quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Venho assolado p'lo vento mudo e tanto...tanto




Sinto de repente tão pouco,
Sumiu-se a poção do falar,
Mãos mil atadas por visco,
Desobrigam-me de acção,

Mas contínuo vazio, se luto por me soltar,
Opto por me deixar
Prender, se não me bato,
“Foi –se tod’acção, se-calhar“

Pudesse fazer-me eu sentir nos versos.
Muito mais são, que louco
Porquanto sinto de repente tão pouco,
A não ser ideias - a sós

Com que tempero o pensamento.
Vejo vistas, telas em que só eu me iludo,
Venho em tornados que sopram muito vento
Mas sinto a maior solidão do mundo

Em redor de mim… todo- faça o que faça-
Sinto-me de repente tão pouco,
Que até as mãos me convencem,
De que estou de facto, ficando louco,

Mas, o que de mim, vier alguém a ler,
Será o contacto efémero
Que mais perto hás-de ter,
Do fundo e puro sentir d’outro,

Sim, porque eu sinto tão pouco,
Que nem a'spada fria m'atravessando,
Nem a agonia dum povo, nem o corpo,
Que m’arde, nem a tarde, nem o cedo

Emprestam sentido, ao meu sentir,
Tão pouco o sol qu’m’invade, desperto;
Mas dormindo, sei sempre, sempre d’ond vir,
Pois venho assolado p’lo vento mudo e tanto…tanto...

Joel Matos (01/2013)

1 comentário:

Varenka disse...

Uma poesia intensa que me fez segurar a cabeça.Gostei muito!Beijos

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