terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Meu mar sou ...






Eu meu mar sou,
Jogo palavras d'cá
D'dentro nele e dou do mar 
Só a solidão q'vem

De dentro dele, na
Rede de armar,
A Ver-o-mar vou d'anzol
Se no mar houver d'isto,

Sou eu esse quem d'mar 
S'veste, se jogo isco e
Palavras d'mim dentro dele,
Me devolve do mar sede

E a paixão d'ser ele, mar só
Mar sou, peixe certo ou
Do mais cru e profundo
Que a solidão serve

Neste frio mundo,
Eu meu mar vou
Do sabor a sal, ao meu
Mal de ter gaviotas

Na língua de falar,
Areia no que penso
Ser o peito mudo,
O que do mar é mar

É meu e sou e só mar eu,
Sinto meu o mar e o voo,o sal
É raso, mar tud'isto, tudo
Todo sal mar e eu mar sal,

Eu mar só, mar sou dono,
Dono o mar da dor só, o dom ao mar
Doei eu, ou ele o meu
Me deu...só meu.



Joel Matos (12/2016)
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Encanta vento







Venta, mas me encanta o vento,
Serei dado por morto, na porta
Aquela que o vento peça pra
Abrir o ferrolho e ela se não escancare

Pra dar passagem,venta no meu
Rosto um morno vento, será da
Monção ou dos meus rostos barbados
Todos, aquele que se sente queimar

Cada vez que o vento passa,
Me encanta vento catabático 
Ou me mata logo, logo como fogo
De gelo, de forma que não escape

Cento e quantas vezes, no sentido
Contrário do vento grosso que passa e
Passa e passa, me encanta vento
Depois parte pra eu poder sentir real

Na alma o vento todo do mundo
E a vontade que me mude de onde 
Estou pra onde faça sentido estar
Sozinho, como o respirar fundo,

Venta, mas me encanta o facto
Saber que vivo, o vento quando por mim
Passa, saber ninguém sabe ao certo,
Excepto o vento, me encanta o vento

Que passa suave ou forte, atento atento ...




Joel Matos (12/2016)
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Dum caule, as asas ...




Para quem faz do ego religião
E os sentidos vira pra dentro
Da pele verde, espelho do que nunca
Poderá ser pra quem faz

Do ego religião, o tacto não
Dá prazer e o eco e a contemplação
Dos sonhos dos Homens todos,
O gozo de pôr as mão no fogo

E o doer que dá o amor grasso
Pra quem faz do ego religião
Não há, nem penses, disso
Por grosso ou ao Quilo, o caldo

Com feijão manteiga que
Dantes era vendido na mercearia
Como se fosse mágico, à compra
Prostituta e má como o Ego "de ver"

De Shopping-Center, casas espelhos
Não sentidas com que se contentam
Multidões sem tacto nem a ambição
De quem pôs as mãos-no-fogo por gozo

E por haver quem faça dum caule as asas
e o coração ...



Joel Matos (10/2016)
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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sempre que desta falo ...





Sempre que desta falo ...


Metade é dom do luar, a ilusão,
A outra, humana completa,
A fala, ela com que conto
Como e do que é feito o pensar

Tal é o caso daqui e agora
Os sentidos mais são sobra,
Atraiçoam a imaginação,
Como ind'agora ao sonhar

Sonhos múltiplos disto pintados,
De fresco e framboesa citrinos
Todos em tons de toranja,
Omiti infelizmente do luar o tom

Metade e o espírito deste conversa
Não expressa, o que deveras
Sinto na humana metade minha
Que resta, que fala sempre que

Falo desta, no que ouço eu pressinto
A longínqua passagem, vivo
Do solo que me criou, faço
Consciência do porquê de vir

Parar a este mundo cego
E pra que fim sou eu, justo
O bosque e o arvoredo que
Fala mais alto que aí vós

Outros de metro e meio.
Onde estou eu não sou
Tão perto de tudo e de nada
Do irreal e da Alvorada sobretudo

O meu ser fecundo plas
Florestas onde sussurros crescem
Como musgos em geada
Presas ...



Joel Matos (24/09/2016)
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Manhã e seda ...




Quanto mais em nuvens me faço,
Menos me vêm, poucos me guardam
Pois o meu destino é desaparecer cedo,
Antes de chegar ao chão, é o destino

Quando das nuvens faço choro
E o que antes de sê-las sentia sendo
Nostalgia vinda dos céus do sol-pôr,
Muito menos o vêm por não se sentirem 

Nuvem como eu já fui depois de voar
No céu e afundar no mar na lua-
Cheia a minha inglória nuvem branca
E a memória que perdi de ser veleiro,

Quando mais no céu me desfaço
Em nuvens de chuva mais tento
Chegar às raízes vossas nesse chão
De terra seca e rocha pedra preta, 

Quanto mais nuvem mais sinto o céu
E o vento saberem por certo 
Ter eu outro destino que não chuva
Mas aurora boreal ou névoa breve 

Num deserto de manhã e seda ...



Joel Matos (09/2016 )
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Tão simples quanto um cabelo meu ...




Nada pra mim é tão simples com'um cabelo
e uma ruga funda que conheço na testa,
as mãos que são como um mapa que sei-
-de-cor e as marcas da velhice que aparecem
sem que eu queira. 
Nada pra mim é tão simples
como o mar na areia batendo e um pensar
perdido partindo na espuma, sem destino
que eu conheça, apesar da ruga na testa
e o cabelo a voar ao vento e o mapa das mãos
e o olhar vão no mar a olhar, 
a olhar sem que eu queira parta , parta não ...


Joel Matos (09/2016)
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Nada espero, nada quero, nada valho,nada sou ...







Quase me esquecia d'aqui vir,
Voltarei querendo me perca
Do que vim, exausto da forma
Como me revejo a mim e vou...

Quase me esquecia que voo
Daqui numa ilusão que vou
A outro lugar diferente onde
Sou gigante entre gigantes ...

E os dias da forma que têm,
Essa forma que quero em mim,
De labirinto, pois terreno e plano
Me fartei do mundo, estou farto

Que quase me esqueço d'vir 
Sen'sperança dizer porque penso eu
Assim tanto que nada espero, 
Nada quero, nada valho,

Nada sou ...


Joel Matos (08/2016)
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terça-feira, 5 de julho de 2016

Inocente e Incriado ...




Inocente e criada
Criado eu não,
Não tão leve nem tão puro
Quanto esta coisa

Criada e breve
-A minha alma- 
Completa de artifícios
Criados

"Ao de leve"
Inocente e criada,
Nem o meu ser me serve
Criado eu não dele,

Assim Deus me leve,
Nem tão breve nem tão puro
Quanto do chão piso
Eu agora,

Dele adorno...
Inocente e Incriado
Assim me leve Deus
Ao-de-leve, 

Inocente não puro,
Alma criada ...



Joel Matos (07/2016)
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Caliça fraca ...






Trouxe à tona a cal branca,
Um destino cheio incompleto
Do que é ser estrangeiro,
Na nossa pele sargaço, limo ...

Trouxe à tona a caliça alta,
Enrugada a citação de 
Meus restos lembrados
Na memória das paredes

De cal a sorrir, parecendo
Paredes tatuados desta pele
De que sou feito em terceira
Demão a caliça fraca, falsa...

Reboco meu, argamassa,
Cal branca...






Joel Matos (07/2016)




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canto






Canto que pode ter a poesia vida,
Posso estar enganado, ser assim
Isto que se converteu o barro
Que molde era eu, pois creio servir

Poesia em vida tão pouco, veremos
Se morto eu vivo como fosse
Possível encantar, um cadáver
Que neste ponto esteve a vida toda

Sem ter existido nem por momento
No fundo do osso tímpano mouco
Desse mundo todo, como poeta o tal
Ao vivo de barro na praça X, ao canto

Eu canto o que pode ter encanto, vida
E o peso de existir tanto, tampouco
Quanto.




Joel Matos (06/2016)
http://joel-matos.blogspot.com


Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...