quarta-feira, 18 de abril de 2018

Sonho d'Midas





Sonho d'Midas ...





Leve o sonho i'nda 
Que m'tire do sono, 
Dest'ida sen'como,
Dano ou beleza, nau

Inacabada o despertar
E eu por me acabar, 
Só porque troquei,
A poeira P'la estrada

A vaidade p'lo ouro,
De verdade não sei
Distinguir treva de 
Breu, estrela de céu,

(Nem sequer o vejo),
Suor de calafrio,
Sonho de Midas
Escrito em Basco

Sou eu só, eu sou ...
Desdenhei um trono
E é nele que me torno,
Tornarei também noutro

Tosco tronco e assento,
Perdido no sonho d'ida
Sem a certeza de voltar,
Me persegui a vida inteira,

Como se fosse minha 
Sombra falsa ou a máscara 
Da própria má sorte ...








Joel Matos (04/2018)
http://joel-matos.blogspot.com


sexta-feira, 6 de abril de 2018

Despertar é desilusão






Não há silêncio que se doe...


Não há silêncio que se doe,
Nem voz que me determine 
Quanto dói o doer, contudo
Nem abafa a dor quem cala

Nem aquele que mal sente e
A fala, não há silêncio que 
Se doe nem palavra que 
Pague o que sinto eu, seja

O que for, alegria pode nem ser 
Dor, nem liberdade terminar
Em prisão, assim sendo 
O desamor é feito do mesmo

E a fé, o ódio que se derrama...
Não há silêncio que se doe
Ou amor que não se acabe
Tal como aquilo que nos une

E dá vida o ar, existe pra
Soprar nele a voz sem um
Ou outro pensarem nisso,
É o que define o sentir

Um desejo sem fronteiras 
Pois sonhos são de todos
Quer se dêem que me doam
Ditos alto ou falando baixo

Não há silêncio que se doe
Nem palavra que me pague
Ter é perder possuir e não
Dar, despertar é desilusão

Embora não doa tanto a dor
Quanto este, doce me fala
Ou ouço, não há silêncio
Que termine o falar, nem dor 

Que valha algo de pouco valor,
Assim acontece que me ouço a 
Pensar e esqueço o desejo
Da fala, me dói o silêncio,

Falar é ilusão ... pretexto.






Joel Matos (04/2018)
http://joel-matos.blogspot.com


terça-feira, 20 de março de 2018

Cedo serei, sou …





Por vezes não sei
Por onde ando, se no campo da batalha
Onde quem não m’lembra sou
Ou aonde crês tu ser agente secreto
Do que passa e passou – sem se mover,
Crês tu poeta ser, convence-te
Que a lembrança é passar e ver,
Convém ser o que passou pra ser,
Pra que fique do que penso o que sou
E pra que me lembres poeta, ou
Vento sendo, sou poeta, improfícuo 
Eu sou, és tu meu solo infértil ou não,
Comecei cedo sendo faúlha, 
Agora sou vento, bravio como convém,
Cedo serei mais além que desta vida,
Às vezes sou nem lembro o quê ou quem,
Entender-me cansa, sonhar menos, 
As vezes as faúlhas queimam, 
o estandarte e sujo-o de terra e hulha
Mas o vento ao passar como
Um rio, lava-me a consciência
E volto a ser criança brincando
Aos soldadinhos de chumbo,
Até rebentar outra terrível
Guerra do fogo mal apagado,
As vezes as faúlhas queimam 
o estandarte e sujo-o de cinza 
Eterna nos azuis montes
Por onde ando e faz frio e aí
Passo a ser eu, de novo Ivan,
Por vezes nem sei ao que vou
Preso, se à graça eterna ou apenas
Ao peso de um pedaço de carvão
E terra infértil, o artificio de um mendigo
É o instinto, em mim tão pacato
Que nem o sinto mover ou se por mim
Passou cem vezes sem duvidar que me divido,
Entre quem sou e quem nem serei …



Joel Matos (03/2018)
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quinta-feira, 15 de março de 2018

Tod'a poesia acaba em silêncio



Toda a poesia acaba em silêncio,
Porque nasci ou como morro ignoro, 
Não consigo definir começo ou fim,
Ind’a assim deixo descrito o lento voo
De uma ave de pena e louça que 
Dentro trago, ainda que seja desculpa 
Pra não levantar voo como quereria,
Assim também a mim ele me mente
Tal como um objecto abandonado
Sem vontade dentro, assim me sinto,
Preso aos sapatos e ao ponderável
Peso terreno, onde moro desde que
Me conheço, capaz de escutar o silêncio
De um baloiço, ver magia onde tem apenas feitiço
De galinha morta, ouriço no meio da rua
Me lembra afago, suave tudo quanto oiço
E o silêncio num búzio lembra-me mar,
Não sei que ideia esta de mansidão, 
Pedaço de espelho quebrado que mente
Cortado p’la metade, terça-parte é céu,
Tod’a poesia acaba em silêncio, o meu
Começa onde esta se cala, pois me continuo
No que não tenho, luar ou uma estrela
Tão vaga quanto o meu passar passou,
Suave quanto o que me ouço, nada
Que seja meu, imito apenas do silêncio o som,
Pois o céu é na Terra e o quem sou
Não interessa, pena, louça e culpa …


Joel Matos (03/2018)
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quinta-feira, 1 de março de 2018

Depois te escrevo ou a lucidez de Alice








Depois te escrevo ou a lucidez de Alice 
Detrás do espelho tu Alice,
Me diz se sou coelho ou gato,
Pois quando toco o ar deste
Lado ele sempre estremece, 
Tão lácteo, lívido quanto havia
De alva cal na parede de onde sais,
Noutro vazio dum quarto branco,
Bruscamente deixa de aí ter
Um espelho pra ser luz encanto,
Tu Alice, eu coelho vidente,
O que não havia era Rainha
Sem rei, serei alguém d’engano,
Além de Coelho sou quem
Bocejo defronte ao espelho,
Onde não me veja pairar,
Pois quando toco o ar,
Faz frio e rio de mim pra mim,
Alice é o Coelho, sinto que
O outro lado é aqui mesmo,
Decido eu ou não eu o que vejo,
Detrás do espelho tu ou Alice,
Ou sentir somente com a alma,
Como só a alma sente sentir,
Frente ou interior de espelho,
Eu nem a espelho chego,
Quando mais ao trono, 
Que não está do meu lado,
Alice foi embora do palácio,
Era rainha, serei ninguém ou
Rei, dormirei quanto ele
Frente ao espelho, depois te
Escrevo …Depois te escrevo
( Depois te escrevo )
Joel Matos (12/2016)
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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Ás vezes quebro (Hitler puff … )





Ás vezes quebro.
Às vezes quebro,
Como prato vazio
E a expressão de quem 
Se não enquadra
Mas finge pular à corda,
Com os que quebram não,
Pois minha missão é ser único, 
Ás vezes me quebro,
Tal e qual louça,
Os bocados são meu céu de cal,
Não algo que se veja,
Sabotado por mim, invoco o cinzento
Sem encanto,
Hitler puff …
Ás vezes trago
Sem querer, despido
O que penso,
Pois sou aquele
Que nasceu sem se conhecer,
Pra quem tudo é estranho,
Prato ou bacio, Graal sacro,
Raso eu, vazio d’paixão
Hitler puff …
A existirem enigmas,
São o inverso de mim,
Que me revelo numa espécie
Sem perdão, somando ilhas
Do sul da Índia como “Nosferatu”,
Tenho o dever 
De ver símbolos sem os haver,
Apenas pelo dom de desenhar
Na vidraça um ser vil
Que nunca vi,
Sendo eu ficção, sem ser fictício ele, 
Minha missão
É ser único, servil eu não,
Persigo o que sinto,
Digo o que penso por dever cívico,
Hitler puff … ´
Ás vezes corro...


Joel Matos (02/2018)
http://joel-matos.blogspot.com

Quando as pombas desapareceram …





Viver não é necessário,
O que é necessário é criar,
De facto nas tardes d’verão,
Creio-me figurante do que creio,
Finjo-me uma vila sem a ver, a
Vi, aí vejo movimento sem haver,
Vidas sem grandeza em si, sem
Tempo ou propósito, acreditar
No que vejo não é objecto
Do meu sonhar, no entanto
Sonho, creio que o sonhar
É feito no propósito de vida nem
Ter, é isso a sensação d’ver
Vida numa vila sem que se 
Mova a realidade dum ponto fixo,
Tão real quanto nós somos,
Sem sermos, criados pra haver
Realmente sonhos sem os vermos,
Nesta vila sem vida, sem tempo,
Sem certeza, apenas sensação sem-ser,
Sinto-me multidão, sem “de-facto”
Viver, não é necessário, o
Necessário é haver sonho sem
Haver de facto verão, ou vila-flor eu vir
A ser, pomba ou pulga, purga em
“travessa do fala-só”…



Joel Matos (02/2018)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...