sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Que encanto é o teu...





Que encanto é o teu, encerrada do forte da desgraça,
Cerca-te a miséria da descrença e a mansa murraça,
Que encanto é o teu, que possuis meus ais e meus
Vergões e os manténs na passagem do poial do juízo,

Tens a consciência dos minerais e os sonhos naturais,
Em filas, concêntricos como outros que encantas
Têm e não sabem expressar, senão no pensamento,
Que encanto é o teu que guardas a vergonha e retrais

O sentir "bera", pra sentires com os poros puros, por extenso
A plenitude dos pulmões na voz dos evidentes clarões
Que impelem a liberdade - que tu és e pensas,- viajam
Como pedras rochedos e granadas por causas,

E o encanto teu resgatado dos florestais relentos,
Que encanto é o teu, pousado no ombro e cotovelo
Por onde as abelhas fazem mel e sorris súbito,
Repentino, quando uma folha te roça o rosto perene

E virgem de moça e o fascínio começa, esvoaça
Consentido p’lo encanto eterno que a alma tua goza
Que encanto é o teu nas glosas que incessantemente
Convocas as hostes das minhas tropas pacatas fracas

Para guerras que ninguém vê, nem lembra na Terra,
Mas de qual tu, rainha, contas como glórias certas,
Causas justas, evidentes no sémen que brota e grita,
Qual vagem lançada a terra, num inominável recomeço

De esperança nesta terra de ameias, desgraças e peias,
Que encanto é o teu? Mulher Criança, Natureza Mãe,
Confiança…








Joel matos (11/2014)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

João Sente-Sóis...








João sen’campo nen'terra, João sente-sóis


Nasci tão complicado como um ser, qualquer um,
De infinitos nós, perfeitos, carecido d’asas e voar
Pra ser feito e meu o altar em qualquer espírito
Livre da água leito e terra Magna igual à minha,               

Lugar triste, sozinho. Aves do campo dela vêm mirar,
Viesses tu, à tardinha ver-me, lavrado sobr’terra,
Com’as outras aves do mar, nu sentirias,
Ancorado meu corpo ao solo como na alma minha

Só se pondo no meu olhar gato, de peixe pampo.
Há primaveras, tantas, tontas no meu viver,
No voo de campo em campo, cavado, daí beber,
Nas plantas de tua mão, ave, supondo eu -O Saber.

Triste sozinha ave, meu copo no teu altar astral,
De boda, vem de noite dormir, beber meu hálito, 
Debaixo do beirado, de bico baixo e d’asa torta
Abrigada do vento, tempo adufe e sem causa,

Vem, avezinha triste e vizinha, dar-me teu tempo e encanto
E tecto a mim, que sozinho estou, no meu campo, rio frio,
Avezinha tanto, desentristece-me avezinha encanto,
Com o canto teu, som da Terra. vinha..tenta, entra,

Canta lenta...tentacanta e encanta-me,
Vizinha triste, ave do campo sente, meus curtos bemóis,
Desenterra o canto, lê-me na voz de-quem-me-dera,
Entender a razão, da fome e dor, desta amada Terra,

Pois nasci eu, antes de nascer a Terra toda, quando
A realidade que me rodeava era rasa e bera
Campa e é aonde ando, andamos, clã sem terra,
João sem’campo, João sente sóis, quem me dera depois,

Por quanto, não senti nascer campos louro em pedras,
Pudera, tal abundância não se cria d’terra feia,
Nem no que se diz ter, ao nascer, o grã-canto das Aroeiras,
Flor, portanto eu canto, as vizinhas aves do campo, pobres…

Sem no branco pisar, porquanto era já espírito e ar,
Quando o mundo era pequeno e praticável e Amor
De quem sou eu? Tão complexo como uma flor d’estio
Que se crê ter alma completa e bem, serei também.

Nasci antes de nascer, sou natural ramo, fumo
De uma coisa quase banal que se chama coração,
E amo o espaço que se pensa vazio, a razão clama
Na minha frente, amo o entardecer, magnífico.

Como se houvesse verão cedo, bora a chuva caia, fria,
Pausa um vento, por tudo que em mim foge,
Sinto-me original no que sinto e fere
-Uma ilusão de Acácia ática folhosa, da enseada,

João sen’campo, João sente sóis, João sen’terras
Talvez seja verão perene (penso eu e a franca arveola)
Todo ano, as folhas sintam a minha seiva a galope
Com’um vulcão, sedo o calor da vida que me aloje

E o entardecer que me foge no momento
Cedo é ainda e a chuva que cai, forte e fria
Caía na minha frente, nascia nascente, corrente
Fonte e indiferente e eu enxuto, inexacto...cedia

Cedia ao meu coração-fogacho de fusão ardido-
(Tal fosse físico, fá-lo-ia paradigma no meu coração)
 Faz-me dor a paisagem e a margem quando flui de mim...
Paisagem, quanto pobre ave do campo,

Vizinha por sequela, vem Adélia meu amor,
E eu paro pra vos dar o meu amor-solo da terra dela-
TERRA BELA…Adélia meu amor.
João sente-sóis…


Joel Matos (11/2014)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Com o fim de ser feliz.







Demiti a razão real, com fim de ser feliz
Mas deixei um Gogol a cismar com os dedos
Das mãos e não fiz o que me enunciei
Ao maioral dos fracassados homens

Nada do que faço me faz o pensar gordo
E não m’espanto como qualquer um, gozo
Com a ciência como vício e a emoção,
-“Coisa de moles”, que deveria “dar prisão”

(De ventre).Temerário por definição,
Nas palavras que exprimem quem sou-não,
Pois revolta-me ter, todos os dias de igual,
A camisola e os botões da braguilha abertos.

Com o fim de ser feliz, tomei o café da manhã,
Um expresso, (o melhor desde que me conheço)
De braços abertos, entrei no obediente que sei existir
Em mim e que me leva ao sétimo andar direito

Do prédio por acabar e o Senhor deixou por-bem
Meio aberto. Quem me conhece sabe que dedico
O meu nariz a sondar comigo, o meio onde vivo,
O que o cheiro me revela, torna-se ópio pego ao céu-

Da-boca e no umbigo meu e a razão da felicidade,
Quer seja ou não perceptual ou comum extracto vegetal.,
Que da natureza fui buscar. Sou feliz porque não penso,
Abdiquei espontaneamente dos baraços da alma,

Da mesquinhez de Sacrossantas afeições e símbolos,
Deixei-os…com o fim de ser feliz.










Joel Matos (10/2014)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Poeta em falta...





Esgotei o tema da sabedoria
E a paixão deu em óxidos e corpos
Fecais a boiar anónimos imersos no escuro,
Pensamentos adúlteros, soltos

Queria ter meus escalpelos,
Cavalos à solta, fatais
Cascos e muito mais sal,
Que um mar morto. Eu, em fim de vida,

Esgotei o tema a teoria e a textura,
De que, o que na alma se faz, é d'ouro
E repousa no meu coiro, ou escombro...
Mas o vento mudou a fasquia

Que na terra estava pro tordo céu
Ainda que, a franquia não...
Não desacompanhe o razoável
E reles, paralelo pensar, tenho

Meu, não me outorgo poderes
Especiais, ou apostiços pelos, opto
Pelo que sei, em detrimento
Do que exclamo, rogo e do substituível

Sentido que possuo na manga,
Eu manquejo, de uma manca perna ou pata,
Que emprego quando não percebo
Por onde anda a minha torda veia de poeta,

Em falta…














Joel Matos (10/2014)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pudesse estar eu, no caixão comigo ao lado...







Puder estar eu no caixão comigo ao lado,
Puder eu aceitar-me acompanhado,
Na clausura de uma caixa preta por uma mortalha
Branca e outras coisas de pouca monta e ruim escolha,

Minha alma vive exilada do meu ouvido,
Tantas noites quanto perguntas, lhe faço dormindo,
Consciente de não ter vida na alma ou fala
Que possa sentir como d’ irmão ou fada  irmã na cela,

Pudesse eu olhar desta prisão de ar e hipocrisia, a essência
De mim próprio e alguém que diz ter toda a fantasia
Presa, da alma a outra ponta - Chamo-a e não responde
De volta e nem a linha, ao outro do lado nos prende,

Pudesse eu no caixão falar comigo como a um bom filho,
E o que falássemos servir pra mudar d’atavio e o feitio d’atilho,
Com que se prendem as almas imortais outras a outros
Tantos humanos, presos eles todos, por fios infindos e nós duplos,

De diferentes tons e nós cegos, quantos sem nós, quantos
Sem paz mas apegos, como uma mariposa, na ilusão da chama
A que se sentem ligados e mais se avizinham.
(Os sítios que assustam, têm lados outros que fascinam)

Pudesse eu no caixão, recluso morar, comigo ao lado.

Joel Matos (10/2014)


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Sem Dúvida...







Sem dúvida,

Podemos ser artificio de Deus, mas dentro de nós
Construímos artificialmente quem somos,
Damos legitimidade a um ser, que chamamos eu supremo
Oficialmente, nada tememos, senão amargo, dor e o amor q.b…

Quando calha, esse amor pode ser triste, como a fome
Dele, pode ralhar, sem falar, pode até matar,
Nem sei do que falo, nem sei o que sinto,
Quando do instinto, só fica tristeza e ínfimo vazio,

Nem sei se existe na natureza, outro amor invicto, infinito,
Tal como no coração humano, incrível, -invencível até,
Como se pudesse vir dos céus, a formula ideal, final
Mas… amarga desilusão na jornada do homem feito,

Quando calha o Homem pode ser general e fera, alquimia,
Mutilar a alma, eliminar, imitar um drama negro, desapegar
Os elementos que o destroem e consomem, fere e fundo
Como adaga maligna e uma medonha acha de guerra,

Empunhamos o amor assim, da mesma forma louca,
Insana e ao mesmo tempo louvável, (pra não dizer humana)
Como só um ser supremo, com um coração de imortal,
Que sempre se renova e aprende incansavelmente.

Quando calha, o amor humano pode ser prova disso,
Que o homem como Deus Igual...é grande…
Eu sei que lhes estou a falar do espírito, da dor e do perder,
Pois se, Deus é parecido em tudo comigo e contigo,

Homem, será sinónimo de amor, dor e de doar
(Procura pra se perdoar, Medita para se perceber )
-Ama sobretudo, pra se não perder-








Joel Matos (10/2014)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Medimo-nos em braças e em nós...



Se todas as fantasias são prodígios,
A verdade, - Uma proposta da razão,
Ao medirmo-nos em braças.
O sonho, - Um castigo de quem sente
Mais que todos, mais que muitos.

Nada digas, que me pertença demais,
-Da verdade, - pois a mentira mente por si
E, o que tudo o que entende, - Do tempo
Que não é parte do equívoco,
Reparte p’la metade a entropia,
Entre mim e ti, tu e mim…

-Do esquecer que não é mais verdade,
Nem menos da memória e da saudade
Ou da vaidade vã ou do sentir menor
Que o sentir do ser, que crê
Ouvir no vento o doce falar e o porquê
-Do existir, na pretérita pessoa, ela singular,
(De dentro, mesmo de dentro dela)

Mentira é o que é, -o dizer por dizer
Ao que tod’o vento preso vem,
O vento leva ou detém,
(Em mim está a mentira
Eu bem sei.)

Dize das coisas, que entre ti
E mim valia, Guarda todas, por bem,
(São doces palavras, doze)

-Doze nós, tem uma figueira
Ao medir-se dentro de nós, em vidas
Que a gente tem e não sabe explicar.

-Doze é a distância do braço
Iguais de uma à última cadeira,
De ponta a ponta de certa mesa.

-Doze, os carvalhos de uma clareira,
Todos leais, à sua maneira.
(Todos iguais, Todos Deuses)


Prodígios, nós…

Joel Matos (10/2014)
http://namastibetpoems.blogspot.com

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

É desta missão de cifra que sou e padeço...





Minha simplicidade veio e acabou,
Não me brindei brinquedo, bar fronteiriço
Doutra lógica dimensão a que não vou.
É desta missão de cifra que sou e padeço

É dela e do epígrafo que me meço, pensá-la
É imaginá-la de dentro, soo-me a desfavor do projecto,
Como uma leal bofetada a ressoar em pleno
Peito, lenta e repetida, autentica, crível

Creio-a real e é-me devido crer no que acaba
(Temporário sacerdócio de existência do ser)
A minha simplicidade veio e acabou. Sem facho,
Estive corpo presente no santuário, me cerca

A hora de pertencer à intenção que inspiro. Sinto
No despido corpo, em tudo igual ao pó, eu só.
Reconheço a loucura só de a ver sorrir, pelo tom,
Que chorar me faz falta, por cínico que seja eu,

Sei que choro e acabo esquizofrénico d'o sentir
Mesmo que o meu chorar seja a rir do afinal
Das coisas que, nem têm sentir, apenas conveniência
Meias, entre lidos sinais, ilusão provada do meu pensar.

(É desta missão de cifra que sou e padeço…)


Joel Matos (10/2014)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

morcego ou gente...



Tenho a alma perdida, insatisfeita tanto
Como a noite alonga o que não sei,
Ata-me ao defeito que sou todo
Eu, à nódoa, ao incompleto, à coisa,

Ao morcego. em gente.

Por isso e como a noite é longa, sei
O quanto eu espero desperto,
Por tudo o quanto não sou, lamento
Noite adentro e confesso-me morcego

Não gente. Confesso que,

Ao certo nem sei se durma de vez,
Ou se estarei acordado infinitamente,
E atento, ao que não sei, nem a noite diz:

-Morcego ou gente

Não digo mais nada até ver o que acontece
Ao que digo sem falar comigo de frente.

(Eu, morcego de gente)

Hoje, nem por nada quero agradar,
Nem pela vontade, nem pela verdade,
Nem nada de novo tenho pra dizer
Na verdade que nem vontade tenho,

Nem de morcego nem de gente,

Por isso não digo nada até ter-me,
Frente a frente na noite (de novo)

Morcego ou gente…mostrengo  em gente…



Joel Matos (10 /2014)
http://namastibetpoems.blogspot.com

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Tida...


Quando olho para mim, de cima de meus passos
E’ que sinto as mágoas e percebo
A razão deste existir nascido anão, junto ao chão,
Da azia e da sensação de respirar,

Tão parecida com o medo de morar
No dia a dias da vida, de existir, se deixei
Pra traz a alegria de ser criança,
A aldeia dos meus caiados traços...

Não, nunca olho para cima não,
Porventura não reparei,
Se sou eu, quem se senta nos telhados
Ou nas tábuas e nestas ripas cortadas rente,

Nos campos cansados de pertencer
À fadiga e à dor da sua gente.
Quando olho, por cima dos meus passos,
É que percebo, a dor que é partir,

Do ar que respiro, pra outro
Que nem a mim me pertence,
Nem foi pra mim, talhado
Por machado algum, perecido ou criado,

Sou filho de terra pobre e fendida,
Não sendo fraco nem forte, sou vida
Duma casta nobre e diferente, chamada d’alma
Gentia, que cresce, cresce pla Arriba acima.

Perene, assim haja não outra vida em mim,
Como esta eu tenho…tida.


Joel Matos (10/2014)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...