quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Quando menos se espera






Quando menos se espera 
Os signos soltam-se dos demais
Procurando novos significados
E eu continuo ignorando,

O que é viver com os pés
No chão, tentando perceber
O som que vem do céu
De minha boca aberta toda,

Toda aberta do calcanhar
Ao fémur passando p'la
Omoplata, subindo a Cava
Veia deste meu coração

Sem terra, alta erva ou horta...
Quanto menos me sinto
Levado plo destino mais sou,
Assim o céu nos desprenda,

Quando menos se espera, 
As palavras soltam-se no ar
Prolongando velhas frases, 
E eu continuo ignorando

O que é viver com os pés
No chão, tentando perceber
O som que vem do céu
De minha boca aberta, 

Toda aberta do calcanhar
Ao fémur, passando p'la
Omoplata subindo a Cava
Veia deste meu coração

Sem terra, alta erva ou horta...
Quando menos espero,
Ser e desejar são a minha arte
E a minha arte sou eu num só...



Joel Matos (01/2016)
http://joel-matos.blogspot.com

David Ou...





Se bem como David
os meus dias mudam
Que nem olhos de peixe,
Se bem como David

O mundo me parece
Imenso e negro,
Se bem como David
O meu sonho não morreu

Ainda apesar de ferido,
Se bem como David
Cairei sobre a areia
Um dia triste,este...

Se bem como Elias
Só eu sei como são
Meus dias que detesto
Ser David sem ser Golias

Depois de desembarcar 
Na praia dos Helfos,
Mesmo os de sempre,
Com troncos árvores e tudo

Se bem como David,
Tanto do que digo é peixe,
Mudo ...



Joel Matos (01/2016
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Livre astronauta e leve







Voo livre de condição
Rumo a um nada existir, 
Espero tornar-me humano
Em breve qual astronauta

Do entendimento, sobre
O qual a Terra pesa
E o chão cresce em explicações,
Voo livre de condições,

Temo é só medir-me
De acordo com as medidas 
Terrestres e a do corpo
Humano, quanto baste

Pra que o sinta sem fazer 
Falta na condição de existir
Eu livre, astronauta 
E leve, tal qual uma pena







Joel Matos (01/2016
http://joel-matos.blogspot.com



Os amantes suicidam-se duas vezes




Os amantes suicidam-se
Pondo final à vida duas vezes,
Já eu não me decido
A amar a vida tanta, ponto final,

Fui vencido p'lo meu sonho,
De ansiar ser amado
E apenas me lembro,
Do sorriso suave da boca,

Sinónimo de paixão
P'la vida, quando a tinha.
Os amantes suicidam-se
Como se fosse nada, 

A vida sem depois, pois eu
Sinto o destino a sós 
Comigo e pela primeira
Vez faz tempo, lembro que 

Nos amá-mos os dois até ao ódio 
E a mágoa mas infelizmente 
Este não diz o que espero
E eu dele me desprego,

Os amantes suicidam-se 
E eu morro de um sonho outro
Que é ser amante do destino certo,
Mas não consigo, não posso

Ou não quero um, escrito
Em envelope fechado 
Um amor que, se bem me lembro,
Me fez medo da própria sombra,

Ou morte...



Joel matos (01/2016)
http://joel-matos.blogspot.com




Rua dos sentidos órfãos...



Sendo eu mudo não penso contar sequer
O que penso, os meus secretos medos
Revelar o que imagino ser dum cavalo
O trovão ou da consistência das nuvens 

Que vêm se desfazer contra o monte
Aponto a pouca voz que me resta nunca
A qualquer transeunte que passa
pois penso ser artificial o som que sai

P'las camadas que me revisto de lucidez
Pouca, impermanente... e desespero 
Por ser ouvido pelo que mora ao lado
Livre como um cavalo solto ao vento 

Inconsciente que aqui estou eu presente
Dando tudo o que imagino ser meu pensar,
Todos os sons que faço embora sem 
A flauta transversal de místico 

Que tanta falta me faz neste ofício
Infecundo de surdo-mudo na rua 
Dos sentidos-órfãos, nós todos, pedintes
E pão...


Joel Matos (01/2016)
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Calmo





Calmo como o sangue
Enxuto como um cálice
O que sofro nem volume
Tem, utilidade ou afago

De fruta no mercado
Calmo à meia semana afora
Calmo o mosto eu suposto
Guerreiro do fogo fátuo

Aquele que pra luz precisa
Ir depressa e correndo
De espada e lume
Calmo como areia ou saque

Em rescaldo de combate
É o meu nome secreto/salmo
Compraz-me a vida
E um século meio a esperar

Algo de quem não me acusa
Enxuto como um cálice
Calmo como sangue
O que sofro tem o volume

Que cabe na minha tranquila
Vontade à justa e no cálice
Da dita breve, difusa vida,
A palma...




Joel Matos 01/2016
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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Morar em volta de meus passos



                                                                                          (pintura atribuída a Adolf Hitler)





Tudo passa tão depressa
Que alma outrem nem para
Pra chamar, ao passar p'la minha
Casa, estando eu morto pra vida 

Toda, sem mostrar a ninguém
Quanto estava, quando estava...
Conquanto tudo passa, sem espera
E sem esperança pra um morto

Que espera toda'vida pela estranha
Qual chama de morte e vazia,
A chamava de vida, da sorte
Pouca como qualquer outra

Sem causa, passa e não para 
A esta porta e nesta fraca figura
Em causa, tudo passa excepto
A guerra galgando este modesto corpo,

Modesta a honra que na minha alma
Molesto e a dum transeunte que passa
Por passar, por minha causa chora
Sem me conhecer morto vivo,

Vivo morto se nem em casa nessa 
Vivo, mas onde tudo acha por bem 
Passar por passar, estando eu noutra
Parte, na porta que me resta galgar

Como um muro, pra murar em volta 
Dos meus passos por andar...



   




Joel Matos (11/2015




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Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...