sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Morcegario


Como descrer das fabulosas noites
A destapar céus, vestidos negros
Cravados a buracos de alfinetes
Sem neles mesmo admitir prodígios!?

Como descrever, aos olhos de cegos,
Simples silvos, inventados nas foices
De mil acompanhantes de Demónios,
Sedentos, em tectos e estalactites.

E… agoiro d’ meus últimos sonhos,
Ouço gritos em morcegarios imensos
Ajoujados em velhas tradições

Nem resisto, saem-me dos pulmões
Feridos catadupas de maldições,
De vultos Negros e bandos de Morcegos. 

Joel Matos
(2010/02))

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Asas

Asas d’vento


As minhas asas são das penas mortas
Nos cachuchos e acenam nos varais
Que me lembram derradeiras roupas
Secas aos ventos, esperando temporais

Mas as minhas asas não entram no vento,
E sonho é meu, o de virar vendaval e entrar,
De rompante, pelas plumas destas adentro,
Ir e não parar, mas fico na sala-de-estar,


Assim, num golpe de desalento, calado,
Para aí, todo-o-dia morar,todo, tudo quieto.


Jorge Manuel M. Santos
(06/2009)
Http://namastibetpoems.blogspot.com

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Da paixão



Vós, senhoras todas, que entendeis do amor,
Dizei-me, se o tenho eu, no coração,
Se tão distante, é da razão, esta dor
Sentida  fundo, se inspirada desse não.


Senhoras, vós todas, que  da dita entendeis,
S’a vires, dizei s’dela tem a tal gémea,
Que tanto s'fala e sonho, em noites tais,
Ou é mito, apenas  d’meu Lado fêmea.


Será errado, em todas vós, achar beleza,
Não send’a tela dono, nem mestre pintor,
Todas invento, sob leve penugem, a fresa, 
No toque, na cor e em meus olhos, sem pudor.



Vós, senhoras todas, que entendeis do amor,
Perdoai , por assim declarar-me , d’paixão, 
E , Se culpa for d’alguém, seja d’Ele, Criador
Do belo d'olhar e coração d'est'artesão.


JOEL MATOS
(2010/01)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

L'avenir de l'Homme

L’avenir de l’Homme

“Parle-moi de la pluie qui’ci  tombe”,
Enquanto caminhamos, ignorando,
À beira do fim, como quem o sabe,
E apenas finge, ter esquecido:


-A poeira galga, que and’á solta,
No deserto d’sede, depois irrompe,
Na auréola duma lua lamacenta
-Nestes sinais da extinção a galope


E não longe d’uma sinistra ameaça.
-O homem parido aqui já sem crença
No cosmos seja lá ond’ele acabe.


Dis-moi de l’arme de Ceres qui’ci tombe
Lúcida e calma, todas…mansas e breves
Filhas das guerras e caindo a nossos pés.


Jorge Santos

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Adverso


Adverso 

Ou controverso


O verso que fiz (meu)
Barro queimado,
Nem o vendi caro, 
Na tenda, mercado,
Verso mineral,
Baralho marcado
Nã ‘ baralho mais
Se não o sentir,
No forno, a arder,
Estalar no sangue,
(dos meus dedos, dez).


O verso que fiz (meu)
Foi alugado,
Ao mês e barato
Algures furtado
Por um gaiato,
Na loja do lado
E; passo em falso,
Cai na sarjeta,
Ficou molhado,
Não quero mais,
Versos escorridos
(pr’ós lamber na sede)

O verso que fiz (meu)
Dito por maldito,
Bem m’orgulho se,
Rasgado e roto,
Repudiado, mas,
Na estante, vivo…
Melhor, Se estorvar 
Por nã’estar morto,
Apesar de plebeu,
É porque é meu,
E é controverso
(deix’ó falar).


Jorge Santos

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Pátria Minha



A minha Pátria


“A minha pátria é a língua portuguesa”
 Nomeio as palavras que no friso panteão fogem
Em que descubro as promessas por dizer, às avessas
do “se não digo nada de jeito” é no peito que desatino
De um amor que não prescreveu. “Eu ouvi ou ouvi eu”
E eu senti que em meu texto, no meu tempo
Existe o teu jeito e em minha voz o teu sotaque

Às vezes soa também a um hino alegre,
Soa a um riso solto, soa a um grito louco,
E troco a minha vida por um dia de escrita,
troco minha vida por um mergulho de voz Lusa
E Nós, quase uma canção d’mar e por findar,
Do fado,” eles me doaram a voz que me dói”
Eu adorei ouvir tua voz e não tive sossego,
Mas tive vontade e, como diz Pessoa , por outra,
“E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz”

Porque “A minha pátria é a língua Portuguesa”

Jorge e outros sotaques

domingo, 3 de janeiro de 2010

Panfleto




Panfleto


Um dia, direi no que acredito
E virei a praça, e em publico,
Proclamar de um banco, o pensamento,
Escondido no bolso, deste casaco.


Olho nos olhos, estátuas de pedra
Dura, com vergonha, mordi lábios meus,
Senti-me profeta d’algibeira,
Vergastado, num qualquer Altar, sem Deus.


E eu mentiria, se meu protesto,
Não fosse do meu peito, panfleto,
E d’alto gritado, como quem diz:-pára,


“Parem de cavar um poço fundo,
Entre o deles e este nosso mundo,
Ou a voz dos muitos cedo será”




Jorge Santos

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

sonho ou pesadelo



Tudo Tudo Tudo


Quanto roço se transforma em limo,
Faça o que faça, errei na farsa,
Se, até de mim me tornei sinónimo,
Fosso e palco de uma mesma peça.


Realço o facto de só continuar
Caminho por medo, daquele escuro,
Do lado escabroso, no ir,nã’voltar,
Da cova que, d’ver tremo e esconjuro.


Limei d’mil arestas, senti no casco
A rudeza do martelo e do maço
Só o facho, acarreto por engano


Numa daquelas vielas paralelas
Em que as moradas são, nem caiadas,
Nem, de vê-las, vi despertar meu sono.

Joel Matos

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pessoa Talvez



Tal me fez Pessoa

É talvez o último dia da minha vida,
Tida e sorvida de um único fôlego,
É tal-e-qual ver no escuro, a vereda,
Por, e onde vou, e no quando, cá chego,

Já, e de noite; eu relembro o dia,
- Por ser o último - nem é tristo, nem contento,
Dele que, de fugidia f’rida, invadia,
Não tanto a carne, mais o espírito.

E nem estrebucho, s’esse Tal me fez Pessoa,
Temperado, quanto-baste, até que doa,
Aí, no suspiro do ultimo ai m’apego.

É talvez a mim que vim mentindo, por último,
Em fim de dia; daqueles que mais lastimo,
Se até no dizer, de resto sou Ingrato.

Joel Matos

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Florbela




Vela e Flor
Nadas de eternidades, nadas às tonas d’água,
Tudo se afunda, neste t’mor posto em palavras,
Nos tons que me desarrumam, desta tua míngua,
Vestem-me o drama no eco de pressintas sombras.


Estendo um braço, d’outro grudado ao casco,
Fixo no rasto fedido, deste reles luto,
Em que m’iludo, é com ele que me espanco,
Co’meu cliché mastigado já e sem talento.


Vejo-me neste mundo-sem-ti , num fumo insonso,
Creio apagado o meu lume aceso
Nadas, ao luar ,nas dunas d’aguas  , nas fúrias do mar,


Agonizo em fobia, enraizo d’vegetal,
Bela d’flor intemporal, voos de lástimas e cal
Pura, em que me emprestas, esse orgulho d’amar.

Jorge Santos

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...