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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Proscrito



Dou por mim mendigo de porta em porta; como sem querer,
Abro caminho numa estreita paisagem escrita,
Não que seja uma perfeita, secreta, ou passagem metafísica,
Como as passagens têm eternamente de o ser,

Mas a paisagem do meu ser é restrita e reescrita,
A meu bel-prazer.
Só pode ser consumada se acedida por dentro,
Sempre por uma embocadura estreita.

Assim que passo por ela, sinto o coração doer, doer…
E não sei d’onde essa dor resulta,
Sei que vem do fundo da passagem do meu querer,
Num silêncio frio de natureza morta.

E onde no vento alado se transporta
Todo o desejo de encontrar em mim  a paz ?
Vou por aí como uma vela que se apaga,
Ficando apenas a paisagem vaga por traz.

Abro ainda e de novo a janela
E de fora, apenas a noite, me fala
De um invisível veto,
Que cala tudo aquilo por que existo…

Joel Matos (09/2011)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quando eu não tinha.


Quando eu não te tinha,
Os meus momentos a sós eram passados no abismo,
Entre o nariz e a boca,
A realidade era outra coisa, menos boa, religiosa, alheia,
E o acordar me dividia,
Entre o lençol e o ir comigo sem mensurável projecto,
Cumprindo um ritual,
Sem dar por nada, sozinho e morto, ausente.

Quando eu não te tinha,
A solidão saía p’los olhos e me intimidava o desejo,
Como uma casa vazia.
A desgraça carpia a minha ausência infiltrada na sombra,
Batendo as horas.
O exílio não era nas hortas e nas nespereiras com frutos,
Os silêncios não eram sagrados
E as rotinas não saradas jamais passariam de básicas e banais.

Quando eu não te tinha,
Não sabia quem eu era, agora não sei quem sou,
Porque te tenho,
Como uma doença benigna e natural, um sopro,
Uma ideia vaga.
Convem conduzir-te p’ra longe da minha inveja,
Mas não sei como.
(Tal é a minha descrença nas teorias da humanidade)

Esperança, quando eu te via nos reflexos d’outros óculos
Era feliz, reconheço-o,
Agora estou ciente que quero o universo inteiro
D’um todo
E nem por isso sou mais brilhante ou autêntico,
Do que outra realidade qualquer.

Joel Matos (02/2011)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Definição de esperança


Breve, o dia em que decidi ser alguma coisa,
Espuma de mar cavado na sarração do vento.
Acordo no meio de uma conspiração d’ondas e horas
E dedico os últimos minutos a tentar definir o tempo

E lembro-me de não querer ser capitão d’coisa alguma
Sobretudo no dia de hoje que acabará d’manhã bem cedo,
Ainda me pus a olhar o futuro, sem solução à vista ou relógio d’pulso
E, na vigia baça da embarcação, abocanho um curto sonho,

Um sonho em vão, de quem espera horas e horas o fio,
Mas breve, breve como as ondas no bojo preto deste navio
Cargueiro. Vi passar o rápido, das nove e um quarto,
Branco, branco…Tinha na face, a expressão da glória antiga,

E eu aqui no porão, como um rato num ínfimo labirinto,
Hostil e angustiado sob o peso da máquina universal do atraso.
Ah, se eu estivesse atrasado dezoito horas na vida,
Começava tudo outra vez, à meia-noite e vinte em ponto

E seria mais um livro, posto na prateleira, sem paciência
Pra ser lido, contudo, sinto-me vivo como um nado-morto,
Embalado pelo dever de viver, ao lado de cada dia, de cada segundo,
Sem força para detestar tudo o que me é imposto,

Pela absurda tripulação de estibordo.
Ah, se eu tivesse ambição, provocaria um motim de praças
E partiria de malas feitas, por esse mundo sem fim,
Decerto seria alguma coisa, com mais sabor que não engodo

De peixe balão, batata de sofá, asceta gordo de time-sharing
Ou marajá da sanita. Descubro que sou, metade, tempo perdido,
Metade, escrita ilúcita e imaginação no intervalo, mudo de cor,
Ao estilo de camaleão do campo… sem título.

Breve, o dia em que decidi ser, coisa alguma,
Um zero, num fim metafórico de cena, uma réplica de sino,
Uma causa pequena, onde o vento, faz tempo não sopra
E dedico os últimos minutos, A TENTAR DEFINIR A ESPERANÇA.

Joel Matos
(01/2011)

Pra lá do crepúsculo

Pra lá do crepúsculo Deixei de ser aquele que esperava, Pra ser outro’quele que s’perando Em espera se converteu, alternando Despojo com eng...