Pra lá do crepúsculo
Deixei de ser aquele que esperava,
Pra ser outro’quele que s’perando
Em espera se converteu, alternando
Despojo com engaço, braço com osso,
Tíbia com antebraço, o que me
Embaraça é ficar mudo perante
O mundo e inerte como poeira na via,
Navio fantasma, infame “Terra nullius”
Fecho os olhos na esperança de que
Estar olhando seja engano, caso aquilo
Que vejo e o lugar onde estou não sejam
O flanco certo, falso o fauno o voo o grifo,
Deixei de ser aquele que, bastando
Me bastava preso ao querer dito supremo,
Sendo asceta eu do fogo Celta, do Carvalho
Negro, o rito e o ritual unidos, mito d’mágico,
Sobrenatural, sagrado assim como a terra feia
E o mosto, o esperma, o lusco fusco, o breu,
O sussurro do vento nos ramos da floresta
E ao meu ouvido lembrando quem sou
Ao certo, senão folhagem e o espectro vago
Daquele que esperava, esperando na cruz alta
Do trilho, dividido entre começo, o dia-meio
E o que não conhecia, pra lá do crepúsculo.
Joel Matos (3 Março de 2024)
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2 comentários:
Não existo senão por fora
Não existo senão por fora
Por dentro sou um misto
De sensações sem forma
Que insisto ligar sem cola,
Soldo a quente tal como
Uma corrente de visgo que liga
De mim até mim infinita.
Infinitamente me desconheço,
Quem sou e não sou agora,
Se o disfarce de dentro,
Ou o simulacro de fora,
Digo de mim a mim mesmo
Ser o que não sou, no que
Tanta gente olha , vê ou
Pensa ver do que não sou
Senão por fora, agora, hoje,
Indagora, embora parecer
Seja nada, inda que tudo seja,
Sou do que me foi dado, um nicho,
Um ínfima parte dum todo,
Um tudo ao sabor da onda,
Ou latro da minha propria
Sombra, sinto um nó que ata
O dentro com o fora circunscrito,
Metade metáfora irrealidade
Outra a metástase do que minto,
Talvez seja ou sou na demora
A ilusão, o parecer, a chama,
O não, a ausência que perpassa
Breve e presa à ideia , se repete
Entre o interior e o lá fora,
Entre o fora e o inacabado.
Sinto inveja da realidade,
Demonstro-me realmente
Incapaz do que os outros
São sim, de facto capazes,
Peculiar em mim a falta
De vontade, um querer
Que fede e se mede mudo
Pela incompetência autista,
Inabilidade falaciosa
De devoto d'qualquer
Causa, falsa fama do
Que calha, sou pedinte
E esmola, invejo profundo
Os devotos de passos
Mindinhos, assim como
Os meus semi-inimigos,
Medos murados, sitiado
No meu feudo assim como
Nos sonhos que não tendo
Não tenho realmente,
Sinto inveja da realidade,
Aparentemente por não
Ter outra mais que esta
Qual me fende diagonal
Ponta e mola é navalha
Mata e esfola paradoxo
E eu não sou nada, pondo
De parte o que pareço ser
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