ou ficção pensou Tália indecisa quanto ao género de narrativa que se via forçada a representar e qual a actuação como personagem principal, se drama-falso ou farsa/comédia. 
O Arcebispo possuía tanto as qualidades de orador quanto a força e convicção de um concílio pode ter, num só homem a força de uma gigantesca instituição, no rosto uma amabilidade extrema. 


III

(Le café des sept colonnes)

22 de junho de 1940 , la Bastilhe 


Gianfranco Bonelli Sentia vontade de abraçar, beijar e amar fisicamente todas a mulheres com que se cruzava nas ruas cheias de gente feliz mas procurava apenas por uma, aquela mulher especialmente bela, a bela Marcela.
Os afectos transbordavam nos rostos, mesmo nos pobres, famintos, mendigos e a quem a simples carícia tinha sido negada, apagados deste mundo filhos maridos ou esposas, até mesmo as pegadas descalças se haviam afastado das praias para dar lugar a botas, fardas e a corpos, aço e minas.
Fora finalmente assinado o armistício, as árvores eram mais verdes, agitavam os ramos, agradeciam o dia e a trégua concedida depois de lhes terem espetadas sete vezes no peito sete facas e outras que viriam a caminho, secretas, terminais, finais.
Intelectualmente sentia-se atraído por Marcela mas o grande magnetismo provinha daquele corpo airoso elegante, amava-a não só pela lisura da pele do corpo, dos seios em forma de colina, mas pelo brilho da mente.
Havia sido encarregado pessoalmente por Goebbels, apesar da sua ascendência francesa, de procurar indícios da assumida supremacia ariana entre as montanhas de Tauros e o lago Van, local onde, ao tempo, se convencionava falsamente ser a nascente do rio Tigre. 







(cont...)

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Com'um grifo ...




Com’um grito …
Como eu, o grito
Cresce à vista a ira,
O vasto e o calado,
A solidão do prado,
Com o meu grito,
Nem porto ou cais
Poderá ser d’vendavais
Abrigo,
Como eu grito, 
Nem os pássaros
E o cio dos lobos,
Parideira com dor,
Como eu nem os
Animais ou a fúria
De seis/sete Búfalos,
Como eu, o grito
É ter cinco pedras
Na mão e determinação
Fora-do-normal
De gorila grisalho,
Do Adamastor
O urro, a dor de Joana D’arc
No lume, um murro
Como grito rouco
Na comuna de Paris,
Das barricadas, “Liberté Égalité 
Fraternité”
Que estilhaçou a história,
Como o meu grito,
Precede o silêncio,
Assim o galope, 
Inação não é luta,
É esquecimento,
Sejamos cavalos de tiro,
Gorilas, Ursos, Bois ou Brutus,
Cães com pulgas,
Mas não deixemos 
De gritar “Porra” 
E libertar do peito o urro
Da Vitória convicto e bruto,
Com’um grifo …
Joel Matos (05/2018)
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Amor omisso.




Amor omisso,



Despida a flor,
Fica a semente lá,
Desfeito o amor,
Fica nada dentro dele,

Amor omisso,

Tudo é lembrança, ressaca
A dor, o momento
E o sumiço, despedida
Num virar de cabeça,

Amor omisso, 

Que nem a voz e o 
Vento dissolve, o tempo
Nem o lamento, inda
No ouvido eu escuto,

Amor omisso,

Escuta da flor o feitiço,
Enquanto ele encanta,
Despida da flor a escama,
Nem a esperança ...

Amor omisso,

Toda lembrança é
Partida, todo um céu
Que desaba, é carne 
E ferida e frio, mágoa, ida,

Amor omisso,

Ficou o que se sente, 
De tudo que nos beija
E acaba, e amarga...
(o sonhar é feito disso)

Amor omisso, amor omisso,
Amor é isso ...







Joel Matos (05/2018)
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Fabuloso, fictício ou fábula ...



Fabuloso, fictício ou fábula ...




Visto o que da natureza é bruma,
O mais completo que o sentir
Natural sente, é humana a outra,
Visto a que não é real na relação 

Entre ambos, completamo-nos
Visto que somos natureza útera
A real, a fictícia e a fábula, todas
Duma mesma casca ou escama una,

Põe flores no meu túmulo ou não,
Nenhuma me é indiferente nem o dia.
A ilusão, visto que nem real a nobreza
Usa, nem igual o meu manto rubro,

Há-o de Sultão, magnífico mas d'ouro
Não quero que me contemplem, 
Não sou tesouro pra se contemplar,
Monarca-asceta, bêbado de sarjeta,

Visto que a natureza é Brâmane 
Dá toda a paz que sinto em mim
E o vazio sem nada que possa desejar,
Mais complexo que o sentir de quanto

Não, nem nunca terei de fabuloso,
Fictício ou fábula ...







Joel Matos (05/2018)
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Sem casas não haveriam ruas ...






Albert Gleizes, 1910, La Femme aux Phlox (Woman with Phlox) 





Sem casas não haveriam ruas, 
Sem oeste não haveria ocidente,
Tal como a pegada para o rasto,
O analgésico x para dor de dentes,

Enigma sem mistério, estima 
Sem objecto, ponte sem projecto,
Mulher nua que não atraia desejo,
Tal como a ruga é para o rosto,

O desejo e a paixão caminham lado-
A-lado, se movem como o destino de
Ciro-O Grande ao unir a Pérsia ao Indo,
Emocionava-o a conquista, ai de mim

Que sonho a lua e não sei sonhar
Desperto, a rua não é meu tecto, 
Ocidente pra mim é no leste, o rasto
Que deixo não sei se existe e a dor

Postiça em mim, os dentes e o sorrir
De tudo que na vida me foge como
Casa que rui ao esforço mais leve,
Apesar de meu ego montar o elefante

Dum rei fingido continuo sendo o
Paradoxo de Zenão ao cubo na
Mitologia de Khrónos e as ruínas de 
Micenas mil anos antes do templo 

De knossos homérico, um Prestes-João
Arquitecto ...













Joel Matos (05/2018)
















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Nada tenho pra dizer ...



Nada tenho pra dizer ...


Nada tenho pra dizer e me culpo
Seja p'lo que não for dito como p'lo que disse
pouco, não posso ser mais simples que isso,
Me dói a realidade com que vivo,

Exijo que me façam um molde d'antes
De ter endoidecido pra que reconheça
Do que me lembra eu ter dito e me convenci
Ter sido, nada mais simples que isso,

Digo pouco porque pouco há a dizer
Sou pouco seguro do que digo ser, do que quero
Dizer falo alto pra me convencer disso
E me converter naquilo que consideram ser meu

Dito por outros, pouco digo que seja meu,
Digo pouco do que há a dizer, uso d'um disfarce
Que me torna invisível à dúvida, não tenho por ofício
"Me tornar achado", meu palácio não é de luz,

Nem encantado o lago onde me ponho de polegar
Ao longo, Adepto menor me sinto e me desvinculo 
Ainda que seja em verdade discípulo do breu
E não Grão-Mestre na condição de divino do céu,

Me dói a realidade com que vivo,
Nada mais simples que isso ...









Joel Matos (05/2018)
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"Ida e volta"


imaginative imagery
By Jeremy Geddes



"Ida e volta"





O mar que não tem a lua,
É real não tanto quant'eu,
Nela me vejo aquando se preenche
Em lua-grande e aí perco a dimensão

Do real da lua, que praias
Nem tem, nem areal serei eu,
Sou alguém que se esconde, 
A pluma e o medo do escuro

Que presumo teve algum
Cosmonauta num fato preso,
Tanto me pesa ser súbdito
De um mundo em, que à 1ª vista,

Nada tem "que-se-diga" ser meu,
Ou só minha, quanto a maré
Da lua é, em toda a volta eu e
Só eu, um mar sem luta, ateu

O mar que não tem a lua, nem
Porto-seguro pra nau d'fumo
Em que viajo, sem ter partido
Do areal onde fundeei meu reino

Em lua-meia, defunto me acho
Mas não me sinto morto ao
Olhar na lua a porta, apenas duvido
Que me conheço se real sou, 

"Ida e volta" ..."volta e ida"









Joel Matos (04/2018)
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Eu não digo...




O silêncio é para os outros,
Não me calo, prefiro apregoar
Alto o preço a pretender qu’valho
O que não digo entre “comas”,
Parêntesis, repito o que disse
À partida como que a recuperar
Forças ou pra produzir algum
Efeito(até aí sou só aparências)
O silêncio é para os gordos,
Eu cerro os dentes mas apenas 
Por fachada pois falo de mim
Sem parar e em letra grada,
Alivia-me o ranger das portas
Rolas sussurrando sob um’asa,
Alibi perfeito prá nota falhada,
Sinistro é quem se exprime,
Deduzindo ser a arte um ritual
De sentimento beato, profundo,
Exclusivo pra extrema unção
Dos mortos ou pra uma orgia
De defuntos em semana gorda,
O silêncio é para os mortos,
O falar pra mim é uma grávida 
parindo, pelo menos eu sinto
Que palavra tem ser, vida, peso.
O silêncio é para os outros,
Eu não digo, arrepia-me o ranger
Dos dentes nos outros…
Joel Matos (04/2018)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...