Nada me pertence mais que as memórias do que sou e uso,
Sirvo tudo o resto e acabarei por esquecer, nu e em
branco sótão,
Como tudo o que faço, fazendo disso que se chama
jantar,
Com a ilusão um acostumado raso prato, juntando-nos no
alto desvão,
Ou divisão de barraco que em mim mora, pode ser amanhã
ou foi noutra
Era d’antiga hora, onde não existo nem quero insistir,
fora d'portas
Nada me pertence mais do que uma trouxa e a memória
destas notas,
A afirmar que estou eu entrando no sonhar que esquecer
quero, recuo
Senão quando o ouço clamar ao ouvido insincero dizendo
adeus,
Como sonho d'ido embora - esqueça o que diz meu barraco
coração,
Agora mesmo e se chora partido perdido e sem historia
ou vanglória,
Mas conscienço-me que foi por outro estado novo, estrada
que não vou,
No meu ir, fui noutra e minha e vou plas masmorras que
minha vinda
Sentiu e soam no passado que sou e me mal'agrado ou
mal'magradeço
Do limite que me limita a felicidade que volta na memória
esteira
Minha e desses outros tolos tantos e todos., cansei de
mandar em mim
E no que há acima da morte, quiçá se chama sorte ao Deus-dará,
No entanto, nada mais me compraz, que ler o que ficou
escrito de trás
Pra frente, como às voltas uma estrada errada, sem
começo nem fim,
Encerrada, errado sentir... oh. Deus meu que nem ao meu
desespero
De parado tempo me pertenço. nem eu rezo d'joelhos ave-Marias.
Zero, zé-ninguém sem decisão, doente por dentro e com o
historial dum'sisifo,
Sendo eu noutra paralela historia, o absurdo da peste e
o surto
Com que empesto um mar de vida que em mim vive, intenso, imenso...
Nada mais me pertence que esse mal de pensar que vem
de mim dentro
E me cobre d'igual ao avesso…
Joel Matos (01/2015)