terça-feira, 22 de dezembro de 2009

sonho ou pesadelo



Tudo Tudo Tudo


Quanto roço se transforma em limo,
Faça o que faça, errei na farsa,
Se, até de mim me tornei sinónimo,
Fosso e palco de uma mesma peça.


Realço o facto de só continuar
Caminho por medo, daquele escuro,
Do lado escabroso, no ir,nã’voltar,
Da cova que, d’ver tremo e esconjuro.


Limei d’mil arestas, senti no casco
A rudeza do martelo e do maço
Só o facho, acarreto por engano


Numa daquelas vielas paralelas
Em que as moradas são, nem caiadas,
Nem, de vê-las, vi despertar meu sono.

Joel Matos

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pessoa Talvez



Tal me fez Pessoa

É talvez o último dia da minha vida,
Tida e sorvida de um único fôlego,
É tal-e-qual ver no escuro, a vereda,
Por, e onde vou, e no quando, cá chego,

Já, e de noite; eu relembro o dia,
- Por ser o último - nem é tristo, nem contento,
Dele que, de fugidia f’rida, invadia,
Não tanto a carne, mais o espírito.

E nem estrebucho, s’esse Tal me fez Pessoa,
Temperado, quanto-baste, até que doa,
Aí, no suspiro do ultimo ai m’apego.

É talvez a mim que vim mentindo, por último,
Em fim de dia; daqueles que mais lastimo,
Se até no dizer, de resto sou Ingrato.

Joel Matos

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Florbela




Vela e Flor
Nadas de eternidades, nadas às tonas d’água,
Tudo se afunda, neste t’mor posto em palavras,
Nos tons que me desarrumam, desta tua míngua,
Vestem-me o drama no eco de pressintas sombras.


Estendo um braço, d’outro grudado ao casco,
Fixo no rasto fedido, deste reles luto,
Em que m’iludo, é com ele que me espanco,
Co’meu cliché mastigado já e sem talento.


Vejo-me neste mundo-sem-ti , num fumo insonso,
Creio apagado o meu lume aceso
Nadas, ao luar ,nas dunas d’aguas  , nas fúrias do mar,


Agonizo em fobia, enraizo d’vegetal,
Bela d’flor intemporal, voos de lástimas e cal
Pura, em que me emprestas, esse orgulho d’amar.

Jorge Santos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que sei não sou






Tanto e tanto do que sei,
Sei-o- nem como nem sei-
Do ser que sou e prevejo
D’um vulgo e curto bocejo
No ser fiel de mim mesmo
Não no eu e que escrevo
Se de meu não suporto
Certo enigma do desejo

Tanto e tanto do que sei,
Sonha com o pior vento,
E causa de tudo q’temo,
Ser narrado, a propósito,
Do’eu ter fome no infinito,
Seja vencedor, ou vencido
Nos planos da derrota.

Tanto e tanto do que sei,
Foi ser, do medo, carcereiro,
Quando m’sonhei infanto,
Encarnando o ponto q’traço,
Mas, sendo curto, o braço,
E o seixo, pesado, nã’não sei
Se vida, é ilusão ou, se sonhei
Eu, mais uma vez, acordado.

Jorge Santos

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...