sábado, 13 de abril de 2019

A ilusão do Salmão ...



Onde anda o mar, pergunto eu, ao Sem-Rosto…
Perguntei a um triste búzio Quasímodo,
O que dizia bem de dentro da maré ferida,
Respondeu bramindo e a custo, que dentro,
Havia tanto asco de tainha verde, era o búzio
Quem não se ouvia do mar, nem ao plágio fanho,
Ao tom do jazz, ronco de esquadrilha mortal,
Onda do mar a bater no bojo, morteiro
Estoirando o ar, alga podre, peixe-gato, nojo,
E dum oco, ocre, búzio torto, nem ralho… 
Onde anda o mar pergunto, debruçado,
Moribundo doente e coxo, ao rouco mar de junco,
Aí onde a costa engorda o atum infecto…
Respiramos ar gordo a contragosto,
Um monstro, tanto Ogre quanto Elfo-de-caça, 
Me treme na voz, quem sou, que importa à corça,
O pavilhão na caça, sem a salvação da grossa, 
A poça à soleira da porta é rasa, nossa rude tábua 
Ardeu, pegando fogo ao mastro e à casta aurora,
Aonde andas justo agora, ao mar eu pergunto,
-Para onde caminho, O Sem-Rosto és tu, Salino,
Pergunto eu indigno e mudo, pro céu do
Sol-posto com o mindinho abreviado e meio, 
-No meu peito reinou um salmão e de desgosto
Morri eu, seu irmão, – O Do-Coração-Ateu -…

domingo, 7 de abril de 2019

Como terra me quero, descalço e baixo ...



Como explicar na poesia que faço,
O tempo que faz agora e da morte,
Se a arte de o fazer não é minha,
E lá fora manda o tempo que faz, 
Se o que faço eu é chorar rios de
Chuva quente, menor que arte é fazer
Do tempo, enfim que ri, chora, venta
E ameaça chuva, treme de frio, molha,
Bastando querer eu, estando descalço 
Como a terra me quer nela, morto frio,
E nela me incluir, unir-me ao carvalho
E ao cheiro do estio molhado, amo 
Como ao tempo que faz do Norte chover
chuva forte, Como terra me quero, baixo
E estranho funcho, chã gramínea me faço,
Perfeita alucinação do espaço próximo, cujo
Como terra me quer, ritual e descalço,
Maior que a arte é fazer do tempo uma
Expressão excessiva, sensual quanto
A vida, invocando as horas que morro,
Explicando ao inevitável, o perdido,
Acho eu !…

sábado, 6 de abril de 2019

- Papoila é nome de guerra -



– Papoila é nome de guerra –
Seja como for sempre volta sendo,
Não haverá antinomia,
Sem a aparição dos medos,
Quanto às flores da Terra,
As pétalas senão rubros dedos, 
Indultos os próprios 
Caules presos sentindo calor,
Tuas mãos opostas das ervas,
Seja qual for a razão,
De ser desse amor certo.
No meio dos desertos,
Ruas serão campas abertas,
Testas de ferro néscios,
Todavia não me abstenho,
Enquanto há flores no árido,
Eu escrevo a vermelho insulto
E ao vivo – Papoila, meu nome de guerra –
Rosa brava, Tomilho, salva, versículos islâmicos, 
A maré vai e volta sempre, só meu coração rompeu, 
Vai e não volta sendo, não faz falta
– Papoila é nome de Terra,
Humildade é ocupação de santo, humilhação,
E eu não sou frade de verdade, 
Sejam Eles quem forem, é da emoção que falo
Quando me exprimo p’los beiços e p’los gestos…

sexta-feira, 29 de março de 2019

Botto





Filho de Botto é homem,
Sente e sabe falar,
Assim todas as criaturas e o mar,

Liberdade é sonho
Em que o céu se despenha
No azul do mar e apenas ...

Apenas pra lá ficar, junto às 
Causas que sonhei em espaços
Abertos, desperto ...

Espero-te um dia, pois breve
A vida toda será sonho,
Liberdade é quando...

Não apenas o Boto,
Caminha ao luar de verdade,
Mas em tod'o lugar do mundo,

Entre céu e mar.
Filho de Boto também é homem,
Sente e sabe falar ...ler-amar,

Filho de Botto é homem, com
Letra grande.





Jorge Santos 11/2018
http://namastibetpoems.blogspot.com


António Tomás Botto (Concavada, 17 de Agosto de 1897 – Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959), poeta, contista e dramaturgo português. A sua obra mais popular-Canções, foi um marco na lírica portuguesa pela sua novidade e ousadia, ao abordar de modo subtil mas explícito o amor homossexual, causando grande escândalo e ultraje entre os meios reaccionários da época. Amigo de Fernando Pessoa, que foi seu editor, defensor crítico e tradutor, conheceu igualmente outras figuras cimeiras da literatura portuguesa. Ostracizado em Portugal, radicou-se no Brasil em 1947, onde passou tempos muito difíceis, vindo a morrer de atropelamento talvez intencional.

O poema d'hoje não é diferente ...





O poema d'hoje não é diferente,

O poema de hoje, 
Lembra-me uma nova canção
Da rádio, que tod'agente canta,
Mas acabará por esquecer,

É a mesma que eu esqueci já,
O poema de hoje é, 
Como qualquer dia mau,
Em que não me topo, nem me conforto,

Como um qualquer Deus grego,
Dos "vesgos" que vive
Perguntando se o caminho
É a direito e plano ou suave e de que tamanho,

Oval quanto um coração ou em losango,
O poema de hoje, traz ao léu
O escurecer, o céu triste, azul/breu
Eterno, eternos Zaratustra, Kusturica,

Acabarão por esquecer, no entanto
O poema d'hoje é acerca da esperança
Que dentro de mim cultivo e celebro,
Afastando os mitos de monstros

Funcionais por castigo, sem bondade
Nem justiça, essa é a canção que lembra
Outra tão antiga, quanto a retórica 
Que matou na liça tanta gente,

Tanto o crente, quanta crença ...
O poema de hoje não é diferente.




Jorge Santos 11/2018
http://namastibetpoems.blogspot.com

Todos os nomes que te dou ...





 



Escrever é uma das coisas belas da vida, faço-o fluente e excelentemente, com a exagerada consciência tópica, própria de um cego e também a de um louco utópico, moderadamente creio, tenho uma razão sensível encastrada na ponta dos dedos, na língua, nos dentes e outra, dentro das orelhas, nos típicos ouvidos, falo discretamente com a alma a linguagem primitiva e divina dos templos acrósticos, escrevo nas paredes o idioma académico dos corrimãos "grafitados" para que todos entendam e será breve o que digo, pois sou órfão dos olhos e tenho de ser rápido a dizer, já que a sensação é forte e cheia de fé nos sentidos quando escrevo o que penso e digo, também porque escrever "a fio" é bom, faz bem à alma, porque não o fazer assim é banal e vazio, sem tino, só tem inconvenientes, por isso eu dito da consciência o que vale a pena ser tido em conta e apenas digo, se valer a pena ser contado, é o meu modo existencial e excepcional, refiro-me a braços e pernas, todas essas coisas que me não pertencem para sempre, assim é a escrita, a última dimensão sentida da alma, a melhor divisão da casa, onde me reúno comigo, renuncio à vida e pronuncio expressões invulgares, que já não me pertencem, o caso destas agora e de todos os nomes que lhes dou, de que lhes dei, poesia é a mais provável alcunha de todas as coisas, desde as mais simples e leves que a vida, embora nem tão belas nem tão ocultas, quanto a luz devassa contaminada com o escuro breu e o ouro puro, quando mutuamente se cobiçam e se culpam pela cupidez mundana nos olhos fracos dos humanos seres, qualquer semelhança com os deuses é comédia e farsa, desonra é pintura, poesia de poetas, alcunhas para os que se confessam decorativos servos da luz do dia e das trevas da noite, esguios anjos, caídos da guerra no pó da Terra, na lama simples, mas que dá vida, poesia é o apelido de tudo isto e do que ainda não foi dito apenas vislumbrado pela miopia humana, cegueira, amargura e a fome e a sede.
Defino-me como a excepção, não entendo os outros nem pretendo ser entendido por todos, não ajo nem ando como a maioria das pessoas que nem me sentem culpadas, por não me fazerem entender, é uma questão de consciência, não uma tragédia. A fome e a sede são insignificâncias perante a existência de cada um, mas concorrem e especializaram-se, assim como a hipoxia, cada uma à sua maneira e forma para o triunfo da mente humana e para que as palavras falem às vezes connosco e as entendamos.
A noção simples de existência é esmagada pelo desconforto da sede e da fome sobretudo, mais que pela miséria insana, embora sejam uma trindade. Já o que me costuma manter vivo é um desejo de comer e beber, absurdo para alguns e para outros, compreensível, regra “Sine qua non”. Defino-me como a excepção não pela inteligência ou habilidade, mas pela simplicidade, como água de uma fonte ou um pedaço de pão na mão de um miserável esfomeado, mas autentico, não pseudónimo de fraco, assim sou eu e sempre, prefiro o desconforto, pois é este que me faz pensar naquilo em que creio, conquanto produz em mim um sentimento de libertação, pois acredito na constituição de uma sociedade indivisível. 
A Propósito de dizível, no seu teorema mais básico e como fiel de balança, é missão da escrita mais pura a confissão da loucura e esta consiste na exponencial capacidade de cada um em incestar termos, palavras/verbos, inventar temas, escrever novas frases, fundir em poemas inovadores ferro e magma, signos tão finos que brilhem no conteúdo e no escuro, que treinem os nossos corações atletas e os mais profundos medos, emoções, metas na condição de amanhecerem na lua, do lado magro e a sermos exímios maestros, mestres magos, gregos tanoeiros, não só mas também, nos nossos humilhantes fracassos e crassos erros. Insistamos, incestemos almas, matérias-primas e espíritos! Não há caminhar outro, suave e louco, embora o caminho não seja curto, crio (criamos) um longo e magno paradigma, não importa que nos indiciem de loucos e ansiosos; a minha, a tua ambição é amanhecer na Lua, do lado magro, nós outros longos, largos de ombro a ombro, o espaço infinito e vasto, debaixo de um só braço e o comando noutro.
Brinquei tanto ao homem legível e dizível, com iminentes faixas brilhando em tule de catedral, joguei com as palavras enquanto era "bem-visto" por todos os números menores que eu e divisível por dois, como se fosse eu protagonista do que conto, pois que agora, vista o que vista não me encontro mais no "Grand Palace" de cristal, nem na vitrina da “Cartier", desisto do outrora brilhante fato de caxemira branco e preto, sou invisível na plateia até por um mero espectador sentado quer na coxia, como na plateia, a orquestra pode continuar a tocar, monótona e igual, apagada como todos os dias, nada me salvará da morte permanente, assim fui eu sempre, a propósito de indizível, eu hei-de um dia descobrir o que digo quando escrevo, meus olhos nasceram em greve, meu entendimento é breve e leve, quanto um cometa inédito, segue e some, some e segue, assoma-me a loucura quando escrevo, assola-me o que escrevo e quando o faço assemelho-me a um louco, sendo ele, eu próprio noutro ...noutros. Acredito no silêncio e no amor quando posso, Pois que na posse não há amor nem silencio, impor é pro amor como o azeite para a água ou o vinho na comunhão das almas puras, falso e vicioso o som que faz um padre se o vaso é apenas vaso e a água apenas água e fraude.
Trago em mim dentro um mundo de inteiras frases, a poesia expõe-me e todavia explica-me pelas sensações e grafias mais profundas e subliminares, não se aplica o mero entendimento nela, ele é aparente podendo ser falso, ilógico, xeno frásico, bem melhor seria e é imitar-me a mim, eu próprio, elevando a dois, multiplicado pelo melhor exponencial, o conhecimento que tenho a menos, pois os poemas são como as tabelas periódicas, que nunca estão completas, há sempre um elemento em falta e uma órbita que o complementa, um planeta, uma lembrança assim como "valência literária" pode ser alcunha, quando a leitura não é assim tão pura, nem tão bela, a minha não é, sofro numa mistura de desapego e querer, faço na minha vida o que a ciência ainda não provou possível, reduzo os tolos sorrisos doutros, nas silabas e os modos com que cobrirão mil dos meus livros e às cinzas os mortos.
É difícil explicar a um demónio a dor da chama e o que pensa e sente um santo em forma da mula dos infernos ou a um “Semper Fidélis” des crente, perante a morte eminente, a pira do santo ofício e a orgia de sentimentos que o poeta sente, quando escreve e sabe que se está condenado ao purgatório, pelo que diz sem que importe, ele escreve com a expressão no rosto do demónio, qual tem dentro e que dói, numa dor de noite permanente, do desterro de ser gente, tão difícil de explicar por números primos e embora as opiniões nunca fizessem florir uma amendoeira, mas na minha cabeça, o centro fica em flor como que por encanto, quando penso, da própria dor parecer não tenho, nem tento dar opinião, nem tento, sorrio por outros motivos além de não gostar de estar sério, não ter inimigo nem senhorio nem presídio (mesmo que esotérico), aliás a nossa semelhança com os deuses é real, tão natural e antiga que às vezes me parece mentira e doutras parece que o beijo é sério, não é fé nem mistério. Nunca soube julgar tão bem como fui julgado por jogar mal com as palavra " melhor e bem", bem melhor é imitar-me a mim, eu próprio, elevando a dois, multiplicado pelo melhor exponencial, o conhecimento que tenho a menos e vejo crescer mais alto em mim o que digo, do que o que penso, o coração faz peso pra um lado, embora procure o equilíbrio, desabo na sátira de mim próprio, será a poesia o caminho errado, a alegoria não é um sentimento, sonhar não é uma anátema nem uma oferenda, é sonhador quem sonha por si, não por ver sonhar outro, com a alegria passa-se o mesmo, é como no luto, no opróbrio, no desalento.
Embora as vaidades nunca fizessem desabrochar uma figueira mas na minha cabeça invadem-me de aptidões em forma de raiz, o centro fica em nata de figo, como que por encanto quando penso, da dor opinião não tenho nem tento dar opinião, nem tento, sorrio por outros motivos além de não gostar de estar sério, não ter inimigo nem senhorio nem presídio (mesmo que esotérico).
Somente à esterilidade de interesse e inutilidade do meu entusiasmo se pode dever a falência como filósofo, sábio e/ou pensador, não tenho falácias que atravessem vedos, redes, muros e sejam a salvação dos espíritos mais endurecidos e obscuros, nem gozo intimo seguramente de pragmáticos sofismas que aumentem a minha credibilidade como ser consciente, é vital haver, possuir-se e despertar um sentimento de valência e entusiasmo em torno do trigo, para que agite ao vento as espigas, o valimento ou invalidade epistemológica é uma variável indefinível, imaterial e etérea, efémera, como silencioso e solene é o trigo sem vento que o abane, a textura é secundaria como o azedume no vinagre que não se quer num bom vinho, assim é o meu sentimento perante a vida, a sensação interminável e inefável que me arranca da realidade demasiadas vezes quando uso da inteligente doença da qual tenho de fugir que é o pensar sem vitoria nem renuncia simbólica, devo abster – me ou protagonizar expressões teoréticas plásticas de qualidade superior ou apenas apostar na prosaica criação menos dolorosa e desprovida de sentimentos e de esforço com que cada um cada qual pode sentir-se talentoso e reclamar percepção artista da mais solida estrutura possível gerada num universo geracional e bi-dimensual como este onde me encerro escrevendo, no azedume do vinagre , no cafelo da parede, na ignorância quase orgânica destas quatro paredes de cela em nau difusa ou carruagem "Wagon-lit" do "Lusitânia Express", não sou um solitário geriátrico, solitário é ter sangue novo, como um Simbad, ter talento de marinheiro de verdade, sangue azul cobalto de um místico asceta, título monástico de Conde varão de Monte Cristo ou ser apenas solidão, parecida a peste, marca comercial reles, rótulo de Sonasol gasto, decadente, detergente industrial, inferior a preço de sabão macaco em azul desalento, limão verde, amarelo e velho, suco gástrico e mijo, serventia de mata-borrão, azulejos de crematório em bege, solidão de velho, descrente !
Escrever é uma das coisas belas da vida, esquecer é outra coisa, embora possa ser uma lição de vida, quando nos relembramos do mal que nos fez aquilo ou isto, este ou aquele outro, pois do bem basta lembrar um bocadinho para apreciarmos o que sobra do resto do dia e o que somos, não o que fomos, esquecido, pois bem, escrever está certo e não é peso morto, recordar com a memória que nos emprestam não é, nem fará todavia do longe, o aqui perto, nem é realmente pouco, excepto pra quem viveu e morre, espiritual e estritamente cego na sua relação consigo próprio e comigo mesmo, e é relativo a "todos os nomes que te dou", por serem meus e estarem imponderadamente certos.


(Excerto de "Do que era certo")







Joel Matos 03/2019
Http://joel-matos.blogspot.com

Trago em mim dentro






Trago em mim dentro
O que eu quisera ter, 
Antes de não ter desejos
Meus, mas doutros,

Trago em mim dentro,
A valência do átomo,
Todavia não admito,
A falência dos deuses,

Sigo o pensamento
E a sua presença
Une-me ao invisível,
Como um súbdito

Do instinto que uso,
A aparentar um brilho,
Que só a mim seduz 
E deslumbra, lembra

A luz, gela alma e corpo,
Sem ser de frio, admirável
E doce incesto,
Trago em mim dentro,

Passos em mim sinto,
Todos partem sem pressa,
Passos percorrem distancias,
Menos eu que eles,

Que temo ficar parado,
Sem passos mais pra dar, 
...Ânsias que em mim ficam,
Distancias em meu longe, 

De andar tão perto,
Tão só eu, constante quanto
O pedido de socorro, 
De um funâmbulo teimoso. 











Joel Matos 03/2019
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...