terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Pressa






Não tenho pressa,
A pressa é um apache,
Que me passa adiante,
E a mim não me apraz,

Embora ficar pra trás,
Não me adiante à presa,
Que nem tenho, por não
Ser capaz de ter pressa,

Sou capaz de sentir,
O que me interessa,
Mas pressa....
Tão depressa não,

Água na boca, perante
Um paladar, isso sinto devagar,
Uma limonada ou um absinto,
Uma chapada, antes de a levar,

Sem pressa pressente-se,
Quando a mão vai no ar,
E o copo quando cheio,
E cheira ao vício,

Mas como disse,
Não tenho pressa,
A pressa é o benefício
Do presente,

E eu sinto o futuro,
Como uma pedra,
Atirada no ar,
Não olho pra trás,

Nem escrevo romances,
De Tolstoi,
Sou Apache por inacção,
E por vezes Comanche,

Mas covarde não,
Covarde eu não.







Joel Matos (02/2015)

Ivan




Nada digas do Ivan,
Que seja Terrível,
Porque da fé se fez
Afã e na fome a miséria,

-E interditos todos nós-

Nada digas, nem te tentes
Do divã leito debruçar,
Porque alegria é sã,
E dormir um sexto disso,

-acredita em todos, não em mim-

Pra nada fazer bem,
Por defeito ou teimosia,
Eu sou o que de mim faço,
Nada digas de infame,

-Mesmo que espelhos tu vistas-

O nosso terraço,
Tem fissuras e as telhas
Positivas são poucas,
Temem o musgo que cresce,

Todas as estações do ano,

Mais, quando o inverno
É Imprevisível e triste.
Nada digas do Inferno,

Se nem Dante o viu, nem o verbo,
O fim do mundo é uma auto-pista,
Que em excesso de velocidade,
Apenas se sente,

Do coração, na boca o dentro,
Nada digas do Ivan,
Que seja terrível,
Ou em vão

Sempre é pior,
O que pode vir a ser ou aí vem,
Acreditam os tolos,
E penso eu que não, sim...

(Eu também)


Joel Matos (02/2015)

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No teu,meu povoado.





Na tua nossa rua há algo, povoado
De um lençol regato e dum lago,
Algo secreto, clandestino, privado
Quanto de Bello a rua tua tem,

Quanto de vê-lo, morre
em cada esquina um homem mau,
Na tua rua há um novelo velho,
que se tivesse a palavra Almada,

Seria modelo e Sena povoado,
Ou cidade ou o meu cabelo,
Morando nesta cidade sem fim,
no fio do fim do mundo,

Na tua nossa rua há algo,povoado
De esquinas, labirintos e jogos
Que minhas palavras são lagos,
Pouco profundos pra descreve-los,

Do chão ao cotovelo da rua,
Do lago onde namoro o meu,
Rosto narciso e posto ou
Suposto ter palavras sólidas,

Que sejam elas o asfalto,
Da rua do lago, no mês
Maior do ano em Agosto,
E do dia maior que Agustina fez,

Ou algum humano outro, do cotovelo
Atado aos pés, correndo correndo
Da Rua do Algo, numero 13 a negro,
Até ao lago que são os meus pés,

País de Agustina Bessa, luís,
Ruy, Bello, Jorge, Almada, Sena, Fer...


Joel Matos (02/2015)

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A casa das coisas.







A causa das coisas não é a coroa da cabeça
Onde moram e alinham, mas com quem as ama
E se casam, o que nos custa, quando a cava aorta,
As solta pra causas maiores, doutros ou doutrem,

Não admira chamar-se de milagre ao multiplicar
Da transfiguração de ideias em cubos, arestas cores,
Não sendo, nem vale a pena pensar nelas, pois
Se sê-lo, é um círculo, uma ciranda redonda,

Sem pedra, a causa das coisas, até da erva,
E de quem a ama como ideia, não como dogmas,
Sensuais e metamórficos são, quanto mais
Daquelas que se dão corda e vão, paralelas

Da nossa cabeça, pra outra e outra cabeça cava,
Saltitando feitas piões, desses de rolar, barulhentos,
Eternos, mas terrenos, como nós-outros, somos
A soma de dois, o que nos faz humanos imperfeitos,

A causa das coisas não é a cova da cabeça,
Como alguns alvitram e outros aventam,
Apertando os estômagos e os capachinhos escalpes
Ao olharem pra mim de lunetas, sorriem crédulos

Foi esse sorriso que me tocou e eu pensei
Ser da alma das coisas o toque que me tocou,
Tão leve quanto breve, leve ficou o meu pensar
Do facto de haver coisas que em mim se julgam,

Sem em mim estar, mas serem da casa das coisas.

















Joel Matos (02/2014)











quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Lisboa Tejo, Cidade Beijo...








Quem me dera não ter saudade de mim
Tanto, quem me dera ter presa à cintura,
Essa cidade madura, só pra não ser furtiva
a Saudade, mais tarde, quando partir

Sem mim e for embora da vila cidade,
Cidade afora, cidade mágoa, cidade que
Trago presa à cintura, cidade Tagus,
Na ponta dos dedos, saudade de mim,

Táctil e afago do hábito e dum cego grego,
Quem me dera ter a saudade assim, aqui
Dentro, como um lego e reconstruir das
Margens o Tejo e a cidade beco la dentro,

A minha cidade tem um mar preso,
Esse mar se chama saudade, tem peso
A minha saudade ,magoa-me e a espera
Um contrapeso, gémeo desta alma d’paredes,

Que de saudade ter se cansa, cidade
Me acalma, cidade me amansa no fado,
Tenho uma cidade presa à cintura,
Tem uma trança Tejo e outra me chama,

Amante e dorme comigo na cama,
Pena eu, cego não a vejo, não a beijo,
Cidade dispersa, cidade eu te beijo,
Desperta-me desta cegueira,- oh Tejo,

Pra ver o oceano imenso, lá longe, lá fora,
Quando me for, serás flor da saudade lilás,
Desta saudade que imerso no tejo vejo,
Afogo o meu pensar e o meu sonho

D’amar e saudar a cidade que amo,
Num beijo intenso, cidade insigne, viola,
Cidade meu signo, meu cisne, tejo
Meu lar de amor, onde Tu és Gente,

E eu teu fado, só plo prazer de ser fadista
Da canção que és, Tu também Lisboa…


Joel Matos (02/2015)
http://joel-matos.blogspot.com

sábado, 31 de janeiro de 2015

Ciclo de escrita.






Para interromper o ciclo de escrita,
Quero ganhar em parte, o que tenho de prazer,
Em ser ferida sem crosta e quanto,
Dessa crosta escarafuncho, até ser de novo

Ferida, poucos sabem o preciso que tenho,
Não resolvido, de procurar beleza à minha custa,
Nos dentes muito podres dum vagabundo,
Um ganido num latão do lixo do bairro da Belavista,

Quando escrevo sou isso e mais disso,
Não sou eu que fala por mim, nem a língua
Mas a imaginação de quem me vê e sinta inquilino,
O prazer que sinto e passa em mim,

Para interromper o ciclo da escrita,
Quero interpretar do mendigo ao proxeneta,
Quero ser bandido, maneta, força, natureza,
Aleluia e o que precisarem de mim, maçaneta

Do vosso pensamento, se me falta nas palavras
Que tenho evitado dizer, escritas abaixo
Desta cintura gorda que classifico de escrita arte,
Eu escrita sigo, descrevo pessoas, interpreto

O sentir diferente de toda a gente,
Como um escape, por isso quero interromper
O "coitus" com a poesia e seguir em frente,
Escarafunchando nesta minha ferida sem ferida,

Nem crosta, nem arte, nem vida…


Joel Matos (01/2015)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Nada em mim mora...





Nada me pertence mais que as memórias do que sou e uso,
Sirvo tudo o resto e acabarei por esquecer, nu e em branco sótão,
Como tudo o que faço, fazendo disso que se chama jantar,
Com a ilusão um acostumado raso prato, juntando-nos no alto desvão,

Ou divisão de barraco que em mim mora, pode ser amanhã ou foi noutra
Era d’antiga hora, onde não existo nem quero insistir, fora d'portas
Nada me pertence mais do que uma trouxa e a memória destas notas,
A afirmar que estou eu entrando no sonhar que esquecer quero, recuo

Senão quando o ouço clamar ao ouvido insincero dizendo adeus,
Como sonho d'ido embora - esqueça o que diz meu barraco coração,
Agora mesmo e se chora partido perdido e sem historia ou vanglória,
Mas conscienço-me que foi por outro estado novo, estrada que não vou,

No meu ir, fui noutra e minha e vou plas masmorras que minha vinda
Sentiu e soam no passado que sou e me mal'agrado ou mal'magradeço
Do limite que me limita a felicidade que volta na memória esteira
Minha e desses outros tolos tantos e todos., cansei de mandar em mim

E no que há acima da morte, quiçá se chama sorte ao Deus-dará,
No entanto, nada mais me compraz, que ler o que ficou escrito de trás
Pra frente, como às voltas uma estrada errada, sem começo nem fim,
Encerrada, errado sentir... oh. Deus meu que nem ao meu desespero

De parado tempo me pertenço. nem eu rezo d'joelhos ave-Marias.
Zero, zé-ninguém sem decisão, doente por dentro e com o historial dum'sisifo,
Sendo eu noutra paralela historia, o absurdo da peste e o surto
Com que empesto um mar de vida que em mim vive, intenso, imenso...

Nada mais me pertence que esse mal de pensar que vem de mim dentro
E me cobre d'igual ao avesso…


Joel Matos (01/2015)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...