segunda-feira, 1 de abril de 2013

(Na cidade fantasma que é o meu pensamento)




O meu pensamento é uma cidade fantasma,
Ruas suspensas, submissas ao tempo, ruínas de templos
E os gemidos dentro das casas, (acaso possuíssem alma)
Seriam ténues, não me prendessem tatuagens nos braços

Nas frases austeras que um esquecido astrólogo segreda
Ao meu pensamento. É uma cicatriz que dói, aberta
Quando se remove com a unha, pra não ficar dedada.
O manto da invisibilidade é a sua cómoda coberta,

A manta de lenços e papel que absorve qual mata-borrão
(Fico sem saber se é natureza murcha ou decalque da morte)
E depois me atira ao acaso, nessa cidade de casas sem chão,
Fixas no ar, vazias de tudo, como absurdas obras de arte.

O inesperado e talentoso verso pode nem surgir nele,
Como por encanto, mas por enquanto, vai alternando
Entre ouvir-me e surpreender-se a si próprio, do seu pensar
Estranho. Às vezes tenho pena de quem não imagina, tendo

Eu, nas mudanças de rumo deste pensar, a visão máxima
De assombro, quando dou por mim no fim, a voar sobre campos
Que não sabia existir no inicio e a cidade se alastra e o tema
É o poema e ele se transforma, na casa dos meus sonhos,

(Na cidade fantasma que é  o meu pensamento)


Joel matos (04/2013)

terça-feira, 19 de março de 2013

Vivesse eu na paz dos imortais




Vivesse eu na paz dos imortais

Tivesse eu, fé nos lábios meus, quando escrevo
E majestade nos dedos; resgataria o frenesi
Cativo nos frutos da paixão, tornaria servo
O aroma do azul motim e o esplendor da relva no jardim
Tivesse eu, a fé de recheio em mim, como um ovo,

Que nem humildes nuvens me suspendem os beiços,
Como posso sentir, o sentir de Deus, em “technicolor”
E alterar o pão em vinho se depois, reparto pedras, teixos
E amostras sem valor de poemas “multiflavor”.
Antes que os medos e o receio me vençam, quero ter dedos,

Como se falassem a Deus, na fala de Prometeu. Se s’crevo,
O que não diria eu, sendo dele, pra’além d’afiançar
Ser sentido, apesar de não ser real, o meu canceroso acervo.
Vivesse eu, na paz que os imortais assumiam como seu samsara
E pudessem minhas mãos florescer, na estação do novo,

Teria eu, fé nos lábios meus, enquanto soberano
E poderia ter ameias de plácidos castelos, nos rombos dedos.
Vivo eu no contraditório dos normais,
Sou desconhecido nesse paradeiro e meu dom,
Habita escondido, sem o saber, no coração dos imortais…

Joel matos (03/2013)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Poema Con-Dom


No meu reino soberano,
Literal e literário,
Vivo danado e mundano.
Apesar de não cometer adultério,

Sou moralmente insubmisso
Ao casamento, como ofício
Santo, casto e excelso.
A minha fé é lei e um seio,

E as sedas dos soutiens,
Minhas donzelas e amantes,
Os mamilos…ah, os mamilos
Citrôenes, dois sinetes elegantes.

No meu reino soberano,
A soprano é-o, de coração
E é nela que me venho,
Num peculiar padrão,

Fardado de tenor solteiro,
E patrão do esperma.
No meu reino, sou rei
Do que é ser poema

Liberal e libertário,
Sou o serralho d’um pragano,
Pingo de galheteiro,
Delegado do engano.

O meu mundo não é Terreno,
E mais dia, menos dia, mando
O reino pro aterro,
E demito o Dom…

Joel Matos (02/2013)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Houve tempos


Houve tempos em que os sons do celuloide valiam
Mais do que simples palavras, momentos
Em que as imagens saíam do ecrã do cinema
E eu sabia de cor o que diziam os lábios mudos,

As mãos vacilavam, nervosas sob a luz tremula,
Ansiosas pelo toque da companheira do lado,
Suspendia-me na respiração solene dela,
E esquecia o enredo da película que estava vendo,

Na frágil ilusão do filme, esquecíamo-nos da noite,
A vida corria como se fosse uma original edição,
E o que se passava na tela era tão naturalmente aceite
Que orvalhava os olhos e acelerava a pulsação.

Não havia ontem ou amanhã, o tempo esvoaçava,
Espantávamo-nos com a nossa timidez espontânea,
As juras de amor seriam aceites? Saberiam a saliva?
Ou a salva da pastilha-elástica? Sei que provocavam insónia

E repetia tantas vezes o mesmo nome até ficar exausto,
Mas era como se o trouxesse, dentro de mim grudado,
Mesmo depois, quando ficava sozinho no meu quarto,
Recordava os momentos com ela segundo a segundo,

A despedida à porta da sala de cinema, pungente,
Acaso morresse de sede, tendo um rio de agua a porta,
O coração que queria voar, preso por uma corda
À garganta até faltar o ar, a frase não sair autêntica…

Também não eram mais que simples palavras,
O ágil rumor das folhas, nas árvores
A caminho de casa, reclamavam das minhas
Acanhadas frases, saciadas com um beijo na face…

Houve tempos em que me encantava 
por tudo e por nada


Joel Matos (02/2013)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Quem


Quem vos deu penas, pra irdes vestidos de trapos,
Quem vos deu o dentro, se não mitigais o desalento,
Quem vos deu cada gota de saliva onde morreis alagados
E nas palavras cruas que vos não saem pelo grito.

Quem vos dissolveu, na vontade das feras mansas,
Quem vos tirou a verdade e a revolta da alma,
Quem vos amarrou, nos cobertores às camas,
E nos rostos das vossas crianças, a solidão estrema.

Quem vos atirou o medo pra gamela,
E a angustia p’la janela do quarto adentro,
Quem vos injuria, como meros cães de palha,  
Se nas batalhas d’antanho vos invocou de guerreiro.

Quem vos roubou a serenidade do olhar,
Quem vos vendeu dos ombros aos artelhos,
Sem permissão para sequer correr, sonhar
Por noites lunares e bondosos amos…

Quem…

Joel_Matos (02/2013)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Meca e eu...


O que importa, na espera,
É a presença em falta, severa,
Pesada como um lastro,
Silenciosa como um claustro

A causa do mal todo…
E espero…que importa,
Curvo ou cansado,
Caneta sem tinta,

Cheque careca,
Invisível céu,
Cabala de Meca
E eu…

O que importa,
São as ilusões,
Dando à costa,
Presas aos anzois

E os sonhos, guardanapos
E nos pratos,
Os restos da tua presença,
À mesa.

O que importa,
É que creio,
No que me encanta,
E no que me sorriu,

Até ficar sem fala,
D’ouvir o olhar sorrir…
(Ah…e o falar dela!)


Joel-Matos (02/2013)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Por cada desejo meu...


Quero que, cada desejo meu,
Tenha aviso de despejo,
Já que minha alma cheia, encheu
De mil batalhas, todas sem despojo…

Não sei fazer mais nada,
Senão celebrar o que não persigo e não digo,
As conquistas são o sermão e a soda
Sarcástica, por qual rojo e me esfrego,

Detestasse eu a ferrugem,
E seria um prego de ferradura,
Apodrecido num chão de forragem,
Numa estalagem d’outra terra…

Um desejo que ainda perdura
Dela, são das tabuas, o rangedo,
Assim minha poeira pousa, afora
Do contexto mais desconfigurado,

Que o meu ensejo tem,
Hóspede de nenhum lado,
Vago e magro, sem vintém…
Porém ouço-me seduzido…

Viro-me mas não sou eu
Com quem almoço, mas o nojo
Que minha escrita fede a meu.
Quero que, por cada desejo

Despedido outro seja réu,
Talvez o de pompa, porque não?
Se todo o meu instinto se perdeu
No ânus de um cão…

Joel Matos (02/2013)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...