quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Lágrimas de Fedra


Choro lágrimas de Pedra por não ter fé no destino…





Eu sou aquele que tem destinos soltos,
Todos me tocam apenas de passagem,
Alguns têm emoções, cósmicos silêncios ou sussurram gritos
Mas nem partilham totalmente da minha viajem

Ou da mesma vertical cidade.
Mas mesmo assim deixam saudade,
E um edital fixado na porta
Anunciando a data da provável volta,

(Como se eu ainda estivesse por perto)
Imagino que os vou regurgitando da minha cava boca
Por me supor morto
(Ou apenas pense que não estou por cá.)

Antes de partirem dão uma última volta
E vejo-os fingir que me esqueceram já,
Partem para uma causa justa,
Abandonam o peso do arcaico eu mais ruim que há,

Deixam um autografo pregada na porta,
Perguntam se quero que voltem,
Na dita morada que tinha como certa
Ou que se quedem por outra vã paragem.

Estará sendo insincera a minha alma indigente,
Se não disser que choro lagrimas de Fedra.
Assim como outro qualquer na barca dum Caronte
Ou com um destino tão perturbado como “Frida”,

O mais certo será nenhum destes excelsos destinos ter
Nem a fé d’eles mesmo... oriunda das regiões antípodes…


Joel Matos (11/2012)
http;//namastibetpoems.blogspot.com


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Não paro, não escolho... e não leio.




Tenho um xis que me trai o pensamento
E que me trás vedado por fora mas não por dentro
“O mais certo é o bezerro ser de ouro e exótica a alma”
Estranha ilusão assim... E que parodia sou"d’Esopo"

Que dói até a quem me dou, se me choro é porqu’sal
‘Inda se desprende d’est’alma e ignora que morro.
-Sou misto do que desejava mais ser e daquele
Meu corpo de fora, rodeando um tal’outro

Defunto, mais intrínseco, não (tão) real
Como a face que vi ao espelho (copia d’cripta sem brilho.)
-Nasceu de uma vontade curta e lateral
No olhar nervoso desta amanhã, sem aparente explicação

-Define como sendo charneca seca o meu domínio,
É ela que despovoo e depois lugar onde desembainho o coração
E é aí que me dou, no horto que me dói em vão.
No meu repto vem escrito bem explicito esse duro vazio

Declarado ao vento: - ainda pensei ser rei
Do leste, dos esquilos saltitando e dos sonhos que sonhei.
-Semeei-os nessa desvairada extensão
Entre o brilho do céu e os termos que permito

E dentro deste meu coração “caracol de ermita”,
(Como se de emoção em tomos e camadas fosse ele feito)
A frase do meu epitáfio será a ausência desta,
Ou a versão mínima de certo actor distinto

“Não ter opinião é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.”
Portanto não paro, não escuto e não escolho
E…se escrevo, não leio…








Joel Matos (10/2112)









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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Diáfana Profissão...





Detesto esta Diáfana vocação:

Onde jamais alguém me pede que escreva um poema,
De modo que apenas o auto-arbítrio me condiciona a vontade,
Acontece por vezes evocá-la dentro de mim e ela me chama,
Como um rito que retoma uma velha e ignota irmandade.

Entranho depois a forma como cada frase soa e aí a deformo e mudo,
Brinco com as palavras, depois imito outros sons um pouco ao acaso,
Como por engano e por isso deixo sempre um diáfano véu suspendido
Sobre este mundo que tanto tem de meu como tresanda a falso.

E se ainda me convenço que é meu tanto que digo e escrevo
É porque não mereço a alta luz nem os louros duma só noite de estrelas,
Melhor seria espreitá-las por entre esgalhos e continuar com’outro qualquer cervo
Que ser avaro crente de que só poderei ser gente s’alcançar alguma daquelas,

Bastando p'ra isso q’alguém não me considere simples borrão anódio.
Bem sei que deixa inconfundível rasto tod’a gente que tem dessa vocação (ou talento)
Mas não deixam de ser antónimos os termos infinito Tédio e ansiado Pódio
E se ninguém me pedir que escreva outro falso verso eu não protesto…

 Tenho pouca  (talvez má) fama nesta pretensa vocação que professo 
E é isso que eu  tanto lastimo como detesto...


Joel Matos (10/2012) 
http://namastibetpoems.blogspot.com 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nem os olhos me lembram, o que eu quero ver...


Nem os olhos me lembram, o que quero eu ver,
Nem nos braços repouso do viver sem fundo, contudo
Se tudo não passa de um desejo escavado
No abandono desta forma concreta do meu ser,

Não será consagrado o dia em que morrer,
Nem o modo, nem o que de bom ou menos mal fizer,
No meio.  O mistério do céu nocturno sugere aconchego,
Por saber que isso é tão verdade, o nego.

Porque não quero acreditar em nada do que realmente vejo,
Não me serve de alívio ocupar ainda mais os sentidos,
Sinto por vezes que até os loucos ou cegos eu invejo,
Mas tal como os mastros somente se tornam úteis aos ventos,

Talvez tenha eu apenas o peso na Terra que me compete,
Se os olhos me lembram do que não posso ser,
Acaso ainda troque esta por outra vida menos torpe
Ainda que o engano seja a única parte íntegra… a meu ver.

Cedo deixou de ser incógnita a madrugada,
A nortada e o vento, são quem sou, inconstante …cada instante,
Dono de uma ilegítima alma dividida,  
Que não sabe se há-de ser, triste ou …contente.

Se nem os olhos me lembram o que quero eu ver,
A confissão da noite ou a convicção do dia…

Joel Matos (06/2012)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Às outras coisas que de mim conheço...


O universo

Torceu-me os sentidos, como uma mó de moleiro
Destroça o trigo e a sua presença dentro de mim,
É impossível de expressar nas palavras que me lembro,
Ou que esqueci como uma coisa ruim.

Mas porque continuamos nós falando ainda
Se não há nada na linguagem nossa a precisar ser dita
Ou que não tenha sido por demais esquecida,
Sem nos dar mos disso, conta.

Vou confessar em pensamentos o que não disse
De voz viva ou em atentos silêncios,
Sentados num jardim parado como se ele esperasse
Que finalizemos esta conversar a dois.

Torceste-me os sentidos como uma mó de moleiro
E por isso jamais chegarei ao derradeiro verso
E por mais que não diga o silencio universal; prefiro-o
Às outras coisas que por aí conheço.


Joel Matos (03/2012)
http://namastibetpoems.blogspot.com

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O ruído da rua...



Apesar d’as janelas estarem abertas de par em par,
Todo o ruído lá fora se diluiu, sumido no ar…
Uma criança que chorava breve, o cochichar das velhas
Sobre vidas que não as suas, a indefinição das ruas

Num refrão constante, com todos os sons e notas
Que chegavam aos meus ouvidos, como um respirar
De pautas musicais, escritas nos vitrais abertos,
Lembravam-me místicas visões e novas versões de credos,

Que o não eram, não deparava com magos nas vielas
Nem fadas, nem gnomos nesse mundo de mil celas,
Apenas janelas de imitação em magros corredores de cal,
Mas onde todos os sons soavam para mim de forma original,

Eles, como eu, não durámos para sempre,
Não escolhemos o vento que nos soprava
No ouvido o respirar do universo, como se fosse
Algo que se ouvisse (um pensamento, uma frase…)

Sussurro agora do vazio que tenho no fundo do coração,
Os sonhos que outros já sonharam nesta mesma mansão,
Apenas as surdas janelas continuam ainda abertas,
Mas as velhas da rua não passam , nem consigo mais ouvi-las…

Joel Matos (02/2012)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

D'aqui até ao fim é um pulo...


D'aqui até ao fim do mundo é um pulo…
Se eu disser que, na vida nada fiz, minto
Trago sempre comigo uma peça de pano
Que desdobro neste plano deserto

Quando paro, sendo raro é apenas para virar
De novo o caminho direito, (por vezes chato)                          
E acrescentar nele outro e outro ressalto
Pra quando salto, não vá este s’rasgar,

Porque d’aqui, até ao fundo é um mero salto,
Prefiro não pensar nisso, tampouco
Num vaso que nem parece caco, nem muito gasto.
Talvez sejam pensamentos de louco,

Mas a vida nunca me soube tanto a infinito
E seria melhor sentida, se não descresse do que sei,
E descrevesse umas linhas rectas nas curvas do meu desalento,
Com a serenidade que o meu espírito acresce,

Sobre a clareza, se acesa nem sei,
Nem esta m'engrandece...

Joel Matos (01/2012)

sábado, 31 de dezembro de 2011

O resto do monólogo... não irias entende-lo


Aqui estou, sossegado, escondido,
Longe da vista e dos mistérios
Do existir, de tudo, do mundo.
Aqui estou, sem me fazer notar muito

Nos meus gestos duplicados.
Supondo ter sido tudo dito,
De quando enquanto fecho os olhos
E é num sonho branco que admito

Coabitar sozinho com a eternidade.
Neste inexplicável casulo,
Quase um Confessionário de padre,
Num sossego nulo…

 (O resto do monólogo... não irias entende-lo
Nem te servirei eu de consolo ou conselho)
Afinal nada de novo acontece neste mundo velho,
Eu continuo oculto, morando frente ao espelho.

Joel matos (12/2011)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No espaço entre o "desrumo" e a senda


Sou o intervalo entre o desrumo e a senda,
Sol numa esplanada, encerrada ao público
No Outono, inútil, injustificada…
Seria um cata-vento doméstico,

Enfadonho como qualquer outro,
Se fosse feito igual, metade em pedra,
Metade em metal duro,
Onde uma perra nota de rabecão sempre sopra.

Confesso confiar na demora
E não me canso de espreitar p’la rija
Porta de escora e ripa
Embora esta tenha mais de mediana altura.

E o que d’inconveniente esta diz ter, não m’importo
Pois a solidão sela o meu corpo inteiro
Do inclemente vazio…do incerto
E da ilusão do real, ser igual a leste, ou a sol-posto…

No espaço vago entre o desrumo e a senda.

Joel Matos (12/2011)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É inútil povoar a conversa com todo este silêncio...



Corre um silêncio pela tarde afora,
Como se fosse ordenado
Recolher geral nesta terra,
-Onde ainda penso que resido .

(Precisamente no r/c esquerdo
Numero treze e meio-fundo)
Sinto o peso do mundo,
Destes mudos, cheio…

E penso desistir de querer viver,
No silêncio grosso,
D’esta vida por esclarecer,
Em que me roço e me coço,

-Se nem isso me aquece ou arrefece,
Nem me torna maior ou menor gente,
Nem sou propriamente quem a verdade conhece,
E faz dela o vento norte,

Nem vejo como útil, prolongar na surda rua,
 A minha muda conversa…

Joel Matos (11/2011)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...