sexta-feira, 29 de março de 2019

À excelência !



À excepção, À excelência, À beleza, sim
Brindemos, ainda que com vinho turvo
Desse amanhado com pés maçados e sujos
Em paióis de madeira e grés, brindemos 

À excepção, À excelência, À beleza da tez
Ao dois por três em copos cheios desde
A vindima até aos cestos das vespas riscadas
Do melaço e "ladainha-de-taberna-à-vez",

Aos bêbados, brindemos com vinho turvo
E pão de milho duro, ouro e basalto gretado, 
Preto e giz do taberneiro pouco sóbrio ardosia
Na mão Brindemos irmão, brindemos irmãos,

À excepção, À excelência, À beleza, sim
Às escaras e ao vício de sermos unos, unidos
Até na morte, nos trabalhos de ciclopes 
Do amanho da Terra que nos recebeu, hóspedes

Hostis de coração grande.





Joel Matos 02/2019
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quinta-feira, 28 de março de 2019

“Semper aeternum”








“semper aeternum”
Memorar nos torna eternos e terrenos,
namorando namorai-vos…
Moraremos em nós até depois morrer se nos tornarmos intensos,
internos e mecenas
Uns nos outros, sem por fora nos murarmos de
Pedras/muros/tijolos/lanças
Que se quebram como peças,
metralha é apenas louça,
Tornai-vos memoráveis e dignos
e gloriosos e terrenos…heróis de Atenas, Tebas.
(Sejamos ternos qb, “semper aeternum”
herói de ar e penas senão homens de peias, sem pernas)





Joel Matos 02/2019




Difícil é sair de mim, eu mesmo...



...Difícil é ser, sonho

O melhor que posso
E não deixo de me
Fazer no que sou, pois
Se sempre fui, quem
Nunca fui realmente.O

Difícil é ser, tanto 
Que até dói quando
Eu próprio sou diferente,
Como de-aqui-em-diante,
Embora me dê tristeza, 

Não ser realmente hoje,
Quem ontem fui, sou.
E depois de depois,
Se algum dia serei, pois
Teimo verbalmente...

Imagino-me com olhos dentro
Da pele, fora de mim mesmo
Fixando o que me lembra fui, seja 
O que anteontem sonhei,
Suposto sendo, sou tema 

De mim, protesto e teimo
Teimo, teimo da raiz ao pelo, 
Difícil ser Poeta assim, mas que seja
Eu mesmo, tão difícil de ser,
Quanto humano eu puder doar

De mim, eu mesmo...





Joel Matos 02/2019
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Sei porque vejo,


The Cat (1984) – Raul Perez




Sei porque vejo,
-Luz mais bela
Aquela que não
Vejo …
Vejo quanto sei,
-Saber mais belo
Aquele que se
Nega à vista…
Seja eu onde irei,
Não indo serei
Caminho, porque ando,
Nem sei, nem sei,
Nem sei porque vejo,
Não vejo o que seja
Saber sequer, errei
Da ponta, à raiz do pelo,
Errei no cotovelo e na dor…
No artelho, erro
Porque vejo,
Não sabendo, explico
O estado de espírito,
Comparo a lago morto,
Nimbo, tédio, escuro vulto,
Fantasia de médium,
Sei porque vejo, argumento
Não decorativo, sou suspeito,
Palpo meu sonhos,
Nego a vista.

Cuido que não sei,



Cuido que não sei, 
Sendo quem sou, descrente,
É nulo dizer algo novo,
Que não ecoe repetido,

Inteligência não é confiança,
Profissão nem é fé,
Invólucro do meu ser,
Inferno o respirar sair.

Pensar, o meu modo
De dizer, não sei,
Sei que não, emérita é a vida,
Evoco o engano como 

Preenchendo o tempo,
Não o altero, tanto o sonho,
Como o visto do lado
Tornado igual, eco é o acto de

Dormir em pé, como se despertasse 
Com os sentidos de fora pra dentro,
Pra me dedicar aos que duvido
Ter lá dentro, incompreendedores

Natos, repetidores absurdos
Que suam ao cheirar a minha
Vaidade inútil, a minha fé
Vencida, cuido não sei e brinco

Ao processo de me "fazer-de"
Quem nunca fui, "Rei-do-Mundo",
Preencho o tempo de sofismas, 
Reduzo o espírito à atitude, não à 

Consciência, a menor representação
Visível, da minha íntima descrença
Grassa ...








Joel Matos 02/2019
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Contraditório, só eu sou...



O contraditório



O prazer de falar verdade
Mentindo, o artefacto quebrado
Servindo, o prazer de dizer certo
Embora soe a falso, a desesperança,

O pão mal repartido, a partilha duvidosa,
O prazer inútil que é útil, a desavença
De facto, o mal parido, o ateu,
O fútil que não é banal, a herança,

O patrão falido, o alcatrão derretido
No verão, afirmar que é meu,
Não sendo, a custódia repartida,
O imperfeito que é perfeito,

Apenas porque nos dá grotesco
Prazer, um ou outro facto, a livrança,
A cor do céu, a glória, o breu,
O Contraditório, a promessa

O mais infinito vezes o menos
Infinito, o vazio dum quarto,
O sonhar dias inteiros e as noites
Sem dormir são contradições,

O noivo consciente de estar certo,
A oposição dos dedos, segundo
São Mateus, a oração do Hebreu
Interdita ao público é contradição

Assim como o lenço branco acenado,
A despedida sendo luto, a contradição
É não abdicar da conclusão sem ler
O prólogo, o absurdo numa peça grega,

Ionesco para gente banal e estúpida,
Assim é quem me lê, parado no pátio
Das minhas sensações sem entender
Verdadeiramente quem é, nem quem

Eu sou, se não eu...









Joel Matos 02/2019
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Igual a toda'gente...




Tu se existes eu não sei, 
Nem o que é real e tende
A ser fracção e parte lírio, 
Flor da paixão, eu abrunho,
Tu, se existes não existes,
Tal esfinge, barro mimético,
Nem eu sou autêntico ramo,
Se vê refracto, o eu fraco.
Se existes eu não, nem sei 
Ser o mistério que é seres tu
Paixão, infracção, cativado
Eu, indigno delírio que por
Ti, Santo eu não, omisso entre 
Terra e céu, corpo ateu esta
Forma de ser eu, que nem de
Graal é e fede e se fende, 
De onde venho já não há preces,
Sei plo ruído que faço, que existo, 
Não me perguntes porque sei,
Chama-lhe intuição, sei lá magia,
Mistério, não sei tudo, mas sei
Que existes por anónima causa
E isso basta, bate fundo qualquer
Que seja do destino o cadinho,
Será esse o meu adereço falso,
O santo ofício do improfícuo, 
A função mesquinha do último
Sortilégio de Cristo no mundo.
Tu, se existes morra quem eu sou,
Que me concedas no prelo a divindade
Que não sou, nem tenho, não é
Um pedido, é porque abdico, 
Igual a toda’gente, dum caminho
Calçado a pregos, comum castigo
De Judeus predestinos…Humanos.






Joel matos 01/2019




Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...