terça-feira, 31 de janeiro de 2012

D'aqui até ao fim é um pulo...


D'aqui até ao fim do mundo é um pulo…
Se eu disser que, na vida nada fiz, minto
Trago sempre comigo uma peça de pano
Que desdobro neste plano deserto

Quando paro, sendo raro é apenas para virar
De novo o caminho direito, (por vezes chato)                          
E acrescentar nele outro e outro ressalto
Pra quando salto, não vá este s’rasgar,

Porque d’aqui, até ao fundo é um mero salto,
Prefiro não pensar nisso, tampouco
Num vaso que nem parece caco, nem muito gasto.
Talvez sejam pensamentos de louco,

Mas a vida nunca me soube tanto a infinito
E seria melhor sentida, se não descresse do que sei,
E descrevesse umas linhas rectas nas curvas do meu desalento,
Com a serenidade que o meu espírito acresce,

Sobre a clareza, se acesa nem sei,
Nem esta m'engrandece...

Joel Matos (01/2012)

sábado, 31 de dezembro de 2011

O resto do monólogo... não irias entende-lo


Aqui estou, sossegado, escondido,
Longe da vista e dos mistérios
Do existir, de tudo, do mundo.
Aqui estou, sem me fazer notar muito

Nos meus gestos duplicados.
Supondo ter sido tudo dito,
De quando enquanto fecho os olhos
E é num sonho branco que admito

Coabitar sozinho com a eternidade.
Neste inexplicável casulo,
Quase um Confessionário de padre,
Num sossego nulo…

 (O resto do monólogo... não irias entende-lo
Nem te servirei eu de consolo ou conselho)
Afinal nada de novo acontece neste mundo velho,
Eu continuo oculto, morando frente ao espelho.

Joel matos (12/2011)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No espaço entre o "desrumo" e a senda


Sou o intervalo entre o desrumo e a senda,
Sol numa esplanada, encerrada ao público
No Outono, inútil, injustificada…
Seria um cata-vento doméstico,

Enfadonho como qualquer outro,
Se fosse feito igual, metade em pedra,
Metade em metal duro,
Onde uma perra nota de rabecão sempre sopra.

Confesso confiar na demora
E não me canso de espreitar p’la rija
Porta de escora e ripa
Embora esta tenha mais de mediana altura.

E o que d’inconveniente esta diz ter, não m’importo
Pois a solidão sela o meu corpo inteiro
Do inclemente vazio…do incerto
E da ilusão do real, ser igual a leste, ou a sol-posto…

No espaço vago entre o desrumo e a senda.

Joel Matos (12/2011)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É inútil povoar a conversa com todo este silêncio...



Corre um silêncio pela tarde afora,
Como se fosse ordenado
Recolher geral nesta terra,
-Onde ainda penso que resido .

(Precisamente no r/c esquerdo
Numero treze e meio-fundo)
Sinto o peso do mundo,
Destes mudos, cheio…

E penso desistir de querer viver,
No silêncio grosso,
D’esta vida por esclarecer,
Em que me roço e me coço,

-Se nem isso me aquece ou arrefece,
Nem me torna maior ou menor gente,
Nem sou propriamente quem a verdade conhece,
E faz dela o vento norte,

Nem vejo como útil, prolongar na surda rua,
 A minha muda conversa…

Joel Matos (11/2011)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Inquietação sem Fugas


Se eu mandasse, voltaria ao contrário a curva do tempo,
Sentiria replicar na alma fria e vaga o sentir profundo,
Onde é mar batido, afundava aí o meu corpo
E nas ondas me envolvia, desse vagar de mar vagabundo

E ainda acabava por ter aquele odor, que tem do lodo, o sargaço
Da maré-baixa; talvez por nada ter de salgado esta outra vida,
Teria no cheiro algo imenso e um nobre pertenço
Como se outra fosse, não esta minha, “ brisa plagiada “.

Da curva fútil do tempo, onde a realidade é feita em céu
Continuo sendo um nada, nem a sombra do mar morto
Reconheço como sendo vestígio meu,
Sendo apesar de tudo o cais onde eternamente me acosto.

Se eu mandasse, voltaria ao contrário o mundo,
Na beira punha os olhos e os mares no fundo do coração
E eu andaria nu por essas estradas curvas, velejando
A minha inquietação em fuga…

Joel Matos (10/2011)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entre o ser e o defeito




Se eu pudesse ter no ser, o que não cerro
De facto no peito. Inquieto e fraco,
Não trairia na consciência, um sonho outro,
Quando sonhava um sonho ilógico

Em que não disfarçava o que sentia. Tinha fé, confiança
Em mim e num desvairado céu em arco,
Na distancia verde/anil e autêntica,
Mas no fim dele, não encontrei

A ponte que, dizem-da existência
Ter a resposta, nem o festim da dita…
Aguardo ainda o dia de partir, à rédea solta,
Montado na minha outra alma favorita

E sentir-me como ela, peculiar…
Mas sem lhe pertencer na veleidade.
O que sinto agora, só de a pensar,
Leva-me à visão fugaz, d´um ouro prometido,

Que não encontro no fundo do espírito.
Acordo horas antes de expirar o meu tempo,
Viajando seminu, sob uma abóbada cinzenta,
Encerrado perpétuamente, entre o ser e o defeito.

Joel Matos (09/2011)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Proscrito



Dou por mim mendigo de porta em porta; como sem querer,
Abro caminho numa estreita paisagem escrita,
Não que seja uma perfeita, secreta, ou passagem metafísica,
Como as passagens têm eternamente de o ser,

Mas a paisagem do meu ser é restrita e reescrita,
A meu bel-prazer.
Só pode ser consumada se acedida por dentro,
Sempre por uma embocadura estreita.

Assim que passo por ela, sinto o coração doer, doer…
E não sei d’onde essa dor resulta,
Sei que vem do fundo da passagem do meu querer,
Num silêncio frio de natureza morta.

E onde no vento alado se transporta
Todo o desejo de encontrar em mim  a paz ?
Vou por aí como uma vela que se apaga,
Ficando apenas a paisagem vaga por traz.

Abro ainda e de novo a janela
E de fora, apenas a noite, me fala
De um invisível veto,
Que cala tudo aquilo por que existo…

Joel Matos (09/2011)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...