sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É inútil povoar a conversa com todo este silêncio...



Corre um silêncio pela tarde afora,
Como se fosse ordenado
Recolher geral nesta terra,
-Onde ainda penso que resido .

(Precisamente no r/c esquerdo
Numero treze e meio-fundo)
Sinto o peso do mundo,
Destes mudos, cheio…

E penso desistir de querer viver,
No silêncio grosso,
D’esta vida por esclarecer,
Em que me roço e me coço,

-Se nem isso me aquece ou arrefece,
Nem me torna maior ou menor gente,
Nem sou propriamente quem a verdade conhece,
E faz dela o vento norte,

Nem vejo como útil, prolongar na surda rua,
 A minha muda conversa…

Joel Matos (11/2011)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Inquietação sem Fugas


Se eu mandasse, voltaria ao contrário a curva do tempo,
Sentiria replicar na alma fria e vaga o sentir profundo,
Onde é mar batido, afundava aí o meu corpo
E nas ondas me envolvia, desse vagar de mar vagabundo

E ainda acabava por ter aquele odor, que tem do lodo, o sargaço
Da maré-baixa; talvez por nada ter de salgado esta outra vida,
Teria no cheiro algo imenso e um nobre pertenço
Como se outra fosse, não esta minha, “ brisa plagiada “.

Da curva fútil do tempo, onde a realidade é feita em céu
Continuo sendo um nada, nem a sombra do mar morto
Reconheço como sendo vestígio meu,
Sendo apesar de tudo o cais onde eternamente me acosto.

Se eu mandasse, voltaria ao contrário o mundo,
Na beira punha os olhos e os mares no fundo do coração
E eu andaria nu por essas estradas curvas, velejando
A minha inquietação em fuga…

Joel Matos (10/2011)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entre o ser e o defeito




Se eu pudesse ter no ser, o que não cerro
De facto no peito. Inquieto e fraco,
Não trairia na consciência, um sonho outro,
Quando sonhava um sonho ilógico

Em que não disfarçava o que sentia. Tinha fé, confiança
Em mim e num desvairado céu em arco,
Na distancia verde/anil e autêntica,
Mas no fim dele, não encontrei

A ponte que, dizem-da existência
Ter a resposta, nem o festim da dita…
Aguardo ainda o dia de partir, à rédea solta,
Montado na minha outra alma favorita

E sentir-me como ela, peculiar…
Mas sem lhe pertencer na veleidade.
O que sinto agora, só de a pensar,
Leva-me à visão fugaz, d´um ouro prometido,

Que não encontro no fundo do espírito.
Acordo horas antes de expirar o meu tempo,
Viajando seminu, sob uma abóbada cinzenta,
Encerrado perpétuamente, entre o ser e o defeito.

Joel Matos (09/2011)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Proscrito



Dou por mim mendigo de porta em porta; como sem querer,
Abro caminho numa estreita paisagem escrita,
Não que seja uma perfeita, secreta, ou passagem metafísica,
Como as passagens têm eternamente de o ser,

Mas a paisagem do meu ser é restrita e reescrita,
A meu bel-prazer.
Só pode ser consumada se acedida por dentro,
Sempre por uma embocadura estreita.

Assim que passo por ela, sinto o coração doer, doer…
E não sei d’onde essa dor resulta,
Sei que vem do fundo da passagem do meu querer,
Num silêncio frio de natureza morta.

E onde no vento alado se transporta
Todo o desejo de encontrar em mim  a paz ?
Vou por aí como uma vela que se apaga,
Ficando apenas a paisagem vaga por traz.

Abro ainda e de novo a janela
E de fora, apenas a noite, me fala
De um invisível veto,
Que cala tudo aquilo por que existo…

Joel Matos (09/2011)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Virgens da deusa "sida"





Viro todos os lados, todas as quinas, todas as ruas
Onde sempre se escondem da vista, nos morros,
Os prostitutos e os mendigos dormindo nas caixas
De papelão amolecido em sonhos sumidos,

Vejo tudo isso, como parte normal da paisagem,
Que sob um largo céu, algum dia, alguém esqueceu
Ter sido tudo feito, à sua própria imagem.
Gastei toda a fé, escavando um deus menor, mas que fosse meu,

(Mesmo que estivesse já acabado e extinto)
E descobri que continuo, não só de olhos fechados,
E assim alheio ao que não me importo,
Como pra’ além disso, imito ao que aos outros

Parece mais certo, viro de todos os lados todas as ruas,
E visto-me, também eu, da ilusão desaparecida
Das “putas” das ruas mais escuras, fundidas
Na palidez do luar, como se fossem virgens da deusa “sida”.

Joel Matos (09/2011)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Não é fácil à razão ignorar-me...




Não é fácil à razão ignorar-me,
Se jamais terá ligado,
O meu exacto nome,
Às sombras do olivado pardo,

(Onde alguém sabe quem sou),
Como me posso eu supor
Autêntico se deveras, vou
De falso ao enganador,

Num salto de leopardo,
-Ainda acredito na razão inacta,
Como uma lenda por acabar,
(Caso haja alguém que a desminta)

Quem mais senão ela pode saber
Quem sou: No fundo, um vulto
 Agachado num ermo qualquer,
Vencido num combate inédito.

Como é difícil em mim confiar,
Num gémeo fantasma, demitido
E desprovido do abrigo de ser,
Apenas tapado p´lo céu estrelado

E pelo umbigo de um Deus comum
E um outro, sugerido numa outra dimensão,
Escondida em sítio incomum,
Numa frequente ilusão

Não sei se é mais justa a razão,
 Ao censurar-me
Como louco, se ao evocar-me,
Como homem são…

Mas não é fácil à razão
De  todo ignorar-me…


Joel Matos (06/2011)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Que visão tão estranha...




Que visão tão estranha
Do mundo, num extremo dele, tenho
Como que uma sensação de lua prenha,
Não sei se na verdade sonho ou se durmo

Num infindo abismo sem corpo, nem fundo.

E é de tal maneira sinuoso o caminho,
Que me conduz p’lo monte acima
Se, do corp’onde provenho,
Falam do sol, que eu supunha

Anónimo,

Moribundo ou morto, no fundo,
Ainda brilho num desejo aceso, nunca visto,
Desde que eu acredite que o horizonte profundo,
Não é indiferente a mim, quando a ele assisto,

No calor da monção.

Que mundo tão estranho,
Em que nenhum dia é igual ao outro,
Nem as asas diversas com que me despenho,
Nem igual será o dia em que morro

Ou enfim, acordo…

Joel Matos (05/2011)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O futuro





Era duma figura esquálida e enxuta
Que lembrava o destroço do cabo negro,
Erguido encima de calhau sujo da costa
P’lo espectro esguio do logro,

Nem sabia se morava dentro dela,
Ou fora da fronteira da maldita nação,
Sabia pela voz dos velhos da cidadela
Que o horizonte era amplo e partilhava de igual chão

Com o roçar da erva e a flor da giesta cor de sol.
Assim… e a seu modo foi construindo,
De dentro para fora, um castro de pedra e cal,
Em região ascética, que nomeou como feudo,

(Bem longe da multidão estrangeira)
Foi-o revestindo de palha, fita, vidro
E do colorido mestiço da humana feira
E Terá ali sonhado incógnito, o futuro

Ele mesmo, sem data …

Joel Matos (05/2011)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Em tempos quis o mundo inteiro






Em tempos, quis o mundo inteiro,
Hospedado no peito, redondo e obeso,
Perpétuo como um relojoeiro,
Um peito de soldado raso, desconhecido...

Era criança e havia amar,
Eternidade, justiça e razão...
E um lar... um veleiro vulgar,
E um timoneiro sem tripulação.

Hoje sou ilícito e estrangeiro,
Partido fui; metade do coração, eu entendi...
E o mundo que já cobicei como o ouro, era outro
Ficou perdido, em nenhum outro lado, fora d’mim.

Acabei por fim, a não pensar em nada,
Até que acabou o meu tempo,
Escondido numa caixa enganosa, redonda…
Num habitual descontentamento.

 Eu...a quem o mundo não bastava,
(Se nem eu, nem ele sabíamos que o outro existia)
Agora, pouco do que tenho e sinto, é seu...
Nem isto que escrevo, indefinido e a eito, sem serventia...

Basta hoje o dia não ser tão feio,
Pra ver no céu fiel a alegria que sinto ainda no peito,
Porque na terra, o que esperava não veio,
A minha alma foi sepultada num árido e seco deserto.

Joel Matos (04/2011)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

D'aquilo com quem simpatizo




Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Não é um defeito, um rito ou um mau-olhado de bruxo
Que exceda a cota de quem sou, tento gozar dum rio d'sorriso
E da simpatia dos outros, esse imesurável fluxo.

E torno sempre, mais tarde ou mais cedo,
Escorreito e escavo consoante o vaso em que me aprovem  
E à substancia mais dócil, da qual ele foi talhado.
S’ inda ontem fui greda, hoje sou margem de ninguém.

Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Transforma-me no leito de quem, leve passa e na lembrança
De que não é minha esta versão que abraço da arriba vazia,
Aborrecido de simpatia falsa faça ela o ruído que faça.

Quer Seja uma flor ou uma ideia abstracta
O que sinto no pensamento, serve de monumento
Ao que não perdura ou não existe, ao poeta isso basta
P’ra fazer sentido, apenas esse segmento de tempo,

Em que a água baça do rio por ele passa.

Joel Matos (04/2011)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...