domingo, 1 de março de 2020

A síndrome de Savanah








A síndrome de Savanah
Se falasse, crítica, enfática e demoradamente com o meu anfitrião e Alter-Ego, diria como diz Chico Buarque, “O meu caro amigo me perdoe, por favor”, pois sinto que não lhe faço uma visita tão afável quanto as que este me concede, mas não é, nem são práticas comuns a mim, nem a cortesia gratificada nem a indelicadeza gratuita, pedante e desgovernada, é preciso compreensão, pois que, qualquer criança, mesmo de recente idade e começo na fase anal já possui um ego alterado, se é que me faço entender por escrito, tal o meu promíscuo complexo de inferioridade.
Meu caro e dilecto amigo, se é que o posso afirmar sem receios, eu bem tento ser convincente nas inquietas afirmações que produzo, mas também te afirmo, afianço que, revoltas nuvens e aos magotes, nem são sinal de tempestade perdurável, nem a acção de uma toalha no ringue é o sinal melodramático para abrir fogo ou um espaço entre gotas de chuva enviesada e grossa. São tudo citações artificiais e exteriores a mim que proponho, assim como a pele sintética de comparação a parafina no toque dum manequim de modo a ser mais humano pelo menos na aparência daquilo que projecta à luz da montra de uma superfície comercial, se é que me faço semanticamente entender.
Quando a pradaria está insuportavelmente deserta abro a janela na esperança do “absolutamente tranquilo” dê ordens ao barulho longínquo da pistola para que quebre o silêncio de ”morte estabelecida por decreto”, a síndrome da savana cria-se a si própria e é de uma inspiração criativa ímpar, quando nos damos conta entra-nos pelos sentidos e potencia-nos quase religiosamente a criar tal como um caprichoso, maduro e super-produtivo Picasso da Mongólia Interior, esquecei Crime e Castigo e Dostoievski .
Meu caro amigo, me perdoe a demora, mas analisando retrospectivamente a atmosfera pouco romântica do nosso passado pouco comum, teimo em concluir que um casamento demasiado, juvenil, precipitado e a consumação do matrimónio à pressa num motel de estrada não calha nada bem para ambos os cônjuges, sendo vantajosa uma união sadia e ponderada, tardia e talvez menos intensa e fogosa, mas imensamente mais séria e quiçá até ao fim da existência de ambos, e é essa a minha suprema ambição conjugal. Enfim, acho que pegaste a essência, certo?
Uma direcção, um foco, a escrita sinestésica e estética como criação optimizada, artística e sem o defeito dos esteróides do meu altEr-EgO,” O-duplO-Eu”, melhor que Eu, sem pressões, este toca bateria e guitarra numa banda alternativa tailandesa de “Post-Rock”, dialoga em mandarim com ledores e editores sem os magoar nas feridas sanguíneas, nas megas feiras do livro, ele sim, é um ser fascinante, ao contrário de mim, o fracassado, o parente absolutamente tranquilo, o lobo habitante das estepes, onde não se passa totalmente nada, apenas quando me ultrapassa um galgo no pó do caminho, quando tento por gestos me aproximar gago, do espelho e estabelecer um diálogo, ou dando ordens aos barulhos longínquos de pistoleiros disparando ao acaso para os ares ou uns contra os outros, como preferis ou for mais romântico e não o mais parcimonioso.
Então aqui vai o cardápio em germânico, do evento gesticulado ou o menu da ceia para os próximos cento e tal anos de solidão contigo, em que nenhum vento será favorável à nossa imortalidade de gregos, “génios” nem gritam pelos nossos nomes ou consolo, as velas, nem nos estandartes, candelabros com costuras diagonais malignas, digamos da guerra – tronga – e longa, entre aborrecidas e monótonas máquinas de escrever cibernéticas, na estação do «ninguém te provoca, nada te implica», ruído branco…
(……)
Generosos e sensatos foram os nossos bis, tetra-avôs e avós, quais nos ensinaram a manter uma calma resiliente, mesmo sob ventos devastadores e desgastantes guerras punitivas, etc,. Retribuamos agora o aceno, sob um ponto de vista de intolerantes aditivos, instáveis auditivos que apenas gesticulam enquanto tomam cachaça da forte ou café puro, juntos se este for da costa Arábica/Leste, saibamos que não controlamos as nossas emoções primárias quanto eles, estes nossos antepassados nobres, embora possuamos uma e a mesma raiz evolutiva, partilhemos uma génese gramatical bi-decimal e em decibéis audíveis, onde não consta qualquer referência a armas de fogo ou à “síndrome de tranquilidade da savana”, entretanto vou ordenar aos pistoleiros que se digladiem em combate fratricida, olho por olho, mano a mano contra a força gravitacional duma Terra previamente enterrada e convenientemente morta, absolutamente tranquila.
Assunto fechado, encerrado, finito, pois o gato preto macho residente, pede insistentemente que lhe descerre a porta de fora, talvez devido a alguma oportuna e preliminar dor intestinal ou na bexiga do “gatesco” felino a dar horas bem precisas, quando se acumula o chichi junto à próstata, como se fossem dados acumulados a dar de fora na cache do ordenador onde escrevo sem parar faz horas, sei lá, a respeito do estranho tempo que faz lá fora, sem que nos inflija cá dentro dessa terrível coisa que se chama viver, que a minha avó experimentava 24 horas por dia, quando estava viva e a vida era agradável de viver, constipada e fora de portas…
Passei do ponto em que passam a não ter conto os disparates em ponto cruz e chega a altura que começo a inventar símbolos pontuais, como saídos de Sinestesicos bolsos, saldos em formas anatómicas e autónomas de pensamento de infinitas ligações e sugestões quais ainda não havia chegado a vez de desocuparem as algibeiras do casaco, julgava eu cosidas em pospontos, mas já prontas a entrar em palco, e espreitando pela greta do pano de cena em Marron/Grená…(até já)


http://joel-matos.blogspot.com/
Joel Matos (Dez 2019
)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Patchwork...







Neo-Expressionism in Iranian Contemporary Art





Nunca senti tanta e tamanha antipatia
Pelo papel canelado e pelo patchwork
Consistente do plano, conservador
Este que transforma o bílis da vesícula

Em acto sentimental aos piedosos atrevidos,
Inspectores da mente pra quem tudo é quebrado,
Antigo, descrente descontinuado, carente sexual
Ou até mesmo dissidente quanto um sarcófago.

Se na vida pudesse crer-me existente e real,
Duvidaria que no mundo existisse vida assim,
Pois tive agora mesmo,
De rompante a sensação que não há lá fora nada,

Nada existe fora de mim que valha a pena ser vivido,
Por isso vivo por dentro o que posso viver sem mesmo,
Como se fosse eu o único ser vivo desse mundo sem vida,
Sem gente, que nem sei se existe ao certo,

Nem dentro de mim de peito aberto cabe,
Não creio nem é do meu credo, odeio
Acreditar pleno em nada, nem haver no mundo
Uma Paisagem tão árida, tão em ferida funda e frouxa,

Tão temida pelo vento tão gélida e negra,
Quanto esta minha antipatia
Plana, mecânica quanto o papelão canelado,
Inexistente sem Patchwork.






Jorge Santos 01/2020
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Vivo do oficio das paixões







Vivo no ofício das paixões,

É ao entardecer que me julgo mais distante e pando,
Não há lá nem cá, nem cá estou, menos estou lá, sempre
Estou onde me penso mesmo, não por estar pensando,
Mas porque me lembro ao pensar, do que sei e sei sendo

Esse pensamento, como sendo de ninguém daqui, nem d'além
Tampouco, esse alguém que passou pra outro lado, passado,
Fumo, vantagem de uns poucos o pensar futuro, sentir nova
A quinta-dimensão, rápida a mudança de via interrupta para afiada,

Vêm visões sem conteúdo do outro lado, subvertidas,
Amotinadas, despenteadas eclusas de díspares destinos,
Anseio por instantes sem importância alguma, mas não
Que venham sentar-se comigo à terça, numa cadeira

Desdobrável, dessas de praia em verga, eu espetando alfinetes
De Vudu no entendimento, a função de todo o cabalista
É excluir tudo o que sabe para sentir que entender bem fundo
Sem ver o que está pra aquém e colide com o saber fundado,

A reclusão do conhecimento aprendido, como nos falaram
E que iria gerar um mundo novo, ornamentado a cores
De feira, vindo sentar-se ao domingo na missa, precisamente
Às nove e meia de um amanhecer que sempre seria brando,

Vivo na periferia de tudo isto e de tudo o que me liga
Ao real, vivo no oficio das paixões, gozo-as como se fosse
A transmutação de outro mundo em ouro com que se veste
A minha alma ou a inexistência dela, da razão de entardecer

Dos dias, os sentidos não só sentem, também entendem
O que afirmo e me excede apesar de apenas ver com o espírito
E ter perdido todos os outros sentidos, sinto-me medonho,
Como se fosse místico devoto a um Demogorgon da Babilónia.


















Jorge Santos 12/2019
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Como morre um Rei de palha...






De futilidades e empatias tenho a aorta cheia,
Mas quando o céu morre e o frio se torna cinza,
Cai em mim um véu, que é mais magro que o cio
E do que o altar vazio - o mote de acabar o dia -

Se pudesse retiraria o coração amanhã e pela frente,
Para de repente, voltar a ser gente que nem fui,
Foi-me retirado pelas costas, por ironia e pela
Folha de um punhal estranho, de ferrolho velho,

Virei depois saldar as minhas dívidas de jogo,
Desde as bem maiores às mais mínimas,
Que a fé na sorte faz esquecer, Orixá me perdoe,
Pois nem outro vício tenho, jogo de manhã,

Até à calada da noite, amanhã cedo não haverá magia,
Nem nos reconhecermos, tampouco nos perceberemos,
Somos simples corações humanos, postumamente
Criados por um Senhor morto sem pressa,

Com a clarividência de um Sultão da Pérsia nado-morto,
Deposto pela simpatia de um fraco e gordo, inútil
Até ao sobrolho e sobre ele todo, disse-me que morrerei
Só, que é como morre um rei de palha, em pó...






Jorge Santos 12/2019
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"Sic est vulgus"



 






"No light, but rather darkness visible"



Dificilmente se nasce de geração espontânea,
Só eu digo claro o que penso nas minhas enigmáticas
Palavras que não têm mãe, apreciação, nem berço,
Que tanto faria terem saído do diabo ou de um penedo,

"Sic est vulgus", subordinadas à hereditariedade,
Porque não me interrogam nem me espantam,
Apenas guardam mágoa, rancor e raiva, como ninguém
Foram geradas num ventre esterilizado de frade

A cujo dorso imoral e corrupto se assemelha
Esta minha escrita que mais valia não ter nascido,
Eu próprio vivificado no oficio das paixões terrenas,
Constantemente na frente, de cruz na mão esguelha,

Nunca hei-de estar no centro, nem dentro
Das comuns, vividas pelo comum dos homens,
Não faço parte dos crentes de domingo,
Evoco os feitiços e a floresta à lua prenha,

Tal qual o cio dos lobos e as facções em luta, a rixa
Na clareira pelo domínio sobre a raça, a tribo,
A liça, a faca que cultivo porque é real e precisa,
Privilegia a permuta quando é de corpo que se muda,

Dificilmente se nasce de geração espontânea,
Todas as formas de vidas provêm de uma substância
Nobre e com regras mundanas, sem ela é impossível,
Já meu dom cresce do extremo, nasci tão blasfemo

Quanto um vulgar escarro humano ou um pelo púbico
Arrancado em pleno acto de Contrição…









Jorge Santos 11/2019
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Quantos Césares fui eu !!!





(Quando O César fui eu)



Quantos Césares fui, quantos Furriéis, comandos
E Cabos se atormentaram, indóceis
Degolados nas arenas, marcados, empalados
A ferros de Maio, imposto de chacais, Ido
A duas sílabas, marco milenar e tradição

Segundo Teutónicos e escribas, César
É o saber que não vacilo, me defino
Como o império perdido do fundo
De todas e outras estáticas épocas,
Bellenus, quanto acrobata d'Van Hell

E um "sui generis" Deum Solius nítido
Crescente, enquanto César sou eu,
Dispensado de comparecer perante
O juízo a padecer jusante dos oito
Brutus na ficção dum Justiniano d.C.

Agoniado é como me sinto, respiro
Como num presídio desde que falo
Do Imperador que fui, exilado emérito
Do Império que é meu domínio privado,
Efémero estado Alexandrino Cristão,

Judeu Messiânico o do Restelo, velho
Sem companhia e as imaginárias Índias
Do Ptolomeu astrólogo não se comparam
Ao orgulho de ter Rómulo, das colinas
Erigido Roma e o César Máximo fui eu,

Sou os desejo realizados e a antologia
Dos mesmos, "Triumphator" maior que
Pompeu e Cesário-o breve, o que viu
Mais puro que Cipião Assírio foi o César
Dos Césares qual reclamo ser, porque O fui...

César sOu eu...











Jorge Santos 11/2019
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Nada se parece comigo




Quantos Césares fui, não digo,

Nenhum se parece comigo nos testículos,
No beiço, mais que o néscio do altifalante,
Ou nem mesmo, sou o tresloucado
Do Olimpo e íntimo do Olifante,
Velado intermitentemente por velas

De pouca luz, anãs brancas,
Nada comigo se parece tanto,
Dado que não se mede a metro,
O destino dos que vêem
Posterior e mais além,

Vivo na vertente lenta do céu,
Comigo me cruzo, disto
Sem saber donde, terra
Morta de qual exército
Fictício, irreais regimentos

De disléxicos crónicos,
Burma, guerra d'Crimeia
E gangrena, consolar-me-iam
Pouco, mesmo que prediga
Neles outra sequela, Cornaca

De Ganesh, telhado d'Valhalla
Roto, novela de expressões
Alheias é o que sou, sendo
Que nada se parece comigo,
Excepto ao serão o hospício

Dos indexados e esdrúxulos,
Com coração de palha, Faia,
Pão de rala, água benta, dentes
Falsos, nada de milho cru,
Quantos Césares fui, esqueci...







Jorge Santos 10/2019
http://namastibetpoems.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...