sexta-feira, 12 de maio de 2017

Às vezes








Às vezes, o que resta na mão nos foge,
Tal e qual como num livro a palavra fim,
Sinto um vidro fosco ente mim e essa luz
Que me foge sem razão, sinto que flui ao 
Escrever mas não é certo, é uma imposição

Não o destino, porque pra isso não fui criado,
Escrever e ter as mãos caídas é disparate 
De louco, ter tanta coisa à mão e não ter na 
Mão nada, nem amor próprio, tanto quanto
Glória, fama ou sorte, quem dera não ser

Quem sou, mãos caídas solicitando ilícito
Parecer a prazo ou o aval de quem passa
Sem sentir passar pla alma dele o meu ser,
O estranho é não me sentir culpado da inércia,
Mesmo quando foge desta mão tudo

E eu sofro por isso, mas apenas um instante,
Assim como não ter uma coisa qualquer
Quando se quer tanto ter sem saber qual querer,
A sombra ou o seu suporte, a branca parede.
Às vezes, o que resta na mão nos foge

E eu sonho que sou o fio de água que flui e une
As sucessivas sensações que minha'alma consente,
Pois que verdadeiramente nada me foge, 
Nada me dói, nada me prende, 
Pertenço ao caminho e se me ergo é por 

Imposição do mesmo ou por castigo
Aos deuses que renego.



Joel Matos (05/2017)
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Em que tons te tinges hoje, nua...





Em que tons tinges a tua blusa


Se te perguntarem os tons que tens nas vestes
Não respondas, por favor não o faças,despe-te, 
Se te perguntarem porque escreves nas paredes
Não respondas, fecha a boca, por favor que o faças,

A menos que te saiam da boca súbitas pombas,
Que denunciem pla cor das asas em tons
Mil de matizes e nessas crenças prolonguem o arco-íris
Ao baterem umas de encontro às outras todas,

São sinal do presságio e denunciam o que de belo
Tu pensas, pra ti será tarde demais, nem que
Fujas e te escondas hão-de encontrar-te, 
Mesmo nesse canto da dispensa que sabes

Só tu e não contaste a ninguém, nem mesmo
A mim, que sou a tua consciência e propósito
Se te questionarem a propósito dos dons que tens,
Que usas, não respondas, por favor não o faças,

As maldições só a nós mesmos dizem respeito,
A despropósito de saírem pombas pela fala,
São ultraje e ofensa pr'os que não percebem
A voz do Deus das cores com a áurea que é nossa, 

Só nossa e deles, deuses da diferença em tantas,
Todas as nuas cores tuas...


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Joel Matos (04/2017)


Tão tanto ...






Permitam-me o que vou dizer
E não é segredo, nem será
Depois de dito, nem será
O que parece ser e acabou

Sendo, pois nada desse secreto
Estranho hálito que tenho vou 
Omitir, penso quando contar
O segredo que tenho pra

Dizer, obsceno quanto o 
Que'screvo e não devo
Não por mim mas por ontem,
Não por outrem, o que vou

Dizer contém o anseio
Que pudessem ser o eu
Que eu não sei nem ter
A alma de quem a tem não eu,

O simples fazer chamar do céu
A terra e ao silencioso 
Chão caixão meu segredo, meu...
Permita-me estar a sós comigo

E com o meu cabelo,
Pra depois dizer a todos
Que nem alma tenho,
Mas em segredo guardo

As memorias que componho,
Eu tenho
O que parecem ser,
Só em si sonhos de estranho,

A quem se permite
De quando em quando,
Quem eu dantes era
Ou pensei que fosse 

Ser hoje tão, tão tanto ...






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Joel Matos (04/2017)

Fim de sessão ...





Torno sem palavras, dos turnos
Que as alvoradas fazendo vão, sulcos
Nos meus olhos vãos,embora
Não digam nada as mãos me falam

Sem entusiasmo do tempo longe
A vida que vivo de tarde substitui 
A que vã tive ind'agora manhã cedo
Daqui a pouco acabo as palavras

Então não sei mais ser,trono não tenho
Ceptro ou manto de monarca do Tempo
Sulcos nos meus olhos se vêm
Só eu vejo o coração, casa fria, triste

Sem palavras em torno, torno 
Sem palavras, fim de sessão ... 




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Joel Matos (04/2017)


M'inunda o mar na terra ...





Me inunda o mar na terra


Me inunda o mar na terra por já velha
Salvo onde subo pra ser visto, esta vista...
Uma vida qualquer parada semelhante
Ao sonhar dentro do útero da terra mãe
Um outro Universo, luas no pensamento

Me inunda o mar mas tendo coração
Tudo em mim é ser coberto de manso dia
Nesta Terra que é velha e arrefece dia
A dia salvo onde subo pra ser visto,
Desperto noutro universo ou neste

Onde há fim, o fim que há em mim
Desde que me reconheço órfão da serra
Mãe se é que há vida em mim também
Até nem sei se tenho rosto de gente
Mas até onde o mar alaga a pele, sei...

Sei que subo para ter visão única 
Do que está no cimo e tantas vezes imagino
Como sendo meu coração de baleia, a última
Que se banha no oceano que trago no que me
Lembra e fiz ser meu peito - flor de Liz-

Me inunda o mar na terra e o meu sonho 
É partir pra mar aberto com a cheia, ela
Simboliza tudo o que a paisagem tem de milhas 
Em redor embalando meus olhos e corpo 
Ao som das ondas a partir mansas, feridas da areia…



Joel Matos (03/2017)
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Nem no mundo do fim do mundo há o fim dum todo...






O lembrar de facto não existe, nem no fim ...


O exacto tempo não existe pra mim,
É um bocado de terra e escasso,
Exijo na lápide não o ano certo
Em que morri, antes o outro, assim

Quando os astros perecerem
E o lume e o céu se desfizer e a lua,
Quando todas as horas forem mortas,
Espero que a areia dite meu nome,

Qualquer um serve, pois sinto em
Todos um fio e os membros dispersos 
Súbditos do espaço e o tempo
Servirão a minha imodesta crença,

Um pedaço de terra é pouco pra mim, 
Quero a conivência dos grãos d'areia,
O pó leve, inútil em todos os planetas
E no sub-mundo que há em mim, sinto

Ao ínfimo a consciência que lá vivo desde
Sempre, infinito o tempo, areia fria,
Cento e uma vidas coladas ao que não sei,
Pano de fundo ou o desejo de renascer

Seja no que for pó, flor canteiro ou dor,
O lembrar de facto não existe, 
Nem um mundo no fim do mundo há...




Joel Matos (03/2017)
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Leve, a emoção





Leve, a emoção

Leve, a emoção não chegará ao peso em
Que tem peso, tendo coração e motivos de peso
Por não ter,embora não saiba se leve, se deixe 
Eu mesmo de ter, esse mesmo peso pouco 

E essa imensa graça que é a emoção e que fosse
De diferença tal, como o peso que pesa minh'alma,
Tão pesada quanto o chumbo e a cornada
Dum búfalo ferido de morte pela mesma bala. 

Leve, a emoção, tão leve que esqueço de sentir
E é curto o tempo em que sou feito apenas dela,
Escrevo-a quando quero é esquecer que até
Da própria mente posso ganhar a noção de ter

Emoção ao-de-leve e ouvir-me pensar baixinho
Do que aquilo é, que peso tem sem agitar o ar,
Tão leve nos despe quanto o que penso e em tom
Que lava a mágoa da dor aguda que simulo

Ter, embora tenha outra que parece ser coberta
Por pele mais boca, extravagante ideia o infinito
Posto num lugar comum, onde ninguém o vê
Por isso lhe chamam de sonho, outros fé, eu não,

Não o farei, quero sentir o coração parar e talvez
Depois me cale, quando nada pese, leve a emoção,
O peso é sentir, não ver o que penso e temer 
Não ser o que sinto no peito, nem na mão que 

Escreve tão ao-de-leve quanto a mim me minto 
Ou não, sinto ...




Joel Matos (03/2017)
http://joel-matos.blogspot.com


Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...