sexta-feira, 18 de junho de 2010

No caír do medo...





Ai…se soubesse que acabava caído do mundo saindo fora de portas
E as pedras e as estradas caminhos se revirassem em pregas soltas
(Como devem ser as curvas frente a quem dele próprio foge)
Ai… se soubesse que o nada fosse, ainda assim, não muito longe,
E a ausência, nem por isso incómoda, mas incolor ou deslavada
(Como deve ter de comum na cor das asas de minúsculas moscas)
Partia em busca da dor louca, despenteada, ela mesmo uma “quasi” nada.

E tinha aí saudades das fontes, onde corriam por vezes os silêncios,
…(Faziam parecer naturais, os sons distantes das minhas outras vozes.)
Mas de tanto gastar o olhar, ficariam molhos de memórias de fúrias e ventos
Sempre presentes nos silêncios imóveis, nos eternos silêncios!
Se soubesse que acabava caindo do mundo voaria antes que as aves
De gritos fortes, agudos e ásperos grasnassem.
Partia por’í fora com todos os gritos que escoram no voar, o medo!

Joel Matos
(18/06/2010)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

memórias sem fim

Quero um navio só para mim,
Não daqueles que vão para as guerras,
Mas um com velas e mastros brancos,
Feito a madeira de cedro e rangidos secos,
Talvez guardem eles saudades das florestas
E persigam o perfume do capim,
Ou lambam do bojo a espuma julgando ser neve
Quero um navio com memórias d'onde vim.

Joel Matos
(2010/05)


http://namastibetpoems.blogspot.com

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Toma,bebe...



Toma, bebe d'estas pétalas d’rosas
Soltas, frias, das pálpebras prosas,
Nem sei se seixos são, quantos
Flutuam nos desejos, de mãos e dedos.


Toma, bebe do meu falido copo que treme,
Que o meu mando tem da serra o cume e o termo,
Sendo, são cinzas ao vento e meu ermo.


Toma, bebe o que ainda encerro,
Em terras de pó e barro.


Toma, não temas o sorvo do cântaro escuro,
Até que, na míngua o convenças
Que é estorvo e turvo e por mais que o pises nesta,
É na terra da crença que o derrotas.


E são esses os motivos do nada e do tudo
Que deves beber, mas bebe nas pétalas de ar lúcido,
Bebe apenas o beijo que quieto nos meus lábios
De água transparente viaja, viaja com destino
Distante…

Joel Matos
(05/2010)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Secreta viagem


“Mal fora iniciada a secreta viagem
Um deus me segredou que eu não iria só.

Supondo ser a luz que Deus me segredou.”
Despojei-me dos pés no caminho para ninguém ser
E procurei ver o outro ente na escuridão virgem.

E ele era tão só tudo aquilo a que me não apego,
Meu existencial perpétuo oráculo sem face,
Olhando-me por detrás do lençol negro.

Pedi-lhe que me arriasse de seu jugo,
No pó da estrada cova ou no cume do monte Abraão
Sendo restos para abutre ou festim de falcão.

Joel Matos
05/2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Frases Partidas

Partidas Frases


Tenho muitas frases, como aquela da “lua fundida”
Entre o cais e a maré,

Frases do andar por andar “da gente” na rua despida
De frases fundeadas e sem pé,

Frases que querem vir para a frente do título e desmenti-lo
Depois em rodapé.

Perdido estou em magras frases da minha rasca vida !
Rendida  em contradição.

Perdido na mansão ou corredor temporal da frase sem sal
De facto, não,
Não tenho agora frases que sirvam de verdade a todos e tudo,
Elas, por um nada mentem.

Tenho umas outras frases que se me avizinham
E me enfrentam,
Frases fininhas, em tiras, na mente, que me vêm e vão,
Frases singulares,
Em gatafunhos secretos e sinais na fase do sermão
Aos peixes,
Que um mero filósofo (ares a fidalgo da rua) de único sentido
(Ainda que extranho) Inventou de repente, para meu intimo e vão uso.

E rondo frases à roda da tabuleta melancolia,
Seu interminável e redondo fuso!
Não me encontro com ninguém que me louve
Ou me sublime.
    
(Tenho fases, como a lua, “aquela lua fundeada entre o cais e a maré”.)
No dia em que alguém perguntar ser minha
A frase que “algum pessoa” leu,”não é dia de eu ser só eu”
E, quando chegar esse dia,
O outro “eu” liberto de cada pagina  em tiras fininhas cortada,
Partiu e, então “comigo, já viveu”.

Joel Matos
04/2010


http://namastibetpoems.blogspot.com

segunda-feira, 22 de março de 2010

Barbearia

Barbearia

Não sou nada dentro deste muro,
Nunca serei nada do lado de  fora dele,
Não posso mais do que querer ser,
Parte dos sonhos e de todos os lugares.


Sou filho comuna do vazio e cantoneiro
De estrada sem berma, barbado,
Viajo sentado na loja do barbeiro,
Lendo, desatento, o jornal amarrotado

Estou vencido, (como se só o vencer
Fosse lícito), se estivesse para morrer 
Teria lápide “ toda uma vida sem lealdade”
Mas também ela, uma (meia) verdade imitada

Das filosofias que não apalpei, sem euforia
Arderam, de resto, como a multidão
De versos adaptado, em esquadria.
O meu feudo é ter do real o convicto “ senão”

No fundo, estou desiludido nas certezas
E nem vejo na luz, o sol ou ouç,  d’ouvidos,
Sons que cruzam, na barbearia,  as vidraças,
Aquele assobiar, das ondas nas conchas dos búzios.

Mas hoje o universo reconstruiu--me…

Joel Matos
03/2010
http://namastibetpoems.blogspot.com 

quarta-feira, 17 de março de 2010

Quero


Quero as suavidades pequenas e leves
de poder sentir as brisas soprando mansas
e nelas , leves , voem penas e esperanças
absortas em saudades de gestos suaves

quero sonhos flagrantes, madrugados
cores e horizontes fardados como amantes
quero ter de volta os bandos migrados
de aves vestidas e nelas beber como dantes

troco tomos e tomos de obras de artes
pelos sentidos tombos suaves do vinho
a alegria de viver ,os caminhos e os enterneceres.
Quero...


Jor
ge Santos http://namastibetpoems.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...