quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Rua dos Douradores 30 ...




30 November 1935: "I know not what tomorrow will bring"




Sei-não,

Me encantava Durban no princípio, agora não,
Me encanto no vento quando passa p'la clarabóia
E depois quando parte pra "não-sei-não", Ofélia
Pode talvez sentir real, eu não, as rosas régias

E na alma geral o vento, general Zulu do rumo,
E a vontade pra que me mude de onde cenário
Sou pra onde, sentido eu, passe sentindo estar
Não sendo, quanto suspiro, perfume a navalha

Do tempo que falta, sei-não, fumo Cannabis, Absinto,
Me encanta, na emoção o vento, a Seda-Hume,
Assim me cantava Durban do solstício, a emulsão
Do tempo escasso, na respiração o íntimo ronco,

Agora não, não venta faz tempo, partiu logo-logo
Para "Sei-lá", o vento, sorrindo da ironia ao dolo,
Depois mudei... renuncio ao vento, serei a estátua
Que se mudou do nunca pra jamais, da praça Natal,

Para a rua dos fungos e dos ofícios pobres,
Tecelões do "aonde-morro" onde morreremos
Todos, monótonos e desnecessários, vãos
De escada, refractários, rebeldes do sono,

Me encantava Durban e nem sei explicar se
Da alegria na guerra ou da paz de um logro,
Pois que agora não, o facto é que me creio
Prisioneiro, contrabando de ouro falso, um

Não-ser, do Chiado à Rua dos Douradores 30,
De onde nunca saí eu e o asfalto que me sai
Da alma, a qual deixo aberta, pois o sentir é
Para mim uma gaiola com uma gaiola dentro...










Joel Matos 11/2019
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