sexta-feira, 7 de maio de 2010

Secreta viagem


“Mal fora iniciada a secreta viagem
Um deus me segredou que eu não iria só.

Supondo ser a luz que Deus me segredou.”
Despojei-me dos pés no caminho para ninguém ser
E procurei ver o outro ente na escuridão virgem.

E ele era tão só tudo aquilo a que me não apego,
Meu existencial perpétuo oráculo sem face,
Olhando-me por detrás do lençol negro.

Pedi-lhe que me arriasse de seu jugo,
No pó da estrada cova ou no cume do monte Abraão
Sendo restos para abutre ou festim de falcão.

Joel Matos
05/2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Frases Partidas

Partidas Frases


Tenho muitas frases, como aquela da “lua fundida”
Entre o cais e a maré,

Frases do andar por andar “da gente” na rua despida
De frases fundeadas e sem pé,

Frases que querem vir para a frente do título e desmenti-lo
Depois em rodapé.

Perdido estou em magras frases da minha rasca vida !
Rendida  em contradição.

Perdido na mansão ou corredor temporal da frase sem sal
De facto, não,
Não tenho agora frases que sirvam de verdade a todos e tudo,
Elas, por um nada mentem.

Tenho umas outras frases que se me avizinham
E me enfrentam,
Frases fininhas, em tiras, na mente, que me vêm e vão,
Frases singulares,
Em gatafunhos secretos e sinais na fase do sermão
Aos peixes,
Que um mero filósofo (ares a fidalgo da rua) de único sentido
(Ainda que extranho) Inventou de repente, para meu intimo e vão uso.

E rondo frases à roda da tabuleta melancolia,
Seu interminável e redondo fuso!
Não me encontro com ninguém que me louve
Ou me sublime.
    
(Tenho fases, como a lua, “aquela lua fundeada entre o cais e a maré”.)
No dia em que alguém perguntar ser minha
A frase que “algum pessoa” leu,”não é dia de eu ser só eu”
E, quando chegar esse dia,
O outro “eu” liberto de cada pagina  em tiras fininhas cortada,
Partiu e, então “comigo, já viveu”.

Joel Matos
04/2010


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segunda-feira, 22 de março de 2010

Barbearia

Barbearia

Não sou nada dentro deste muro,
Nunca serei nada do lado de  fora dele,
Não posso mais do que querer ser,
Parte dos sonhos e de todos os lugares.


Sou filho comuna do vazio e cantoneiro
De estrada sem berma, barbado,
Viajo sentado na loja do barbeiro,
Lendo, desatento, o jornal amarrotado

Estou vencido, (como se só o vencer
Fosse lícito), se estivesse para morrer 
Teria lápide “ toda uma vida sem lealdade”
Mas também ela, uma (meia) verdade imitada

Das filosofias que não apalpei, sem euforia
Arderam, de resto, como a multidão
De versos adaptado, em esquadria.
O meu feudo é ter do real o convicto “ senão”

No fundo, estou desiludido nas certezas
E nem vejo na luz, o sol ou ouç,  d’ouvidos,
Sons que cruzam, na barbearia,  as vidraças,
Aquele assobiar, das ondas nas conchas dos búzios.

Mas hoje o universo reconstruiu--me…

Joel Matos
03/2010
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quarta-feira, 17 de março de 2010

Quero


Quero as suavidades pequenas e leves
de poder sentir as brisas soprando mansas
e nelas , leves , voem penas e esperanças
absortas em saudades de gestos suaves

quero sonhos flagrantes, madrugados
cores e horizontes fardados como amantes
quero ter de volta os bandos migrados
de aves vestidas e nelas beber como dantes

troco tomos e tomos de obras de artes
pelos sentidos tombos suaves do vinho
a alegria de viver ,os caminhos e os enterneceres.
Quero...


Jor
ge Santos http://namastibetpoems.blogspot.com

domingo, 14 de março de 2010

assim assim...

(eu bem quis ser assim)

eu quis ter um desses dias "assim assim"
montei o monte claro que foi Olimpo
e foi quando voltei de querubim
e virei costas aos sinais do tempo

eu quis ser um desses dias totais de vento
com estandarte xadrez,armadura e tudo
mas tudo o que consegui foi ficar mais tonto
e correr com o furor desfraldado

Se o meu sonho de ser tão alto
Fracassou foi porque faltei ao encanto
Cansei do contador de contos não fui coerente
Nem agarrei pela frente o elefante da sorte

Se trafiquei causas vesgas foi por assim haver
contrafeito todas as "merdas" e fazer de travesseiros
as fraldas do monte Vesúvio, fiquei a feder
por dentro e por fora tresandava de maus cheiros

(fui eu num dia assim/assim)

Jorge Santos

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Morcegario


Como descrer das fabulosas noites
A destapar céus, vestidos negros
Cravados a buracos de alfinetes
Sem neles mesmo admitir prodígios!?

Como descrever, aos olhos de cegos,
Simples silvos, inventados nas foices
De mil acompanhantes de Demónios,
Sedentos, em tectos e estalactites.

E… agoiro d’ meus últimos sonhos,
Ouço gritos em morcegarios imensos
Ajoujados em velhas tradições

Nem resisto, saem-me dos pulmões
Feridos catadupas de maldições,
De vultos Negros e bandos de Morcegos. 

Joel Matos
(2010/02))

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Asas

Asas d’vento


As minhas asas são das penas mortas
Nos cachuchos e acenam nos varais
Que me lembram derradeiras roupas
Secas aos ventos, esperando temporais

Mas as minhas asas não entram no vento,
E sonho é meu, o de virar vendaval e entrar,
De rompante, pelas plumas destas adentro,
Ir e não parar, mas fico na sala-de-estar,


Assim, num golpe de desalento, calado,
Para aí, todo-o-dia morar,todo, tudo quieto.


Jorge Manuel M. Santos
(06/2009)
Http://namastibetpoems.blogspot.com

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...