sexta-feira, 25 de agosto de 2017

De veneno está meu corpo imune





De veneno está meu corpo imune,
De bagaço quero aquele que arde,
De poesia quero a que me incomoda,
Dos loucos os que me enfrentam
E empurram pro poço sem fundo
Com a corda à garganta, a mesma
Que uso pra me sentir livre o resto
Do tempo e dizer o que me dá-na
-Gana, como que parindo da alma uma coruja, 
Como quem rasga e dana o pescoço,
Na suja e maldita corda que não afrouxa,
Nem dá sinal de partir a alta figueira.
De veneno está o meu corpo imune,
O pecado é perder o céu, suponho,
Não o procuro, do veneno quero o mais puro,
Pra beber entre os bruxos de olhos negros,
Com a corda na garganta e nas mãos, 
O rosto curvo, cego …
Da peçonha será meu corpo impune, 
De bagaço quero aquele que arde,
De poesia quero a que me incomoda,
Dos loucos os que me enfrentam
E empurram pro poço sem fundo
Com a corda à garganta, a mesma
Que uso pra me sentir livre o resto
Do tempo e dizer o que me dá-na
-Gana, como que parindo da alma cuja 
Como quem rasga e dana o pescoço
Na suja e maldita corda que não afrouxa
Nem dá sinal de partir a figueira alta. 
De veneno está meu corpo imune 
Pensamento e acção são ânsia e dor,
Para mim quando fico gelado do sentir
Para baixo sem conciliação ou paz,
De peçonha será meu corpo imune, 
Mas jamais do castigo que carrego
E me faz cantar com ruído e sem
Sossego e corrói tal o ácido clórico
Ou o hálito do medo …



Joel Matos (07/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Contudo vale a pena …






Contudo vale a pena
Haver amanhã, haver outro dia,
Contudo vale a pena, espécie de
Continuação de mim, perdão dos 
Céus, amnistia, caminho de quem
Se perdeu dum outro dia, eu.
Haver amanhã, haver outro dia,
Contudo vale a pena ser feliz
Enquanto ouço em mim dentro,
O pensar suposto ou intuição,
Instinto, combinação de ambos,
Consciência e sonho, vazio
Que faz lembrar ruído e se sente,
Contudo vale a pena quando
Tudo parece estar aquém do que é
E existe, continuação de mim, incenso,
Espécie de música que flutua,
Interlúdio, às vezes balada do terço,
Igreja vazia, contudo vale a pena
Ser hoje, admirável tanto quanto
Um Audi ou um quadro apresentando
Nada em continuação de mim,
Contudo valeu a pena, tudo quanto
Fui e fiz…




Joel Matos (07/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Pelo sonho vamos








Pelo sonho vamos
Pelo sonho vamos,
Tal é ter alma, não
Cá dentro, adiante
De mim e segui-la
Sem ela e eu saber,
Pelo sonho vamos,
Se não voltarmos
O rosto ao que foi
-Partiu, me deixou,
Não adianta seguir
O que a alma não
Sente ou não sou
Eu desse mundo,
-Passou, sonhar é
O que quero mas 
Só consigo parte,
O resto do tempo,
Existo presente,
É o que sou vivo,
Não sei se daqui
Me perdi, não sei
Se quero ter esta
Alma tão cá dentro,
Em silencio, não sei
Se fui eu, ou serei
Meu maior medo
Ao olhar um mundo,
Que não é mesmo
Nem me reconhece,
Tampouco como seu…















Joel Matos (07/2017)














Seda negra.







Negra Seda
Lanugens de jovem em cadências de pele acastanhada e levemente rosada evolucionam gradualmente e finalizam em deleitosos montículos, que se elevam tesos em amendoim tostado. Melindrados, sentem-se inchar ao toque subtil dos lábios, pelo menos na febril imaginação de Emílio repassava esse sentimento.
Procedendo da elegante linha de cintura forma-se um delta bem negro, num profundo, algo intangível lago fundo onde assentavam longas pernas em seda preta clara e luzente.
Toda uma elegia voluptuosa enquadrava um delta, onde um vórtice umbilical se espraiava em harmoniosos declives.
Deslumbrava-o o esplêndido corpo de menina moça sentada ao seu lado na pick-up amarela cor de milho e deixa-se conduzir num cosmos paralelo e sem culpados de negras sedas e encarnações de volúpia incontida.
Surge uma penugem densa no decote de Cíntia, estende-se progressivamente ao fundo de um lago mudo e uma outra linha carnuda assoma debaixo, ladeia e distingue-se suavemente um, dois montículos rígidos, mais claros que os culminam e se vêem sob a blusa fina.
Em cada gesto dela sente-se equilíbrio, o corpo desfila num sem fim sensual de ténues curvas magnificamente produzidas em tons de seda prata,
Longos fios, como cascatas em torvelinho ladeiam um rosto discreto em castanho de voracidade branda.
Sons macios de seda e cetim expressam-se nos sentidos de Emílio ao menor movimento dela.
O Colo elevado e levemente inclinado, permite que a catarata de cabelos repouse sobre um dorso modelado e enlace com as nádegas fixas do corpo negro e delgado da jovem.
Ao lado dela viaja mudo Emílio que sente a tensão sexual aumentar ao ponto de quase explodir ao mesmo tempo que imagina o corpo nu da jovem companheira sentada ao lado, invade-o a sensação de predador face à corça e decide atacar …
– Cíntia debate-se falsamente e por curtos instantes, depois deixa-se ir ou antes, deixa-se ficar, Emílio não era velho nem muito mal parecido, camponês dos três costados, pai mãe e avós, caboclos de mãos calosas e mente também ela calejada pelo sol e pelo seco sertão.
A renda branca da cueca de Cíntia cedeu como “teia-de-aranha” às mãos de Emílio que apesar da violência tenta dizer ao ouvido de Cíntia algumas palavras no seu entender sensuais mas que soam a obscenidades, às quais não estava habituada mas que, em lugar de a deixar desconfortável incrivelmente excita-a,
Sentia-lhe os dentes a mordiscar devagar e com gentileza os mamilos cada vez mais inchados e volumosos.
Rendeu-se á investida grotesca deste homem que mal conhecia, talvez com medo das consequências mas por outro lado à descoberta de outra Cíntia 
Sentiu-lhe a língua a percorrer cada nesga de pele castanha /negra e esbelta ficando atrás uma sensação de querer mais e mais o corpo rijo maciço e roliço dentro dela o mesmo que ela sentia teso rolar de encontro ao ventre e nas virilhas e depois navegar por ela dentro sem pedir licença nem permissão pra entrar, primeiro roçando levemente os lábios, a boca e penetrando depois devagar na boca mal aberta inicialmente como depois por entre os lábios vaginais rubros de tanta esperar pelo prazer prometido por Emílio. 
A imaginação de Emílio ficara aquém da real feminilidade daquela mulher que se dava a ele tal qual uma mansa gazela aos dentes da fera brava.
De tronco dobrado à mão gigante pela cintura com força muscular bruta ele sujeita o corpo dela de encontro ao seu como que gerando um outro na pressão sexual e símia de dois seres opostos e de origens diversas,
Arrasta-a pró meio do capim macio de cheiros a hortelã-pimenta e rosmaninho como se fosse a recompensa de onça,
Ela sente o órgão rijo mas macio de Emílio como se fizesse parte dela, preenchendo-a fundo
E de tal maneira que não queria que terminasse esta avassaladora viagem de auto-descoberta, essa tesão que desconhecia ter tão alerta dentro de si.
Também ele não queria deixar de habitar ou possuir o corpo belo da jovem, não queria mais sair de dentro dela, como se fosse pertença única e exclusiva de macho Alfa, despojo de guerra, nesse momento dá-se a explosão de ambos, tal pirotecnia quando vários jactos de esperma morna e o lascivo, dilacerante orgasmo deles que se conjugam num grito tal o de Ipiranga.
Libélulas pousam nos fenos e cigarras cantantes calam-se por custos instantes retomando a actividade enquanto repousam exaustos estes protagonistas súbitos dos prados
Deslumbra-se ele de novo perante o corpo cansado de menina adulta deitada ao seu lado na pick-up amarela cor de milho…negra seda,
Cíntia descobrira o natural poder de ser menina e mulher sob um céu em azul topázio e safira …
Joel Matos (07/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Cheio de nada ter





Cheio de nada ter
Verdadeiramente vejo
Tanto quanto a um cego 
Seja distinto ao tacto o que 
Parece um sussurro, 
Sendo minh’alma 
A murmurar suave
Suave que outras almas
Silenciam e negam tanto,
Ficando secas sem nada,
Assim com’à minha 
Cheia de não ter nada,
De facto sussurro e 
Mais parece ser brisa
Ou de verdade seja
Cheio eu de nada ter,
Nest’alma levezinha 
Cheia do que sinto,
Tanto quanto um cego
Tem tacto e quanto sente
Assim sente esta cega
Alma e minha …




Joel Matos (07/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

É a poesia parte ...









É, de inegável maneira arte, a poesia,
Só por isso existo e esta alma que pensa,
Inconsciente que está sonhando, suave
O sonho, claro qu'é "vida-sentido-único",
Só porqu'isso existe e são meus braços e

Cansaços, sonho sem sentir aquele sonhar
Perfeito que se pode afirmar ser maior arte
Ou apenas consumo de mercearia, detergente,
Mercadoria "a-metro", falo p'los cotovelos,
Ensinei-os a mentir com sentimento qb.

No entanto não canso de prometer a mim 
Mesmo um fio de cabelo com o pensar d'prata
Numa ponta, assim oval quanto o imenso
Universo, que é a esperança de ser tud'isso,
Só pra isso existo tod'eu, suposto Rei-Sol, 

Deposto quando a serenidade da manhã 
Acaba e se torna relento de fim-de-tarde,
Que sentido esta'arte de ser o tempo todo
Eu e não ser minha a fé, que a outros sabe
Tanto a sucesso e o meu falar implora

Essa inigualável maneira e forma d'arte.



Joel Matos (07/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Te vejo a duas vozes …







Te vejo com duas nozes castanhas
Entre mim e os cabelos e nem mudaria na face
O ciúme que sinto d’entre o nariz e os pelos,
Dizer o contrário não será ou seria sincero,
Te vejo como duas nozes e coro ao dizê-lo,
Mesmo que fique entre mim e o cabelo,
Te beijo eu, sincero te vejo como duas nozes
Entre cento e uma, a outra sou eu, belo 
Quanto a figura de Euclides, gloriosa
Que nem o Restelo à partida das caravelas
Em Janeiro, assim eu penetre no que
Penso ser meu íntimo profundo,
Te vejo como duas nozes, oxalá pudessem ser em
Veludo quente, tanto o que sinto e sonho
Sentir ou tento, te revejo a duas vozes,
Oro que seja verdadeiro esse místico sentido 
De ver e ao mesmo tempo ouvir, vinda 
De outras dimensões a magia espiritual
Que me guia como que por encanto,
Mesmo que fique entre mim e o cabelo pouco,
Te vejo com duas nozes castanhas.




Joel Matos (06/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...