Houve tempos em que os sons do celuloide valiam
Mais do que simples palavras, momentos
Em que as imagens saíam do ecrã do cinema
E eu sabia de cor o que diziam os lábios mudos,
As mãos vacilavam, nervosas sob a luz tremula,
Ansiosas pelo toque da companheira do lado,
Suspendia-me na respiração solene dela,
E esquecia o enredo da película que estava vendo,
Na frágil ilusão do filme, esquecíamo-nos da noite,
A vida corria como se fosse uma original edição,
E o que se passava na tela era tão naturalmente aceite
Que orvalhava os olhos e acelerava a pulsação.
Não havia ontem ou amanhã, o tempo esvoaçava,
Espantávamo-nos com a nossa timidez espontânea,
As juras de amor seriam aceites? Saberiam a saliva?
Ou a salva da pastilha-elástica? Sei que provocavam insónia
E repetia tantas vezes o mesmo nome até ficar exausto,
Mas era como se o trouxesse, dentro de mim grudado,
Mesmo depois, quando ficava sozinho no meu quarto,
Recordava os momentos com ela segundo a segundo,
A despedida à porta da sala de cinema, pungente,
Acaso morresse de sede, tendo um rio de agua a porta,
O coração que queria voar, preso
por uma corda
À garganta até faltar o ar,
a frase não sair autêntica…
Também não eram mais que
simples palavras,
O ágil rumor das folhas,
nas árvores
A caminho de casa,
reclamavam das minhas
Acanhadas frases,
saciadas com um beijo na face…
Houve tempos em que me encantava
por tudo e por nada
Joel Matos (02/2013)