quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Ânsias ...lais de guia...




Lais de guia...Ânsias ...




Ânsias ...


Ritmadas, como marés e pausas, anciãs
E o mar e eu morto, numa outra extrema,
O meio do mundo e mais pr'aquém a glote,
Que alguém dum simples e forte fôlego,

Possa ou tem e vença o ar e tenha igual, pantanoso
Este mar Norte, se querendo repousar, cordas,
Marés de pausas, lassidez de causas, antigas
Praias de poucas coisas, senão conchas gastas,

Marés baixas, sujas e mortas musas, lastro,
Rotas as marés vasas e as vozes laças, rosas/lanças
De quem lá mora, morou, morava, fui levado ...
Nem marés, nem caudais, nem as ondas no cais,

Lá morrem, morrerei eu de novo, neste
Ou num outro lado, dum outro estranho e
Novo mundo, cordas e lastro, corda e lastro.
Corda e lastro...lastro e cordas, lais sem guia,

Ânsias ...ânsias de morte.



Joel Matos 08/2019
Http://joel-matos.blogspot.com


Hino ao amanhã



Hino ao amanhã



O bater de asas de uma libélula,
Pode gerar seca no Nordeste do Brasil
E um Tsunami no Japão de Prestes,
O que penso e digo sim, é não,

Dependo apenas da brisa frequente,
E do brilho de muitas vidas dessas,
Assim como um ribeiro da água,
Que chove ou não e se faz caminho,

Que brilha ao brilho de imensas
Gotas, nas asas de uma libélula
Ou colibri, não basta eu chorar,
Sonhar, sentir, pra que seja verão

Na América do Norte ou Istambul,
No cetim das asas de uma abelha,
É sempre nítida a luz e o movimento
Do mundo, que volve como um hino

Ao amanhã e ao meu depois de mundo
Andado, pra diante e pra frente
Desde a América do sul ao Oriente
Do João-Sem-Medo, o Príncipe-Burro,

Definitivamente não sou ninguém,
Dependo do vento, tornou-se-me
Estranho o mundo e o encanto
Que não me faz encarar o céu futuro,

Não me faz chorar, não o sinto
Ainda que o amanhã seja lindo, será outro
E não a mim que soprará o vento,
No bater de asas de Colibris ou Alvéolas ...






Joel Matos 06/2019
Http://joel-matos.blogspot.com


Aconteço "por-acontecer"




Fui destinado a acontecer, ou
Afinal que acontecimento
Diferente sou eu, se há nele, no fundo
Não o destino que me caiba

“Acontecer”. Não aconteceu
Nada a mim de meu, apenas
Fui destinado a ser comum, só eu no final,
Tudo é de outros e não creio

Ser mais do que ouso, dispo-me
Do que uso e do que não me serve,
Excepto o ruído do campo, tão leve e
Único indício que me distingue

De outros que acontecem fugaz,
Como gado validado de gente,
Fui destinado a acontecer desigual,
Eterno o sonho em que sinto que a vida,

"Acontece-por-acontecer", devagar...
Renuncio ao sonho, descrevendo-o
E à minha nudez sem talento,
Espontânea embora estranha.

Foi destinada a ser e sobretudo,
Mas não sei quando ou quanto
Talento valho no talho do logro, sendo
Talhante eu próprio de mim mesmo,

Tenho coração de touro e carne
De "Lord" mas ainda assim de
Alguém que, no lugar dele mesmo
O tem, sem saber que tem esse

Único bem, que é meu e nem me serve,
Talvez tenha eu um outro e outro,
E pense não ter nenhum aqui dentro,
Embora saiba o que é ter não

Coração d'outra gente, colado
Que nem meu ao corpo, se o
Mesmo sinto como sendo eu
pouco, até na dor que ocupo

E outros têm e não eu, culpo
Um coração que não
É meu de todo, é do mundo inteiro,
Coração que a todos

Dei, todavia não tenho
Nenhum batendo de momento,
De verdade junto ao peito,
E isso não me dói tampouco,

"Aconteço-por-acontecer",
Fui destinado a não ser final,
Comum ponto.













Joel Matos 05/2019
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quinta-feira, 9 de maio de 2019

Morto vivo eu já sou ...






 


Morto vivo eu já sou …
Se só e rigorosamente de objectos 
Mortos se compõem museus,
Morto vivo eu já sou, não estranho,
Fui partido, deixados mil e cem bocados
No labirinto em que me fingi preso,
Duvido que o vento teso
Ou o sol do meio-dia, me encontrem vivo,
Pois sinceramente me sinto morto,
Pra vida que nunca quis ter… …
Eis quanto comum de facto sou,
Ao ponto de ter vulgar umbigo;
Peculiar adereço em mim, o estar
Sem estar, a dor sem hiato ou subtítulo,
Desprezo de inglorioso palhaço de circo,
Desses sem palco nem apreço,
Velhaco tecido a palha, pseudónimo-erudito
E canalha com firma-reconhecida, mal pago
Taberneiro, manhoso com ácaros nos 
Testículos e na mal-formada verga
O sujo, besuntado a tinto e canja de
Galinha gorda, na barriga tatuo “marujo”, 
Sem jamais ter raspado nos flancos
Um batelão, nem de joelhos o convés,
Contramestre da ignomínia, da infâmia,
O coração, se pudesse, fugiria de mim,
Tão vulgar sou, sete sobre sete dias
Suo que nem camelo perante o Alfage
Mauritano, cerebelo de Sapo e Urubu,
Pinta de fuinha, saio ao meu avô Garim,
Morto externamente vivo …






Joel Matos 04/2019




sábado, 13 de abril de 2019

A ilusão do Salmão ...



Onde anda o mar, pergunto eu, ao Sem-Rosto…
Perguntei a um triste búzio Quasímodo,
O que dizia bem de dentro da maré ferida,
Respondeu bramindo e a custo, que dentro,
Havia tanto asco de tainha verde, era o búzio
Quem não se ouvia do mar, nem ao plágio fanho,
Ao tom do jazz, ronco de esquadrilha mortal,
Onda do mar a bater no bojo, morteiro
Estoirando o ar, alga podre, peixe-gato, nojo,
E dum oco, ocre, búzio torto, nem ralho… 
Onde anda o mar pergunto, debruçado,
Moribundo doente e coxo, ao rouco mar de junco,
Aí onde a costa engorda o atum infecto…
Respiramos ar gordo a contragosto,
Um monstro, tanto Ogre quanto Elfo-de-caça, 
Me treme na voz, quem sou, que importa à corça,
O pavilhão na caça, sem a salvação da grossa, 
A poça à soleira da porta é rasa, nossa rude tábua 
Ardeu, pegando fogo ao mastro e à casta aurora,
Aonde andas justo agora, ao mar eu pergunto,
-Para onde caminho, O Sem-Rosto és tu, Salino,
Pergunto eu indigno e mudo, pro céu do
Sol-posto com o mindinho abreviado e meio, 
-No meu peito reinou um salmão e de desgosto
Morri eu, seu irmão, – O Do-Coração-Ateu -…

domingo, 7 de abril de 2019

Como terra me quero, descalço e baixo ...



Como explicar na poesia que faço,
O tempo que faz agora e da morte,
Se a arte de o fazer não é minha,
E lá fora manda o tempo que faz, 
Se o que faço eu é chorar rios de
Chuva quente, menor que arte é fazer
Do tempo, enfim que ri, chora, venta
E ameaça chuva, treme de frio, molha,
Bastando querer eu, estando descalço 
Como a terra me quer nela, morto frio,
E nela me incluir, unir-me ao carvalho
E ao cheiro do estio molhado, amo 
Como ao tempo que faz do Norte chover
chuva forte, Como terra me quero, baixo
E estranho funcho, chã gramínea me faço,
Perfeita alucinação do espaço próximo, cujo
Como terra me quer, ritual e descalço,
Maior que a arte é fazer do tempo uma
Expressão excessiva, sensual quanto
A vida, invocando as horas que morro,
Explicando ao inevitável, o perdido,
Acho eu !…

sábado, 6 de abril de 2019

- Papoila é nome de guerra -



– Papoila é nome de guerra –
Seja como for sempre volta sendo,
Não haverá antinomia,
Sem a aparição dos medos,
Quanto às flores da Terra,
As pétalas senão rubros dedos, 
Indultos os próprios 
Caules presos sentindo calor,
Tuas mãos opostas das ervas,
Seja qual for a razão,
De ser desse amor certo.
No meio dos desertos,
Ruas serão campas abertas,
Testas de ferro néscios,
Todavia não me abstenho,
Enquanto há flores no árido,
Eu escrevo a vermelho insulto
E ao vivo – Papoila, meu nome de guerra –
Rosa brava, Tomilho, salva, versículos islâmicos, 
A maré vai e volta sempre, só meu coração rompeu, 
Vai e não volta sendo, não faz falta
– Papoila é nome de Terra,
Humildade é ocupação de santo, humilhação,
E eu não sou frade de verdade, 
Sejam Eles quem forem, é da emoção que falo
Quando me exprimo p’los beiços e p’los gestos…

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...