sábado, 6 de junho de 2015

Posso soltar as asas...




Posso soltar as asas,
Abalar no vento,
Prender-me á liberdade,
Como um nómada d'outro tempo,

Mas só voo, se me fizer
Soltar do medo e do pensar,
posso soltar as asas,
E deixar a alma

presa ao peito,
Que jamais isso, 
Será voar a sério, sem volta
Nem pesar...

Sou tanto livre,
Quanto o coração
Me faça desaprender, 
D’o sentir normal.

Posso soltar as asas,
Pra aliviar o peso,
Mas penso simplesmente,
Que voar é adicionar-me ao vento,

Sem o apetrecho
Que carrego desde sempre e o peso 
Enganchado deste jeito,
Ao corpo morto,

Ele todo, ele todo…


Joel matos (03/06/2015)

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Homem Anão.









Homem anão.


Quantos Himalaias, quantos esconsos penedos
Deixámos de subir por faltar em nossas veias
As reais, paredes, alicerces e sem aparente razão
Ou medo das ameias, quando os penedos

Escuros, escudos nossos são, varas verdes
Sem jeito nem nosso respeito plo que as costas
Da natureza sente nas crostas e charcas
Mas consente não, consente não,

Quantas propostas e sermões damos a peixes,
E daremos em vão, sem nós mesmos neles crermos,
Quanto da nossa clarividência negamos
No nosso desassossego de cidade intencional,

Quantos dias temos em que o desapego vivemos não
Ou mais ou menos inconscientes, bêbados,
Quantos dias de comprimento tem uma vagem, parecidos sois
Mas superiores a mim,  todos servindo de pouco a quem não,

Quantos dias a menos tem um ano, de esperança em renascermos,
Quantas memorias do que fomos em criança e dos brinquedos,
Quando se está velho e "de parte",
Quanto somos? porque noutra parte de nós mesmos,

Menos tempo para o que fomos temos, neste coração
Sem dia, sem ano, nem termo,
Quantos dias a menos tem o ano dum crente, ateu
Velho, inadaptável, indesejável sem aptidão,
Na pseudo-alma das memórias deslembradas,

Que os velhos têm, sem não...sem não,
Nós somos o artifício e artífices de nós,
Quer façamos castelos nas nuvens,
Ou guardemos dragões nas nossas caves,

Quer castremos eunucos, pela voz,
"D. Juans" em lenços de linho fino,
Homens palha, ninfas do Danúbio, Homem puro,
Homem Dúvida, bezerro d'ouro,

Homem de latão, Idolatra,
Divisão (não apenas semântica),
Mais parece falta de chão,
Séptico, sem paixão, assintomático,
Que Homem estes são? ..Homens não,

Homem anão




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Joel Matos (09/04/2015)

sábado, 28 de março de 2015

Cansei.




Cansei de ser chuva,
Por quem nunca fui
Choverei d'enxurrada.
Cansei de chegadas

Morri de chegares,
Reclamei da estrada
Onde não passas,ou viv'alma,
Fiz do sonhar,

Milhares de coisas,
Inclusive cansar,
De pensar que o sonho
Me lavava,

E ele me levou
Ao mar covo,
onde não fui nunca,
No caminho,

Ainda pensei,
Voltar à terra,
Onde chorei enxurradas,
Por tudo e nada,

Sem caminho ou estrada,
A me tentarem,
Mudar a jornada.
Mil coisas

Inventei, mas levantei
E fui onde nunca
Cansei de ser eu,
Curva d'estrada,

Enxurrada, chuva,
Tudo ou nada,
Viv'alma, sonho,
Oxalá não chova tanto,

Pra voltar a ser
Feliz, neste
Outro quarto de lua,
Ou na rua.


Joel matos (28/03/2015)
http://joel-matos.blogspot.com

quarta-feira, 25 de março de 2015

Da suavidade.





A suavidade dos teus beijos
Arrepia-me como um banho
De hidromel e essências leves
Penas e sais desse teu leque

Pendessem dos braços, diria
Serem asas borboletas, aves
De penugens esses braços teus,
A suavidade breve dos beijos,

Prendem a mim, Deuses e Cristo
E todos os anjos do acrílico
Tecto, que a Cistina capela
Tem, nos sete véus de tintas

E em breus donde negro visto
Nem temer cristo, beijos embutidos
Como os teus nas frágeis vestes.
O tempo não suaviza a face dum velho

Tonto mas o sonho...ah! o sonho...
É como um banho de essência leve
Leve com os teus beijos de canja
Arcanja és, tal como Ofélia D'Elsenor


Joel Matos (25/03/2015)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Saudades...






Saudades de tudo mais,
São coisas que invento,
Quando penso no que
Não esqueço, sem que
Saiba, do outro lado da linha

Da metade de mim, se
Saudade sente ou partiu
Sem dizer nada mais que adeus,
Saudade se sente, eu sinto
Que ouço, vindo nem de-

-Perto, nem de-longe,
No que penso por dentro,
Ser a saudade sem ir embora,
Como se fosse um abraço
Do monge do sol-pôr,

Saudade sem a ter, verdade
Mais longe que perto,
Como tudo o mais saudável,
Que inventei eu, que seria
Da tua ida embora,

Sem dizer nada mais?
Água vai, apenas saudades,
Em tudo iguais, normais,
Que invento da linha mora
Ao pavio, da sereia ao rio,

Pescadores sem fio,
Saudade de tudo, eu mais
Da paciência, da espera,
Da urgência, da falta, da pressa,
Da esperança...








Joel Matos (02/2015)


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Pressa






Não tenho pressa,
A pressa é um apache,
Que me passa adiante,
E a mim não me apraz,

Embora ficar pra trás,
Não me adiante à presa,
Que nem tenho, por não
Ser capaz de ter pressa,

Sou capaz de sentir,
O que me interessa,
Mas pressa....
Tão depressa não,

Água na boca, perante
Um paladar, isso sinto devagar,
Uma limonada ou um absinto,
Uma chapada, antes de a levar,

Sem pressa pressente-se,
Quando a mão vai no ar,
E o copo quando cheio,
E cheira ao vício,

Mas como disse,
Não tenho pressa,
A pressa é o benefício
Do presente,

E eu sinto o futuro,
Como uma pedra,
Atirada no ar,
Não olho pra trás,

Nem escrevo romances,
De Tolstoi,
Sou Apache por inacção,
E por vezes Comanche,

Mas covarde não,
Covarde eu não.







Joel Matos (02/2015)

Ivan




Nada digas do Ivan,
Que seja Terrível,
Porque da fé se fez
Afã e na fome a miséria,

-E interditos todos nós-

Nada digas, nem te tentes
Do divã leito debruçar,
Porque alegria é sã,
E dormir um sexto disso,

-acredita em todos, não em mim-

Pra nada fazer bem,
Por defeito ou teimosia,
Eu sou o que de mim faço,
Nada digas de infame,

-Mesmo que espelhos tu vistas-

O nosso terraço,
Tem fissuras e as telhas
Positivas são poucas,
Temem o musgo que cresce,

Todas as estações do ano,

Mais, quando o inverno
É Imprevisível e triste.
Nada digas do Inferno,

Se nem Dante o viu, nem o verbo,
O fim do mundo é uma auto-pista,
Que em excesso de velocidade,
Apenas se sente,

Do coração, na boca o dentro,
Nada digas do Ivan,
Que seja terrível,
Ou em vão

Sempre é pior,
O que pode vir a ser ou aí vem,
Acreditam os tolos,
E penso eu que não, sim...

(Eu também)


Joel Matos (02/2015)

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No teu,meu povoado.





Na tua nossa rua há algo, povoado
De um lençol regato e dum lago,
Algo secreto, clandestino, privado
Quanto de Bello a rua tua tem,

Quanto de vê-lo, morre
em cada esquina um homem mau,
Na tua rua há um novelo velho,
que se tivesse a palavra Almada,

Seria modelo e Sena povoado,
Ou cidade ou o meu cabelo,
Morando nesta cidade sem fim,
no fio do fim do mundo,

Na tua nossa rua há algo,povoado
De esquinas, labirintos e jogos
Que minhas palavras são lagos,
Pouco profundos pra descreve-los,

Do chão ao cotovelo da rua,
Do lago onde namoro o meu,
Rosto narciso e posto ou
Suposto ter palavras sólidas,

Que sejam elas o asfalto,
Da rua do lago, no mês
Maior do ano em Agosto,
E do dia maior que Agustina fez,

Ou algum humano outro, do cotovelo
Atado aos pés, correndo correndo
Da Rua do Algo, numero 13 a negro,
Até ao lago que são os meus pés,

País de Agustina Bessa, luís,
Ruy, Bello, Jorge, Almada, Sena, Fer...


Joel Matos (02/2015)

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A casa das coisas.







A causa das coisas não é a coroa da cabeça
Onde moram e alinham, mas com quem as ama
E se casam, o que nos custa, quando a cava aorta,
As solta pra causas maiores, doutros ou doutrem,

Não admira chamar-se de milagre ao multiplicar
Da transfiguração de ideias em cubos, arestas cores,
Não sendo, nem vale a pena pensar nelas, pois
Se sê-lo, é um círculo, uma ciranda redonda,

Sem pedra, a causa das coisas, até da erva,
E de quem a ama como ideia, não como dogmas,
Sensuais e metamórficos são, quanto mais
Daquelas que se dão corda e vão, paralelas

Da nossa cabeça, pra outra e outra cabeça cava,
Saltitando feitas piões, desses de rolar, barulhentos,
Eternos, mas terrenos, como nós-outros, somos
A soma de dois, o que nos faz humanos imperfeitos,

A causa das coisas não é a cova da cabeça,
Como alguns alvitram e outros aventam,
Apertando os estômagos e os capachinhos escalpes
Ao olharem pra mim de lunetas, sorriem crédulos

Foi esse sorriso que me tocou e eu pensei
Ser da alma das coisas o toque que me tocou,
Tão leve quanto breve, leve ficou o meu pensar
Do facto de haver coisas que em mim se julgam,

Sem em mim estar, mas serem da casa das coisas.

















Joel Matos (02/2014)











quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Lisboa Tejo, Cidade Beijo...








Quem me dera não ter saudade de mim
Tanto, quem me dera ter presa à cintura,
Essa cidade madura, só pra não ser furtiva
a Saudade, mais tarde, quando partir

Sem mim e for embora da vila cidade,
Cidade afora, cidade mágoa, cidade que
Trago presa à cintura, cidade Tagus,
Na ponta dos dedos, saudade de mim,

Táctil e afago do hábito e dum cego grego,
Quem me dera ter a saudade assim, aqui
Dentro, como um lego e reconstruir das
Margens o Tejo e a cidade beco la dentro,

A minha cidade tem um mar preso,
Esse mar se chama saudade, tem peso
A minha saudade ,magoa-me e a espera
Um contrapeso, gémeo desta alma d’paredes,

Que de saudade ter se cansa, cidade
Me acalma, cidade me amansa no fado,
Tenho uma cidade presa à cintura,
Tem uma trança Tejo e outra me chama,

Amante e dorme comigo na cama,
Pena eu, cego não a vejo, não a beijo,
Cidade dispersa, cidade eu te beijo,
Desperta-me desta cegueira,- oh Tejo,

Pra ver o oceano imenso, lá longe, lá fora,
Quando me for, serás flor da saudade lilás,
Desta saudade que imerso no tejo vejo,
Afogo o meu pensar e o meu sonho

D’amar e saudar a cidade que amo,
Num beijo intenso, cidade insigne, viola,
Cidade meu signo, meu cisne, tejo
Meu lar de amor, onde Tu és Gente,

E eu teu fado, só plo prazer de ser fadista
Da canção que és, Tu também Lisboa…


Joel Matos (02/2015)
http://joel-matos.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...