quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Gritando




Em quanto vento se há-de 
Dispersar esta alma quieta
Ao ponto de perder dela
A lembrança toda e a dor

Que neta é minha e me contém
Nela e até na morte, a mais madura,
Aquela que da árvore tomba
Com a simples brisa, meu peso.

E, quando o vento há-de
Continuar a voz aos anjos
Eu continuo mudo e longe
De ouvir o oco de mim mesmo,

Mesmo pondo a tímida boca
Ao ouvido, nada ouço dentro
Que leve o vento algum dia
E ao que meço como se tivesse 

Comprimento medida e peso, 
Meu coração obeso, gritante
Gigante e incontido ...




Joel matos (01/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Meu mar sou ...






Eu meu mar sou,
Jogo palavras d'cá
D'dentro nele e dou do mar 
Só a solidão q'vem

De dentro dele, na
Rede de armar,
A Ver-o-mar vou d'anzol
Se no mar houver d'isto,

Sou eu esse quem d'mar 
S'veste, se jogo isco e
Palavras d'mim dentro dele,
Me devolve do mar sede

E a paixão d'ser ele, mar só
Mar sou, peixe certo ou
Do mais cru e profundo
Que a solidão serve

Neste frio mundo,
Eu meu mar vou
Do sabor a sal, ao meu
Mal de ter gaviotas

Na língua de falar,
Areia no que penso
Ser o peito mudo,
O que do mar é mar

É meu e sou e só mar eu,
Sinto meu o mar e o voo,o sal
É raso, mar tud'isto, tudo
Todo sal mar e eu mar sal,

Eu mar só, mar sou dono,
Dono o mar da dor só, o dom ao mar
Doei eu, ou ele o meu
Me deu...só meu.



Joel Matos (12/2016)
http://joel-matos.blogspot.com

Encanta vento







Venta, mas me encanta o vento,
Serei dado por morto, na porta
Aquela que o vento peça pra
Abrir o ferrolho e ela se não escancare

Pra dar passagem,venta no meu
Rosto um morno vento, será da
Monção ou dos meus rostos barbados
Todos, aquele que se sente queimar

Cada vez que o vento passa,
Me encanta vento catabático 
Ou me mata logo, logo como fogo
De gelo, de forma que não escape

Cento e quantas vezes, no sentido
Contrário do vento grosso que passa e
Passa e passa, me encanta vento
Depois parte pra eu poder sentir real

Na alma o vento todo do mundo
E a vontade que me mude de onde 
Estou pra onde faça sentido estar
Sozinho, como o respirar fundo,

Venta, mas me encanta o facto
Saber que vivo, o vento quando por mim
Passa, saber ninguém sabe ao certo,
Excepto o vento, me encanta o vento

Que passa suave ou forte, atento atento ...




Joel Matos (12/2016)
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Dum caule, as asas ...




Para quem faz do ego religião
E os sentidos vira pra dentro
Da pele verde, espelho do que nunca
Poderá ser pra quem faz

Do ego religião, o tacto não
Dá prazer e o eco e a contemplação
Dos sonhos dos Homens todos,
O gozo de pôr as mão no fogo

E o doer que dá o amor grasso
Pra quem faz do ego religião
Não há, nem penses, disso
Por grosso ou ao Quilo, o caldo

Com feijão manteiga que
Dantes era vendido na mercearia
Como se fosse mágico, à compra
Prostituta e má como o Ego "de ver"

De Shopping-Center, casas espelhos
Não sentidas com que se contentam
Multidões sem tacto nem a ambição
De quem pôs as mãos-no-fogo por gozo

E por haver quem faça dum caule as asas
e o coração ...



Joel Matos (10/2016)
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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sempre que desta falo ...





Sempre que desta falo ...


Metade é dom do luar, a ilusão,
A outra, humana completa,
A fala, ela com que conto
Como e do que é feito o pensar

Tal é o caso daqui e agora
Os sentidos mais são sobra,
Atraiçoam a imaginação,
Como ind'agora ao sonhar

Sonhos múltiplos disto pintados,
De fresco e framboesa citrinos
Todos em tons de toranja,
Omiti infelizmente do luar o tom

Metade e o espírito deste conversa
Não expressa, o que deveras
Sinto na humana metade minha
Que resta, que fala sempre que

Falo desta, no que ouço eu pressinto
A longínqua passagem, vivo
Do solo que me criou, faço
Consciência do porquê de vir

Parar a este mundo cego
E pra que fim sou eu, justo
O bosque e o arvoredo que
Fala mais alto que aí vós

Outros de metro e meio.
Onde estou eu não sou
Tão perto de tudo e de nada
Do irreal e da Alvorada sobretudo

O meu ser fecundo plas
Florestas onde sussurros crescem
Como musgos em geada
Presas ...



Joel Matos (24/09/2016)
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Manhã e seda ...




Quanto mais em nuvens me faço,
Menos me vêm, poucos me guardam
Pois o meu destino é desaparecer cedo,
Antes de chegar ao chão, é o destino

Quando das nuvens faço choro
E o que antes de sê-las sentia sendo
Nostalgia vinda dos céus do sol-pôr,
Muito menos o vêm por não se sentirem 

Nuvem como eu já fui depois de voar
No céu e afundar no mar na lua-
Cheia a minha inglória nuvem branca
E a memória que perdi de ser veleiro,

Quando mais no céu me desfaço
Em nuvens de chuva mais tento
Chegar às raízes vossas nesse chão
De terra seca e rocha pedra preta, 

Quanto mais nuvem mais sinto o céu
E o vento saberem por certo 
Ter eu outro destino que não chuva
Mas aurora boreal ou névoa breve 

Num deserto de manhã e seda ...



Joel Matos (09/2016 )
http://joel-matos.blogspot.com

Tão simples quanto um cabelo meu ...




Nada pra mim é tão simples com'um cabelo
e uma ruga funda que conheço na testa,
as mãos que são como um mapa que sei-
-de-cor e as marcas da velhice que aparecem
sem que eu queira. 
Nada pra mim é tão simples
como o mar na areia batendo e um pensar
perdido partindo na espuma, sem destino
que eu conheça, apesar da ruga na testa
e o cabelo a voar ao vento e o mapa das mãos
e o olhar vão no mar a olhar, 
a olhar sem que eu queira parta , parta não ...


Joel Matos (09/2016)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...