terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Nêsperas do meu encanto...




 

Nespereiras, o meu encanto...
Entendo mal todo o pomar,
Nespereiras do meu encanto,
Folhas pregadas a um tronco,

Firmes, sossegadas, nenhuma
Se destaca, o meu pensar não
Também, fez-me "Soba" o circular
Sono e as folhas tapam o solo

Nu, postiça a sensação de paz,
Remota a glória que me coroa não
E às vespas douradas pretas,
Entendo mal o sacro pomar só,

Faz-me falta o ar liso, a vigília
Morro sem razão concreta, aparente
Ou epidémica, pregado ao tronco,
Decorativo, sossegado, perpétuo

Nespereiras do meu encanto
Que despidas nunca pude admirar 
Escuta-as débil o ouvido meu
E é só...

Entendo mal o pomar todo
De perto poderiam representar
Um sentido oculto antigo que
Eu quero sentir, mas não,

Nespereiras do meu encanto,
Folhas pregadas ao tronco
Impedidas de abalar do mundo
Assim eu, humano rude, manco, feio,

Nespereiras do meu encanto,
Nêsperas, o meu canto...








Joel Matos (09/2017)

Não saberia que dizer …




Não saberia que dizer se me encontrasse
Com o silêncio “cara-a-cara”, frente-a-frente
E a sós com ele, talvez olhasse pra trás 
E pedisse que não me abandonasse a última
Frase, a última palavra com sentido que disse
Sem a sentir pronunciar, sem a pesar nos lábios,
Sem a ver distanciar e sentir que vai linda,
Inda mais linda a quem a vê chegar parece,
Do que quem a viu partir pra um lado incerto,
Não saberia que dizer se me encontrasse
Com o silêncio pois ele guarda segredos meus,
Despe-os como eu não sei, nem meu coração
Traidor, assim o silêncio me devora as mãos
Não o peito, cheio de iras e ais, infiel o sinto
Labirinto de enganos, inda mais que o silêncio
Plano, oco por fora e branco por dedentro dele,
Finjo que minha alma é ele sem ser sem a ter,
Que dentro de mim ouve sem falar, que se esconde,
Sem me dar o que preciso pra sentir e dizer e
Falar, deixando-me por contar o que penso a fio
E com gestos inúteis que transformo em sombras,
Ainda que o silêncio me devore as mãos, trago
Flores que não posso explicar ao silêncio vago,
Anódio, infinito, árduo …
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

I must believe in spring again ...





I must believe in spring again …
As heras passam, passam
P’lo meu corpo inteiro,
As aves voam, esvoaçam
Sob minhas raízes d’pinheiro,
Ai..se eu fosse marinheiro,
Não mais morreria afogado,
Traria do mar o cheiro frio
D’um beijo d’mar abastado
E das madrugadas d’outras heras,
P’rós cheirar nas searas viradas
P’lo vento, o cheiro a aguaceiros
E na erva brandura próprio delas,
Da seiva não sei, minh’alma é calma
QB e a chuva é lenta também, se arrasta
Nas madrugadas e no trigo casto,
Trago no coração ruim amigo,
Aí os corvos esvoaçam o dia inteiro,
Sob estas minhas raízes enterradas,
Nem sei se chore ou se rio,
Ou qual desses primeiro e a fio,
I must believe in spring again …
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Receio ser eu mesmo nada.




(Receio ser eu mesmo, nada)
Quem sucumbiu não fui eu,
A cento e um alvor e nada,
Nada tenho que não seja
A lua parda, parada, presa
A cem mais uma almas 
Frágeis, de vidro que trago
Penduradas, místico eu
Que me ocupo da dor d’mais
E morro todas as madrugadas, 
Treino o finito e o perecível
Que é o corpo sem asas,
Cubro-me de pássaros e vidros
Frágeis quanto as almas
Que trago ao cinto penduradas,
Nas pernas presa a lua parda
Diz-me adeus, minto; me chama 
No escuro da noite, tão clara
Quanto o brilho das minhas almas
Mil e uma que trago na cintura,
Tão finitas frágeis e sem asas,
Místico eu de madrugada e à noite
O luar meu culto, ramos palácios
Onde ressuscito sereno, sem fim,
Quem sucumbiu não fui eu,
Mas o receio de ser eu mesmo
Nada.
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Sal sagrado




Selo sagrado
A relva é perene por um ano,
Tu me dás sempre o sol ateu
E que as auroras sejam presente
Dos céus, talvez um duplo querer
Em Deuses ou uma boreal maldição 
Que nos impõem do sentir
De todos, perene quanto a
Relva e do crisântemo a cor da cereja,
Tu me dás sempre o sol ateu,
O que me coube por ser humano,
Foi um tronco de carvalho torto
E uma mágoa que me beija,
Tal grainha de uva ou caroço 
De cereja, a relva é perene, grama
Todo um ano e duplo o seu crer, 
Maldição o meu sentir e o ver
Símbolos onde a vista não pode ver
Nem obedece o corpo, tronco
De carvalho entortado, coisas
De gnomo só e ateu, cavalo-homem
Homem-cavalo, boreal pra quem me
Busque nos céus onde antes de
Morto estive por ser humano e perene,
Depois fiz da vida isto e apenas …
Todo humilde superior a infantes,
O destino a mim somente, 
Capaz de ser também a arte
E a sensação de ter vidas mil,
Mil homens dentro de mim
E ter a consciência de todos eles,
Nítida clara evidente, inteira
A sensação de não ser inédito mas
Acima dos outros superior a tantos,
Todo o humilde sonha o que não 
Consegue, ser infante e rei, tudo
Menos ele próprio, arquitecto
Que poentes imagina, impérios 
Extintos, podium mais alto que 
Catedral, embalsamador de ambições 
E inercias, a relva é perene por um ano,
Tu me dás sempre o sol ateu,
E que as auroras sejam presente
Dos céus, talvez um duplo querer
De quem poeta imagina ser duende,
Sal sagrado, Santo Graal …
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

À dimensão do horto …





A dimensão do consciente
Não é fixa nem muda,
Apenas o pensamento mudo,
Ao pensar, consciente de tudo
E do cosmos todo mas apenas
Na dimensão que me moldou 
Em outra não … ou não todo eu, 
O coração é d’outra coisa fora,
Doutra forma, dess’outro mundo
Sem céu, que não se explica,
O que tenho de bom é que 
Me acomodo ao instinto 
Como se fossem aguas paradas
Quietas, o que me inquieta
Inclui e cria, encanta o que há em mim
Do universo outro,
O que não faria pra me tornar
Paisagem dispersa, disperso eu 
Que penso, pensando possa ser jardim
Secreto onde dentro me deite.
A dimensão do consciente
Não é fixa nem muda,
Em mim muda e sente alquimia
Em gente, gemas e opalas 
Enquanto que, de ouro nada
Uso nem mais caro nem tão belo,
Sou o que penso, enganado
Plo que vai acontecer no fim,
O que mudou foi a veste 
Que me cobre, cobriu um estranho
E agora eu, que me descobri
Consciente, lúcido quanto a mim,
Ouro falso e sem lei segundo 
Quem me lê, que me não creio
Bem e me finjo de ser Rei Santo, 
Assim as ramagens me falassem 
Do alto e com os braços esticados,
Do monte, ainda as tento escutar
Impaciente, no meu mando
De alquimista fixo ao chão,
À dimensão do mundo, do horto,
À dimensão de tudo, do instinto,
Do consciente, do outro, do monte
Da ramagem, do horizonte, da paisagem,
À dimensão da Aorta-da-gente …
Joel Matos (09/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Diverso-me a julgar, excede-me o compreender.





Diverso-me a julgar,
Esta a hora que passo a cego,
Que importa a parte em
Que possa ser diferente,
Não sei, leio-nem sei bem,
Diverso-me agora, a julgar
Plo que escrevo ao espelho,
Quantos diversos modos,
Este sentir sem olhos d’ver
Em que importa não só
Ser diverso, quanto lúcido,
lírico, porventura Deus,
Dos que fecham sobre
Os olhos, as pálpebras,
Tanta indiferença já vi nelas, 
Se houvesse janelas no corpo,
Queria que fosse nos dedos,
Sentiria emoção palpando,
Assim diverso-me a julgar,
Sem ver na paisagem
Conclusão pra o que penso.
Antecipo o prazer de esculpir
A realidade sem sorrir,
Alego emoção perante o vinil
De um antigo disco, 
Uma canção que me fazia 
Dormir, as memórias são crianças
E nós o futuro delas,
Porventura diversos
Quanto o capital dos desejos,
As opiniões nossas, espelhos
Dos que se fecham 
Sobre os olhos, cansados de ver.
Esta a hora que passo a cego,
Diverso-me agora, a julgar
Plo que escrevo ao espelho,
Excede-me o compreender …
Joel Matos (08/2017)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...